Meu corpo ainda vibrava do que acontecera na sala do glory hole.
Mas algo dentro de mim não havia se saciado.
Não era o orgasmo. Era algo anterior a isso. Mais antigo.
Era o desejo de desaparecer. De ser desejo, e só.
Foi então que ela apareceu.
A anfitriã do clube. A mulher da entrada. Aquela que nos recebeu com as máscaras pretas e a voz mansa. Estava agora sem coque, os cabelos loiros soltos sobre os ombros, vestida de seda vermelha. Seus olhos me encontraram no corredor como se já soubesse o que eu precisava.
— Venha comigo, Amanda — ela disse, sem hesitar.
Olhei para Rafael, que conversava com Lucas no bar. Meu coração apertou por um instante.
Mas confiei. Nele. Nela. Em mim.
A anfitriã me conduziu por uma escadaria lateral, até um andar que não tínhamos visitado. Ao final do corredor havia uma porta dourada, com inscrições em latim e um símbolo que parecia uma lua entreaberta. Ela abriu devagar.
O quarto era circular. As paredes eram de tecido branco que tremulava suavemente com o ar. O chão, coberto por um tapete macio cor vinho. No centro, uma cama baixa, redonda, envolta por véus finos.
Espalhados pelo cômodo, havia quatro homens.
Todos mascarados.
Todos nus.
Todos de pé, em silêncio.
Meu coração disparou.
— Esta é a Sala dos Reflexos, Amanda — disse a anfitriã, se aproximando por trás de mim. — Aqui, você não é esposa. Nem nome. Nem rosto.
— Aqui, você é só corpo. Só energia.
— E eles... são o que você quiser que sejam.
Minha pele inteira se arrepiou.
Ela sussurrou ao meu ouvido:
— Eles não falam. Não tocam sem ordem. Só obedecem.
— Você é a oferenda.
— E o altar... é seu.
Ela então tirou meu robe. Fiquei nua, de frente para os quatro homens.
Senti vergonha por um segundo. Mas ela desapareceu no instante em que a anfitriã beijou meu pescoço e disse:
— Eles não te veem como objeto. Eles te veem como milagre.
Me deitei sobre a cama. A anfitriã estalou os dedos.
O primeiro homem ajoelhou-se ao lado esquerdo e começou a beijar meu ombro. O segundo ajoelhou entre minhas pernas e passou os dedos ao redor do meu sexo, com reverência. O terceiro passou a língua pelos meus mamilos, com delicadeza quase religiosa. O quarto apenas me olhava, com as mãos atrás das costas, como um guarda sensual em silêncio.
— Toquem — disse a anfitriã. E os três começaram seu ritual.
Meus olhos giravam no teto de seda branca. Sentia o calor das línguas, o deslizar dos dedos, o arfar de suas respirações próximas. Nenhum deles dizia uma palavra.
Nenhum nome. Nenhum rosto.
Só mãos. Só bocas. Só desejo.
O primeiro penetrou-me com os dedos.
O segundo com a língua.
O terceiro sussurrava sons roucos no meu ouvido, sem sentido, mas cheios de fogo.
Meu corpo era um altar em combustão.
Gozei pela primeira vez com dois homens ao mesmo tempo. Depois novamente, com outro corpo sobre mim e mais um por trás, apenas me roçando. Eles se revezavam com perfeição. Me deixavam respirar. Me levavam de novo. Me faziam perder qualquer ideia de tempo, de mundo, de mim.
E em algum momento, talvez entre o terceiro e o quarto orgasmo, abri os olhos... e o vi.
Rafael.
De pé na porta.
A máscara em uma das mãos.
O rosto banhado de suor e angústia.
Ele havia me procurado. E agora me encontrava... ali.
No centro.
Nua.
Com quatro homens em volta.
Por um momento, o mundo parou.
Nossos olhos se cruzaram.
Ele não disse nada.
A anfitriã se aproximou dele. Tocou seu ombro.
Sussurrou algo.
E ele assentiu.
Se virou e saiu.
Meu coração gelou.
Mas os corpos ainda me tocavam.
E eu ainda queria.
Mesmo com medo.
Terminei. Mais uma vez.
Mas não com alegria.
Com um gosto agridoce na garganta.
Me limpei. Me vesti.
Desci.
Rafael me esperava na porta.
No escuro, do lado de fora.
Ele não disse nada.
Nem eu.
Só entrelacei minha mão na dele.
No carro, ele dirigia em silêncio.
As ruas de São Paulo passavam pelas janelas como cenas de um filme incompleto.
— Você me perdoa? — perguntei, finalmente.
Ele não respondeu de imediato.
Mas depois disse:
— Não tem o que perdoar.
— Você viveu.
— E eu vi.
— E o que você viu?
Ele olhou para frente.
Acelerou suavemente.
E respondeu:
— A mulher mais livre que já amei.
Esse conto é o último da Série "A Grande Aventura de Amanda". Espero que tenham gostado e não esqueçam de votar e comentar.
Obrigada e bjs a todos!
Oie. Maridão sensacional. Parabéns ao casal pelas experiências. Confesso que senti uma pontinha de inveja de você. Mas me deliciei com a narrativa. Bxos.