Sexo, para ele, era necessidade fisiológica — controlada, agendada, impessoal. Em São Paulo, contratava acompanhantes; no Rio, evitava se arriscar. As vizinhas e as funcionárias o olhavam com curiosidade discreta, mas Ricardo tinha uma regra de ouro: nenhum envolvimento que pudesse gerar problema. Preferia o domínio da própria mão e a discrição de uma rotina previsível. Namorar e casar não estavam em seus planos para o curto prazo.
Mas naquele domingo abafado, a inquietação era outra. O corpo pedia mais que o alívio que a masturbação lhe proporcionava; pedia a presença de uma mulher real.
Ligou para a casa de massagem em Copacabana, mas ninguém atendeu. Folheou o jornal. Seus olhos percorreram os classificados em letras minúsculas, até que encontrou um número promissor. Chamou.
Do outro lado, uma voz masculina respondeu:
— Agência do Jorge, boa noite.
— Ah… desculpe, pensei que fosse atendimento feminino — respondeu Ricardo.
O homem explicou, com paciência, que sua agência só trabalhava com modelos masculinos e os que estavam atendendo eram heterossexuais. Ricardo agradeceu, encerrando a ligação. Tentou outros números — nenhum resultado. Por impulso, voltou a ligar para Jorge.
O agente riu, reconhecendo a voz.
— Já te disse, amigo, aqui hoje só tem homem pra atender mulher.
Ricardo hesitou, então lançou a provocação:
— E se eu pagasse o dobro pra você mesmo vir?
Do outro lado, silêncio. Depois, uma risada breve.
— Dois mil reais? É o preço pra te fazer desistir.
Mas Ricardo não desistiu.
— Pago o mesmo valor se você me ajudar a realizar uma fantasia. Pessoalmente te explico.
A curiosidade venceu a precaução, e Jorge marcou o encontro num bar da Lapa.
Entre o som de sambas antigos e copos suados, Ricardo expôs o plano: queria ser, por uma noite, um garoto de programa.
Jorge o olhou com desconfiança, avaliando a seriedade daquela proposta absurda.
Mas as quarenta notas de cinquenta reais sobre a mesa falaram mais alto.
Pouco depois, o celular de Jorge vibrou. Uma cliente fiel, Fernanda — quase quarenta anos, elegante, habituada ao jogo de sedução. Jorge não pensou duas vezes.
— Vai ser sua estreia, novato — disse, entregando o endereço e um aviso: — Ela gosta de mandar. Faz o que ela quiser e tudo vai dar certo.
Fernanda o recebeu num hotel discreto da Zona Sul. O salto dela ecoou sobre o piso enquanto observava o “novato” tirar a camisa.
— Não precisa falar muito, Ricardo. Quero te ver obedecer.
A voz dela tinha algo de hipnótico. O perfume doce e o olhar firme pareciam dissolver a resistência dele. O ambiente cheirava a desejo contido, o ar vibrava com o atrito dos corpos que se aproximavam e recuavam num jogo de provocações.
Fernanda comandava cada gesto — às vezes com um toque leve, às vezes apenas com o olhar. Ricardo descobriu prazer em ser conduzido, em perceber o quanto ela se excitava com o controle.
Ao comando de Fernanda, Ricardo a chupou fazendo-a gozar em sua boca. Depois recebeu outra ordem que seria se deitar na cama nu.
— Agora quero que você toque uma punhetinha pra mim.
Enquanto ele se masturbava, Fernanda assistia sentada sobre um móvel do quarto, satisfazendo suas buceta com um brinquedo comprado no sex shopping.
O tempo pareceu suspenso. Quando o silêncio tomou o quarto, ela o fitou com satisfação e disse, ainda ofegante:
— Você nasceu pra isso. Adorei sua chupada e a gozada. Acho tão másculo um homem se masturbando.
Pagou-lhe trezentos reais, mesmo após Jorge ter dito que aquela vez seria uma cortesia. Ricardo hesitou em aceitar, mas sabia que negar seria quebrar o feitiço daquela noite.
Dias depois, Jorge ligou.
— Fernanda não para de falar de você. Disse que foi o melhor da casa. Quer repetir.
Ricardo sorriu.
Naquela semana, outras ligações vieram. Mulheres diferentes, vozes diferentes. Umas casadas, outras viúvas, divorciadas e até novinhas solteiras, todas em busca de algo que iam além do sexo — queriam ser ouvidas, desejadas, respeitadas enquanto se entregavam.
E ele, que sempre controlara tudo, aprendeu a arte de ceder para dominar de outro jeito.
Nos fins de tarde, ao ver o sol se pondo atrás do Pão de Açúcar, Ricardo às vezes se perguntava quem, afinal, estava vendendo o quê — o corpo, o desejo, ou a ilusão de liberdade.
Apenas sorria, pegava o telefone e esperava a próxima voz.


Já fiz programas que renderam muito prazer.