Nos dias em que podia, amavam-se sem pressa, sem pudores, como quem recobrava o fôlego da distância. Quando ela estava indisposta, encontravam outras formas de prazer: carícias, toques, beijos demorados, masturbações diante um do outro — cumplicidades que a intimidade permitia sem constrangimento.
Mas naquele fim de semana, algo seria diferente.
Três dias antes da chegada de Camila, Fernando sentira um impulso estranho, quase simbólico. Entrou num centro de estética, pediu para depilar todo o corpo e saiu de lá como se houvesse deixado algo antigo para trás. Ao ver-se no espelho, experimentou uma espécie de redescoberta. Passou a mão na pele lisa, o toque diferente o excitou. Nos dias seguintes, masturbou-se como quem explora uma nova textura da própria existência.
Na sexta-feira à noite, quando ela finalmente chegou, ele esperava com um misto de desejo e vergonha. Camila trazia no olhar o cansaço da viagem e a ansiedade dos reencontros. Bastou cruzar a porta do apartamento para que os gestos de carinho reacendessem o clima habitual. Mas, dessa vez, Fernando parecia mais contido.
Camila percebeu o silêncio dele. Aproximou-se, beijou-lhe o pescoço, e — sem demora — começou a se despir, peça por peça, como sempre fazia. Ficou completamente nua diante dele, oferecendo-se inteira comemos seios duros, o corpo quente e umedecido pelo desejo acumulado. Fernando, porém, continuava vestido, apenas correspondendo aos beijos, às carícias, às provocações.
— Você não quer? — ela perguntou, com um sorriso entre curioso e surpreso.
Ele respirou fundo, tocou-lhe o rosto e respondeu com sinceridade serena:
— Quero, e muito. Mas hoje... não quero penetração.
Camila o olhou nos olhos, compreensiva. A relação deles sempre fora feita de confiança e liberdade.
— Tudo bem — disse. — Não precisa. Você pode se masturbar... como nas vezes em que eu não podia.
A resposta a tranquilizou e o libertou. Lentamente, Fernando despiu-se. A pele, agora lisa e clara, parecia outra sob a luz do abajur. Camila o observava com uma mistura de surpresa e fascínio — o corpo familiar, mas transformado, como se tivesse rejuvenescido.
Ele se aproximou, e os dois se beijaram longamente. O toque dela sobre aquela pele sem pelos acendeu uma sensação nova, quase elétrica. Quando o calor cresceu, Fernando afastou-se um pouco, olhou-a com ternura e começou a se masturbar diante dela.
Camila assistia, excitada. Já o havia visto gozar antes, nas vezes em que ela estava menstruada e se limitava a observá-lo, nua ou de calcinha. Mas havia algo diferente agora — uma entrega mais plena, uma virilidade silenciosa e bela. Quando ele ejaculou, o gesto foi quase um rito: intenso, contido, humano.
Ela não resistiu. Tocou-se também. O prazer veio em ondas, acompanhado de lembranças antigas — dos tempos em que ainda era virgem e o prazer dependia apenas dela. Teve um orgasmo longo, profundo, quase meditativo.
Fernando, deitado ao lado, observava-a, encantado. Meia hora depois, sentiu o desejo renascer. O contraste entre o corpo depilado dele e o sexo dela, ainda com os pelos naturais, despertou de novo a excitação. Tocou-se uma segunda vez, mais leve, enquanto ela continuava se acariciando.
Passaram o fim de semana assim — entre carícias, pausas, olhares. Não houve penetração, mas houve prazer em abundância. Uma experiência diferente, serena e, paradoxalmente, mais íntima.
Nos encontros seguintes, Fernando surpreendeu revelando que já não queria mais sexo penetrativo. Camila ouviu em silêncio. Amava-o demais para contestar. E, pouco a pouco, foi compreendendo. As mãos, os beijos, o contato dos corpos nus — tudo aquilo continuava sendo amor.
Nos primeiros meses, sentia-se um pouco rejeitada. Depois, entendeu que ele a desejava de outra forma: não como quem a possuía, mas como quem a admirava. Descobriu que não precisava de um pênis dentro de si para se sentir plena. Tocava-se, gozava, e sentia orgulho disso. Havia ali um novo tipo de liberdade — uma forma de empoderamento discreta, silenciosa, quase espiritual.
Anos depois, casaram-se. Na noite de núpcias, repetiram o ritual que os unira: masturbaram-se juntos, conhecendo cada milímetro do corpo um do outro. Quando decidiram ter um filho, foi a única vez em que houve penetração. Depois, voltaram à sua maneira de amar — um amor feito de toques, de prazer mútuo e de cumplicidade profunda.
E assim seguiram. Entre corpos que se conheciam de cor, e desejos que nunca deixaram de se reinventar.
