Entre o volante e o desejo



Quando parei o carro em frente à casa dela, percebi que o coração batia mais rápido do que o normal. Olhei o relógio: faltavam poucos minutos para as dez. O carro estava limpo, o painel brilhando, e eu ainda sentia o cheiro do perfume que passara antes de sair. Tinha comprado aquele tênis novo na tarde anterior — uma tentativa de parecer mais jovem, talvez mais à altura dela.

Quando a vi saindo de casa, por um momento esqueci de respirar. O vestido preto se moldava ao corpo de um jeito que beirava o hipnótico. O cabelo solto, o perfume leve e um sorriso que parecia convidar à perdição. Entrou no carro e me cumprimentou com um beijo no rosto. O simples toque da pele dela já bastou para acender algo em mim.

O caminho até a boate durou cerca de cinquenta minutos, mas passou rápido. Conversamos sobre música, filmes, rimos de coisas pequenas. Ela tinha uma forma de falar que me fazia esquecer o resto do mundo. Havia algo de doce e provocante ao mesmo tempo.

A boate estava cheia. As luzes piscavam, o som vibrava no peito. No início, dançamos de forma tímida, cada um tentando entender o ritmo do outro. Mas depois, o corpo dela se aproximou do meu e não houve mais distância. Sentia o perfume misturado ao suor, a respiração no meu ouvido, o toque leve da pele contra a minha. Quando nossos lábios se encontraram, o resto sumiu — era só ela, o calor e o instante.

Bebemos algumas cervejas. Eu mantive o controle, mas ela, empolgada, se deixou levar um pouco além. As risadas ficaram mais soltas, os passos menos firmes. Por volta das duas da manhã, percebi que era hora de ir. A ajudei a sair, apoiando-a pela cintura. O corpo dela se encaixava perfeitamente ao meu.

Dentro do carro, ela encostou a cabeça no banco e abriu um sorriso preguiçoso. O rádio tocava alguma música lenta, e eu dirigia tentando não pensar no quanto a desejava. Foi então que senti o clima mudar.

Ela começou a brincar com o vestido, primeiro levantando a barra, depois deslizando os dedos pela pele das coxas. Olhou pra mim e sorriu. Tentei desviar o olhar, mas o desejo era insistente. Quando percebi, ela já havia tirado o vestido. Estava completamente nua — só as sandálias nos pés, os colares, os brincos e uma lata de cerveja na mão.

O ar ficou denso.

Ela me provocava com o olhar, tocava o próprio corpo como se dançasse ainda no ritmo da música da boate. Passei por dois motéis, depois por um ponto escuro onde alguns carros estavam parados. Quase encostei o carro, quase. Mas havia algo em mim que dizia que não seria certo.

Ela estava embriagada. Bonita, livre, mas vulnerável. E eu sabia que, se cruzasse aquela linha, não conseguiria me olhar da mesma forma depois.

Segui em frente.

De repente, ela gemeu baixo, arqueando o corpo, e logo depois relaxou, adormecendo. Continuei dirigindo em silêncio, tentando organizar a confusão de desejo e responsabilidade que me consumia.

Quando chegamos perto da casa dela, encostei o carro e a chamei. Ela abriu os olhos devagar, olhou ao redor e pareceu entender onde estava. Vestiu o mesmo vestido, sem se preocupar com a calcinha, e antes de sair jogou-a sobre o meu rosto, rindo. Depois me deu um beijo — rápido, mas quente o bastante pra me deixar sem ar.

Fiquei parado por alguns segundos depois que ela entrou. O carro parecia ainda impregnado com o cheiro dela, com o calor da pele, com algo que eu não sabia se era culpa ou saudade antecipada.

Em casa, tomei banho tentando apagar a lembrança, mas cada gota d’água parecia reavivar a cena. Me toquei pensando nela, revivendo cada gesto, cada suspiro.

Nos dias seguintes, não consegui tirá-la da cabeça. Ela me mandou duas mensagens no WhatsApp. Eu li, mas não respondi. Não sabia o que dizer. Tinha medo de me envolver com alguém que podia me arrastar para situações que eu não saberia controlar.

Mas a verdade é que ela nunca saiu de mim.

Foram dias, depois semanas. E então, uma noite qualquer, o celular vibrou. Uma chamada de vídeo.

Era ela.

Hesitei por alguns segundos antes de atender. Quando a tela se iluminou, o rosto dela apareceu — o cabelo preso, o olhar sereno e aquele sorriso que eu conhecia tão bem.

— Oi — ela disse, com a voz baixa. — Achei que você nunca mais fosse falar comigo.

Demorei um instante pra responder. A voz saiu quase num sussurro:

— Eu pensei em você todos os dias.

Ela mordeu o lábio inferior e ficou em silêncio. O mesmo silêncio denso da volta da boate. Só que agora, do outro lado da tela, eu via um convite diferente: mais maduro, mais consciente.

E naquele instante, percebi que a história entre nós ainda não tinha acabado.

Foto 1 do Conto erotico: Entre o volante e o desejo


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Ficha do conto

Foto Perfil pelotoque
pelotoque

Nome do conto:
Entre o volante e o desejo

Codigo do conto:
246360

Categoria:
Heterosexual

Data da Publicação:
03/11/2025

Quant.de Votos:
3

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