Ela o segurou por alguns segundos antes de abri-lo, como se seus dedos já soubessem que aquele gesto não era qualquer um. Dentro, um cartão de papel firme e perfumado dizia, em letras elegantes:
“Você está convidada para uma noite de descoberta. Local: Casa de Vidro. Dress code: elegante. Máscaras fornecidas no local. Presença apenas mediante confirmação. A experiência começa às 21h.”
Amanda sorriu, intrigada. Mostrou a Rafael quando ele chegou do trabalho, e a primeira reação dele foi um arquejo leve, quase um riso.
— Parece coisa de filme, — disse ele, os olhos brilhando com aquela curiosidade inquieta que Amanda conhecia bem. — Mas e se for real?
— E se for exatamente isso que precisamos? — ela respondeu, encostando-se no peito dele com a carta entre os dedos. Havia provocação no tom, mas também sinceridade. Eles não estavam buscando uma fuga. Estavam buscando um espelho.
Rafael beijou sua testa e não disse mais nada. Às vezes, o silêncio entre eles dizia mais do que qualquer consentimento.
A "Casa de Vidro" ficava em um bairro antigo, entre ruas arborizadas e pouco movimento. À primeira vista, o casarão não chamava atenção — discreto, com fachada de pedra e portões escuros. Mas quando entraram, tudo parecia mudado. Luzes âmbar escorriam pelas paredes, e um perfume de jasmim pairava no ar. Uma mulher de vestido preto e olhar sereno os recebeu com um sorriso.
— Bem-vindos. Sintam-se em casa. Observem. Não precisam participar de nada hoje. A escolha é sempre sua.
Ela entregou a cada um uma máscara. Amanda a tocou com cuidado: veludo macio, bordado delicado. Quando a colocou, sentiu-se atravessar um umbral invisível. Não era mais a professora de literatura, nem Rafael era apenas o fotógrafo sonhador que amava suas palavras. Ali, eram outra coisa. Uma versão deles que ainda não conheciam.
O salão principal era amplo, dividido por cortinas finas que criavam pequenas atmosferas dentro do todo. Casais se moviam em silêncio ou sussurros. Alguns sentados, apenas conversando. Outros, entregues a toques sutis, carícias discretas, beijos demorados. Tudo parecia acontecer como uma dança: sem pressa, sem ruído, sem imposição.
Amanda e Rafael andavam de mãos dadas, observando. Uma mulher com olhos fechados se deixava tocar por duas mãos masculinas. Um casal trocava olhares diante de um espelho grande, como se o reflexo fosse parte do jogo. Ninguém os olhava diretamente, mas todos pareciam saber da presença deles. E respeitavam.
— Isso não é vulgar, — sussurrou Amanda. — É... quase poético.
Rafael apertou sua mão.
— É como ver o desejo com outros olhos.
Foram convidados a sentar-se numa pequena alcova, onde taças de vinho os esperavam. Ficaram ali, em silêncio, sentindo o calor do lugar. Sentindo a própria presença ali. Em certo momento, Amanda percebeu que outro casal os observava de longe. Não havia provocação, apenas uma presença firme, tranquila.
Ela se inclinou no ouvido de Rafael.
— Você está excitado?
— Estou. Mas mais do que isso... Estou curioso.
Amanda encostou a cabeça no ombro dele. Não era excitação crua, não era um impulso sem nome. Era algo mais profundo — como se estivessem diante de um espelho onde não viam apenas o corpo do outro, mas o desejo que os moldava desde sempre.
Saíram horas depois, sem trocar uma palavra com ninguém além da anfitriã. Na volta para casa, o silêncio era carregado de energia. Rafael dirigia com uma mão no volante e a outra entrelaçada nos dedos de Amanda. Quando entraram no apartamento, foi ela quem o puxou pela gola da camisa e o beijou, com a intensidade de quem não está mais sonhando — está acordando.
Fizeram amor com os olhos vendados — ela com uma faixa de cetim, ele guiado pelas mãos dela. Não era sobre o que tinham visto. Era sobre o que aquilo tinha despertado.
Continua...