Na entrada do café, encontrou Isabela sentada sozinha, com um livro na mão e um café meio cheio na mesa. Ela parecia distraída, mas sorriu ao ver Amanda.
— Bom dia, dorminhoca.
— E você? Sozinha por aqui?
— Lúcio teve que sair cedo hoje. Um compromisso de última hora no celular... coisa de trabalho, acho. — Isabela deu de ombros.
Amanda sentiu um frio na barriga. Pequeno, sutil. Mas inegável.
— Que estranho... — disse, tentando soar casual.
Isabela a observou por um instante, com aquele mesmo ar enigmático de antes. Depois sorriu, como quem decide guardar uma história para outro dia.
— Vocês dois pareciam... felizes ontem. Vi vocês indo para o jantar. Amanda, você estava linda.
Amanda agradeceu com um sorriso contido.
Depois do café, voltou para o bangalô. Sentou-se na cama e ficou em silêncio por longos minutos.
A lembrança da noite anterior era vívida — o toque, os gemidos, a explosão de sensações. Mas agora... a possibilidade. E se o homem fosse Lúcio? E se Rafael tivesse cruzado uma linha mais profunda do que ela imaginava?
Ela não perguntou. Não confirmou. Mas a dúvida, silenciosa, se instalou.
Não a culpa. Não o arrependimento.
Mas a dúvida.
Talvez, pensou Amanda, esse fosse o verdadeiro presente: a liberdade de imaginar.
E a possibilidade de desejar — mesmo sem saber exatamente o quê.