Essa última mensagem chegou junto com uma foto da Fabíola, vestindo apenas um biquíni, e que ela tirou na frente do espelho. Era um biquíni preto. A parte debaixo era uma tanga média, com um babadinho na lateral e a parte de cima era uma tira, com um laço saindo do meio dos seios e indo para trás do pescoço dela, dando para ter a plena noção do tamanho daqueles seios fartos. Confesso que nunca havia visto a Fabíola em trajes de banho e ela era linda. Sua semelhança com a Manú era inegável e seu corpo era mais branquinho, menos musculoso, porém também cheio de curvas. Seus seios eram claramente mais volumosos e ela estava fazendo um charmezinho com a boca e havia piscado um olho. Típico da pimentinha.
O pensamento que me veio, vendo aquela foto, foi: “quando o capeta resolve te atentar ele capricha!”
Dei uma boa olhada na foto da Fabíola e fechei o aplicativo de mensagens.
Eu não via nada de bom em sair com a Fabíola, apesar de adorar aquela pimentinha. Primeiro porque a Manú já me garantiu que a Fabíola era só da curtição. Ela saia com vários caras e não transava com nenhum deles e nem queria um envolvimento mais sério. Essa última parte era até boa, pois eu não tinha a menor vontade de me relacionar seriamente com ninguém. E, se ela quisesse algo mais sério? Isso seria um enorme problema. Só que o problema maior seria se ela contasse para a irmã. Mesmo que ela jurasse não contar, eu ficaria com um pé atrás, pois a menina não tem filtro e, às vezes, fala tudo o que tem na cabeça, coloca tudo para fora sem nem notar ou se preocupar com as consequências. E também, porque aquelas duas, apesar de se amarem, volta e meia brigavam sério (como todos os irmãos fazem) e a Fabíola poderia jogar isso na cara da Manú e a brigar ficaria mais séria ainda.
Desde que nos conhecemos a Fabíola sempre veio com indiretas para o meu lado, sempre com aquele seu jeitinho inocente e provocador. E se existe uma menina extrovertida, segura de si, e que conhece o jogo da sedução e que sabe usar todas as armas que possui (e ela possui muitas), essa pessoa é a minha “cunhadinha pimentinha”.
Resolvi pensar bastante antes de responder ao convite da Fabíola. Guardei novamente o telefone no bolso e voltei para o meu café.
Estava esperando a ligação da Nanda, porém quem me ligou, após quase três horas (isso mesmo, 3 horas), foi a Manú, dizendo que eu já poderia para voltar.
Assim que entrei no apartamento a Nanda já foi me falando:
— Você escapou de ser obrigado a fazer o jantar! Agradeça a Manú que me disse que na cidade tem um restaurante que faz uma massa quase tão boa quanto a sua.
Olhei para a Manú, que continuava sem falar e, pela expressão em seu rosto, ainda estava se divertindo com aquela situação.
Quando a Manú me visitou no hospital, após o atropelamento, eu já havia notado que ela estava me olhando de uma maneira diferente, mais arisca. Porém, depois que fui atacado pelo Lorenzo, ela passou a me olhar da mesma forma que me olhava quando nos conhecemos. Era um olhar de admiração e desejo, que me incomodava. E, ainda olhando para a Manú, ouvi a Nanda continuando a falar:
— A Manú me ofereceu o quarto de hospedes para eu ficar essa noite e eu aceitei, então nós duas vamos para lá. Vamos tomar um banho, trocar de roupas e, daqui a umas duas horas passamos aqui para te levar para jantar naquele restaurante que a Manú indicou.
— Você vai ficar com a Manú?
— É claro! Deve ser melhor que o hotel. E aqui com você eu não quero ficar. O que iriam dizer de uma mulher casada e séria como eu dormindo no apartamento de um homem...
Eu devo ter feito a minha cara de “não estou acreditando que isso está acontecendo”, pois logo a Nanda completou:
— Pode ficar tranquilo que eu não vou comer a sua amada... só vou dormir na casa dela.
Acabei dando a língua para a Nanda e fazendo uma careta. E as duas saíram rindo do meu apartamento. Elas voltaram duas horas depois, como haviam me prometido, lindas e cheirosas.
Fomos ao restaurante e nos empanturramos.
O problema começou quando fomos conversar e agora eram duas contra um. Era a Nanda usando seus argumentos loucos e sem noção para que eu voltasse com a Manú e a minha futura ex-esposa se divertindo com minhas reações.
E ficamos nesse jogo até que meu telefone tocou e não acreditei quando olhei o nome que apareceu no visor. Era a Fernanda! Não tive nem tempo de raciocinar, pois a Nanda, que estava do meu lado, já foi falando:
— Agora o Beto pira! Vai poder falar com todas as Fernandas da vida dele na mesma hora.
Levantei a cabeça e encarei a Manú antes de atender ao telefone. Fiz questão de deixar no viva voz:
[Fernanda] — Oi Beto, você está bem?
— Eu estou procurando viver um dia de cada vez... Às vezes as companhias fazem o dia valer a pena...
[Fernanda] — Poxa, meu querido, você ainda não voltou com a Manú? Eu estou arrasada por vocês ainda não terem se acertado... Sabe, eu andei pensando muito naquilo que você me disse de eu conversar com a Manú, de contar o que aconteceu e pedir desculpas... vocês estão em São José dos Campos?
— Sim, nós dois ainda estamos.
[Fernanda] — Que ótimo! Você pode me fazer um enorme favor? É que eu queria muito conversar com a Manú... É que estou em São Paulo, para um desfile agora a noite, e amanhã faço umas seções de fotos. Na segunda tenho outro desfile no Rio de Janeiro e, depois volto para Maceió. Você conseguiria convencer a Manú para que ela conversasse comigo amanhã à noite ou no domingo? Minha prima (a que foi miss) tem conseguido esses trabalhos para mim... só que não sei quando vai terminar a seção de fotos de amanhã, mas assim que acabar eu me mando para aí...
Eu levantei os olhos e vi a Manú acenando positivamente com a cabeça, então respondi para a Fernanda que era só ela me avisar do horário que estivesse chegando, pois eu arranjaria tudo com a Manú. Nos despedimos e, assim que desliguei, a Nanda foi logo falando em tom de brincadeira:
— As três Fernandas juntas daria um bela suruba, né Beto!
Como eu e a Manú não rimos e nem dissemos nada ela continuou:
— Ainda bem que vou estar longe quando ela chegar. Acho que nunca gostei daquela lombrigona... Já está ficando tarde e eu preciso dormir.
Eu também estava cansado e respondi:
— Podemos ir mesmo. Também estou com sono...
A Nanda colocou a cabeça no meu ombro e foi falando:
— Beto, eu sei que já sou visita da Manú, mas se você também fosse dormir lá, ainda poderíamos conversar mais um pouco... Vai Beto! Você é disparado o meu melhor amigo e eu tenho muitas saudades das nossas conversas...
— Desculpa Nanda, mas minha última ida àquela casa não foi muito agradável...
A Manú, ouvindo aquilo, fechou a cara e foi logo se defendendo:
— Poxa Beto, você está sendo muito injusto. Eu já te falei que o garoto é gay... ele sujou toda a camisa no almoço e morava muito longe, então eu o levei para casa e emprestei uma camisa e uma gravata suas para ele. Você chegou naquela hora, mas não estava acontecendo nada.
Nessa hora a Nanda entrou na conversa e, incrivelmente, pela primeira vez no dia ela tomou o meu lado:
— Desculpe Manú, você tem que entender que ainda é uma mulher casada. E, além de não fazer nada de errado, você tem que parecer que não faz nada de errado. Eu já aprontei muito quando era solteira. Até já te confessei a pouco que já fiz sexo várias vezes com o Beto e, pela sua reação, você já sabia disso... dessa forma, mesmo não fazendo nada de errado, você não deve levar um homem para a sua casa quando o seu marido não estiver lá. A gente não dá munição para as fofoqueiras falarem. E outra coisa, eu não conheço uma mulher com mais atributos do que você para transformar um amigo gay em um amigo hétero ou pelo menos em um amigo gay que tenha vontade de ficar com uma mulher...
A cara da Manú era de espanto, enquanto ela ouvia a Nanda continuar a falar:
— Pois eu já te disse que aprontei muito, só que depois que casei, virei uma esposa totalmente dedicada ao meu marido e filhos. Não olho para os outros homens e nem me meto em situações que possam me colocar em risco ou constranger o meu marido.
Realmente, depois que nos despedimos em Criciúma, ao término da faculdade, nunca mais tive qualquer envolvimento sexual com a maluquinha da Nanda.
E, antes mesmo da Nanda terminar de falar, ouvi a Manú balbuciar para mim: “— Me desculpa. Eu te dou razão por pensar o pior de mim”.
E eu não estava acreditando, pois a Nanda não parava de falar:
— Eu estou aqui a noite toda segurando vela para vocês dois! Que desperdício! Vocês poderiam ir lá no estacionamento ou no banheiro para se pegarem. É claro que vocês se importam um com o outro. A tensão sexual entre vocês dois está na cara, até cego vê. Não dá para disfarçar o tesão que vocês sentem um pelo outro. Só não vão se comer aqui na minha frente que não vai ficar bem pra ninguém.
A Manú aproveitou, enquanto a Nanda respirava, para falar, olhando bem no meu rosto:
— Beto, como você não acredita no meu arrependimento, pelo menos me dê a chance de mostrar o quanto eu estou arrependida pelas minhas ações e, quem sabe no futuro me tornar merecedora novamente do seu amor.
Eu não falei nada. Quando cheguei ao restaurante estava decidido a aproveitar a oportunidade para contar para as duas que eu estava de partida, que iria dar um novo rumo para a minha vida, mas não tive coragem e decidi que apenas enviaria uma mensagem para elas, quando já estivesse lá na América.
Quando a Manú foi ao toalete a Nanda voltou a me infernizar:
— Beto, meu amigo, olha como ela te olha. Eu conheço as pessoas e a Manú te ama!
— Isso eu nunca questionei...
As duas ainda insistiram tanto que aceitei o convite e fomos os três para a minha antiga casa. Só fui pela oportunidade de conversar mais um pouco com a Nanda, que me pediu várias vezes, sempre com aquela carinha de menina pidona.
Eu fui muito feliz naquela casa, mas as últimas lembranças de lá eram péssimas. Além de pegar a Manú sozinha junto com um cara nu dentro da casa, os meus últimos dois meses morando lá foram totalmente na seca e, ainda sendo torturado por viver com uma mulher linda, inteligente, gostosa, por quem eu era apaixonado e não poder nem tocar nela.