— Quero que venham até nossa casa. — disse ela a Lara e Miguel, com um sorriso calmo. — Quero que o espaço seja nosso. Mas que o território seja novo.
Rafael apenas assentiu. Sabia que ela não falava apenas de paredes e móveis. Falava de fronteiras internas, das que agora estavam prontas para ser tocadas — com a mesma delicadeza com que se toca um corpo amado.
Prepararam o ambiente com esmero. Luzes suaves, almofadas pelo chão, vinho tinto respirando em taças amplas. Amanda posicionou dois espelhos grandes nos cantos da sala. Não para vaidade — mas para expansão. Ela queria ver. E queria se ver. Queria observar Rafael sendo outro e, ainda assim, sendo dela. Queria ver-se mulher entre outras possibilidades.
Quando Lara e Miguel chegaram, os cumprimentos foram silenciosos. Beijos no rosto, abraços demorados. Era como se os quatro já estivessem no centro de algo que não precisava ser nomeado. A tensão era doce. A entrega, iminente.
Foram se despindo aos poucos. Não das roupas apenas, mas dos gestos sociais. Das hesitações. Das palavras desnecessárias.
Amanda foi a primeira a ser tocada por outra mulher.
Lara se aproximou devagar, olhando em seus olhos antes de tudo. Depois, pousou as mãos em seus quadris, subindo até os seios, com uma reverência que era quase religiosa. Amanda não se afastou. Pelo contrário. Fechou os olhos. Permitiu-se.
O toque feminino era diferente. Não mais ou menos intenso — apenas outro. Um idioma que ela ainda não falava, mas que, ali, começava a aprender pela pele.
Rafael observava. Sentado ao lado de Miguel, via Amanda sendo tocada por Lara com leveza e presença. E sentia — em vez de ciúme, um desejo quente e sereno. Desejo de vê-la livre. Bela. Plena.
Quando Miguel se aproximou dela, Amanda olhou para Rafael. Não havia dúvidas — apenas uma pergunta silenciosa. E Rafael respondeu com um gesto de cabeça: “se quiser, vá”.
Amanda estendeu a mão. Tocou Miguel. Tocou Rafael. Tocou Lara.
A noite seguiu como uma dança sem coreografia, mas com escuta. Os corpos se cruzavam, se buscavam, se contornavam com paciência. Não havia correria. Nem pressa para chegar a nenhum clímax. Cada respiração, cada beijo, cada gemido leve era um clímax em si.
Houve penetração. Houve beijos longos entre Amanda e Miguel, entre Lara e Rafael. Houve momentos em que todos estavam nus, entrelaçados, mas sem confusão — apenas presença. Era como se o desejo de um alimentasse o do outro, e não o disputasse.
Amanda, em dado momento, montada sobre Rafael, trocava olhares com Lara, que era tocada por Miguel. Entre os dois casais, um fio invisível os unia. Não era posse. Não era apego. Era comunhão.
Nos espelhos, viam-se multiplicados. Versões de si mesmos que existiam só ali — e talvez para sempre.
Quando tudo terminou, não havia pressa para se vestir. Ficaram deitados juntos no chão, mãos entrelaçadas, peles misturadas.
Miguel foi quem falou primeiro, em voz baixa:
— Não é sobre quantidade. É sobre qualidade de presença.
Amanda sorriu, encostada no peito de Rafael. Olhou para Lara, que devolveu o olhar com ternura.
— E sobre liberdade com raízes. — disse Amanda. — Não se trata de voar para longe, mas de explorar o próprio ninho por dentro.
Na madrugada, depois que Lara e Miguel partiram, Amanda e Rafael ficaram em silêncio no sofá. Não havia mais perguntas. Só um sentimento vasto, que não cabia em palavras.
Na intimidade do quarto, fizeram amor novamente. Mas agora, com todos os sentidos expandidos. Como se tivessem tocado uma dimensão secreta um do outro, e ela ainda reverberasse em cada gesto, cada suspiro.
Amanda, deitada depois, olhando o teto, pensou:
Não somos mais os mesmos. Mas somos, enfim, mais nós do que nunca.
Continua...