Ele a cumprimentou com gentileza, pegou sua mala e, enquanto caminhavam até o carro, Larissa percebeu algo nele que a intrigava. Havia uma serenidade no olhar de Pedro, uma elegância natural, e isso despertou nela uma admiração silenciosa — talvez até algo mais.
O apartamento de dona Letícia ficava em um prédio antigo, de janelas grandes e corredores estreitos. Apenas dois quartos. A ideia inicial era simples: Larissa ficaria no quarto da tia, até que uma antiga dependência de empregada fosse reformada. Mas o “provisório” começou a se alongar, e as noites no quarto compartilhado tornaram-se um pequeno tormento.
Letícia gostava de dormir tarde, com a televisão acesa, o som da novela ecoando pelas paredes. Já Larissa, cansada das aulas e da adaptação à cidade, ansiava por um pouco de silêncio. As duas começaram a se incomodar mutuamente — até que a tia, num misto de impaciência e praticidade, sugeriu:
— Por que você não dorme no quarto do Pedro por uns dias? Ele é tranquilo, não vai se importar.
Larissa disfarçou o alívio.
Pedro também não se opôs — apenas organizou um canto do quarto e, de forma atenciosa, disse que ela podia ficar à vontade.
Os dias seguintes foram de uma convivência estranhamente harmoniosa. Dormiam em camas separadas, dividiam o espaço com respeito, e Letícia, percebendo a boa convivência, acabou desistindo da ideia da reforma até que tivesse uma sobra de recursos maior. O quartinho continuou entulhado de livros antigos, baldes e lembranças esquecidas.
Contudo, à medida em que a rotina se estabelecia, Larissa começou a perceber algo mais dentro de si. Era uma mistura de curiosidade e desejo, um interesse silencioso que ela mesma tentava negar. Começou a notar o modo como Pedro se movia pela casa — o jeito contido, o sorriso discreto, a calma de quem parecia imune a qualquer perturbação.
Ela tentava provocá-lo de forma inocente, andando de shorts curtos ou saindo do banho apenas com a toalha presa ao corpo. Mas Pedro parecia não ver nada além da prima. Mantinha a educação, a distância e a serenidade que, paradoxalmente, só aumentavam a inquietação dela. Por várias vezes ela acariciava seu corpo imaginando estar em seus braços.
Certa noite, após uma aula na faculdade, Larissa voltou mais cedo para casa. O apartamento estava em silêncio, exceto por um murmúrio vindo do quarto. Aproximou-se, curiosa, e notou que a porta estava semi-fechada. Dentro, a luz estava baixa, e duas vozes masculinas conversavam em tom baixo. Reconheceu a de Pedro — a outra era nova, desconhecida.
O impulso venceu a prudência. Encostou o ouvido, o coração acelerado.
Não compreendia exatamente o que acontecia lá dentro, mas algo naquelas vozes, no ar contido, despertava nela uma sensação estranha — um misto de surpresa e fascínio.
Ousadamente, ela olhou pelo buraco da fechadura e observou os dois rapazes nus. Estavam se masturbando um em frente ao outro.
Recuou, o rosto em chamas. Foi direto ao banheiro, tentando apagar da mente o turbilhão que a invadia. Ligou o chuveiro, deixou a água cair sobre o corpo quente e respirou fundo. Depois sentou-se no chão e começou a bater uma siririca lembrando da cena, gozando com a ajuda de seus dedos.
Por um instante, sentiu-se como se tivesse atravessado uma fronteira invisível entre a inocência e o mistério adulto que até então só imaginara.
De repente, alguém tentou abrir a porta.
— Desculpa! — disse uma voz masculina, do outro lado. Era Breno, o amigo de Pedro.
Larissa ficou imóvel por alguns segundos, com o coração acelerado. Depois ouviu Pedro dizer algo abafado, explicando a situação ao amigo, e o silêncio voltou.
Nos dias seguintes, nada foi dito.
Larissa, inquieta, observava Pedro com um olhar novo, tentando decifrar o que havia naquela amizade. Até que um dia, movida por coragem e curiosidade, perguntou diretamente:
— Pedro… você e o Breno… são mais do que amigos?
Ele a olhou com serenidade.
— Não. — respondeu, após um breve silêncio. — Somos só amigos.
O tom tranquilo dele a desarmou. Mas havia algo nas entrelinhas — algo que não precisava ser dito, porque já estava ali, pairando entre os dois.
Desde então, Larissa nunca mais olhou o primo da mesma forma.
E Pedro, embora continuasse o mesmo, parecia perceber — em cada olhar dela, em cada silêncio — que havia algo crescendo no ar.
Algo que talvez nenhum dos dois tivesse coragem de nomear, mas que, de algum modo, transformava todas as noites em São Paulo num jogo de respirações contidas, gestos disfarçados e desejos que habitavam as paredes.

