O desejo não tem um fim. Ele muda de forma. Se desloca. Se reinventa.
Era isso que Rafael e eu descobríamos, juntos, a cada nova experiência. E, depois da noite com Lívia — tão intensa, tão bela em sua entrega — algo em nós se reacendeu. Não era só prazer. Era vontade de brincar com as fronteiras. De colocar o tesão à mesa como um jogo.
Foi assim que nasceu a ideia das cartas.
Escrevemos juntos, numa noite de vinho, vinte fantasias. Algumas suaves. Outras... bem, outras quase inconfessáveis. Cada uma num cartão preto, dobrado ao meio. Colocamos todas dentro de uma caixa vermelha com um laço de fita. Combinamos que, a cada semana, um de nós tiraria uma carta às cegas — e o outro teria que seguir as regras da brincadeira.
A primeira carta foi minha.
“Seja observada. Deixe-se tocar sem ver quem está ao seu redor. Venda os olhos. Confie.”
Na semana seguinte, Rafael sorteou:
“Veja sua mulher ser tocada por outra, sem participar. Só observar.”
Rimos. Nos excitamos. Cumprimos cada uma.
A caixa virou um ritual.
Foi num domingo à tarde, enrolados no sofá, que tirei uma carta que nos fez gelar — e suar ao mesmo tempo:
“Surpreenda seu parceiro. Traga alguém de fora para o jogo. Mas que não seja uma repetição. Encontre a peça que falta.”
Fiquei em silêncio por um momento. E então um nome me veio à mente.
— Lívia — eu disse.
— Mas... você quer repetir com ela?
— Não. Ela tem namorado agora. E eu quero ver até onde isso pode ir. Quero ver se esse namorado entra no jogo.
Rafael arqueou uma sobrancelha.
— E você acha que ele aceitaria?
— Não sei. Mas ela disse que ele era aberto, curioso. E... ele não conhece a gente. Não tem nossas imagens guardadas. Seria um jogo novo.
Mandei uma mensagem para Lívia naquela mesma noite.
A resposta veio em menos de cinco minutos:
“Ele topa. Com uma condição: o jogo é comandado por você.”
Senti o calor subir pelas coxas.
Marcamos o encontro para um sábado. Um bar discreto. Rafael e eu nos vestimos com cuidado — não para impressionar, mas para seduzir com intenção. Elegância afiada. Lívia chegou primeiro, e logo depois apareceu Caio, seu namorado.
Moreno, corpo definido, sorriso tímido mas olhos atentos. Dava pra sentir que ele estava desconfortável com a ideia... e totalmente excitado por ela.
A conversa fluiu com mais vinho do que palavras. E quando sugeri que fôssemos ao nosso apartamento, não houve resistência.
Ali, o jogo mudou.
Propus que jogássemos a caixa entre os quatro. Um rodízio de fantasias. E Caio, que a princípio parecia passivo, revelou aos poucos um lado mais ousado. Desafiador.
A carta que ele puxou foi simples:
“Assista sua mulher seduzir outra mulher na sua frente.”
E Lívia... era uma devoradora silenciosa. Quando me beijou, ali na frente de Rafael e Caio, fez com que ambos se calassem. Seus dedos traçavam meus quadris enquanto sua boca me tomava com fome. Eu senti meu corpo ceder. Fui me despindo para ela, e para os olhos de Rafael, que parecia hipnotizado. Caio observava como quem testemunha um incêndio prestes a consumir tudo.
A próxima carta foi minha.
“Escolha um deles. Apenas um. E diga, com gestos, o que ele deve fazer com você. O outro observa.”
Eu olhei para Rafael. Depois para Caio.
E escolhi Caio.
Rafael sorriu. Era o que ele queria. Me ver sendo ousada. Me ver dizer sim com o corpo a outro.
Deitei no sofá. Abri lentamente as pernas. Indiquei com um gesto que ele se ajoelhasse. Caio se aproximou, ofegante, quase em transe. Tocou minhas coxas como quem pede permissão. Quando sua língua me alcançou, fechei os olhos.
Mas os abri logo depois. Para ver Rafael. Sempre Rafael. Com os olhos cravados em mim. Ardendo.
Aquela noite terminou com corpos misturados, gemidos contidos e um prazer que parecia não caber no quarto. Dormimos exaustos. Felizes.
E foi no dia seguinte que recebemos a mensagem de Lucas:
“Acho que vocês já estão prontos. O clube vai abrir para convidados especiais neste fim de semana. Discrição. Liberdade. Regras claras. O prazer como bússola.”
Olhei para Rafael.
— Vamos?
Ele não respondeu. Só me beijou devagar. E eu soube que sim.
Continua ...