LOBO MAL (parte 01)

Como maquiadora, costumo fazer muitos frilas em uma produtora/estúdio de fotografias aqui em SP. Uns meses atrás, logo que entrei na produtora, notei alguém que não conhecia parado na porta de um dos sócios. Era um homem, de seus quarenta ou cinquenta anos, cabeça raspada, cavanhaque, pouco mais alto que eu, camisa social e jeans. Cruzamos olhares, uma troca educada de sorrisos e fui para o meu cantinho preparar as coisas para meu trabalho. Enquanto fazia isso, pensava no cara da recepção, parecia bem ser o tipo de homem que eu gosto, bem cuidado, em forma, mais velho e essas coisas todas. Mas não pude pensar mais, pois as meninas começaram a entrar para serem preparadas para as fotos. E assim as coisas andaram desde a hora que cheguei até bem depois das dez da noite (quase 12 horas direto), cansada como estava disse TCHAU para o povo e sai voando para casa, uma vez que teria mais do mesmo no dia seguinte.

No outro dia, mal chego no estúdio, dou de cara com o mesmo homem do dia anterior, ele sorri e percebo que me olha dos pés à cabeça, apesar do rayban. Eu estava usando um jeans stretch de cintura baixa, um cropped branquinho e sapato de saltinho, mais confortável para trabalhar. Ele sorri e retribuo o sorriso, mas por de trás dos óculos escuros, faço uma avaliação detalhada dele. Ele de mocassim, jeans de marca, camisa de manga comprida, que dava a entender que haviam muscúlos por baixo dela e finalmente o sorriso maravilhoso, com dentes perfeitos. Concluo que me agrada em muito. Ele se apresenta como Tony, diz que estava acompanhando as meninas no ensaio, uma produção de looks casuais de verão. Usei meu nome social (Lana), apresentações feitas, me despeço e sigo para meu cantinho. Percebo que ele me olha, tento evitar, mas não consigo e acabo andando e rebolando um pouco mais do que gostaria.

Começo meu trabalho e a coisa segue corrida até perto da nove da noite. Assim que comecei a guardar minhas coisas, uma das meninas vem conversar comigo, ela diz que o povo todo foi convidado para um jantar, patrocinado pela marca das roupas. Como era uma quinta-feira e nada sério para fazer na sexta, aceitei e a mesma menina pediu carona para ela e outra amiga, ambas da produtora. O lugar do jantar, era tipo um restaurante/balada que estava abrindo naquela semana, naquilo que o povo chama isso de SOFT_OPENING e era mais ou menos perto da produtora. Quando chegamos, quase tive um choque, lugar super lindo e transado, uma dessas baladas que não são nada baratas, umas das meninas que estava comigo percebeu meu espanto ou surpresa e disse logo :

- Relaxa, bicha. Aquele careca disse que é tudo super boca livre, ”DI GRÁTIS” mesmo !

Paro na porta, entrego meu “carro” para o manobrista, e entramos as três. Caramba, o lugar era (é) lindo demais. Uma recepcionista, pega nomes e nos leva até uma mesa meio que na borda do que acho que seja a pista de dança e um palco pequeno. O pessoal esta servindo umas bebidas, desde coqueteis e cerveja, até uisque e champanhe. Acabo pegando uma champanhe, que adoro. Um bom tempo depois, uma luz ilumina o palquinho e o Tony, o careca, faz um discursinho rápido de boas vindas e agradecimentos, nessa hora descubro que ele é um dos sócios da marca. Ele termina de falar, o jantar começa a ser servido, uns pratos lindos e deliciosos, adorooooooo ! Pouco depois de servirem a sobremesa, os garçons começam a retirar algumas mesas para abrir a pista de dança, o DJ começa a colocar umas músicas mais animadinhas. Até sinto vontade de dançar, mas a pista ainda esta muito vazia. Fico ali na mesa com as meninas e de repente, o careca se senta com a gente. Mesmo conversando com todas nós, vira e mexe seus olhos colam em mim, não demoro a notar um certo olhar de LOBO MAL focando na sua “vítima”, não posso dizer que não gosto. Depois de um tempo, ele se levanta e vai para uma outra mesa, bem anfitrião mesmo. Ao passar por mim, toca levemente no meu ombro e sorri, retribuo.

As meninas resolvem dançar e as acompanho. Em varios momentos, quando olho em volta, noto que o careca parece estar sempre me olhando e numa dessas vezes, até me faz um brinde à distância e sorri. Depois de me acabar na pista de dança, volto para a mesa e deliciada, noto que ainda tem champanhe no balde de gelo. Mato uma taça e faço um refil. Nisso, Patrícia, uma das meninas, vem me perguntar se pode dormir em casa, já que acabou a condução e o metro.

- Claro que pode ! Diz uma coisa, você não bebe, né ?
- Não, não gosto ...
- E você dirige ?
- Dirijo sim, por que ?
- Já que vai ficar em casa, pode dirigir na volta ?
- Claro ...
- Linda, então vou beber ...
- Juízo, né bicha !

Caio na risada, ela também, mais um taça e a gente volta para a pista. Assim entre idas e vindas à pista de dança e a goles de champanhe, chega a hora de ir embora, passa das 2 da manhã. E resolvemos ir embora. Quase na saída, Tony me segura pelo braço.

- Puxa já vai ? É cedo ainda !
- É que tô cansada, foi dia puxado, pra mim !
- Acredito e parabéns, você foi “ótimo” com as meninas, muito profissional, mesmo !
- Puxa, brigada !
- Então, posso pedir seu telefone ?
- Hummmmmmm !!!! Pode, claro.

E digo meu numero, que ele digita no celular dele, logo é o meu tocando. Obviamente é o dele.

- Não vai atender ? (fala rindo)

Atendo e desligo.

- Agora, tenho que ir, as meninas tão me esperando ...

Nos despedimos com beijinhos, mas a mão dele nas minhas costas parece me queimar - detalhe, o cropped que estava usando deixava parte das costas de fora. Encontro com as meninas e vamos embora. O manobrista traz meu carro, Patrícia assume o volante, eu meio altinha no passageiro e Sílvia atrás, só ai descubro que ela também vai dormir em casa, respondo que não tem problema, já que tem espaço para todo mundo.

- Nossa biiiicha, o coroa se interessou bem por você, depois de uma certa hora não tirava os olhos de ti !
- Sério ? Só vi ele me olhando uma vez !

Menti na cara dura mesmo, nem ia comentar que também me interessei nele.

A conversa muda de assunto e chegamos em casa. Ajeito as camas para elas e vou deitar, mas antes preciso de um banho, para relaxar e tentar diminuir meu foguinho. Dia seguinte acordo perto das 8 e as meninas já de pé, estão improvisando um café da manhã. A gente se arruma, deixo elas na produtora e vou fazer minhas coisas, coisas bem de menina (risos) depilação, mãos e pés. Em seguida, vou ao mercado para as coisinhas básicas de casa. Na fila do caixa, o telefone toca, é Patrícia.

- Biiicha, você nem imagina, chegou um presentão pra você aqui ...
- Sério ? Que presente ? De quem ?
- Melhor você mesma ver, tem um envelopinho lacrado, mas com seu nome nele.
- Tá bommmmm, daqui a pouco passo ai !

O pessoal na produtora sempre me chamava pelo meu nome mesmo, mas a maioria sabia do meu nome social, que estava no cartão. Toda curiosa e ouriçada fui voando pegar meu presente. Quando chego lá, Patrícia me entrega um buque de rosas vermelhas e brancas enorme. Meio trêmula e ansiosa, abro o cartão.

“Foi uma agradável surprêsa te conhecer, Espero que goste das rosas. Ass : T”

- E ai biiiiichaaaa ! Quem mandou isso ? Foi o careca, não foi ???? Falaaaaa ...
- Não, não foi. Por acaso é de um ex ... (mentira, claro !)
- Muita coincidência, né ?
- Nem tanto, a gente se esbarrou ontem cedo ...
- Tá bom !

Como ainda tinha coisas para fazer, pego o buque e vou embora. So bem mais tarde é que ligo agradecendo.

- Oi Tony !
- Que surpresa agradável ... Então gostou das flôres ?
- Nossa amei, adoro rosas, são lindas ...

A conversa dura uns minutos, ele diz que esta fora de São Paulo, mas que volta na próxima semana e me convida para sair. E acabo aceitando. O fim de semana passa voando, segunda feira se arrasta, eu esperando o telefonema dele, que finalmente acontece no dia seguinte. Ele pede meu endereço, dizendo que me pega as 8 para jantarmos. Nessa hora bate uma certa aflição. O que usar ? Devo me montar de verdade ou algo mais natural ? Volto voando para casa ...

==> segue parte 02