Foi ela quem sugeriu o retorno.
— Quero ver de novo. E quero ser vista.
Rafael a olhou com surpresa. Não pela proposta, mas pela clareza com que Amanda dizia aquilo. Ela não estava insegura, não buscava aprovação. Estava afirmando um desejo — e isso o excitava mais do que qualquer fantasia.
Naquela noite, Amanda vestiu um longo vestido vinho, de tecido leve, com fenda lateral e decote generoso, mas não vulgar. Rafael optou por algo clássico: camisa preta, calça de alfaiataria, e o mesmo olhar firme da primeira vez. Ambos sabiam: não estavam indo para repetir a experiência, mas para aprofundá-la.
Na entrada da Casa de Vidro, foram novamente recebidos com discrição. Máscaras de veludo aguardavam sobre uma bandeja prateada. Amanda escolheu uma dourada, com arabescos sutis ao redor dos olhos. Rafael, uma negra, simples e elegante. Colocaram-nas sem hesitação.
Na sala principal, a luz estava mais baixa. O ambiente era como um tecido vivo que respirava junto aos corpos. Sons de música suave, risos contidos e respirações marcavam o ritmo da noite.
Dessa vez, não andaram de mãos dadas. Se separaram ao entrar no salão, como que guiados por uma intuição silenciosa. Amanda caminhava entre os espaços como se flutuasse, sentindo-se observada, mas não exposta. Olhares a tocavam com uma delicadeza quase ritual. Ela não sorria — oferecia apenas a presença.
Parou diante de um grande espelho de moldura prateada. O reflexo devolveu algo que ela ainda não tinha visto: uma mulher consciente de seu próprio corpo, de sua própria força, de seu magnetismo. Rafael se aproximou por trás. Não disse nada. Apenas a envolveu com os braços, e seus olhos se encontraram no espelho.
— Você está diferente, — disse ele, num sussurro.
— Estou me vendo, — respondeu Amanda. — Como você me vê. Ou talvez como sempre fui.
Rafael a virou de frente e colou sua testa à dela. Eles não se beijaram. Apenas respiraram juntos. Ao redor, o mundo parecia sumir. Mas sabiam que estavam sendo vistos. Sabiam que outros olhos os acompanhavam — e isso não os constrangia. Os fortalecia.
Instintivamente, começaram a dançar. Movimentos lentos, quase imperceptíveis. Mãos que deslizavam sobre os quadris, dedos que contornavam os ombros, olhos fechados. Não era uma dança para o outro, mas com o outro. E o espelho à frente captava tudo: o toque, o compasso, o desejo.
Quando pararam, Amanda encostou a testa no vidro frio. Seu reflexo ainda a encarava. Sentiu Rafael se afastar um pouco. Ele a observava agora. E Amanda, ali, exposta ao próprio olhar e ao dele, sentiu uma excitação nova — quase espiritual.
— Sabe o que mais me excita? — ela disse, sem virar o rosto.
— O quê?
— Me ver através dos seus olhos. Ver que você deseja não só o meu corpo... mas quem eu me torno quando me desejo.
Rafael sorriu. E então, por alguns instantes, a tocou com os olhos apenas. Como se a cada centímetro do corpo dela houvesse algo sagrado, algo que não podia ser possuído, apenas reverenciado.
Antes de irem embora, passaram por um corredor mais estreito, onde outros casais estavam sentados em sofás baixos, trocando olhares, taças e sussurros. Não se juntaram a ninguém, mas perceberam algo novo: começavam a ser reconhecidos. A familiaridade era silenciosa — como se o corpo deixasse rastros mesmo onde as palavras não alcançam.
No carro, de volta para casa, Amanda encostou a cabeça no banco e fechou os olhos.
— Senti como se eu tivesse atravessado um espelho.
— E o que tinha do outro lado?
Ela sorriu, sem abrir os olhos.
— Outra versão de mim. Mais inteira. Mais livre.
Rafael pegou sua mão e a levou aos lábios.
— Eu vi. E me apaixonei por ela também.
Continua...