Quando o celular vibrou, na quinta-feira à noite, ela já esperava.
Era uma mensagem curta, sem emojis:
> “Domingo, lá em casa. Trago o vinho.”
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O prédio de Kátia ficava numa rua calma, cercada por árvores. O portão se abriu com um som metálico e, por um instante, Aline pensou em voltar atrás.
Mas o elevador subiu sem pressa, e o coração dela subiu junto, num compasso que misturava medo e desejo.
A porta se abriu.
O apartamento era pequeno, mas bonito — plantas na janela, livros empilhados, cheiro de incenso. Luz baixa, cor âmbar, e uma música suave preenchendo o ar, como se o ambiente tivesse sido preparado para um tipo de encontro que não pedia pressa.
Kátia estava descalça, de short e camiseta larga. O cabelo preso de qualquer jeito, uma taça de vinho na mão.
— Pensei que não viria.
Aline sorriu, tímida.
— Quase não vim.
Riram, e o riso aliviou o ar.
Conversaram por um tempo — faculdade, música, corpo, desejo. Kátia falava com naturalidade sobre o que sentia, como se o prazer fosse uma parte do mundo, não um segredo. Aline ouvia, encantada.
Quando o assunto chegou aos filmes, Kátia pegou o controle remoto.
— Posso te mostrar um?
Aline assentiu.
Na tela, cenas lentas — não explícitas, mas cheias de proximidade. Dois corpos masculinos se tocando com delicadeza, os gestos mais ternos do que carnais.
Aline observava em silêncio.
Não sabia se era curiosidade ou identificação, mas havia algo ali que a tocava por dentro, um espelho novo do desejo que ainda não sabia nomear.
Kátia se aproximou devagar, sentou-se ao lado dela no sofá.
As duas ficaram quietas, apenas o brilho da televisão iluminando os rostos.
O vinho, o calor e a lembrança do domingo criavam uma eletricidade no ar, uma vibração quase audível.
Os olhares se encontraram.
Primeiro rápidos, depois demorados.
Kátia passou os dedos no braço de Aline — um toque leve, mas que parecia incendiar a pele.
— O corpo fala antes das palavras — murmurou.
Aline respirou fundo, sentindo o arrepio atravessar os ombros.
Não sabia se queria fugir ou ficar.
Mas ficou.
O tempo parou — o som da música, o ruído da cidade, o filme rodando sem importância.
Apenas o silêncio entre elas, denso e vivo, preenchendo o espaço.
Aline encostou a cabeça no ombro de Kátia.
Nenhuma delas disse mais nada.
A noite passou assim — quieta, lenta, cheia de tudo o que ainda não tinham coragem de fazer, mas que já existia ali, no espaço entre um olhar e o próximo.
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Quando Aline saiu, o sol ainda não tinha nascido.
As ruas estavam vazias, e o vento frio da madrugada pareceu lavar o corpo dela por dentro.
Caminhou devagar, sorrindo sem motivo.
Sabia que alguma coisa tinha mudado — e que o desejo, agora, não era mais um segredo que se escondia nos espelhos da academia, mas um território novo, em que ela podia respirar sem medo.



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