As vozes ao redor se misturavam a um zumbido. O copo de vinho já estava vazio, mas minhas mãos ainda o seguravam — talvez como se ele pudesse me ancorar à realidade.
E então, ela voltou.
Não havia pressa em seus passos. Rosa surgiu pela porta com o mesmo sorriso tranquilo de quem domina o próprio enredo. O vestido estava levemente amassado e com respingos, o batom um pouco borrado — não o suficiente para denunciar, apenas o bastante para insinuar.
Mas o que realmente me atingiu foi o olhar.
Sereno. Lento. Quase complacente.
Um olhar de quem trazia um segredo guardado entre os lábios.
Ela se aproximou da mesa, depositou a taça vazia ao meu lado, se abaixou, pegou minha mão em forma de concha e cuspiu nela! Literalmente! E aquilo não era cuspe, era branco e viscoso! Meus olhos queimavam e lacrimejaram. Tentei manter-me firme. Então ela disse, com aquela voz que não admitia réplica:
— Está tudo bem, minha menina? (Voz aveludada)
Tentei responder, mas as palavras não vinham. Havia algo no ar — um perfume novo, uma energia que me prendia à cadeira.
Rosa sorriu, limpando o canto da boca.
— Eu sabia que ia se comportar, minha garotinha, mas continue boazinha, que ainda não acabou, está bom? — disse ela.
Acariciou minha nuca com delicadeza. O gesto, simples e breve, foi o bastante para que ela me mostrasse quem estava no controle.
Eu a observava, dividido entre o alívio e a inquietude. Cheirei minha mão disfarçadamente. Sim, era exatamente o cheiro que eu imaginava.
No fundo, eu sabia: Rosa não precisava dizer o que acontecera lá dentro daquela casa. O poder dela estava justamente nisso — em me deixar imaginar. Em me fazer desejar saber, e ao mesmo tempo temer a resposta.
E enquanto ela sorria para mim, como quem oferece pena e domínio ao mesmo tempo, compreendi que o verdadeiro feitiço de Rosa não estava em seu corpo, nem em suas ordens. Estava no silêncio que deixava atrás de cada gesto. Um silêncio onde eu já não sabia mais quem eu era para ela.
As risadas voltaram, a música cresceu. Rosa pegou umas pimentinhas vermelhas num cesto que estava na mesa, e encheu uma das mãos. Eu não entendi. Ela voltou a dançar e, enquanto dançava, se distanciava em direção à porta da casa novamente. Mas agora era diferente. Eu tinha certeza do que estava rolando. Rosa entrou e, em seguida, aquele homem estranho (pelo menos para mim).
Eu obedecia, parado ali no meu lugar! Não consegui me conter, me levantei devagar, olhando a porta, temendo que Rosa aparecesse de repente. Eu até gostaria que ela saísse, mas não saiu!
Caminhei em direção à casa, entrei. Fiquei confuso. Era uma casa grande, não sabia para onde ir. Eu os havia perdido!
Decidi voltar para o meu lugar. E quando já estava saindo na porta, observei uma pimentinha caída no chão. Me abaixei, peguei. Olhei mais ao lado e havia outra mais afastada. Encontrei três por ali. Achei que tinha acabado, e vi um ponto vermelhinho na escada, destoando da cor dos degraus. Sim, era outra pimentinha. Fui subindo bem devagar enquanto recolhia as pimentas.
Já no andar de cima, havia um corredor que ligava uma extremidade à outra e várias portas. Fui conferindo com cuidado, e todas estavam trancadas, exceto uma no fim do corredor, onde várias pimentinhas se destacavam, espalhadas pelo chão.
Caminhei devagar em direção ao quarto. Ignorei as pimentas. O que vi foi embaraçoso: Rosa de quatro para aquele estranho. Gemia não muito baixo; ninguém a ouviria. O som do pagode inundara o ambiente, em cima e embaixo. Mas eu conseguia ouvir minha Rosa, ouvia o corpo do homem estralando (ou batendo/estapeando) na bunda dela.
Estavam de costas, ele não podia me ver, mas Rosa sabia que eu estava ali. Ela havia me guiado até lá, fez questão que eu visse ela pegando as pimentas. Ela queria que eu os visse, e eu estava ali, vendo!
O estranho chupou o cu dela, cuspiu e meteu sem dor, onde eu não podia chegar nem perto, senão ela me repreendia. Rosa gemia (uhava) — não sei se de dor ou prazer!
— Chupa meu cacete, vadia! — disse ele.
Não demorou e ele soltou um gemido longo e rouco. Desci as escadas ligeiro e me sentei na mesa.
De repente, surge Rosa na porta, sorriu para mim, acenou e veio em minha direção!
— E então, garota, ficou boazinha?
Eu respondi com a cabeça que sim. Então Rosa olhou nos meus olhos e perguntou:
— Para que estas pimentas em sua mão, princesa?
Eu estava tão paralisado que havia esquecido de me desfazer delas. Tentei responder e fui interrompido!
— Ahhhh... Deixa para lá, vamos embora que já está ficando chata esta festa!
Levantei. Nos despedimos e, enfim, partimos.
Havia uma calma em seus movimentos, uma certeza silenciosa — como se tivesse vencido um duelo que só ela conhecia as regras.




