Eles estavam sentados em um dos lounges laterais, dividindo uma taça de vinho tinto, quando um casal se aproximou. Havia uma elegância discreta neles — um tipo de presença que não precisava anunciar nada, apenas se fazia notar. A mulher era morena, cabelos ondulados nos ombros, olhos escuros e calmos. O homem, alto, com barba bem cuidada e olhar sereno. Ambos usavam trajes escuros e máscaras prateadas.
— Posso? — disse a mulher, apontando para o espaço ao lado.
Amanda e Rafael assentiram. Havia algo no tom da pergunta que não era invasivo, mas respeitoso. Sentaram-se próximos, mas não colados. Por alguns instantes, apenas silêncio.
— É a primeira vez de vocês? — perguntou o homem, depois de um tempo.
Amanda sorriu.
— Não. Mas ainda é como se fosse.
A mulher riu suavemente.
— Entendo bem isso.
Apresentaram-se com naturalidade: Lara e Miguel. Não era um interrogatório, nem uma sondagem disfarçada. A conversa fluía como um rio tranquilo. Falaram de música, de arte, de como chegaram ali — sempre sem pressa, como se o tempo também estivesse em suspensão.
Em dado momento, Rafael comentou:
— O que mais nos surpreendeu aqui foi perceber que o desejo pode ser observado. Que há beleza em ver e ser visto, sem que isso exija mais do que a presença.
Lara assentiu, os olhos nos de Amanda.
—O corpo pode ser tocado com os olhos, se houver verdade no olhar.
Amanda se arrepiou. Não pelo conteúdo, mas pela forma como aquelas palavras tocaram algo em sua pele.
Miguel, com voz calma, complementou:
— A maioria vem em busca de liberdade, mas descobre que liberdade sem cuidado vira descontrole. Por isso, nós seguimos regras. Não porque somos rígidos — mas porque sabemos o valor da confiança.
Rafael ergueu a taça em um gesto de brinde.
— Regras podem ser eróticas.
Todos sorriram.
A conversa continuou, mas aos poucos tomou um tom mais íntimo. Falaram sobre limites, desejos, medos. Lara disse que não tocava ninguém sem antes conhecer o olhar da pessoa. Miguel explicou como cada casal tinha seu ritmo, e que forçar a experiência matava o que ela tinha de mais precioso: o tempo certo.
Amanda ouvia tudo com uma curiosidade tranquila. Em algum ponto da noite, percebeu que o vinho já não fazia mais efeito — ou talvez fosse outra embriaguez que tomava conta.
Rafael segurou sua mão de leve, como quem pergunta em silêncio se tudo está bem. Amanda respondeu com um olhar firme e um leve aceno.
Eles sabiam que não fariam nada naquela noite. E foi essa certeza que tornou tudo ainda mais excitante. Havia algo nos quatro — uma dança silenciosa, um ensaio não marcado. Mas ninguém queria apressar o próximo passo.
Na saída, Lara tocou o braço de Amanda, com delicadeza.
— Gostamos de vocês. Se um dia quiserem conversar fora daqui... estamos abertos.
Ela entregou um cartão pequeno, sem sobrenomes, sem números — apenas um endereço de e-mail e o mesmo símbolo dos espelhos entrelaçados.
No carro, Rafael comentou:
— Eles não parecem querer nos seduzir.
Amanda sorriu, olhando pela janela.
— Talvez seja exatamente isso que me seduz.
Chegando em casa, os dois se despiram devagar, como se o toque do outro ainda carregasse o eco da conversa. Fizeram amor com os olhos abertos, como se procurassem, um no outro, todas as perguntas que ainda não haviam feito — e todas as respostas que ainda estavam por vir.
Na manhã seguinte, Amanda abriu o laptop e digitou o endereço do e-mail no campo de destinatário.
Assunto: Sobre ontem.
Corpo da mensagem: Estamos prontos para conversar. Com carinho, Amanda e Rafael.
Continua...