Quando voltamos para casa, já não éramos os mesmos. Algo havia mudado, e não era apenas o corpo que ainda guardava memórias dos toques e provocações daqueles dias. Era o olhar. Era a forma como eu, Juan e meu marido nos víamos a partir dali.
As visitas de Juan continuaram, mas agora havia um silêncio diferente entre nós. Nos jantares, quando eu servia o vinho, sentia seu olhar pousando discretamente em minhas pernas cruzadas, em decotes pensados para provocar. Meu marido percebia, e sorria com aquela malícia que só ele sabia ter. Havia um pacto implícito, uma espécie de permissão invisível, que transformava cada encontro em um jogo de tensão e antecipação.
As viagens, então, se tornaram terreno fértil para nossas fantasias. Num final de semana em um hotel tivemos que dividir o mesmo quarto com apenas uma casa king size porque “não havia vagas suficientes”. À noite, deitada entre eles, fingia dormir, só para sentir a respiração de Juan na minha nuca, enquanto meu marido passava a mão devagar pela minha coxa. Era impossível não imaginar até onde aquilo iria.
A amizade, antes leve e inocente, passou a ser um espaço de descoberta. Conversávamos sobre tudo: música, política, viagens, sexo, mas em cada pausa havia algo mais. Uma tensão silenciosa, um subtexto carregado de desejo. O riso de Juan já não era só divertido; era excitante. Sua presença já não era apenas bem-vinda; era necessária, como se um vazio tivesse surgido e só pudesse ser preenchido por ele.
E cada vez que eu me arrumava para recebê-lo, não era como antes. Não era apenas a esposa zelosa recebendo um amigo da família. Eu escolhia a roupa, o perfume, os gestos. Eu queria ser vista. Queria provocar. Queria repetir o que tínhamos vivido no carnaval, e ir além.
Meu marido, cúmplice em tudo, alimentava essa chama. Às vezes me dizia, antes de Juan chegar:
— Hoje quero que você o faça perder o controle. Quero ver até onde ele aguenta.
Essas palavras me incendiavam. E eu me entregava ao papel com prazer, cada vez mais consciente de que Juan já não era só um amigo: era parte de nós.