Saiu à varanda. A cidade fervia lá embaixo, carros e buzinas em um caos que contrastava com o silêncio que ela carregava por dentro.
Tentava convencer-se de que nada havia acontecido, que tudo não passara de um instante de nervosismo, de proximidade... mas seu corpo desmentia o raciocínio.
À tarde, quando ele voltou, o clima entre eles era de uma calma tensa.
Pedro a cumprimentou com o mesmo sorriso de sempre, mas o olhar — aquele olhar — havia mudado. Não era mais neutro.
Era cúmplice.
— Dormiu bem? — perguntou ele, servindo-se de um copo d’água.
— Quase não dormi. — respondeu, sincera.
Pedro ergueu os olhos. Um breve silêncio se fez entre os dois.
E então, pela primeira vez, ele pareceu ceder um pouco à gravidade daquele desejo contido.
— Eu também não — disse, baixo.
As palavras ficaram pairando, suspensas no ar.
Nenhum dos dois se moveu por alguns segundos — o tipo de pausa em que o tempo se dobra sobre si mesmo.
Larissa se aproximou lentamente, sem saber o que faria quando chegasse perto.
Pedro respirou fundo, hesitou, mas não recuou. O rosto dela agora estava a poucos centímetros do dele, e a distância entre os dois parecia uma provocação.
Não houve pressa, nem palavras. Apenas o momento — o espaço exato entre o querer e o permitir.
Os olhares se cruzaram longamente, e o que aconteceu depois foi tão natural que parecia já estar escrito.
Um toque de mão, primeiro tímido, depois firme.
O calor da pele denunciando tudo o que haviam tentado calar.
Os corpos se aproximaram devagar, como quem teme romper o encanto.
O beijo não veio de imediato.
Antes dele, houve a respiração compartilhada, o toque no rosto, a hesitação — e então, enfim, o instante em que tudo o que era silêncio virou presença.
Nus, os dois se entregaram ao sentimento da descoberta com toques mútuos e beijos pelo corpo. A fadiga de uma noite mal dormida com a liberação de energia sexual através da masturbação pelas horas da madrugada a dentro não limitava o desejo que havia entre eles.
A cidade lá fora continuava seu barulho, indiferente.
Porém, dentro do quarto, o tempo ficou suspenso.
Não foi explosão, nem urgência — foi descoberta.
A confirmação silenciosa de algo que crescera em segredo desde o primeiro olhar no aeroporto. Agora os dois corpos nus estavam frente a frente em chamas.
O pênis de Pedro aproximou-se da entrada da vagina umedecida de Larissa e foi só até ali, sem penetra-la. Contendo-se ele começou a se masturbar e ela o acompanhou tocando uma siririca até gozarem.
Quando se afastaram, Pedro a olhou como quem pede desculpas por ter cedido e agradece por ter cedido ao mesmo tempo.
Larissa apenas sorriu — um sorriso pequeno, quase infantil, mas cheio de certeza.
Naquela noite, o apartamento parecia outro.
As paredes, antes cúmplices de silêncios, agora guardavam uma memória nova — não de posse, mas de encontro.
Algo entre o permitido e o inevitável.
E enquanto o sono se aproximava, Larissa pensou no quanto a vida, às vezes, é feita de momentos assim — breves, delicados e perigosos — que não se planejam, apenas acontecem.
Como o toque da chuva na janela, ou o primeiro olhar de alguém que se tornaria impossível esquecer.


