João sempre foi meu porto seguro. Construímos uma vida serena, respeitosa e profundamente cúmplice. Mas até o silêncio tinha seus segredos. Entre risos, conversas sussurradas e gemidos abafados na cama, surgiam fantasias que cutucavam algo mais selvagem dentro de nós.
Nós nos casamos cedo, eu com 19 anos, ele com 21. Cada um trazia consigo experiências diferentes, memórias que moldaram quem éramos. Ele já conhecia o mundo, aprendeu a caminhar sozinho desde cedo, enquanto eu descobria a vida passo a passo, entre risos de amigos, primeiros amores e curiosidades ingênuas. Minha iniciação sexual aconteceu ainda jovem, quase por brincadeira, deixando em mim uma mistura de inocência e descoberta.
Foi numa noite comum, entre provocações e toques leves no quarto, que João, com a calma de quem conhece cada curva do meu corpo e cada tom da minha voz, soltou a pergunta que incendiou meu peito:
— “Você já pensou em estar com outro homem?” Fiquei estática, confusa.
“Do que você está falando? Quer que eu saia com outro homem? Para quê? Conversar? Namorar? Do que está falando?” O choque percorreu meu corpo inteiro.
— “Você está louco?” — perguntei, a voz trêmula. — “Não gosta de mim? Não quer mais estar comigo? Quer que eu me entregue a outro, que ele me coma, que eu vire puta, que eu me abra totalmente para ele, que sinta meu corpo ser dominado? Eu acho que você quer me transformar em puta?” Gritei
— “E se ele me agarrar, me beijar, lamber meus seios e minha boceta até eu implorar por mais? E se eu gemer alto, me perder completamente, sentir prazer que nunca senti antes… e você como fica? Sem poder me tocar?” — minha voz tremia, forte, revoltada, entre medo e desejo. E se ele quiser comer meu cu, eu dou?”
João balançou a cabeça, com um sorriso calmo e olhos cheios de ternura:
— “Não, meu amor. Eu gosto de você mais do que nunca. É exatamente por isso que estou te dizendo isso. Porque confio em você. Porque sei que o que sentimos um pelo outro não vai mudar. Não é sobre querer outra pessoa, é sobre liberdade, curiosidade, desejo… sobre nos conhecermos ainda mais.”
Engoli em seco, sentindo o calor se espalhar pelo corpo.
— “Mas… e se eu me perder? E se eu acabar gostando de outro homem?”
Ele segurou minhas mãos, apertando levemente, firme e delicado ao mesmo tempo.
— “Não vai acontecer. Você está comigo. Sempre esteve. Isso não é sobre falta de amor. É sobre explorar, sobre sentir, sobre prazer. Se algum dia quisermos tentar, escolheremos juntos. Não é traição, é confiança, é entrega… é tesão. Confio em você e sei que confia em mim.”
— “E se eu me sentir culpada? E se meu corpo me trair e eu me perder em alguém?” — perguntei, com o nó na garganta apertando.
João sorriu, como se já tivesse lido cada pensamento meu:
— “Se sentir culpa, falamos. Se se perder, eu te trago de volta. Estamos juntos nisso. Cada passo que você der será comigo, de um jeito ou de outro. Não é sobre você se afastar de mim, é sobre a ousadia de se descobrir inteira, nua diante de si mesma e comigo.”
Um arrepio percorreu minha espinha. Metade medo, metade desejo. Entre as pernas, um calor antigo começou a pulsar, fazendo meu coração disparar. Não era só permissão — era um convite à liberdade, ao prazer, à ousadia. Eu podia sentir, no olhar dele, que cada palavra era um mapa para me perder e me encontrar de novo.
Senti o nó no peito se dissolver em excitação. Meu corpo queimava. A cada frase dele, minha mente traçava imagens proibidas: outro homem me beijando, abrindo minhas pernas, penetrando fundo, enquanto João assistia. Eu me via gemendo, entregue ao prazer e, ao mesmo tempo, segura pela cumplicidade que nos unia.
Naquela noite, não houve sexo. Mas houve algo maior: a certeza de que eu estava à beira de um abismo delicioso. João havia me dado a liberdade de me perguntar, nua diante de mim mesma:
E se eu quiser mais? E se eu quiser provar? E se, no fundo, eu sempre tivesse sido… puta?
A pergunta não me assustava. Pelo contrário, latejava em mim como um orgasmo prestes a explodir. E a cada dia, depois daquela noite, o desejo crescia. Nas pequenas coisas: no jeito que eu me arrumava, nas mensagens que apagava, na forma como me masturbava lembrando das palavras de João.
Eu já não era a mesma. Porque, quando ele abriu aquela porta, entendi que não havia volta — e não sabia até onde eu ousaria atravessá-la.