Amanda sempre foi o tipo de mulher que controlava tudo. Na sala de aula, era firme, respeitada. Seus alunos a viam como uma figura de autoridade, quase intocável. Mas por dentro, havia um silêncio que crescia com os anos uma inquietação morna que
ela enterrava sob a rotina, sob a responsabilidade, sob os livros.
Durante muito tempo, viveu à sombra de uma dúvida: “Sou mesmo livre para desejar o que quero?”
Mesmo com Rafael, que a amava profundamente, ela se censurava. Tinha medo de parecer demais. Medo de se mostrar crua, desinibida, suja. Sentia-se entre o que o mundo esperava dela e o que sua pele, seu ventre, sua alma ansiavam.
Desde os vinte anos, fantasiava em segredo com a ideia de ser dominada, de se entregar por completo a dois homens. Não por submissão — mas por poder. Queria sentir-se desejada, totalmente, sem vergonha. Queria ser devorada, adorada, possuída. Mas ao mesmo tempo... se envergonhava de si mesma por querer isso.
“Será que sou vulgar?” — perguntava, sozinha, antes de dormir.
“E se ele pensar que não sou mais a mulher ‘certa’ pra ele?”
Mas Rafael nunca a julgou. Quando ela, hesitante, revelou seu desejo, ele não recuou.
Apenas a ouviu de verdade como poucos homens sabem fazer. E isso, mais do que qualquer brinquedo, foi o verdadeiro gatilho da libertação de Amanda.
A viagem de lua de mel se tornara, para ela, mais do que uma celebração do amor era uma travessia. Ali, longe dos olhos do mundo, ela podia se despir de todos os papéis:
professora, esposa, mulher controlada. E ao se despir, descobriu-se mais inteira.
Na noite em que sonhou com Leo, ela acordou tremendo mas não de medo. Era desejo, sim. Mas também uma nova consciência: ela não precisava se anular para ser digna de amor. Ela podia ser intensa, voraz, imaginativa e ainda assim, ser amada, respeitada.
Pela manhã, olhou-se nua no espelho do quarto. Observou os seios marcados pelas mãos de Rafael, o pescoço levemente roxo, a pele ainda quente. Pela primeira vez em muito tempo, achou-se bela. Não no sentido estético comum, mas no sentido visceral: era uma mulher que sentia. Que ousava.
Ela pensou no sonho com Leo e no realismo quase assustador da cena. Não era apenas o toque ou a penetração. Era a sensação de ser o centro de uma dança íntima, selvagem e consensual. Era estar no controle e ao mesmo tempo perder o controle. Era confiar a dois homens seu corpo e seu prazer. E isso... era poder.
No café da manhã, olhou Rafael nos olhos e disse:
— Se um dia acontecer... de verdade... quero que seja com você me guiando. Quero me sentir segura. Mas também... quero ser a mulher que sempre escondi de mim mesma.
Rafael apenas estendeu a mão por sobre a mesa. Tocou sua pele, firme.
— Então vamos encontrá-la juntos.