Perdendo a virgindade na Vila Mimosa do início dos anos 90



O relógio marcava quase sete da noite quando Sandro, aos dezessete anos, fechou o cofrinho de madeira e conferiu o saldo na caderneta de poupança. Eram pouco mais de trinta mil cruzeiros — o suficiente para concretizar uma ideia que vinha lhe rondando havia meses: perder a virgindade.

A vontade nasceu depois de assistir, numa noite abafada de domingo, a um documentário da saudosa TV Manchete sobre a vida noturna do Rio. As imagens mostravam os bares, os becos e a gente simples que vivia do prazer e da sobrevivência. A câmera passeava por uma rua iluminada por lâmpadas amarelas, e uma legenda breve dizia: “Cidade Nova — Zona boêmia”. Sandro, sem saber, guardara aquele trecho na memória: o cenário, o som, a ideia.

Naquela tarde, tomou um banho demorado. Passou o desodorante novo, o perfume barato que ardia na pele, vestiu a melhor camisa azul, calçou o tênis branco e ensaiou no espelho um sorriso confiante. Antes de sair, enfiou o pacote de preservativos Jontex no bolso — comprados há pouco na farmácia da esquina, entre olhares constrangidos e o medo de ser reconhecido.

Na rua, o barulho dos carros e o calor de março se misturavam. Subiu no ônibus 607 — Usina / Praça da Bandeira, e o rádio do motorista tocava “O Tempo Não Para”. Cazuza havia morrido dois anos antes, e o nome do cantor ainda simbolizava o medo que rondava o desejo. Sandro pensou nisso enquanto o ônibus sacolejava pela Tijuca: o vírus, a morte, o risco invisível.

Ao descer na Praça da Bandeira, sentiu o cheiro do centro — gordura frita, cerveja, cigarro e um leve odor de esgoto. As ruas da Vila Mimosa fervilhavam: botecos colados uns aos outros, música alta, gargalhadas, luzes piscando. Mulheres se encostavam nas portas, chamando os passantes com um gesto ou um sorriso.

Sandro andou devagar, o coração disparado. Fingiu que olhava vitrines que não existiam. As vozes femininas se multiplicavam — “Vem, amor, tô livre!”, “Coisa linda, entra comigo!”. Ele hesitou até que uma mulher de vestido vermelho e cabelos castanhos o chamou com doçura:

— Primeira vez por aqui, né?

Ele parou. O olhar dela era firme, mas sem agressividade.

— É... — respondeu, quase sussurrando.

— Eu me chamo Lúcia. Fica tranquilo, todo mundo treme na primeira vez.

Ela o pegou pela mão e o levou por uma escada estreita até um quarto no segundo andar. O ambiente cheirava a sabonete e cigarro. Uma cortina improvisada cobria a janela; na parede, um pôster de Roberto Carlos sorria, desbotado.

Enquanto tirava a roupa, Sandro sentia o corpo endurecer — não de excitação, mas de medo. Nada acontecia. O corpo recusava o que a mente pedia. Tremia, suava, o coração batendo alto.

— Calma, amor... relaxa. Não é prova de escola, não — disse ela, com voz mansa.

Ela tentou ajudá-lo, beijando, tocando, chupando e guiando-o rumo àquele lugar quentinho. Mas o nervosismo venceu. No fim, riu baixinho e, sem ironia, completou:

— Acontece com mais gente do que você imagina.

Sandro levantou, vestiu-se, deixou o dinheiro sobre a mesinha e, antes de sair, perguntou o que ela fazia quando não estava ali.

— Eu? Tenho um filho em Nova Iguaçu. Faço cabelo em casa, de vez em quando. Aqui é o que paga o aluguel, entende? — disse ela, ajeitando o vestido.

O sorriso de Lúcia era sereno, mas seu olhar tinha uma sombra antiga.

Sandro desceu as escadas de madeira, atravessou a rua entre gargalhadas e cheiro de fritura, e pegou o ônibus de volta. No trajeto, olhou pela janela o Rio em movimento — a cidade parecia mais velha do que na ida.

Em casa, deitado, o corpo enfim reagiu. O desejo, que o havia traído lá, voltava agora em ondas avassaladoras. Pensou em Lúcia, na sua voz calma, na cicatriz pequena que ela tinha no ombro esquerdo. Era estranho como o prazer às vezes vinha acompanhado de tristeza.

Tempos depois, começou a ouvir na televisão que a Prefeitura pensava em “revitalizar” certas áreas centrais da cidade. Diziam que queriam tirar dali o comércio, a pobreza, “aquelas casas”. A princípio, muitos acreditavam ser só boatos, mas Sandro lembrava do olhar de Lúcia e imaginava o que seria dela se um dia a Vila Mimosa deixasse de existir.

Foto 1 do Conto erotico: Perdendo a virgindade na Vila Mimosa do início dos anos 90


Faca o seu login para poder votar neste conto.


Faca o seu login para poder recomendar esse conto para seus amigos.


Faca o seu login para adicionar esse conto como seu favorito.


Twitter Facebook



Atenção! Faca o seu login para poder comentar este conto.


Ultimos 30 Contos enviados pelo mesmo autor


246878 - Amor em regime fechado - Categoria: Lésbicas - Votos: 1
246804 - Disque Amizade - Linha do Desejo - Categoria: Confissão - Votos: 2
246803 - Passando-se por um garoto de programa - Categoria: Fantasias - Votos: 6
246800 - No quarto de Pedro — Parte III - Categoria: Masturbação - Votos: 3
246797 - No quarto de Pedro — Parte II - Categoria: Masturbação - Votos: 3
246784 - No quarto de Pedro - Categoria: Masturbação - Votos: 3
246754 - Dois corpos em frequência na Atlântica de 2125 - Categoria: Bissexual - Votos: 3
246738 - A escolha de ser um punheteiro virgem e preferi se masturbar ao invés de transar - Categoria: Masturbação - Votos: 3
246733 - A condição: somente ela pode - Categoria: Grupal e Orgias - Votos: 3
246686 - Escalada de prazer - Categoria: Lésbicas - Votos: 1
246682 - Dançando nua com a Primavera em Roma - Categoria: Exibicionismo - Votos: 3
246645 - Duas amigas e o marido na ilha do desejo - Categoria: Bissexual - Votos: 4
246638 - O mar de prazer - Categoria: Fantasias - Votos: 2
246634 - Além da penetração - Categoria: Confissão - Votos: 2
246512 - Perdendo a "virgindade" com.o vibrador da mãe - Categoria: Virgens - Votos: 3
246489 - Entre o espírito e a carne: as mãos que a oração não acalma - Categoria: Heterosexual - Votos: 1
246450 - Luz da Lua e Toque Sagrado - Categoria: Masturbação - Votos: 1
246449 - Uma virgem grega no ritual da fertilidade - Categoria: Virgens - Votos: 2
246447 - Punheteiro com muito orgulho, assumo que prefiro tocar uma do que meter - Categoria: Masturbação - Votos: 2
246397 - Na moto vermelha - Categoria: Fantasias - Votos: 1
246360 - Entre o volante e o desejo - Categoria: Heterosexual - Votos: 3
246266 - No Silêncio do Apartamento - Categoria: Lésbicas - Votos: 6
246265 - Um domingo nua na academia - Categoria: Fantasias - Votos: 4
246264 - Pela trilha do desejo - Categoria: Masturbação - Votos: 1
246258 - O prazer num ambiente compartilhado - Categoria: Masturbação - Votos: 3
246230 - Após o treino - Categoria: Masturbação - Votos: 1
246161 - Sem penetração - Categoria: Masturbação - Votos: 3
246156 - Entre elas - Categoria: Masturbação - Votos: 4
246154 - Respiração compartilhada - Categoria: Bissexual - Votos: 5
246101 - Primeira noite com ela - Categoria: Masturbação - Votos: 2

Ficha do conto

Foto Perfil pelotoque
pelotoque

Nome do conto:
Perdendo a virgindade na Vila Mimosa do início dos anos 90

Codigo do conto:
246968

Categoria:
Virgens

Data da Publicação:
11/11/2025

Quant.de Votos:
0

Quant.de Fotos:
1