Por um instante, permaneceu imóvel, como se o silêncio da manhã pudesse prolongar o que acabara de viver.
As imagens ainda estavam nítidas: Lara, Miguel, o clube, os espelhos, as trocas, os toques... o olhar de Rafael entregue, as palavras sussurradas, a sua própria pele sendo descoberta por outras mãos. Tudo tão real. Tão vívido. Tão dela.
Mas não havia taças na mesa de cabeceira. Nem roupas espalhadas no chão. Nenhum aroma de vinho no ar, nenhum sussurro vindo da outra sala. Apenas o cheiro familiar do quarto, o som do ventilador lento e o respirar de Rafael ao seu lado.
Ela havia sonhado. Todo aquele universo — as máscaras, os rituais, os limites ultrapassados com cuidado — era, afinal, um sonho. Um desejo.
Amanda permaneceu ali, deitada, olhos abertos, sentindo o coração bater em um ritmo diferente. Não era tristeza. Nem alívio. Era... revelação.
Não era preciso ter vivido para ter sentido.
E sentir, para ela, sempre fora o que movia tudo.
Virou-se devagar e observou Rafael, ainda adormecido. Seu rosto sereno, seus lábios entreabertos, aquele corpo que ela conhecia em cada detalhe — e que agora parecia conter mais camadas do que imaginava.
Passou os dedos por seus cabelos. Ele despertou com um leve sorriso.
— Bom dia... — murmurou.
— Bom dia, amor.
Ficaram assim por um tempo, apenas olhando um ao outro.
Até que Amanda falou:
— Tive um sonho.
— Foi bom?
Ela hesitou. Depois assentiu.
— Foi intenso. Com outras pessoas. Um clube... máscaras... nós dois. Foi um sonho erótico. Mas não era só sobre sexo. Era sobre presença. Sobre liberdade. Sobre olhar e ser olhada. Sobre confiar em você até o fim.
Rafael escutava, sem interromper.
— Você ficou bravo? — ela perguntou.
Ele sorriu, com ternura.
— Claro que não. Fico feliz que você tenha sonhado isso. E mais feliz ainda que tenha me contado. Porque agora posso te ver ainda mais inteira.
Amanda respirou fundo. Sentia-se leve. Quase transparente.
— Eu não sei se quero viver isso de verdade. Talvez não. Mas saber que posso sonhar com isso, e dividir com você, já é... libertador.
Rafael puxou-a para mais perto.
— Não é sobre fazer. É sobre poder falar. Sobre não esconder. Se o desejo é uma casa, que ela tenha muitas janelas abertas.
Amanda fechou os olhos. Pensou nos espelhos do clube, nos olhares trocados, nos limites cruzados com respeito. Tudo aquilo era dela. Mesmo que não tivesse acontecido.
E agora, havia algo ainda mais poderoso ali: a liberdade de imaginar, sem culpa. De sonhar, e ser acolhida.
Porque, no fundo, o sonho não era um plano — era um convite.
Um convite para expandir. Para abrir conversas. Para redescobrir o outro — e a si mesma.
E Amanda sabia: o real começava agora.
Com o toque de Rafael em sua pele, com o silêncio seguro entre os dois.
Com a certeza de que, desperta, ainda podia ser inteira — desejo, cuidado, e imaginação em carne viva.