SERÁ QUE TUDO ESTÁ ESCRITO NAS ESTRELAS? Capítulo 61
Passei pela porta de casa com o coração a mil. Eu estava tão apavorado que temia ter um treco ali mesmo. Porém eu sabia que precisava me controlar. O meu impulso era partir para o aeroporto, pegar o primeiro voo para o Canadá e matar o Anderson no soco. Não! Isso seria muito rápido. Eu queria ver aquele filho da puta sofrer muito. A morte seria muita misericórdia para ele. Entretanto eu tinha que manter o foco e o controle, pois agora a Manú era a minha principal prioridade. Depois eu lidaria com a chantagem que aquele verme estava fazendo. Esse era um momento em que eu não poderia fraquejar. Quando você estuda bastante, quando lê e quer aprender, alguns conhecimentos passam a ficar quase que no automático. Um deles é que você não pode deixar de resolver um problema atual e imediato por pensar em um possível problema futuro ou algo que você não pode resolver de imediato. Apesar de ter a plena consciência que nossas vidas mudariam muito em decorrência daquele “incidente”, naquele momento não havia nada mais importante para mim do que o bem estar da minha esposa. Na sala, bem próximas da porta de entrada, haviam duas malas grandes. Assim que entrei logo a Manú apareceu, arrastando outra mala apressadamente. Quando viu que eu estava lá ela me olhou com a cara mais assustada e sofrida do mundo. Desespero total! O silêncio enquanto nos olhávamos foi extremamente torturante. Então juntei todas as minhas forças e perguntei para ela: — O que é isso Manú? Nessa hora as lágrimas já estavam descendo pela sua face, como se fossem duas cachoeiras. Era claro que ela estava destruída, vulnerável, frágil e ferida. E, após alguns segundos, ela me respondeu aos pratos: — Eu vou embora de casa... eu fiz uma coisa... eu tô envergonhada... Beto me desculpa... eu só vou embora... Aproximei-me e segurei nos dois ombros dela. Parece que ela levou um choque, pois na mesma hora ela deu dois passos para trás, se afastou, abaixou a cabeça e falou: — Não me toque! Era claro que ela também estava apavorada! Continuei perto dela e falei da forma mais calma e compreensiva que eu consegui, em meio à onda de emoções que estava sentindo naquele momento: — Manú, olha pra, mim. — Não... não me olha! Nem eu consigo me encarar no espelho... só me deixa sumir daqui... não faz perguntas! Eu queria ter ido antes de você chegar... Meu coração doía, pois ela estava muito machucada e quem deveria protegê-la era eu. Ou seja, a culpa era minha! Eu é que falhei! Então, após respirar fundo, falei para ela, enquanto recitava, sem parar, em minha mente um mantra: “calma, compreensão e empatia... calma, compreensão e empatia...”. — Manú, olha nos meus olhos! Tudo vai ficar bem! Você está muito confusa. Eu não sei tudo o que aconteceu. Uma parte está aqui nesse pendrive, que eu recebi hoje de manhã. Eu só peço que você assista isso antes de tomar qualquer outra decisão. Ela olhou para o envelope com um olhar confuso e eu consegui conduzi-la para ela se sentar no sofá. Fui ao escritório, peguei meu laptop e o coloquei encima da mesinha de centro da sala e, antes de começar a rodar o vídeo, ainda falei para ela, que continuava chorando: — Você precisa se acalmar! Vamos, respire fundo... E, olhando bem nos olhos dela completei: — Eu vou lutar pelo que importa. E você é a coisa mais importante nessa vida para mim. Nós somos fortes o bastante para passar por isso... Peguei em suas mãos e apertei. E, antes que ela as puxasse, olhei novamente em seus olhos e falei: “— Eu estou do seu lado e vamos resolver isso juntos!” Ela puxou as mãos, desviou o olhar e falou entre prantos e soluços: — Então me deixa um pouco sozinha... Era muita coisa para processar! Eu também precisava ficar sozinho, pensar um pouco e clarear a mente. Só não queria deixá-la só, pois ela poderia tentar fazer alguma besteira, então eu respondi para ela: — É um vídeo e é pesado! O filho da puta do Anderson gravou tudo. Você quer mesmo ficar sozinha? A cara dela ficou mais assustada ainda e ela falou: — O Anderson... Pena Cardoso... gravou ooo.... — Ele te estuprando! Sim ele gravou! Ela começou a chorar mais ainda. Tentei me aproximar para consolá-la e ela me repeliu e falou: — Eu quero ver isso sozinha... Eu tenho certeza, só me deixa sozinha... Vá para algum lugar... só não fica em casa! Ela estava chorando copiosamente e, quando mais uma vez me aproximei para consolá-la ela mais uma vez se afastou e falou: — Porra Beto! Me deixa sozinha e não me toque mais! Aquela reação dela me magoou, então falei antes de sair: — Tá bom, são umas quatro horas de vídeo. Vou te deixar sozinha e vou dar uma volta. Só prometa que não vai embora antes de conversarmos. Depois que eu voltar temos muita coisa para esclarecer.
Deixei-a sozinha, fui para a garagem e peguei meu carro. Antes de sair de casa peguei as chaves do carro dela e a sua carteira, com os seus cartões, documentos e dinheiro, só por garantia. Eu não tinha condições psicológicas para ir para longe e acabei parando em um barzinho temático, que já havíamos ido várias vezes com nossos amigos, para ver jogos de futebol americano e basquete, mas que também o pessoal ia quando tinham jogos de futebol ou vôlei. Me sentei num dos cantos do balcão e pedi uma cerveja. A garçonete riu para mim e perguntou: “— Você está bebendo agora?” — Antes de perguntar pela Manú. Fiquei pensando em como a minha gata tinha o dom natural de conquistar a todos. Tomei umas duas cervejas e uns sucos, enquanto tentava entender tudo aquilo que havia acontecido e descobrir o que fiz pra merecer isso. A minha idéia, de matar de imediato aquele babaca arrogante não daria certo, não que eu já tivesse até olhado os horários de voo para o Canadá. O certo é que não sabia nada daquele ser dissoluto e escroto. Ele deveria andar com seguranças e, se algo acontecesse com ele, quem me garantia que outra pessoa não enviaria os arquivos, acabando totalmente com a vida e a reputação da minha amada. Eu não estava nada bem. Estava cheio de culpa por ter falhado em proteger a minha esposa e queria vingança. Estava claro que aquele crápula não fez nada de impulso. O Anderson era doente! Ele pesquisou e se planejou muito bem antes de fazer tudo aquilo. Ele era um manipulador e eu só o venceria entrando no jogo dele. Eu lutei duro a minha vida toda e não iria aceitar as chantagens dele. E não voltaria para a Fernanda nem que ela fosse a última mulher do mundo! Se tem uma coisa que eu odeio é me sentir impotente. Eu tinha que fazer alguma coisa. Eu estava decido que iria lutar, mas tinha que montar a minha estratégia e, para isso, precisava de informações. Só que o tempo para reagir era muito curto. E tinha a Manú! Como ela reagiria a tudo aquilo? Eu ainda estava impressionado com as reações dela e o quanto ela estava abalada. Nunca ela precisou tanto da minha ajuda e eu não iria decepcioná-la. O Anderson era rico e poderoso. Ele deveria ter antecipado as minhas reações mais obvias. Eu sabia que não iria ganhar dele batendo de frente. Ele estava com uma vantagem enorme... Para vencê-lo eu precisaria de milhares de golpes. Quando olhei para o relógio já eram mais de nove horas da noite. Paguei a conta e voltei para a casa. Encontrei a Manú dormindo no sofá da sala. Ela estava com a cara de quem havia chorado muito. Hesitei em tocar em seu ombro para acordá-la. Ao invés disso a chamei por três vezes antes dela acordar. Ela me encarou com os olhos arregalados, antes de me dizer choramingando: — Beto, ele me estuprou! Aquilo cortou o meu coração. Apenas palavras não seriam suficientes para acalmar a culpa que ela carregava, então a envolvi em um abraço protetor e falei: — Manú, você está cansada. Vou te levar para a cama e amanhã conversamos... — Não me toca! Eu vou sozinha... eu ainda consigo andar. Fomos para o quarto em silêncio e a mandei se trocar, enquanto arrumava a cama. Ela foi para o closet e logo voltou, vestindo um baby-doll preto. Foi então que eu vi as marcas que o Anderson havia deixado nela, quando do estupro. Com aquela roupa consegui ver que ela estava com um chupão no pescoço e outro do lado externo do seio esquerdo, além de algumas manchas roxas de mordidas e chupadas nas pernas e no pescoço. Além dos lábios inchados, fruto dos tapas que ele deu no rosto dela. Na mesma hora que ela percebeu que eu estava olhando para as marcas do estupro, ela levou uma mão ao pescoço e, se despedido, me pediu: — Você se importa de dormir no outro quarto hoje... Respondi que não tinha problema. Eu sabia que não conseguiria dormir naquela noite. E não dormi. Passei a noite toda pesquisando a vida daquele crápula. Busquei informações sobre sua família, empresas, com quem ele andava, empreendimentos e tudo mais. Ele deve ter acreditado que, por causa do meu amor pela Manú eu não iria lutar. Achou que eu não era uma ameaça. Foi o erro dele. Levantei todos os dados vazados dele na internet. As sua pegadas mostravam onde ele esteve, o que comprou e onde foi entregue. Com tudo isso mapeei os seus padrões para fazer uma pesquisa reversa. E também eu já tinha muito material para fazer a minha engenharia social. E de 10 em 10 minutos eu entrava no quarto e verificava se a Manú estava bem. Eu estava muito preocupado de ela não cometer alguma loucura. Pesquisei bastante sobre os traumas gerados pelo estupro. em que a lesão não é só no corpo, mas principalmente na mente da vítima. E que pode comprometer seriamente a sua vida, gerando psicopatologias graves que afetam a vida afetiva e social. Não tive dúvidas que a Manú precisaria de ajuda especializada. Vi como denunciar o estupro, como seriam as provas, como era o processo, penas e tudo mais. Me preparei bem e devo ter cochilado um pouco só depois das cinco horas da madrugada. Acordei bem cedo! Acordei e achei estranho ter ficado em uma dos quartos de visitas e, principalmente de a Manú não estar do meu lado. Sempre adorei acordar ao lado da Manú e odiava as poucas vezes em que eu ou ela tínhamos que viajar. Acordar sozinho e no quarto de hóspedes da minha própria casa era pior ainda. Me levantei, fiz um café reforçado e levei para ela em seu quarto. — Vamos amor, acorda que o nosso dia será longo. Eu quero que você me explique tudo o que aconteceu lá, depois vamos na policia. Temos as imagens... temos a confissão dele... aquele filho da puta é um predador sexual e praticamente confessou que estuprou outras meninas, além de você... você vai precisar fazer exames de corpo de delito. E acho que existe uma medicação que se toma em caso de agressão sexual, para prevenir doenças... — Para com isso Beto! Não vamos a lugar nenhum! — Amor, eu pesquisei. Você é a vítima nessa história... sofreu estupro de vulnerável... — Eu sei isso tudo Beto. Esqueceu que eu sou advogada! — Manú, ninguém deveria passar pelo que você está passando, mas temos que denunciar! — Beto, esqueceu que estamos no Brasil. Eu fui promotora de justiça e sei como isso funciona. O cara é rico e já está até fora do Brasil. Ele te mandou o vídeo porque sabe que tem tanta influência que é intocável pela justiça. Fora que seria um processo longo, cansativo e não vai dar em nada... Você esqueceu que ele tem as imagens? Ele tem razão no que disse... ele pode fazer vários cortes, colocar tudo na internet... mandar para a minha família... para meus amigos e destruir a minha vida e a minha carreira. Ela, que estava falando e com um olhar perdido, então começou a chorar. E para consolá-la eu falei: — Não chora, que vamos resolver isso JUNTOS. — Eu fui estuprada! Você tem alguma idéia de como estou me sentindo? — Não, eu não tenho, mas você não pode sentir a minha culpa! Manú, eu estou aqui para te ajudar... Apesar de sua crise de culpa, ao final de uma longa discussão sobre fazer ou não a denuncia, que obviamente eu não ganhei, pois nunca vi alguém tão convincente e com tantos argumentos como a minha esposa, ainda mais em um assunto que ela conhecia profundamente. Ela terminou o assunto falando: — Beto, me desculpa, eu estraguei tudo... você tem o direito de me odiar! — Tá tudo bem. A culpa não foi sua. — Eu nunca me senti tão suja. Eu queria esquecer tudo, mas não consigo. — Não se culpe, porque você é a vítima dessa história. O culpado é aquele estuprador filho da puta e ele vai pagar por isso... Saiba que eu te amo! Eu tentava me controlar para não tocá-la, pois a forma que ela me rejeitou no dia anterior foi algo dolorido. E eu não entendia como não suspeitei de nada daquela armação toda. Eu tava muito confuso e certamente ela também estava. Só que eu queria ouvir a versão dela, então resolvi perguntar: — Eu sei que falhei com você, pois era meu dever te proteger. Eu ainda acho que deveríamos denunciar aquele filho da puta, falar com os seus pais e com o teu padrinho, final ele trabalha na Superintendência da Policia Federal... ou colocar o seu avô na jogada... ele é rico e pode acabar com aquele vagabundo. Mas vou confiar na sua experiência. Ela estava distante e fiz questão de olhá-la nos olhos antes de continuar: — Não fica aí se culpando. Esse cara vai pagar pelo que fez. Acredite em mim! Eu sei que é difícil para você, mas eu estou do seu lado para o que der e vier. E eu queria que você me contasse toda a história desde o começo. — É difícil, Beto. Não é uma coisa que eu queria discutir. — Olha pra mim. Eu acredito em você! Vou estar do seu lado e vamos vencer isso juntos. Apesar da grande preocupação com a minha esposa, havia muita coisa ali que eu não havia entendido no meio daquela confusão toda e, com muito tato, convenci para que ela me contasse o que aconteceu. Foi então que, com a voz embargada pelo choro, ela me contou a história. Começou com a parte que eu sabia, que há pouco mais de dois meses ela foi colocada nessa força tarefa, para investigar as denúncias que o ex deputado Pena Cardoso (que eu conhecia como Anderson) havia feito. Ela disse que só soube que ele era a mesma pessoa que teve um caso com a Fernanda quanto eu contei para ela, no dia anterior. Então falou que o denunciante era escorregadio, que vivia se esquivando das perguntas e enrolando a todos. Logo ele se desentendeu com todo mundo que participava da investigação e disse que só conversaria com as três que eu vi logo no inicio das imagens: que era a Manú; a Michele, que era a delegada loira; e a Pâmela, a magrinha que era auditora. Ela falou que o Anderson era carismático, charmoso, sedutor e elas perceberam que ele sempre liberava mais informações quando se distraia cantando a delegada e então elas começaram a dar corda para ele se enforcar. Disse que, a partir da terceira vez que ela foi para as investigações em Brasília, que ele exigiu que as conversas fossem em um hotel e exigiu também que elas ficassem hospedadas não só no mesmo hotel que ele, mas também no mesmo andar que ele estivesse. Depois ela fez uma afirmação que me chocou, dizendo que ele era um cafajeste e sabia como entrar na mente de uma mulher, e que ela inclusive alertou a Michele sobre isso. Ela disse que o Anderson vivia contando vantagens, dizendo que as mulheres ficavam loucas por ele e que contou de diversas de suas conquistas. Entre elas, diversas conquistas que eram mulheres comprometidas, casadas com seus sócios e amigos e que eram seduzidas pelos seus atributos. Enquanto ela falava, examinei-a com atenção e meu cérebro estava trabalhando eu um ritmo absurdo. Era uma conversa complicada, pois a toda hora as lágrimas escorriam de seus olhos, molhando até a sua camisola e, às vezes, ela chegava até a soluçar. Procurei ser bem compreensivo e a interrompi o mínimo possível. Ela contou do dia do seu aniversário. Ela só aceitou o convite para a festa na embaixada japonesa por muita insistência da delegada, que não poderia ir ao evento com ele. Falou que a Michele lhe disse que, as informações que o informante levaria poderiam encerrar a sua participação no caso e que, então, ela poderia voltar seus afazeres normais. E que as outras duas não poderiam ir nessa comemoração pois já tinham outros compromissos. Ela falou que a Michele também lhe disse que sabia que era o aniversário dela e por isso ela deveria aproveitar a festa e que sua companhia seria agradável, pois o Anderson era rico, poderoso, bem relacionado, culto e sexy. Falou também da forma que ficou alterada na festa, mas não imaginou que havia sido drogada. Disse que sentiu ele lhe agarrando e tirando suas roupas, mas parecia que via tudo aquilo acontecendo com outra pessoa, como se ela estivesse anestesiada. E que só reagiu por instinto, pois quando ele foi lhe tirar a calcinha, os ensinamentos da sua mãe lhe vieram à tona, pois ela sempre dizia que “se forem tocar na sua periquita você empurra o cara, bate nele com qualquer coisa que estiver próximo da sua mão e sai correndo”. E que ela fez isso no automático. Deu a joelhada nele e saiu do quarto do Anderson. Falou que tinha quase certeza que o seu quarto era a quarta porta a direita. E que, por sorte, ela estava certa. Pois colocou o dedo no sensor e a porta se abriu, ela entrou e se trancou lá dentro. E confirmou que só acordou na noite do dia seguinte e que botou toda a culpa por aquilo na bebida. Disse que já daquela vez ficou muito abalada pelo que havia acontecido e que não sabia como, mas tinha que me contar sobre tudo aquilo. Ela respirou fundo, limpou o rosto e continuou falando. Disse que ela iria voltar para a casa naquela mesma noite, só que, por insistência da Pâmela e, principalmente da Michele, ela acabou ficando para a reunião que ocorreria no barco. Ela contou que, após o almoço, não conseguiu mais falar com as duas e foi mesmo assim ao local marcado, achando que se encontraria com elas lá, como haviam combinado. Então foi recebida pelo Pena Cardoso e depois só se recordava de ter ficado zonza após beber um copo de água. E depois disso só tinha alguns flashes dele a estuprando. E que acordou, no dia seguinte, por volta das 14 horas, já em sua cama no hotel. Disse ainda que, agora estava claro do porque das provas e depoimentos que o Anderson deu para elas levavam para transações ou empresas que aparentemente ele não fazia parte. Certamente essas pistas direcionavam as investigadoras para os seus concorrentes. Por fim, ela negou que existiu a conversa com o Anderson, em que ele perguntou se ela tinha vontade de sair com ele, após ela saber do seu envolvimento com a Delegada Michele. Ouvi aquilo tudo fazendo um grande esforço para me acalmar. Minhas emoções se misturavam e estavam a flor da pele. Porém só a Manú me importava. Eu nunca havia tido sequer uma desconfiança de suas atitudes. E falei para ela: — Não chore amor. Aquele escroto ardiloso planejou tudo muito bem e com muita antecedência. Ele gastou muito tempo e dinheiro pesquisando, subornando e manipulando, para conseguir o que queria. Agora é a hora de revidar. Ela me olhou desesperada e eu sabia o motivo, então a tranquilizei: — Não existe a menor chance de eu te deixar e muito menos de voltar para a Fernanda! Uma hora isso pode explodir, só que antes eu vou garantir que a vida dessa pessoa se torne um inferno. — Dessa pessoa não! Desse monstro... você não vai trabalhar? — Não, eu vou ficar aqui contigo. — Só te peço uma coisa. Me prometa que não vai contar para ninguém, nem para meus pais. Deixa que eu conto na hora certa. E, por favor Beto, me deixa sozinha um pouco... eu preciso... é que me dói muito ver você triste assim... Pode ficar tranquilo que eu não vou fazer nenhuma besteira... Fiz menção de abraçá-la e ela me rechaçou dizendo: — Não me toque! Por favor, não me toque!
Acabei cedendo aos seus desejos e resolvi ir trabalhar. Eu havia levantado uma enorme quantidade de informações sobre o Anderson durante a madrugada e precisava organizar tudo aquilo e criar um plano para contra atacar. E separei todo esse material para estudar com calma, no escritório. Ele subestimou a pessoa errada. Estava na cara que ele já havia feito aquilo outras vezes. E eu precisava saber exatamente com o que eu estava lidando. Eu iria tirar vantagem de ele ter me subestimado. Não adiantaria fazer algo impulsivo e drástico, eu tinha que agir de forma limpa e definitiva. Quando fui para a amazônia percebi que os nativos chamava a onça de yaguareté e, ao questioná-los do nome, me disseram que era porque ela tinha um ataque rápido e certeiro. Eu teria que agir como a onça. Em momento algum eu minimizei o problema. Eu morreria para proteger a Manú e falhei com a pessoa que mais amava nesse mundo. Agora eu iria lutar! Não seria uma luta de igual para igual, afinal além de estar com a faca no pescoço e sem tempo para quase nada, aquele filho da puta era rico, poderoso, influente e eu nem sabia onde ele estava. No começo eu fingi saber o que estava fazendo, para a Manú não surtar mais ainda. Porém eu tinha muito medo de que ela fizesse uma bobagem enquanto estivesse sozinha em casa. Então voltei para casa, fui ao sótão e peguei duas micro-câmeras que eu estava testando e escondi uma na sala, em um lugar que dava para ver a sala toda, a cozinha e a entrada do escritório e a outra câmera eu coloquei no quarto. Eu iria monitorar a Manú do meu escritório, através da nova versão do meu programa, que usava inteligência artificial para auxiliar no monitoramento. Essa atualização no aplicativo ficou praticamente parada por uns dois anos e quando voltei a mexer nela, após a venda da empresa, consegui corrigir as falhas que haviam e coloquei várias novas funções, além de uma inteligência artificial excelente, que fazia reconhecimento de padrões, identificação de texto, detecção de presença, reconhecimento de voz, entre outros. Era o sistema que eu não incluí na venda da minha empresa e estava desenvolvendo sozinho e nas minhas folgas. O aplicativo já estava praticamente finalizado, faltando apenas mais testes para torná-lo operacional. E esta seria uma ótima oportunidade para isso. Quando estava colocando as câmeras para cuidar da Manú me veio à mente uma tristeza por não poder observar o que o Anderson fazia e saber da sua rotina, mas logo me acendeu uma luz. Me perguntei: “— Será!” As chances eram pequenas, mas valia a pena tentar. Voltei ao sótão e peguei mais algumas coisas, junto com o meu laptop e fui trabalhar. Se aquele hackeamento que fiz, em Maceió, no computador do Anderson ainda estivesse funcionando seria uma maravilha, mas eu tinha pouca esperança, pois já haviam se passado três anos e, possivelmente, aquele computador já teria sido substituído (apesar de, na época, ser um computador novinho e top de linha), ou estar sendo usado para outra finalidade, ou o hackeamento ter sido descoberto ou, ainda, o sistema operacional poderia ter sido atualizado. Porém eu não perderia nada por tentar. Coloquei meu laptop em rede, fiz todos os procedimentos de segurança, anti-rastreamento e para mascarar a minha localização. Então rodei meu programa para a conexão com o outro computador. Coloquei o endereço MAC da placa de rede do computador do Anderson (endereço MAC é basicamente um identificador único atribuído a uma interface de rede, ou seja, ao contrário do famoso endereço IP que pode ser mudado constantemente, o endereço MAC já sai de fábrica com aquele identificador e não pode ser mudado), mandei um comando de conexão e, em poucos segundos, recebi a resposta e tive acesso total ao computador. Agora restava saber o que e onde eu estava acessando. Fui direto no acesso às câmeras e “voilà”, encontrei 32 câmeras ligadas ao sistema. Dei uma olhada rápida em cada uma delas e já passei para os arquivos gravados no disco rígido. Acertei em cheio, estava tudo lá! As câmeras estavam em uma grande casa, que ficava em um local alto e com água no horizonte (era um rio largo ou mar). Havia neve na parte externa da casa. No horizonte havia um morro bem diferente e mandei a minha inteligência artificial identificar o local e, em segundos ela me garantiu que era Vancouver no Canadá. Mandei ela triangular para estimar a localização da casa e ela me deu até o endereço da casa. Pronto, agora eu já tinha mais alguma coisa. Não havia ninguém em casa e aproveitei para bisbilhotar um pouco mais e achei uma pasta no computador cheia de documentos. Eram contratos, dados de sócios, investidores, notas fiscais, atas de reunião e milhares de documentos de todas as espécies, cuidadosamente divididos em subpastas, com o nome de empresas, pessoas e projetos. Peguei um HD externo (aquele mesmo que há anos atrás copiei vários arquivos do Anderson e nunca parei para ver) e mandei copiar tudo aquilo para ele. Não haveria espaço suficiente e tive que copiar várias coisas daquele HD externo para o computador, para liberar espaço. Era naquele HD que eu guardava as nossas imagens intimas. Desde o início do nosso relacionamento, até por sugestão da Manú, eu tirava várias fotos dela nua, com trajes sumários, fazendo poses sensuais ou bem explicitas. Haviam ensaios dela como mulher fatal, outros em que ela estava transpirando sensualidade e outros em que ela estava com roupas, maquiagens e poses mais inocentes e os meus preferidos eram os ensaios Pin-up. Haviam também vários vídeos nossos fazendo amor. O primeiro, e um dos meus preferidos era um que rolou bem espontâneo. A Manú estava saindo do banho peladinha. Eu peguei a câmera e ela fez umas poses e se deitou na cama. Então eu pedi para ela se tocar. Ela fez uma carinha assustada, mas logo entrou no jogo, passou a mão nos seios, foi descendo pelo lado do corpo, passou o dedo pela vulva e fez carinha sexy, antes de começar a se tocar. Com uma das mãos ela se tocava e a outra ela passava pelos seios e cabelo. Logo ela começou a brincar com o clitóris e a brincadeira foi esquentando. Dava para ver que ela estava excitada, pois mordia os lábios e me olhava com tesão. Ela então se virou, ficando de quatro na cama, com aquele rabão virado para mim, e com um dos dedos ainda brincando com a xoxota. Ela botou a cara no colchão e virou um pouco o corpo, buscando contato visual comigo. Vendo que eu estava bem atrás dela, com a outra mão ela separou um pouco as nádegas, revelando aquele cuzinho lindo que ela tem. Aquele contato visual que ela buscou não valeu muito, pois no momento seguinte que olhei para o seu rosto já percebi que ela estava gemendo baixinho e com os olhos fechados. Dava para ver claramente que ela estava delirando. Ela não ficou muito tempo naquela posição e logo se virou novamente, ficando de barriga para cima, abrindo bem as pernas e dobrando um pouco os joelhos (quase uma posição de papanicolau) e nessa posição, com uma expressão muito libidinosa no rosto, ela começou a se tocar ainda mais rápido, enquanto gemia gostoso e só parou quando gozou descontroladamente. Seus dedos estavam melados e eu não perdi tempo, deixei a câmera perto do pé dela e caí de boca naquela bocetinha que eu amava tanto. Lambi seus dedos e suguei o máximo daquele melzinho que eu consegui. Assim que se recuperou ela me confessou que nunca havia tido um orgasmo enquanto se tocava e depois ela ainda me deu um trato delicioso. Ela pegou a filmadora, me colocou sentado com as costas na cabeceira da cama, deu uns beijinhos na minha pica, fez carinho no meu saco, mas não chupou, ela fez uma espanhola rápida, com aqueles peitos maravilhosos espremendo a minha pica, mas o principal foi a punheta que ela me bateu. Eu soltei um “aaahhh” delicioso enquanto gozava fartamente e tive que segurar a mão dela, para que parasse de me masturbar.
Voltei para a realidade, depois de me recordar daquelas memórias deliciosas, copiei todos aqueles nossos arquivos para um pendrive codificado e o guardei no cofre. Enquanto copiava os arquivos, entrei no navegador de internet do Anderson e também fiz uma cópia de todas as senhas gravadas do computador. Puxei o seu histórico de navegação e acessei quatro contas de e-mail. Aproveitei e também fiz uma cópia de todos os e-mails recebidos, enviados, excluídos e até dos rascunhos. Vi que ele pagava um serviço de armazenamento de arquivos on-line, o acessei e também baixei todos os arquivos que estavam na nuvem para o HD externo. Pronto, agora eu tinha muito material para pesquisar e pouco tempo disponível. Era o dia um do prazo que ele me deu e só faltavam 29 dias. No vídeo que me enviou, o Anderson usou uma frase do livro “A Arte da Guerra”, do general e estrategista chinês Sun Tzu, ao dizer que me atacou enquanto eu estava desprevenido. Desse mesmo livro eu gostava de outras duas citações, as quais iria usar contra ele, e que são: “é mais importante ser mais inteligente do que o inimigo do que mais poderoso”, e “finja estar fraco e seu inimigo se tornará arrogante e negligente”. Ele me subestimou muito e eu usaria aquilo contra ele. Eu só não podia deixar a vingança me cegar. Eu tinha muita coisa para fazer em pouco tempo. Entretanto eu nunca poderia esquecer que a minha primeira e maior prioridade era o bem estar da minha esposa. Quando ela voltou do trabalho, eu a convenci a procurar tratamento especializado e passei o restante do dia procurando um terapeuta bem qualificado para a Manú. Depois de várias ligações agendei uma consulta, para quinta-feira, em São Paulo, com uma terapeuta que tinha pós-doutorado no exterior em traumas relativos à violência sexual e era muito bem avaliada. Cuidei da Manú da melhor forma que pude, mas ela ainda estava traumatizada e arredia até com a minha presença. O estupro foi algo que a deixou arrasada (ela já tinha tido um trauma anterior com relação a isso, devido ao tratamento abusivo que sofreu do seu ex-namorado, o Lorenzo). Resolvi dar mais espaço para ela. Subi para o sótão, pois lá seria a minha base operações. Novamente virei a noite aprendendo tudo que eu pude sobre o meu inimigo e já bolando uma estratégia para agir. Desde o estupro eu estava dormindo (e dormir NÃO era algo que eu estava fazendo muito) em um dos quartos de visita, a pedido da Manú. E a Manú estava dormindo sozinha em nosso quarto. Assim eu a monitorava pela câmera que instalei lá. Eu tinha certeza que a queda do Anderson viria pelo fato de ele ser extremamente vaidoso e narcisista. Eu ainda NÃO tinha um plano, mas iria conseguir algo. Na minha vida, desde cedo aprendi que os obstáculos são inevitáveis e eu sempre encarei a todos. Só tinha que me controlar e me preparar bem.
Foi na quarta-feira à noite que o meu plano começou a tomar forma. E foi devido a um arquivo com senha que encontrei e a algumas prestações de contas, que achei entre o material que tirei do computador do Anderson. Na mesma hora mandei uma mensagem para o Marquinhos, pedindo para que ele desenvolvesse um vírus para mim e em seguida mandei para ele todos os parâmetros que eu queria. Fui para São Paulo na quinta-feira, com a Manú. Conversamos com a terapeuta juntos e depois individualmente. Ela tinha a voz suave, tranquila e de forma muito gentil aceitou tratar a minha esposa. Na nossa conversa particular ela me passou várias orientações de como eu lidar com aquela situação e marcou as sessões de terapia com a Manú aos sábados pela manhã. Naquele mesmo dia a Manú recebeu uma ligação da delegada Michele, avisando que o Deputado Pena Cardoso havia fugido do Brasil e que ela tomaria todas as medidas cabíveis e marcou uma reunião com todos os membros da força tarefa para dalí a umas três semanas. Achei ótimo, pois eu poderia passar os arquivos que consegui para que a Manú também me ajudasse na pesquisa. Eu teria que fazer uma viagem urgente e rápida. Minha preocupação era tanta que pedi para que a Millene (a minha cunhada) que ficasse com a Manú enquanto eu estivesse fora. E assim, saímos do consultório da terapeuta e fomos direto para a casa do meu irmão. Deixei a Manú com a minha cunhada e parti para o aeroporto. Eu tive que contar para a minha cunhada parte da história, pois não conseguiria fazer tudo sozinho e a Millene era psicóloga e também poderia ajudar (meu irmão também é psicólogo clínico e professor universitário e achei que ele também seria de grande ajuda). Viajei e voltei para São Paulo na quinta-feira mesmo, já com o meu plano praticamente finalizado. Quando cheguei a São Paulo fui avisado que a Manú já havia voltado para casa. Agradeci a Millene pela ajuda e ela demonstrou muita preocupação com o estado de saúde da Manú, pois ela estava com sintomas de estresse pós-traumático, que causa impacto emocionalmente severo na pessoa, afetando gravemente sua saúde física e mental. Além disso, ela estava retraída, deprimida e até agressiva. Estava ansiosa e não queria contato com outras pessoas. Sua personalidade cativante e o seu sorriso encantador haviam simplesmente desaparecido. Voltei para São José e novamente virei a noite em claro para finalizar o plano, de formas que, na sexta-feira, dia quatro do meu prazo, eu já sabia o que fazer. Seria um jogo de xadrez e eu queria muito que a Nanda estivesse do meu lado pois, nos nossos cinco anos juntos jogamos entre 150 e 200 partidas de xadrez e eu nunca ganhei dela. Era um plano de cinco fases com vários “planos B” pelo caminho, pois não teríamos uma segunda chance caso algo desse errado. Pedi ainda mais dois favores para o Marquinhos, sendo que um deles eu precisava o mais rápido possível, pois seria para algo que poderia dar aporte financeiro, algo muito útil principalmente para a última fase do meu plano, que seria a mais longa e com mais subfases. Como o Anderson se achava o todo poderoso e se julgava totalmente invencível eu iria usar isso contra ele. A primeira fase era a de pesquisa, o que eu já estava fazendo e iria até o dia 15 do meu prazo. A próxima fase seria a de ataque e destruição, seguida da fase de multiplicação dos ataques. Depois teria a fase do contingenciamento e, finalmente o ataque final, no qual, se tudo desse certo, o Anderson me pediria para ser morto, tamanho seria o sofrimento que ele estaria sentindo. Devido ao prazo exíguo, algumas fases ocorreriam paralelamente. No sábado a Manú foi cedo para a sua primeira consulta em São Paulo. Ela não quis que eu a acompanhasse e era clara a melancolia estampada em seu rosto quando ela saiu de casa. Depois da consulta ela passou o restante do dia com a Millene. Não foi ela que me avisou disso, mas sim a minha cunhada, que falou que elas conversaram bastante, que a Manú brincou com o Oliver (o meu sobrinho) e que foram até passear em uma praça. A Millene me aconselhou a ter calma e a ser paciente com a Manú, dizendo que, a cada manhã, aquela experiência ruim estaria mais distante. Nesse dia a Manú inclusive dormiu em São Paulo e só voltou para casa no domingo à tarde. A terapeuta também me ligou, preocupada com o estado de saúde da Manú. Me pediu para tentar convencer a minha esposa à denunciar o estupro e também me alertou para ficar atento aos transtornos psicológicos que ela poderia apresentar, como dissociação afetiva, pensamentos invasivos, idealização suicida, medo, ansiedade, depressão, raiva, culpa, isolamento e hostilidade. Lhe garanti que ficaria muito atento a esses sintomas. Nos dias seguintes, além da Millene (aos sábados e domingos) a Manú praticamente só estava conversando com a Taís, que estava vindo praticamente todo dia em casa e elas ficavam por várias horas conversando, trancadas no quarto. Nem para a sua família a Manú contou do estupro e não sei como ela estava se saindo com a sua mãe, com a qual, antes ela conversava quase todos os dias. Eu não sabia o que falar para consolar a minha esposa e nem como poderia ajudá-la a superar tudo aquilo. Tentei seguir os conselhos da terapeuta, e também os que o meu irmão e minha cunhada me deram, além de dar toda a minha atenção e apoio para a Manú. Eu ia aprendendo no dia-a-dia e me adaptando às situações conforme surgiam. Além disso, comprei dois livros relacionados ao tratamento de pessoas que sofreram abuso sexual, que também me ajudaram muito a entender e lidar com as reações da Manú
Faca o seu login para poder votar neste conto.
Faca o seu login para poder recomendar esse conto para seus amigos.
Faca o seu login para adicionar esse conto como seu favorito.
Denunciar esse conto
Utilize o formulario abaixo para DENUNCIAR ao administrador do contoseroticos.com se esse conto contem conteúdo ilegal.
Importante:Seus dados não serão fornecidos para o autor do conto denunciado.