Respiração compartilhada

O quarto estava a princípio bem iluminado. O silêncio parecia respirar junto com os três. Andréia ajeitava o lençol, como quem tenta disfarçar o nervosismo; Jennifer observava cada gesto dela com um sorriso quase tímido, quase provocador. Ricardo, sentado à beira da cama, percebia o ar vibrar — uma mistura de curiosidade, desejo e uma quietude que anunciava o inevitável.
Não havia segredos entre eles, ao menos não mais. Tudo fora conversado, pesado, consentido. Andréia queria viver o que até então era só um sussurro, e Ricardo, por amor e desejo, escolhera assistir.

Jennifer tirou os sapatos devagar, como quem se despe de um papel. Andréia se aproximou dela, o rosto muito próximo, o olhar firme. Por um instante, o tempo pareceu hesitar — e então, um gesto leve, um toque na nuca, e o primeiro beijo aconteceu.

Ricardo respirou fundo. O som era quase um lamento, quase uma prece. As duas mulheres se moviam como se o espaço entre elas tivesse sido inventado apenas para aquele instante. Nenhuma pressa, nenhum pudor. Apenas a curiosidade do toque e a entrega do olhar.

O ar do quarto se tornou denso, impregnado de perfume e calor. Andréia ria baixo, um riso que Ricardo nunca tinha ouvido antes — não de deboche, mas de liberdade. Jennifer, deitada, puxava-a para mais perto, e o lençol deslizava como uma sombra entre os corpos.

Ricardo observava, fascinado e vulnerável. Havia beleza naquela entrega, e também um espelho invisível onde ele se via refletido — cúmplice, desejante, humano.

Quando Andréia entregou a amiga um brinquedinho do sexo shop, ele compreendeu o limite que havia proposto a si mesmo. Não as tocaria — não por imposição, mas por respeito. A excitação vinha não do contato, mas da visão de algo que o ultrapassava: o amor da esposa sendo partilhado sem medo com outra mulher.

O ritmo entre as duas cresceu em intensidade, e Ricardo, tomado pela excitação, deixou que o corpo reagisse sozinho, numa espécie de prece silenciosa ao desejo em homenagem à beleza das duas.

E então veio o silêncio eas luzes apagadas, exceto um dos abajus.

O quarto parecia exaurido, como se o próprio ar tivesse participado da entrega. Jennifer se aninhou ao lado de Andréia, o corpo ainda trêmulo. Ricardo fechou os olhos, sentindo o peso doce do cansaço e a serenidade de quem tocou um limite sem ultrapassá-lo.

Andréia virou-se, estendeu a mão, e o beijou devagar. Um beijo de ternura, quase de gratidão.

Depois, os três permaneceram em silêncio, deitados sob a mesma penumbra, ouvindo apenas a respiração uns dos outros — um ritmo que, por um instante, pareceu o próprio som do amor.