A trilha estreita serpenteava entre o mar e a encosta. O vento soprava sal e o canto das cigarras se misturava ao quebrar das ondas lá embaixo. Em certo ponto, ele se afastou do caminho principal e seguiu por uma passagem pouco usada, coberta por galhos e folhagens. O silêncio o envolvia. Ali, entre a montanha e o oceano, sentiu-se sozinho no mundo.
Sem saber bem por quê, decidiu tirar a roupa. Guardou tudo na mochila, ficando apenas com os tênis. O toque do ar quente na pele o fez arrepiar. Caminhou assim por longos minutos, nu sob o sol filtrado pelas árvores, com o coração acelerado — uma mistura de medo e euforia. Era como se cada passo o desnudasse por dentro também.
Chegou a um pequeno córrego e ajoelhou-se para beber da água fresca. Depois, contornou uma pedra grande e encontrou um recanto sombreado de onde se via o mar azul, espumando contra as rochas. Ficou ali, imóvel, contemplando o horizonte. A sensação de liberdade o atravessava de um jeito novo, pulsante. Por um instante, deixou-se levar pelas sensações, o corpo reagindo sozinho, como se fosse parte da paisagem. Quando se deu conta, o vento já secava o suor da pele e um sorriso tímido lhe escapava.
Voltou ao córrego, lavou-se com calma e vestiu apenas a bermuda. Retomou a caminhada. De repente, ouviu vozes à frente — turistas, talvez. E eram mesmo: um casal de franceses, que lhe sorriu ao passar. A mulher, de cabelos dourados e pele queimada de sol, o fitou com um olhar que o fez corar. Ele respondeu com um aceno desajeitado.
Mais adiante, cruzou com duas moças em trajes de banho. Uma delas o deteve, pedindo informação sobre o fim da trilha. Caio explicou, meio sem jeito, tentando manter os olhos no rosto delas, mas distraído pelo brilho da pele molhada. Quando seguiram caminho, ele ficou parado um instante, sentindo o coração bater forte.
Ao chegar à praia seguinte, pediu um suco e um sanduíche num quiosque. A areia quente, o cheiro de maresia e o som distante das gargalhadas pareciam suspender o tempo. Uma mulher se aproximou do balcão, puxou conversa, curiosa sobre de onde ele viera. Havia algo em seu olhar — um interesse leve, um jogo silencioso. Ele respondeu com poucas palavras, tímido, mas sentiu o corpo reagir.
Ela riu, como se compreendesse sua reserva, e desejou-lhe boa tarde antes de se afastar.
Caio permaneceu ali por alguns minutos, observando o mar, sentindo o vento secar a pele e a cabeça girar com as lembranças do caminho. Depois levantou-se e seguiu de volta pela trilha principal, agora repleta de gente.
Quando chegou ao camping, o sol já descia. Tomou um banho demorado, deixando a água escorrer pelas costas e reviver, em flashes, os olhares e as sensações daquele dia. Sorriu sozinho, percebendo que algo dentro dele tinha mudado — uma descoberta suave, feita entre o medo, o desejo e a beleza da ilha.
