Quando as Palavras Chegam



A casa os recebeu em silêncio, como se compreendesse que algo invisível havia se transformado entre eles. João pendurou o casaco devagar, ainda com os gestos calmos de quem carrega um pensamento inacabado. Eu o observei em silêncio, percebendo o peso leve da tarde ainda pousado sobre seus ombros.

Ficamos algum tempo assim — ele caminhando pela sala, eu o acompanhando com o olhar. O som do relógio marcava o compasso do que ainda não havia sido dito. Era um silêncio que não doía; era o silêncio de quem se entende até no que não se pode explicar.

Ele parou perto da janela e olhou para fora.
— Sabe o que eu senti hoje? — perguntou, sem virar o rosto.
— Diz — respondi.
— Medo, no começo. Depois… uma paz estranha. Como se, por um instante, eu tivesse visto o amor fora das paredes daquilo que aprendi sobre ele.

Aquelas palavras ficaram no ar, leves e fortes. Eu me aproximei, sentindo que qualquer resposta precipitada as quebraria. Apoiei a mão em seu ombro, e ele, enfim, se virou. Havia ternura em seus olhos — e também um brilho de curiosidade, o mesmo que sempre o tornara capaz de me compreender além do óbvio.

— Achei que fosse sentir ciúme — continuou. — Mas o que eu senti foi… presença. Como se o que nos une não dependesse do que acontece, mas de quem somos quando olhamos um para o outro.

Sorri.
— É isso, João. O amor que dura não é o que se defende, é o que se reconhece.

Ele se aproximou um pouco mais.
— E se um dia eu não entender?
— Então eu te explico com calma — respondi. — E se eu for eu quem não entende, você me explica também.

O riso veio leve, desarmado. Era o riso de quem sabe que amar não é possuir, mas continuar escolhendo — mesmo quando a vida se apresenta em tons que assustam.

Sentamo-nos no sofá, lado a lado. Lá fora, o vento soprava as folhas no jardim, e o som lembrava o murmúrio do parque. João encostou a cabeça no encosto e fechou os olhos. Eu o observei, tentando guardar em mim aquele instante de serenidade.

— Foi bonito o que aconteceu hoje — ele disse, baixinho.
— Foi verdadeiro — respondi. — E o verdadeiro sempre é bonito, mesmo quando confunde.

O tempo passou devagar. Ficamos ali até que o silêncio se tornasse conforto de novo. A noite parecia selar um novo pacto entre nós: o de amar com coragem, de olhar o outro com confiança, de deixar o coração respirar sem medo das formas que a vida escolhe para nos ensinar.

Quando ele se levantou, deu um último olhar para a janela antes de apagar as luzes.
— Acho que, hoje, aprendemos algo sobre nós — murmurou.
— Sim — respondi. — Que o amor não é um território a ser vigiado, mas um espaço onde se pode caminhar de olhos abertos.

E foi assim que o dia terminou — não com certezas, mas com algo mais duradouro: a paz de dois corpos e duas almas que aprenderam a se amar com os olhos abertos e o coração tranquilo.


Faca o seu login para poder votar neste conto.


Faca o seu login para poder recomendar esse conto para seus amigos.


Faca o seu login para adicionar esse conto como seu favorito.


Twitter Facebook

Comentários


foto perfil usuario kasado64rj

kasado64rj Comentou em 06/10/2025

Corno Filosófico! O tesão de ver a mulher sendo penetrada e comida por homem, descrédito pela ótica de um Corno Filósofo, ou Terapeuta. Parabéns!




Atenção! Faca o seu login para poder comentar este conto.


Ultimos 30 Contos enviados pelo mesmo autor


244115 - Além do Limite - Categoria: Sadomasoquismo - Votos: 2
244114 - Capítulo 49 – O que fica depois - Categoria: Sadomasoquismo - Votos: 1
244113 - Capitulo 47 – José me deu uma surra - Categoria: Sadomasoquismo - Votos: 3
244112 - O Diário da Manhã - Categoria: Cuckold - Votos: 1
244054 - Sob as Árvores do Parque - Categoria: Cuckold - Votos: 2
243986 - Segredos de Renda e Toques Proibidos João Virou Ela - Categoria: Cuckold - Votos: 4
243985 - Ser uma puta casada não é vergonha, é revolução. - Categoria: Cuckold - Votos: 8
243984 - Capítulo 10 – No cinema com Francisco - Categoria: Cuckold - Votos: 2
243983 - Capítulo 9 – O Primeiro Encontro: Francisco - Categoria: Cuckold - Votos: 4
243925 - Eu meu corno no Baile Funck - Categoria: Exibicionismo - Votos: 9
243924 - Capitulo 7 – Ousadias e reencontro com Juan - Categoria: Cuckold - Votos: 4
243923 - Quando a amizade vira amor - Categoria: Cuckold - Votos: 4
243922 - Capitulo 5 – Cumplicidade em Silêncio - Categoria: Cuckold - Votos: 4
243920 - João de calcinha - O acordo do desejo - Categoria: Cuckold - Votos: 8
243896 - Na sapataria - Categoria: Cuckold - Votos: 7
243895 - O churrasco inesquecível - Categoria: Cuckold - Votos: 6
243829 - Chupando meu amigo enquanto meu marido servia de garçonete - Categoria: Cuckold - Votos: 5
243828 - O aniversário da minha sobrinha - Categoria: Cuckold - Votos: 4
243827 - Meu marido me deu para um amigo dele no restaurante - Categoria: Cuckold - Votos: 6
243826 - Meu amigo pagou para me comer enquanto meu marido esperava em casa - Categoria: Cuckold - Votos: 6
243825 - Meu marido sentado me observando enquanto me entrego aos amigos dele - Categoria: Cuckold - Votos: 4
243824 - Meu marido me observa em público enquanto me entrego aos meus amigos - Categoria: Cuckold - Votos: 7
243823 - Me entregando a outros enquanto meu marido cuida dos filhos - Categoria: Cuckold - Votos: 4
243822 - Por que meu marido adora me ver saindo com outros homens - Categoria: Cuckold - Votos: 5
243821 - COnfissões de um corno manso - Categoria: Cuckold - Votos: 4
243820 - Meu marido adora ser corno - Categoria: Cuckold - Votos: 7
243746 - SOBRE SANDA CASADA - Se quiser ler rápido leia somente os texto em Maiúsculas - Categoria: Cuckold - Votos: 5
243745 - TERMO DE CESSÃO DE ESPOSA - Meu Modelo - Categoria: Cuckold - Votos: 3
243744 - Eu adoro ser puta - Categoria: Cuckold - Votos: 4
243743 - Saindo com a amiga - Categoria: Cuckold - Votos: 3

Ficha do conto

Foto Perfil sandrasilva
sandrasilva

Nome do conto:
Quando as Palavras Chegam

Codigo do conto:
244055

Categoria:
Cuckold

Data da Publicação:
06/10/2025

Quant.de Votos:
3

Quant.de Fotos:
0