Converteram-se. Foram recebidos com abraços e sorrisos, mas logo entenderam que o amor deles, como viviam, não era considerado puro. “Deus abençoa a união no altar, não no leito”, dissera o pastor, olhando-os com firmeza. Recomendou abstinência sexual até o casamento.
Saíram do culto de mãos dadas, calados, com um peso novo entre os dedos. Em casa, o silêncio parecia maior que as paredes. Ele tentou brincar, aliviar o clima, propondo até uma espécie de noite de despedida para começarem tudo certo no dia seguinte, mas ela desviou os olhos. O corpo dele buscava o dela, e ela apenas beijou-lhe o rosto antes de se virar para dormir.
Nos dias seguintes, o toque se tornou um campo de tensão. As conversas, antes leves, agora se encostavam em limites invisíveis. O amor permanecia, mas havia algo mais — uma força reprimida, uma corrente que os unia e afastava ao mesmo tempo.
Passaram a dormir em camas separadas, prometendo fidelidade à promessa que haviam feito diante da congregação. Mas o desejo, esse não conhecia doutrina. Vinha em ondas: no olhar, no cheiro do outro ao passar pelo corredor, no lençol amassado ao amanhecer.
Ambos lutavam. Oravam. Tentavam convencer o corpo de que o espírito era mais forte. No entanto, o corpo também tem sua forma de oração — silenciosa, instintiva, quase sagrada. E quando a noite se fazia longa demais, cada um encontrava seu modo de acalmar o coração inquieto.
Ele passou a se masturbar no banheiro sem que a companheira soubesse. Ela também tocava-se às escondidas, sendo que pequenas situações, como o simples ato de se banhar, já lhe proporcionava prazer.
Na terceira semana de abstinência, o desejo de Sônia tornou-se intenso. Certa noite de lua cheia, ambos foram se deitar, mas era ela que não conseguia dormir. Começou então a tocar em seu próprio corpo e a se despir até ficar completamente nua, afastando também o lençol para o lado. Os gemidos despertou o companheiro e Sônia percebeu que ele havia acordado.
Dessa vez era a mulher quem desejava romper as regras religiosas e chamou o companheiro para junto de si. Ele, porém, se recusou respondendo que só voltariam a transar depois que o casamento fosse realizado.
Ela não se aproximou dele, mas continuou ali buscando o próprio prazer até gozar deliciosamente em sua frente. Ele a observou excitado, com um grande desejo, porém se conteve.
Após gozar, ela virou para dormir, mas ele não conseguiu pegar mais no sono. Levantou-se de sua cama, chegou perto da companheira e a abraçou. Sentiu seu cheiro e começou a se masturbar até gozar com a mulher toda nua ao seu lado.
Como ainda estava acordada, ela se virou o beijou. Continuava com muito desejo e a cena daquele homem agora em descanso, mas que havia gozado ao seu lado, fez com que ela retribuísse, beijando-o com ternura e tesão a ponto de outra vez se masturbar.
No final dessa noite, ambos se olharam sem dizer qualquer palavra. O ato de ficarem nus e se tocarem não significou para eles transgressão, nem desobediência — apenas um gesto contido, um suspiro partilhado. E, embora o pastor da igreja proibisse também a masturbação, ambos ainda desconheciam essa regra que sequer estava explícita nos livros da Bíblia.
Desse modo, aceitaram que o amor que entre eles havia era feito de alma e de corpo, e que um não podia negar o outro. A partir de então, o casal voltou a dormir na mesma cama, partilhando um prazer que lhes ajudava a manter o que entendiam ser abstinência sexual, por meio da observação e do toque em si mesmos.

