As máscaras já não escondiam, revelavam. A de Amanda era vinho profundo, com detalhes dourados em torno dos olhos. A de Rafael, preta como a noite, de linhas limpas, quase uma extensão do rosto. Vestiam-se como sempre: elegantes, sutis, como se o erotismo estivesse nos gestos, não nas roupas.
Lara e Miguel já os esperavam em uma das salas mais reservadas, onde os espelhos ocupavam paredes inteiras e as luzes eram mais suaves, como véus de calor.
Dessa vez, Amanda não hesitou. Havia algo diferente em sua postura: uma autoridade tranquila, sensual. Ela não queria apenas participar — queria dirigir. E Rafael, ao perceber, aceitou sem resistir. Havia, no fundo de seus olhos, uma entrega silenciosa, quase devocional.
— Quero que você seja visto, — disse Amanda a Rafael, enquanto caminhava com ele até o centro da sala. — Mas sob meus olhos.
Ele assentiu, sem palavras.
Amanda o fez sentar-se numa poltrona baixa, voltada para os espelhos. Pediu que tirasse a camisa, devagar. Rafael obedeceu, e o som do tecido deslizando pela pele pareceu amplificar o silêncio do lugar. Havia poucas pessoas na sala, mas todas entenderam: uma cena começava.
Lara e Miguel sentaram-se ao lado, observando. Não como voyeurs passivos, mas como cúmplices atentos. Amanda estava no centro. Não como objeto de desejo, mas como arquiteta dele.
Ela se posicionou atrás de Rafael, os dedos deslizando por seus ombros, depois descendo pelas laterais do peito. Olhou para os espelhos e viu seus próprios olhos ali: firmes, calmos, despertos. Tudo nela dizia “eu conduzo”.
Fez com que ele fechasse os olhos. Inclinou-se e sussurrou ao pé de seu ouvido:
— Você vai sentir. Mas não vai tocar. Vai ser olhado. Mas sou eu quem decide o que eles veem.
Amanda começou a tocar Rafael lentamente, com as costas da mão, com os cabelos, com a boca em sua nuca. Cada gesto era mais sobre intenção do que ação. O prazer não estava no toque direto, mas na coreografia do desejo.
Rafael respirava mais fundo. Estava vulnerável, mas não exposto — protegido por aquele olhar firme de Amanda, que o conduzia com precisão.
Quando Lara se aproximou, Amanda a deteve com um gesto suave. Um sim contido. Permitido, mas sob suas regras.
Lara entendeu. Tocou Rafael com reverência, apenas no peito, em movimentos circulares. Amanda observava cada nuance. Se Rafael estremecia, ela regulava o ritmo. Se ele suspirava mais alto, ela decidia se continuaria... ou interromperia.
O erotismo não estava em permitir tudo — mas em escolher o quanto permitir. Amanda sentia o poder, e não como dominação, mas como expressão do cuidado. Ela se descobria, ali, como mulher que não apenas deseja, mas dirige o próprio desejo.
Rafael abriu os olhos, em dado momento, e os espelhos devolveram-lhe a imagem: seu corpo entre as mãos de Amanda e de Lara, seu prazer refletido em vários ângulos, sua vulnerabilidade transformada em força.
— Está tudo bem? — Amanda perguntou, firme e doce.
— Está perfeito. Porque é você quem está me guiando.
Amanda sorriu. Sabia que o que haviam construído ali não era apenas uma cena sensual, mas um novo degrau de confiança. Não era sobre a presença de outros, mas sobre a clareza de si.
Depois de um tempo, ela encerrou a cena com um toque nos ombros de Rafael, um beijo em sua testa. A sala entendeu o gesto. A cortina simbólica se fechava. A porta... permanecia entreaberta.
No fim da noite, de volta ao quarto, Amanda se despiu em silêncio. Rafael a observava, com um respeito quase solene.
— Eu nunca me senti tão seu quanto ali.
Ela se aproximou, sentou-se sobre ele, e sussurrou:
— Porque foi você quem me entregou o comando.
Fizeram amor como se ainda estivessem cercados de espelhos. Mas agora, os reflexos não eram de outros corpos — eram de versões novas de si mesmos. E Amanda sabia: a próxima porta estava à vista. E ela estava pronta para abri-la.
Continua...