Durante anos, acreditara que a pureza morava na negação. Mas agora compreendia que talvez a verdadeira pureza estivesse na consciência — em saber o que se quer, o que se sente, o que se é.
O objeto pequeno e silencioso em suas mãos que havia subtraído do armário da mãe que havia viajado não lhe parecia uma afronta, mas um convite.
Um gesto de liberdade.
Ela acendeu uma vela, deixando que a luz tremulante pintasse o quarto com tons de ouro e sombra.
Respirou fundo, fechou os olhos e pousou a mão sobre o ventre, como se procurasse ouvir o próprio coração através da pele.
O medo veio primeiro — um tremor leve, não de culpa, mas de reverência.
Depois, o calor — suave, crescente, quase sagrado.
Quando o corpo respondeu, não foi com pressa.
Foi como uma flor se abrindo com o sol — lenta, inevitável, natural.
Helena não fugiu do instante; quis senti-lo por inteiro.
Não era sobre romper, mas sobre atravessar.
E naquele gesto íntimo, ela compreendeu que não perdia nada — apenas se encontrava.
Ao final, repousou sobre os lençóis como quem desperta de um sonho antigo.
Na janela, o primeiro traço de luz riscava o horizonte.
Ela sorriu, sentindo-se leve, inteira.
O mundo amanhecia — e dentro dela também nascia um novo tempo.

k tesao