SERÁ QUE TUDO ESTÁ ESCRITO NAS ESTRELAS? Capítulo 70
Estava ouvindo o barulho: “piiii”, “piiii”, “piiii”... ao longe. Esse barulho foi ficando cada vez mais forte e, quando abri os olhos, vi as lâmpadas no teto. Procurei a origem do barulho e percebi que eram de um monitor de sinais vitais, que estava um pouco atrás de mim, do meu lado esquerdo. Não demorei a entender que eu estava em um hospital. Tentei me lembrar o porquê de estar ali, mas não consegui. Na minha mão direita havia um acesso e estavam me dando soro. Não havia ninguém no quarto e tentei ao menos me sentar e, foi então que senti uma dor enorme na minha coxa direita, minhas costas queimaram de dor, e por isso voltei para a posição inicial. Passou um tempo até eu começar a me lembrar das últimas coisas que havia feito. Eu tinha quase certeza que havia sido atropelado. Me recordei de quando eu trabalhava na farmácia, em Criciúma, e das histórias dos motoqueiros que se acidentavam e chegavam ao pronto socorro arrebentados. Uns perdiam membros, outros ficavam incapacitados e outros perdiam a vida. Será que eu estava inteiro? Mexi os dedos da mão direita e tudo normal. Os dedos da minha mão esquerda também estavam normais, mas quando levantei a mão esquerda senti uma dor muito forte na altura da escápula. Tentei mexer os dedos dos pés e aparentemente tive sucesso, apesar de eles estarem cobertos por um lençol. Eu só achei que estava sonhando quando uma loira entrou no quarto. Ela estava de cabeça baixa e mexendo no telefone celular. Não era possível, mas aquela loira era a Fernanda. Quando ela tirou os olhos do aparelho e me viu acordado logo abriu um sorriso enorme. Notei uma lágrima escorrendo pela sua face e, ela rapidamente passou a mão naquela lágrima e virou o rosto para o lado, tentando esconder os olhos marejados. E então falou: — Beto, que bom que você está bem! Eu pensei que iria embora com você ainda inconsciente... Quando vi a Fernanda eu gelei. Não entendia como ela esta lá na minha frente. Em um segundo o meu cérebro imaginou mil coisas: será que eu estava sonhando? Se eu estava mesmo acordado e consciente, será que fui atropelado de propósito? Poderia ser alguma retaliação de algum cúmplice do Anderson. Talvez a sócia dele do Rio de Janeiro, que eu não me lembrava o nome... a que transou com a Fernanda... talvez a Fernanda estivesse envolvida! Poderia ser a Fernanda por trás de tudo aquilo... Em meio aos meus pensamentos e inseguranças eu perguntei: — O que aconteceu? — Você foi atropelado. Ficou desacordado por dois dias. — E como você ficou sabendo? Como chegou aqui? Onde é aqui? — Nós estamos no mesmo hospital que você foi internado quando teve aquela crise renal. No cadastro que eles tinham eu era o seu contato. Eles ligaram para o meu número de telefone antigo, lá de Tubarão. Esse número ficou com a minha mãe e ela entrou em contato comigo... mas... antes de qualquer outra coisa eu queria muito te pedir perdão. Por ter te traído, por ser infantil e por tudo mais que fiz de errado com você. Não sei se algum dia você vai me perdoar, mas saiba que estou muito arrependida por todos os meus erros. — Fernanda, o atropelamento foi muito grave? A coxa e a escápula doem... — Eu conversei com o ortopedista e ele disse que você teve muita sorte... praticamente nasceu de novo! Vou pedir para te darem um analgésico... A coxa foi justamente onde o carro te bateu. E teve uma outra batida forte na região do seu omoplata. Essa batida, se fosse um pouquinho para a esquerda ou para cima, poderia ter causado a sua morte ou que você ficasse ficado paralisado... Você também bateu a cabeça de leve. Por muita sorte não teve nenhuma fratura, só alguns pequenos arranhões nas costas e pequenos ferimentos no rosto e no ombro. — Eu vou ficar bem? — Você está em observação! Estava em coma e, além disso, teve uma concussão cerebral e alguns cortes, arranhões e hematomas decorrentes da queda, mas acho que ficará bem sim... Se alguém pode sair dessa é você! Agora espera que vou avisar que você já acordou... e já vou ligar para a sua neuro... E, dizendo isso, ela foi saindo do quarto. E voltou depois de algum tempo, com uma enfermeira, que trocou o meu soro, perguntou se eu estava bem e disse que chamaria a médica para me ver. Quando a enfermeira saiu do quarto eu olhei sério para a Fernanda e perguntei: — Você não sabe o quanto eu precisava falar contigo. Me conta o que aconteceu com a Manú e aquele filho da puta do Anderson! Eu quero que você fale tudo, desde o começo. — Eu conto tudo que você quiser. Faço o que for preciso pra ganhar sua confiança de novo... — Vocês destruíram a minha família... — Beto, vocês ainda estão separados? É por isso que o seu irmão teve tanta dificuldade em falar com a Manú... — Como assim? — Assim que cheguei aqui, hoje de manhã, e confirmei que era você mesmo que estava internado, eu liguei para o Zé Renato e, só há pouco ele conseguiu falar com a Manú. Ele teve que ir até a casa dela para isso. Eles estão vindo para cá e devem chegar em umas quatro horas... eu estou coordenando com ele pelo telefone. — Tá bom Fernanda. Agora eu quero que você vá até a portaria do hospital e fale com a pessoa responsável, para que proíba a entrada do Zé Renato aqui no quarto, porque se ele passar por essa porta eu vou jogar tudo que estiver próximo das minhas mãos encima dele. — Por que isso? — Só faz isso, por favor. E também pode mandar mensagem para ele, dizendo que nem precisa vir me ver, pois não vou falar com ele. — Você vai ter que me contar essa história... — Avise na portaria e mande a mensagem. Depois eu quero ouvir a sua história. A Fernanda saiu do quarto e voltou uns 10 minutos depois. Se sentou na poltrona ao me lado e começou a falar: — Assim que eu cheguei nesse hospital eu rodei a baiana, paguei de médica e deixei todo mundo louco, para que te tratassem muito bem. Sabe Beto, logo depois que eu te deixei... até antes mesmo de sair a papelada do divórcio, eu já me arrependi profundamente do que havia feito. Daí larguei o outro cara e fiquei sozinha, não quis arrumar mais ninguém. Inclusive nunca mais tive nada com o Anderson, apesar dele sempre me convidar para visitá-lo no Canadá. E, a cada recusa minha, ele sempre dizia que o problema era porque nós dois estávamos separados, pois eu fiquei deprimida por estar longe de você... O tempo foi passando e passei só a ignorar as investidas dele. Ela colocou a mão no meu ombro e, me olhando nos olhos, continuou: — Aquilo tudo aconteceu com a Manú em um sábado. Só que, dois dias antes, no dia do feriado da República, dois seguranças do Anderson praticamente me sequestraram, me colocaram em um jatinho e me trouxeram aqui para Brasília. Me colocaram em um hotel e só no dia seguinte o Anderson veio falar comigo e disse que eu teria uma surpresa agradável. Ela mudou de posição novamente, cruzou as mãos na frente da boca, pensou um pouco e continuou com o seu relato: — Eu já pretendia ir embora daqui antes da Manú chegar, mesmo se você não tivesse acordado. Eu não tenho coragem de olhar nos olhos dela. E agora, que fiquei sabendo que vocês se separaram, muito devido àquilo que aconteceu, eu fico mais envergonhada ainda de não ter impedido tudo aquilo... A voz da Fernanda, seu nervosismo e suas lágrimas não eram de quem estava fingindo e sim de alguém que estava sofrendo por reviver aquilo. Eu percebi muito arrependimento e medo no tom de voz quando ela continuou falando: — Bem, eu fiquei no hotel até o sábado à noite, quando o motorista do Anderson foi me buscar e me levou para um barco. Ainda vi uma mulher e uns quatro homens dentro desse barco, enquanto me levavam para dentro da cabine. Lá dentro, não pude acreditar quando vi o Anderson e a Manú nus. Ele estava falando algo e ela totalmente desmaiada encima da cama. Corri e fui ver como ela estava e, só depois, que percebi que o Anderson estava falando para um aparelho celular, que estava em um tripé. Ela enxugou as lágrimas e soltou um “— Me desculpa Beto!” — Antes de continuar: — Quando ele falou o seu nome foi que eu percebi que a mensagem era para você. Não consegui acordar a Manú e, quando o Anderson me falou que iria foder ela eu tentei impedir, porém não consegui... ele era muito forte e ele me colocou para fora da cabine. Nessa hora ela até soluçou, fez várias pausas para continuar sua história. — Eu devia ter gritado, feito um escândalo ou ligado para a polícia, mas meu choque foi tão grande que não consegui. Fiquei sentada em um sofá, chorando, até que o Anderson veio falar comigo, dizendo que agora você voltaria para mim e depois me falou que iria embarcar às 11 horas do dia seguinte, para o Canadá, e que se eu quisesse poderia ir com ele. Minutos depois ele falou que iria para o hotel, para dormir um pouco, pois estava cansado de tanto comer a Manú, falou que ela estava drogada e que uma enfermeira iria chegar, lá pelas 8 horas da manhã, para aplicar um antídoto e que, quando ele fosse para o hotel, iria liberar a Manú para que os marinheiros fizessem a festa com ela. Quando ele foi embora eu fiquei no barco. Dei ordem para ninguém se aproximar da Manú, peguei a outra moça pelo braço, acho que ela era copeira ou cozinheira, e nos trancamos na cabine. Ela me ajudou a dar um banho na Manú, a vestimos e aguardamos a enfermeira chegar. Essa enfermeira chegou pela manhã e aplicou uma injeção na Manú. O motorista que trouxe a enfermeira nos levou até o hotel que a Manú estava hospedada. Eu só liberei as moças depois que deixamos a Manú no quarto dela. Depois disso liguei para o Anderson, para dizer que ele era um cachorro filho da puta e que eu tinha nojo dele. E voltei para Maceió. Depois de alguns minutos com nós dois em silêncio, a médica entrou no quarto. Ela se apresentou como sendo a neurologista. Me examinou, conversou comigo e disse que, se tudo desse certo, eu receberia alta em dois ou três dias. Quando a médica saiu a Fernanda voltou a falar, dessa vez mais calma: — Beto, me desculpa, eu devia ter te ligado e explicado tudo, mas não tive coragem. E, depois daquilo, eu sabia que nunca mais teria você de volta... Eu gosto de você... você foi meu primeiro homem. Bem, foi o primeiro em quase tudo. O primeiro que me penetrou e tirou minha virgindade... E foi gostoso. Um dia desses eu sonhei com a nossa primeira vez, que foi logo depois do casamento. Muitas mulheres falam que dói, que querem esquecer, mas eu não. Nossa primeira vez foi perfeita... eu estraguei o que estava perfeito... Ela me olhou nos olhos e deu um sorriso tímido. Como ela estava com um olhar muito apaixonado, resolvi dar uma cutucada e disse: — Mas não tirei toda a sua virgindade, né? Ela contraiu um pouco a boca por uns segundos, então dobrou um pouco a cabeça para o lado esquerdo, desviou os olhos para baixo e abriu um sorriso maior ainda, como se tivesse se recordado de algo prazeroso. — Foi você que me penetrou pela primeira vez lá também... todos os meus cabaços foram seus. Lembro que não aguentei tudo da primeira vez... mas você deve ter colocado mais da metade... Doeu muito... Essa tua pica é muito grossa. Ela endireitou a cabeça, desfez o sorriso, voltou a olhar para frente, mas sem me encarar e continuou: — Se eu tivesse um pouco mais de experiência e paciência acho que teria sido gostoso. Ficaríamos juntos... Deu um sorriso triste e só então voltou a me olhar nos olhos. — As lembranças boas vão ficar para sempre. Vi que seus olhos ficaram marejados e resolvi mudar de assunto. — Você era muito nova... — Nós éramos muito novos... Mas vamos voltar a falar da sua saúde, antes que eu comente que você teve grande dificuldade em tirar meus cabaços. Eu dei um sorriso. Lembrei do tempo que eu e Fernanda tínhamos cumplicidade. E resolvi perguntar: — E como estão seus pais... e a faculdade? Eu estava ficando sonolento e mal entendi quando a Fernanda me disse que o avião com a Manú e o Zé Renato havia acabado de pousar no aeroporto. A Fernanda me explicou que a sonolência era por causa do último remédio que haviam me dado e depois me contou que seus pais foram morar com ela lá em Maceió. Falou que não tinha mais contato com a Morgana e, por fim, falou que estava namorando. Disse que eu precisava conhecer o namorado dela. Que era um médico cirurgião. Me contou que ele foi dar aula para a turma dela e que a chamou para sair. Quando ela disse que não saia com professores ele passou a turma dela para outro professor e a convidou para sair novamente. Ela falou que eles estavam juntos há três meses, mas estavam indo bem devagar. E ainda me contou que só conseguiu passagem para vir me encontrar em Brasília, porque ele a ajudou, ligando para uns conhecidos na empresa aérea. Ainda me lembro da Fernanda falado: “— Eu decepcionei você. Sinto muito... eu queria me desculpar...” — E, se despedindo de mim, ela ainda falou “— O que eu quero mesmo é te beijar uma última vez!” — e, dizendo isso, ela veio e me deu esse ultimo beijo. Foi um beijo longo, molhado e intenso que, apesar dela ter forçado a sua língua para dentro da minha boca, para mim não teve significado algum. O engraçado é que eu já amei aquela mulher e hoje não queria mais nada com ela, mesmo ela sendo o tipo de mulher que dez entre dez homens sonham em conhecer. A Fernanda ainda disse: — Apesar do seu acidente, eu amei a conversa que tivemos. Acho que nunca conversamos tanto. Eu gostei! Já meio sonolento eu ainda respondi: — Também, antes você se comportava como um bichinho acuado. Tudo era motivo para você se fechar e ficar calada... eu gostei da nova Fernanda! Você está mais madura, mais centrada e confiante. Minhas pálpebras estavam pesadas, porém ainda me lembro do enorme sorriso que ela deu, depois que falei isso, e me recordo dela me agradecendo. E então a Fernanda foi embora antes da Manú chegar ao hospital. Eu ainda pedi para ela ficar e contar sua versão da história para a Manú e ela me respondeu, antes que eu perdesse os sentidos, que talvez algum dia ela fizesse isso e fosse se explicar para a Manú.
Quando abri os olhos novamente não era mais a Fernanda, com seus cabelos dourados, que estava sentada ao meu lado, mas sim a Manú, com seu rosto angelical e seus traços delicados que, naquele momento, formavam uma enorme cara de preocupação. Só que ela não estava como da última vez que em que eu a havia visto, que foi no meu escritório, logo depois que ela me contou de sua traição. Agora ela estava visivelmente mais magra, pálida, com olheiras profundas e seus olhos haviam perdido o brilho de antes. Não que uns poucos quilos a menos lhe diminuíssem a sua beleza. Parecia que o peso de suas escolhas estavam pesando em suas costas. E, ao me ver acordando, ela curvou o seu corpo em direção ao meu e falou: — Beto, eu estava tão preocupada... você sumiu... não deu notícias... o seu irmão disse que você sofreu um acidente... Vocês não imaginam como eu adorava ouvir a voz da Manú. E a minha alegria era muito maior, em ver que ela não estava mais com aquele olhar distante! E como estar perto dela me fazia bem! — Você está bem? — Ela perguntou com a voz insegura. Olhei bem para ela e respondi seco: — Não, não estou! Ela então começou a falar, ainda meio tensa. E disse que chegou querendo me transferir para outro hospital do convênio médico, que falou com a neurologista que estava cuidando do caso e que descobriu que essa médica era amiga do seu tio. Quando ela se tocou que estava divagando, acabou olhando nos meus olhos e falou: — Eu também não estou bem. Eu magoei o homem que eu amo e nunca vou conseguir me perdoar, mas sonho que um dia você me perdoe. Você é a melhor pessoa que eu já conheci e se alguém pode fazer isso, essa pessoa é você. Ela se ajeitou, meio desconfortável e continuou a falar: — Eu sei que errei! Eu sei que estraguei tudo entre a gente! Eu sei que o que fiz foi imperdoável! Mas eu queria dizer que eu sinto muito, que eu te amo mais do que tudo nesse mundo. E que todo dia te incluo em minhas orações, pedindo para que você seja feliz. Mesmo que sua felicidade esteja longe de mim... Eu não só te amo, como você é o melhor amigo que eu já tive... sinto tanto a sua falta... eu amo você... Eu não falei nada e ela resolveu continuar falando, de cabeça baixa e visivelmente envergonhada: — Eu fiz uma coisa da qual irei me arrepender pelo resto da minha vida. Se eu pudesse, eu voltaria no tempo. Eu nunca teria aceitado participar daquela força tarefa e continuaríamos felizes... mas isso eu não posso fazer... O que sei é que eu preciso de você! Eu preciso muito de você... Eu sei que estraguei tudo. Eu não imaginava viver um segundo sem você. Agora imagina a dor de ficar 58 dias sem você em casa! Você que é o meu amado, meu amante, meu melhor amigo, meu confidente, meu alicerce. Meu tudo! — Escuta Manú... Antes que eu continuasse a frase ela ainda perguntou meio tímida: — Você voltou com a Fernanda? Vocês estavam juntos aqui em Brasília? Foi ela quem ligou para o Zé Renato... Ela ainda está aqui no hospital? Nessa hora fiz questão de olhar nos olhos da Manú. Ela estava com ciúmes! Os sintomas eram claros: a ansiedade, a insegurança e suas expressões de culpa e remorso. Depois que ela me contou que caiu na armadilha da Millene, como se fosse uma idiota (será que foi uma armadilha mesmo? Eu só tinha a versão dela e as bobagens que meu irmão falou), encarei suas suplicas para que eu voltasse para casa como se fosse um capricho. Só que agora eu via sentimentos nos olhos dela. Ela colocou a sua mão sobre a minha e, quase instintivamente eu a recolhi. Se ela já estava arisca, ficou mais ainda depois que eu fiz aquilo. E, vendo a cara de espanto dela, tentei me ajeitar melhor na cama, apesar da dor que eu sentia quando tentava mudar de posição. Daí, com calma, contei para a Manú toda a história que a Fernanda havia acabado de me contar, sem omitir nenhum mísero detalhe: que eu já havia estado nesse hospital antes, que a Fernanda constava como meu contato e que ligaram para ela e só depois ela conseguiu falar com meus parentes. Depois contei toda a versão da Fernanda sobre o seu envolvimento com o Anderson e, finalmente, falei que a Fernanda estava envergonhada e havia ido embora assim que a Manú chegou ao hospital. Ela, já mais calma, fez o seguinte comentário, com aquela voz linda, como se fosse uma daquelas locutoras de programa de rádio que passam de madrugada, cuja voz nos faz querer mais sobre o que ela está falando: — Pensei que você já tinha se esquecido de mim... — Manú, eu não conseguiria nem se eu quisesse! — Beto, eu nunca pensei nisso... de como a Fernanda foi parar nessa história. Eu queria só esquecer o que ele fez comigo... ele, o Anderson, era doentio... Mas você nem imagina o tanto que te amo. Não espero que você me perdoe, pois eu não consigo me perdoar. Eu tive muito tempo para pensar e percebi o quanto eu estava errada e o quanto eu te magoei. — Eu queria saber perdoá-la. Mas não é fácil! — Deixa eu te falar uma coisa. Só peço que me deixe contar tudo antes de me interromper. Sabe, eu... ensaiei esse pedido de desculpas milhares de vezes e não me lembro de nem mesmo uma palavra dele. Eu tô nervosa... Lamento ver você tão magoado. Você não merece isso! E o que mais dói é que eu causei essa dor. Você tem que me perdoar por muita coisa... eu fiz muita coisa errada. Eu fui estúpida! Eu estava doente e não admitia que o tratamento não estava dando certo. Eu prometi nunca mentir para você, mas não te contei muita coisa... A minha nova psicóloga me disse que é mais fácil tentar perdoar uma coisa de casa vez. Pela primeira vez ela esboçou um sorriso no rosto. Ela estava com aquele olhar de compaixão pelo qual eu me apaixonei. Então notei que ela estava usando a sua aliança de casamento e o anel de noivado, ambos no dedo anelar da mão esquerda. E que estava com a minha aliança presa no cordão do seu pescoço, junto com o pingente da cruz de Davi. Após o sorriso ela falou: — Quando você pegou suas coisas e foi embora de casa eu me desesperei. Liguei para a minha mãe. Ela veio para São Paulo e a primeira coisa que fez foi trocar a minha psicóloga. Comecei tendo consultas quase todo dia com essa nova terapeuta, e agora já diminuiu para duas ou três vezes por semana. Foi ela e a minha mãe que abriram meus olhos. O tapa na cara foi quando a terapeuta pediu para eu comparar uma foto sua no nosso casamento com a última foto que eu tinha de você, que foi uma que você tirou no noivado do Nunes com a Carmem. E eu percebi o quanto você estava machucado e sofrendo... você estava muito magro, abatido e com a expressão triste... A terapeuta então me perguntou: “— Olha as fotos dele. É o mesmo homem com quem você se casou?” Após uma breve pausa ela voltou a falar, meio melancólica: — Eu contei tudo o que aconteceu para a nova terapeuta... Para a minha mãe eu só não contei o que aconteceu com a Millene. Eu não tive coragem! Não sei se isso ajudou muito, pois acredito que a minha mãe esteja achando que eu te traí com algum homem e que você descobriu... E quando eu disse que você nunca mais iria voltar, a minha mãe contratou alguém para te encontrar. Ela olhou para o lado, respirou fundo, disfarçou para enxugar uma lágrima e esboçou um sorriso antes de continuar a falar. E eu deixei ela desabafar: — Não quero te machucar nunca mais. Eu sei que o que fiz foi traição e você não merecia isso! Eu nunca vou esquecer o que você fez por mim, você sofreu calado para me proteger, cuidou de mim, me apoiou e ficou do meu lado. Beto, você é a pessoa mais forte que eu conheço e eu preciso de você... você ficou sempre do meu lado, segurou a minha mão... me protegeu. Eu estava com muito medo, mas você sempre me colocou em primeiro lugar. E, no final, eu quebrei o juramento que fiz para você... um juramento que fiz na frente de nossos parentes e amigos... não pensei nas consequências daquilo... Eu sei que você fez de tudo ao seu alcance para me ajudar e não merecia o que eu fiz... Eu não sou inocente e não vou me fazer de vítima. Eu fiz aquilo por minha vontade... foi uma escolha que fiz, apesar de cada molécula do meu corpo dizer que aquilo não era certo. Aquilo só aconteceu porque eu permiti... Com a Millene eu cometi o maior pecado da minha vida... Eu fui infiel e me envergonho disso... é um fantasma... uma mancha que vai me assombrar pelo resto da minha vida, pois eu traí a confiança que o meu marido depositou em mim... Não há só um dia que eu não pense em você, que não me preocupe com o seu bem estar. Eu não sei como viver sem você ao meu lado e... só queria que você achasse uma forma de me perdoar. Ela botou as mãos no rosto e começou a chorar.
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Você e incrível, cada novo capitulo cheio de emoções, um dos melhores contos que já lê até hoje, aguardando ensinamento o próximo capitulo, espero que não demore muito kkkkkk
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