SERÁ QUE TUDO ESTÁ ESCRITO NAS ESTRELAS? Capítulo 65
Saí de São Paulo em direção a São José dos Campos pela via Dutra. Eu sempre ia de boa e, nesses horários mais tranquilos, eu levava um pouco mais de uma hora para fazer essa viagem. Eu devo ter cochilado ao volante e despertei com um carro buzinando do meu lado esquerdo. Percebi que estava quase batendo na lateral daquele veículo. Rapidamente voltei para a minha faixa de rolagem e, depois fiquei imaginando que se eu tivesse batido naquele veículo eu poderia ter capotado. E atrás do meu carro ainda vinham dois caminhões que, com certeza, não parariam a tempo. Eu poderia ainda ter cruzado de uma pista para outra e batido de frente com alguém ou até caído em algum barranco na lateral da rodovia. Eu me despertei com aquele carro buzinando e voltei para a minha pista, dirigi por mais alguns quilômetros e o sono voltou. Eu não conseguia manter os olhos abertos e resolvi entrar no primeiro posto de gasolina que encontrei. Fui ao restaurante do posto de gasolina e pedi um café bem forte. Fiquei ali uma meia hora e o sono só piorou. Foi então que eu conversei com o atendente e consegui um quarto para passar a noite. O quarto era bem ruinzinho. Devia medir 2m x 2,5m e nele só tinha uma cama, que eu acho que era daquele modelo de viúva (não era uma cama de solteiro, mas não chegava a ser uma cama de casal), tinha um armário pequeno e sem portas e uma TV na parede. Nada disso me incomodou, pois assim que me deitei eu apaguei e só acordei às 5 horas da madrugada, quando algum caminhoneiro ligou seu veículo, que estava estacionado bem na frente dos quartos, e ficou acelerando o caminhão. Olhei na tela do telefone celular para conferir o horário e vi que haviam duas ligações da Manú e uma mensagem dela, perguntando onde eu estava. E, olhando o histórico de mensagens e ligações, pude ver quanto tempo havia passado sem que ela me ligasse ou sequer me mandasse uma mensagem (a última ligação partindo dela havia sido feita no dia cinco de setembro, quando comemoramos três anos juntos). Me levantei, lavei o rosto, comprei um energético e fui para casa. Quando a Manú acordou eu já estava na cozinha, terminando de tomar café. Ela desceu e me perguntou onde eu estava, meio que por obrigação, pois não demonstrou qualquer sentimento de ciúmes ou preocupação em sua voz. E eu me limitei a responder para ela que voltei muito tarde de São Paulo, que estava com muito sono e resolvi parar em um hotel para descansar um pouco, antes de seguir viagem. Saí para trabalhar antes dela e trabalhei normalmente. Quanto voltei para casa, no final do dia, ela estava me esperando, sentada no sofá da sala de visitas. Assim que entrei em casa ela já foi me perguntado: — Beto... a mala que estava no closet... Não deixei ela terminar de falar e já abri minha pasta e lhe entreguei um pendrive, com todos os arquivos que havia retirado dos HDs e do telefone celular. Para vocês imaginarem a situação que estávamos vivendo, eu achei estranho ela estar dirigindo a palavra para mim pela segunda vez naquele dia. E, lhe entregando o pendrive já fui falando: — Fica tranquila que eu já destruí tudo. Transferi todos os arquivos que estavam lá para esse pendrive. — E você viu alguma coisa? — Do telefone eu só olhei as mensagens que você trocou com ele. Vi as filmagens dos HDs e dá para ver os assassinos pulando o muro, depois eles saindo da casa e você entrando na casa. Eles inutilizaram quase todas as câmeras. Ela pegou o pendrive da minha mão e, sem me olhar nos olhos começou a falar: — Eu queria matar aquele desgraçado... e não queria que você se envolvesse! Quando ele me contatou eu percebi a oportunidade de me aproximar dele para fazer aquilo. Sabe, eu até usei a identidade da Fabíola para ir até ele, pois se desse algum problema eles não teriam registro de que eu havia ido para Maceió... até pensei em levar a minha arma e descarregar encima daquele filho da puta, só que isso era inviável. Ela me olhou hesitante e, logo em seguida já desviou o olhar e continuou falando: — Inventei uma história e questionei a Hana, falando que vi uma cena em um filme que o ator apaga a atriz com uma injeção e perguntei qual produto faria aquilo. Ela respondeu que poderia ser muita coisa, mas ela achava que era propofol ou sufentanil, que são drogas que deixam a pessoa inconsciente em menos de 10 segundos. A Hana tem uma grande caixa de primeiros socorros no quarto de hospedes e, vasculhando essa caixa, eu achei umas três ampolas de um desses medicamentos. Peguei duas dessas ampolas e três seringas e as levei na viagem, para usar no Anderson. Só que quando eu cheguei na casa dele, ele já estava morto. — Nossa, meu amor! Você correu um risco enorme! Faltou muito pouco para se encontrar com os assassinos na entrada da casa. Nessa hora ela me olhou assustada e eu continuei falando: — Você contou alguma coisa do Anderson para a sua mãe, seu pai, ou seus avós? — Não, não. — Nem para o seu tio, a Hana ou até a Fabíola... — Já disse Beto, não contei para ninguém. — Tá bom, e como foi para você pegar e trazer aquelas coisas? — Eu já tinha a idéia de destruir aquele telefone, pois nele tinham as minhas conversas com o Anderson. Como, quando eu cheguei lá ele já estava morto e amarrado em uma cadeira, eu me desesperei e fui procurar o sistema de vigilância no quarto dele, que era onde você me disse que ficava. Desliguei as câmeras e retirei os discos de gravação. O parelho celular estava encima da cama e o tablet ao lado do computador. Eu só desliguei os dois, coloquei tudo dentro de uma fronha e fui embora da casa, tomando o cuidado de apagar todas as minhas digitais. — E como você retirou aqueles discos da máquina? — Beto, eu vejo você fazendo isso quase todos os dias... Nossa conversa terminou aí. Ela se levantou e foi para o seu quarto.
No sábado à tarde inventei de fazer uma surpresa para ela. Confirmei com o Zé Renato que a Manú estava na casa dele e parti para São Paulo, para me encontrar com ela. Chegando lá, só encontrei o meu irmão em casa, pois a Manú e a Millene haviam levado o Oliver ao cinema e, quando elas voltaram, pude perceber, por suas expressões, que a Manú não havia gostado nem um pouco de me encontrar lá. Tanto que, depois de uma meia hora ela juntou suas coisas, se despediu de todo mundo e disse que iria para a casa do seu tio. Eu fiquei lá com cara de otário, a Millene ainda tentou conversar com a Manú e não teve sucesso em convencê-la a ficar. Depois que a Manú saiu, os dois ainda vieram conversar comigo, me aconselharam a dar mais espaço para a Manú, a não cobrar nada dela e até ficar fora do seu caminho, inclusive dentro de casa, e aguardar mais um tempo pois, quando ela caísse em si, voltaria a me procurar. Apesar do convite do Zé Renato para dormir na sua casa, resolvi voltar naquele mesmo dia para São José. Entrei no meu carro e ainda tentei ligar para a Manú e ela não me atendeu. Ainda ali no carro olhei nosso histórico de ligações. Após o estupro ela não havia atendido nenhuma das últimas 67 chamadas que fiz para ela. Antes disso eram diversas ligações feitas e recebidas, em várias vezes ao dia e sempre conversávamos por muito tempo. Eu estava destruído, porém os três anos que passamos juntos foram os melhores da minha vida. Eu não só a amava como também admirava e idolatrava aquela mulher e iria lutar por ela. Tentaria derrubar, uma a uma, as centenas de barreiras que ela havia levantado entre nós e tinha certeza que, com paciência, amor e tempo, ela voltaria para mim. Naquela semana ela foi chamada para Brasília, para depor sobre o caso. A força tarefa foi desfeita e ela teve que entregar toda a documentação que tinha para a equipe de investigação. Durante o mês de outubro ela ainda prestou depoimento para a Policia Federal, em São José dos Campos mesmo, por outras duas vezes e depois a deixaram em paz. Se o nosso envolvimento com o Anderson e com todos os eventos que levaram ao seu assassinato foi descartado, as consequências do estupro da Manú no nosso relacionamento continuavam péssimas e inalteradas. Vivíamos sob o mesmo teto, mas ela me evitava e mal me dirigia sequer a palavra. Eu tentava ajudá-la de todas as formas, fazia as coisas para ela, tentava fazer com que saíssemos de casa, mas ela não aceitava mais nada. Ela agia de forma estranha, havia perdido o interesse em atividades que antes apreciava, perdeu a autoconfiança e vivia deprimida. Estava sofrendo e vulnerável.
E, depois do assassinato do Anderson ela mudou, para pior. Ela já não era a mesma mulher comigo. Além de apática ela passou a me evitar ainda mais. Acho que para não sair comigo ela passou a malhar no horário de almoço, em um local próximo ao seu trabalho. Chegava todo dia bem tarde em casa e das vezes que a questionei ela alegou que estava em reuniões, participando de happy hour com as amigas (eram de vários grupinhos: tinha as amigas do escritório, da musculação, do pilates, do treino de spinning, da pós-graduação, do curso de línguas, da comunidade israelense, do boliche e das paraenses que moravam na região) ou falava que havia ido para outra comemoração qualquer, devido ao seu cargo. Dessas suas noites das garotas eu só não gostava que normalmente a Paola também participava. Muitas vezes a Manú chegava tarde da noite, visivelmente alterada e cheirando a álcool. Algo que antes nunca aconteceu. Ela estava indo sozinha para andar a cavalo e não queria mais ir comigo sequer ao cinema. Aos sábados ela ia cedo para São Paulo, para a consulta com a terapeuta e só voltava no domingo a noite, alegando que ficava com a Millene e o Zé Renato ou ia para casa do seu tio. Além de estar em depressão profunda e perder o interesse por muita coisa, em casa ela vivia triste pelos cantos. Foram várias as vezes que a encontrei com o rosto cheio de lágrimas e ela, ao me ver, rapidamente se recompunha, para que eu achasse que estava tudo bem com ela. As garrafas de bebida do nosso bar, que eram quase que exclusivas para os amigos, estavam secando rapidamente. A Tais que, praticamente a visitava todos os dias, chegava em casa normalmente às 19 horas e elas ficavam trancadas no quarto até as 22 ou 23 horas. Era a Tais que buscava até a água que a Manú bebia e, nessas horas, nem falava comigo. A Tais sempre foi meio estranha quando eu estava por perto, só que agora ela estava insuportável, me olhando com cara feia e não conversando comigo. Tentei várias vezes levar a Manú para fazermos uma terapia de casais e ela sempre recusou. A Manú sempre adorou sair para comer, dançar e cantar, só que antes ela fazia questão de ir comigo. Eu era o seu parceiro de dança e ficávamos horas dançando juntos. Ela recusava o convite de todos os outros caras, inclusive de seus amigos, e só dançava comigo. Fora que nos divertíamos muito nos karaokês da vida. Riamos tanto que chegava a doer. Porém, com o assassinato do Anderson, aquele estado de torpor que a Manú estava vivendo mudou e ela passou a sair direto e sem que eu fosse junto. Ela quase nunca ficava em casa e passou a ir para festas, barzinhos, shows e boates na companhia das amigas. Eu estava me esforçando ao máximo, estava fazendo tudo que podia pela Manú, afinal ela era o amor da minha vida e eu não tinha olhos para mais ninguém. Eu lhe enviava mensagens carinhosas, declarações de amor, dava presentes, lhe enviava flores e ela só me evitava de todas as formas possíveis. E por isso a minha mágoa só aumentava. Eu estava respeitando as decisões da minha esposa, de não procurar ajuda com a família dela e também estava seguindo as orientações da terapeuta, de dar tempo e espaço para a Manú, de não forçar a barra e de não confrontá-la ou questioná-la em nada. Essas orientações haviam sido reforçadas pelo meu irmão e minha cunhada, que eram psicólogos, mas, por exemplo, ver minha esposa sair toda produzida e dizendo que estava indo para uma noitada com as amigas me deixava puto, morrendo de ciúmes e me sentindo impotente. Eu morria de saudades das nossas conversas cotidianas que me alegravam sempre. E, para piorar as coisas, eu ainda peguei a tal de chikungunya, que a princípio até acharam que era dengue. Em uma das últimas quintas-feiras do mês de outubro, a Manú foi a tarde para São Paulo, pois na sexta-feira teria algum evento da sua pós-graduação e, como sempre, ela ficaria todo o final de semana por lá. Ela viajou e na sexta-feira eu já acordei mal, com febre alta, dor no corpo todo e, principalmente na cabeça, sem contar que estava sentindo um grande mal-estar. Eu estava tão mal que corri para o pronto socorro do convênio médico e lá me diagnosticaram, me medicaram, passaram uma receita, me deram um atestado e voltei para casa. À tarde ainda consegui ligar para o Nunes e para a Carmem e deixei a empresa a cargo deles. À noite eu piorei. A febre veio mais alta ainda, eu não tinha apetite, tive dores intensas nas articulações (até nos dedos, tornozelos e pulsos), minhas mãos e pés incharam, a dor de cabeça e atrás dos olhos, junto com fotossensibilidade eram horríveis, fora o cansaço a fadiga e a fraqueza. As manchas vermelhas por toda a pele foi o “menos pior” dos sintomas. Na madrugada resolvi voltar para o pronto socorro e chamei um carro de aplicativo, pois vi que seria arriscado ir dirigindo para lá. Fui medicado, tomei vários litros de soro e eles queriam me deixar internado. Só não fiquei internado lá porque insisti muito, então a médica me deu alta, desde que eu voltasse lá todas as manhãs, para fazer um exame de sangue e ser atendido por um médico até eles me liberarem em definitivo. Voltei de táxi e cheguei em casa quando já eram quase 20 horas. Eu havia passado o dia lá no hospital. No domingo eu acordei mal. Eles haviam me passado um antitérmico, mas quando faltavam umas duas horas para a próxima dose a febre já voltava. Mesmo assim eu fui fazer o exame de sangue e depois voltei para casa. Fiquei o dia todo deitado na cama, enrolado em um enorme cobertor e lutando contra a febre. Nem vi a Manú chegar na noite do domingo. Na realidade eu nem vi a cara da Manú nessa semana. Às vezes eu ouvia ela saindo ou chegando. Como ela queria se distanciar de mim, a minha ausência deve ter sido maravilhosa para ela. Fiquei a semana toda trancado no meu quarto. O Nunes e a Carmem se voluntariaram para me ajudar, porém eu recusei, mentindo para eles ao dizer que estava bem. Eles já estavam muito sobrecarregados e eu preferia não jogar mais esse fardo nas costas deles. Os meus outros amigos mais próximos ou estavam viajando ou eu queria recorrer a eles só em último caso. O certo mesmo é que eu adoro ajudar as pessoas e detesto precisar de ajuda, principalmente com relação à saúde. Eu só saia de manhã para fazer os exames e retornava em seguida e ia direto para a cama. Meu corpo doía todo e eu não tinha disposição para nada. Só por duas vezes eu vi a Manú abrir a porta do meu quarto, percebi a sua silhueta na porta do quarto, mas ela não entrou e não disse nada (acho que só conferiu se eu ainda estava vivo e voltou para a vida dela, que obviamente não me incluía mais). Quem perguntou se eu estava bem foi e Marisa, a nossa diarista, que ia lá em casa uma vez por semana. Ela entrou no quarto e se assustou comigo ali deitado, perguntou se eu estava me sentindo bem e se eu queria alguma ajuda. Eu só agradeci a preocupação dela e disse que era só um pequeno mal estar. Como sempre, na sexta-feira a Manú foi para São Paulo. Eu havia recebido inicialmente um atestado de sete dias e, no sábado, o médico me liberou das idas para fazer o exame de sangue e me deu outro atestado com mais cinco dias de repouso total. Eu só melhorei um pouco no domingo, pois foi quando a febre cedeu de vez. Na terça-feira ainda acordei muito indisposto, ainda fadigado, com dor de cabeça e ouvindo uma grande gargalhada no quintal de casa. Me levantei, desci as escadas e me deparei com umas cinco ou seis gurias, todas de biquíni, conversando alegremente e tomando banho no ofurô ou pegando sol em uma das esteiras no quintal. Nunca havia visto aquelas meninas e deduzi que possivelmente eram da nova academia que a Manú estava frequentando. Nem prestei muito a atenção nelas, pois logo a Manú passou ao meu lado, certamente vindo da cozinha. Ela estava com uma jarra em uma das mãos e copos na outra. Pela cor, pelo cheiro e pela textura, a bebida na jarra era de uma batida de vinho tinto com leite condensado, que a minha esposa gostava tomar bem gelado. Ela passou por mim e já não prestei atenção em mais nada, pois a Manú estava de biquíni e não teve como eu não dar uma boa secada naquela bunda perfeita. Fisicamente nem parecia que ela estava sofrendo tanto pela violência que sofreu. Ela havia perdido, no máximo, uns dois quilos, o que fez ela parecer ainda mais gostosa, pois deu ainda mais definição aos seus músculos. Isso dava para ver claramente na definição do seu braço que carregava a jarra e na lateral do seu abdômen. Ela foi lá para fora, se sentou no degrau de madeira do ofurô e ficou conversando com as meninas. Logo uma delas notou que eu estava lá e acabei deixando o lugar que estava. Ainda estava fraco, cansado e sem nenhuma vontade de me socializar. Fui na cozinha e ainda havia um resto da batida no liquidificador e só o cheiro doce daquela bebida já me embrulhou o estômago. Na bancada tinha uma bandeja com canapés, outra com croissants e outra com uns sanduíches de pão de forma. Peguei um dos croissants que estavam dentro de um saco de papel, peguei uma cápsula de “mochaccino canela”, coloquei na máquina, preparei a bebida, e fui comendo, enquanto voltava para o quarto. Peguei o meu edredom e o travesseiro e fui me deitar em um dos quartos voltados para a frente da casa. Dormi novamente e quando acordei já eram 16h. Ouvi uma conversa animada na frente de casa. Olhei pela janela e me deparei com a Manú conversando animadamente, junto ao portão de nossa casa, com os nossos vizinhos: a Solange o e Fernando. A Manú estava muito gostosa, com um shortinho legging azul escuro e com uma camiseta regata bem folgada e larga, porém curtinha e mostrando boa parte da barriga. O Fernando olhava descaradamente para a bunda da Manú e eu não tenho dúvidas que os dois estavam ali com segundas intenções, como sempre. Minha dor de cabeça havia piorado, voltei a me deitar e devo ter cochilado, pois quando acordei já estava bem escuro. Desci para a sala e não havia mais ninguém em casa. Não sei se a Manú estava em casa, pois a porta da suíte master estava fechada. Pedi uma refeição de churrasco pelo aplicativo, comi um pouco e voltei para o meu quarto. Na quarta-feira fiz um esforço absurdo e voltei a trabalhar, mas ainda bem debilitado. Antes de ela ser brutalmente violentada, em praticamente todos os meses os parentes ou amigas dela vinham nos visitar, porém depois que isso aconteceu, eles simplesmente desapareceram e isso era algo que poderia ajudar mais ainda a ela. E acredito que era ela que estava afastando essas pessoas. A sua próxima mudança foi parar de chorar pelos cantos e ficar agarrada ao telefone celular. As poucas vezes que a via em casa ela sempre estava conversando ou trocando mensagem pelo telefone. Isso tudo se estendeu pelo restante do mês de outubro e por todo o mês de novembro. No início de dezembro já haviam se passado três meses do estupro e a Manú continuava em frangalhos. Eu não tinha mais o que fazer, além de orar para acordar daquele pesadelo. Ela não dava nem uma abertura para discutirmos nossa relação e eu até evitava essa conversa, pois já sabia a posição dela. Restava para mim ter paciência, pois continuava loucamente apaixonado por ela. E por isso eu me sentia impotente, como se fosse um mero espectador da destruição do meu casamento e sem achar uma forma de reverter o que estava acontecendo. Nem sobre o dinheiro que eu havia pego do Anderson ela queria conversar. O Tavares cumpriu os prazos, conforme prometido, e eu tinha em minhas mãos pouco mais de 45 bitcoins (os 35 que haviam na carteira do Anderson e mais 10 que ele pagou de resgate) e mais 18,5 milhões de dólares (sendo oito milhões de reais no Brasil e o restante guardado, ainda em dólar, no exterior). Como a fase do meu plano de usar todo esse dinheiro para acabar com o Anderson não precisou ser feita, por ele ter sido morto antes, eu precisava me livrar daquele dinheiro. Eu não queria um centavo sequer para mim, então estava pensando em doá-lo para pessoas ou instituições de caridade e só ainda não havia feito isso pois queria a concordância da Manú sobre quanto e para quem doar. E, desde a última fez que fodemos (pois foi exatamente isso que fizemos aquele dia no sótão) e ela havia me falado aquelas coisas terríveis, eu estava muito mal. Eu mal conseguia comer e não conseguia dormir. Já havia perdido mais uns cinco ou seis quilos desde aquele dia. Eu estava exausto, mas disposto a não desistir dela, pois estava lutando por nós dois. Quando ela saia para as noitadas, se vestia de forma mais sensual e chamativa, com vestidos apertados e curtos (a maioria dessas roupas nem era dela) e normalmente chegava da balada entre 23h30mim e meia noite, e eu sempre ficava acordado esperando ela chegar. Teve um final de semana que ela foi para Ilha Bela e eu só fiquei sabendo pelas roupas dela, cheias de areia, que encontrei no cesto de roupas sujas e pelas postagens que as amigas fizeram nas redes sociais, delas pegando sol, mergulhando, andando de lancha e até em uma “rave” elas foram, que virou a madrugada. E a Manú estava usando um lenço azul na cabeça e uma gargantilha preta, de renda, no pescoço. Dessa viagem haviam fotos dela jogando futevôlei com vários rapazes e uma dela no meio de uns cinco homens, após as partidas. As suas roupas de ginástica também haviam mudado: eu só via secando no varal shortinhos e tops e teve um dia que encontrei no cesto de roupas sujas um macacão de ginástica que ela havia ganho e que era quase indecente de tão sensual, pois tinha um enorme decote na frente e deixava as costas toda nua (ela só tinha usado ele em algumas das nossas brincadeiras entre quatro paredes). Novamente conversei com a terapeuta dela, por telefone, sobre essa mudança de visual e as saídas da Manú e ela disse para eu não interferir, pois era uma forma dela se reafirmar e que o tratamento estava dando certo. Em uma segunda-feira, lá pela meia-noite eu ouvi um barulho enorme, de algo quebrando, na parte de baixo da casa. Desci as escadas correndo e encontrei a Manú na cozinha. Ela estava ajoelhada e juntando, com as mãos os cacos de vidro de um copo grosso que ela havia quebrado. — Manú, o que aconteceu, tudo bem com você? — Não foi nada! O copo só escorregou da minha mão. Vi um pingo de sangue no piso e notei que ele vinha da mão dela. — Você se cortou! Está sangrando... — Não é nada, deve ser de algum caco que eu peguei. — Pode deixar que eu limpo... me dá esses cacos aqui. Peguei a lixeirinha da pia, para ela colocar os cacos de vidro que estavam em sua mão e lhe ajudei a se levantar. O cheiro de álcool estava forte e, assim que ficou de pé ela cambaleou para trás, batendo as costas contra a geladeira. Enquanto eu estava falando: “— Você andou bebendo!” — foi que percebi a roupa que ela estava vestida: ela estava usando uma bota de cano baixo e salto médio, uma calça de couro skinny justinha, que se moldava em seu corpo e a deixava mais gostosa do que já era, com suas coxas grossas e a bunda empinada. Em cima, ela vestia uma camisa de algodão, daquelas de botão, muito justa em seu corpo e por baixo ela usava um sutiã meia taça corset, preto e meio transparente, que era muito sexy pois, além de apertar seus peitos e os unir, também deixava um decote beirando ao indecente. Olhei para ela de cima para baixo antes de falar, bem sério: — Você estava num barzinho com essa roupa? — Eu estava dançando... muito louca! — Vai lavar essa mão, que está sangrando! Quanto você bebeu? — Não foi nada: só umas cervejas, e umas caipirinhas... e também algumas tequilas... eu provei até mezcal... Perdi a conta de quantos shots eu tomei! Olhei bem nos olhos dela, para ver se ela estava chapada, através da dilatação das pupilas. — Você tá muito bêbada! Sacanagem você sair para encher a cara e ainda com uma roupa sensual dessas... — Para Beto! Para! Não enche o meu saco... você não é o meu dono... só quero me divertir... eu só saí com minhas amigas... e você que nem amigos tem... só fica pegando no meu pé e não enxerga que eu não quero mais nada com você! Dei um olhar triste para ela. Antes a nossa cumplicidade era tão grande que nos entendíamos só com o olhar. Naquela hora eu já não conhecia mais a minha esposa. Jurei que ficaria ao lado da Manú até ela se recuperar e falhei. Ela me evitava o máximo que podia. Acho que as cicatrizes emocionais dela estavam profundas demais, pois eu só estava vendo na minha frente uma burguesinha mimada, amargurada e cheia de caprichos. Suas atitudes só aumentavam minha insegurança e meus ciúmes. E disse para ela: — Eu não sei como lutar por você. Manú, você é tudo para mim. Eu te amo! E ela respondeu com uma voz impassível: — Eu queria que isso fosse suficiente. E ela, vendo a minha cara de decepção ainda continuou falando: — Vai, saí dessa casa, vai fazer alguma coisa que você goste... eu não me importo. Sabe o quanto é patético você viver essa vidinha pacata e ficar correndo atrás de mim?! Eu estou sendo sincera... não tenho mais sentimentos por você... Porém, se quiser continuar se enganando, pode ficar a vontade. Só não pega mais no meu pé... não me cobra nada...
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Pelo relato o casamento do Betão e a Manu morreu e só falta o enterro.
Ela culpar e odiar ele é injusto mas tem uma dose de compreensão pelo trauma mas não justifica tratar ele assim.
Meu otimismo quer que essa situação se reverta mas meu realismo diz que isso é definitivo até prova em contrário
Quanto ao dinheiro, eu insisto na minha ideia: ele fica com uma parte e repassa a Manu como “indenização” e o restante pulveriza para caridade
Meus amigos, os próximos 2 ou 3 capítulos serão bem complicados para escrever. A Manú obviamente está sabotando a relação deles. Só resta saber até onde ela vai e/ou até quanto o Beto vai aguentar.
Sinto muito mas essa desculpa de ir matar Anderson com as próprias mãos ficou muito mal explicada. Fiquei já dúvida se ela foi lá pra isso mesmo pois seu comportamento não condiz com a antiga Manu. parece que ela está te magoando pra vc desistir dela.
Infelizmente não vejo futuro nessa relação só dor, pelo menos não nesse momento