SERÁ QUE TUDO ESTÁ ESCRITO NAS ESTRELAS? Capítulo 74



               Durante aquela semana ainda me encontrei três vezes com a Manú, com ela dando a desculpa que era por cauda da divisão do dinheiro.
               Acho que ela deve ter pensado muito no que eu falei e até tentou fazer umas brincadeiras e me dar um ou outro sorriso travesso. Eu me controlei e fiquei sério o tempo todo. Combinamos de contratar a Fabíola para fazer a papelada. Dos 44 milhões de reais que ficaram para que eu doasse, resolvi dividir o valor entre 61 pessoas, com cotas de um milhão e de meio milhão de reais. A maioria das cotas iriam para parentes e eu mesmo faria o contato, mas haviam pessoas que eu queria doar no anonimato e também pessoas mais complicadas, que eu as passei para a Fabíola fazer todo o contato. Já a Manú destinou metade da sua parte para doar para instituições de caridade, voltadas ao acolhimento e tratamento de vítimas de abuso, e dividiu o restante em 28 partes iguais.
               Como saí de São José dos Campos sem me despedir ou dar explicações para quase ninguém, aproveitei para contatar meus amigos e familiares. Para quem perguntou contei brevemente da minha separação, dizendo que foi uma decisão conjunta, pois estávamos nos desentendendo. Muitos não engoliram a história, pois acompanharam de perto como eu definhei nos meses antes de ir embora e o pessoal da empresa já tinha fofocado bastante a respeito da discussão que tive com a Manú dentro da minha sala.
               Também, nessa primeira semana em São José, fui procurado pelo Ovídio, um dos sócios da empresa que ajudamos para desenvolver o computador criptográfico para aeronaves militares.
               Quando eu ainda estava em Criciúma, o Nunes já havia me ligado, informando que o pessoal dessa empresa havia feito várias modificações no projeto, a pedido dos militares, e que nada mais estava funcionando. Ele me falou que eles haviam procurado a minha antiga empresa para consertar o computador, mas foram informados que o contrato já havia se encerrado e que eles não tinham mais interesse e nem pessoal qualificado para participar daquele projeto. Então o Nunes me perguntou se ele poderia passar o meu contato para os sócios daquela empresa. Na época eu concordei, meio contrariado, mas percebi que poderia tirar um dinheiro dalí. Eu conhecia muito bem aquele computador e mais da metade do código de programação era meu. Só que agora eles teriam que pagar o meu preço e não o valor camarada que cobrei da primeira vez, que foi bem abaixo do custo que tive no projeto.
               Essa era a vantagem de ter voltado a morar em São José dos Campos. Além da cidade ser bonita, limpa, organizada e estar muito bem colocada em todos os levantamentos de qualidade de vida, a área tecnológica era o principal fator econômico da região e eu tinha muitos contatos profissionais e acadêmicos, que poderiam me ajudar.
               O Ovídio me ligou na quarta-feira e veio com sua conversa fiada, falando em riquezas e grandiosidades. Ele me ofereceu 10 mil reais para que eu colocasse o computador para funcionar em 20 dias. Depois de levar uns cinco tocos e outros cinco nãos ele marcou um almoço comigo no dia seguinte.
               Nesse almoço ele quis jogar a responsabilidade pelo sistema não estar funcionando nas minhas costas e disse que eu seria obrigado a corrigir os problemas. Logo fiz ele se calar. Disse para enfiar toda aquela conversa fiada no rabo e que dissesse qual era o prazo dele para entregar o computador funcionando. Ele respondeu que era no final de março (ou seja, seriam cinco semanas). Eu ri da cara dele e fui me levantando para ir embora. Ele pediu para eu ficar e disse que iria processar a empresa. Eu ri mais ainda, dizendo que não tinha mais nada a ver com aquilo. Então ele perguntou o meu preço e eu disse 200 mil reais. Ele começou a protestar e eu disse “agora são 300 mil. E não quero mais falar contigo. Cada vez que você dirigir a palavra para mim vai aumentar 10 mil reais e qualquer palpite seu no projeto aumenta mais 15 mil.” — Falei para ele, bem sério: “— Seu irmão sabe onde me encontrar!” — E fui embora.
               No sábado o Osvaldo (o irmão menos idiota do Ovídio) me ligou. Eu disse para ele que não tinha a menor intenção de ajudá-lo, pois os computadores e toda a documentação foram entregues conforme acordado e eles que tinham feito a merda toda.
               Resumindo a história. Acertamos que eu iria refazer o computador, por 200 mil reais, com eles me mandando seu melhor engenheiro para que acompanhasse o desenvolvimento e um técnico para fazer a documentação e com a condição de que depois não me perturbassem nunca mais.
               Esse dinheiro viria muito bem a calhar, pois como vocês bem sabem eu não tenho herança, não recebo favores e não tenho pais ricos. E tudo que consegui na vida foi com muito trabalho e dedicação. Fora que, pelos meus cálculos, o dinheiro que eu tinha daria para me manter por uns seis ou sete meses, caso não ocorresse nenhum imprevisto.
               Comecei o trabalho na segunda-feira e já era a última semana de fevereiro. Logo de cara pedi pra trocarem dois sensores, sendo que um deles estava claramente especificado em seu manual que era incompatível com a configuração que estávamos usando. Desmontei tudo e fui entender as funcionalidades novas que os militares pediram. E comecei a fazer tudo a partir da programação original. A empresa colocou três engenheiros e um técnico para me acompanhar e, em alguns momentos eu que percebi que eles estavam perdidos. Por várias vezes tive que parar e explicar do início, a partir dos conceitos mais básicos sobre o que estávamos fazendo.
               Essas coisas me faziam ver o quanto meus conhecimentos estavam avançados, à frente de uma empresa que se dizia ser a top do país em criptografia.
               
               Logo ao fim do segundo dia de trabalho eu voltei para o hotel. Eu já estava finalizando o contrato para alugar um apartamento mobiliado, na zona leste da cidade, e esperava me mudar no final de semana. Levei o carro que eu havia alugado para o estacionamento subterrâneo, o estacionei na minha vaga, desci do carro, andei uns cinco passos e então senti alguém se aproximando por trás e logo em seguida um assovio. Só tive tempo de arcar o corpo um pouco para frente e para a esquerda e já senti uma pancada forte, de algo atingindo as minhas costas.
               Ainda meio zonzo, eu me virei e vi um homem com um bastão tentando me atingir novamente. Consegui me esquivar dessa vez. Acredito que o primeiro golpe era destinado a acertar em cheio a minha cabeça e que, por sorte e graças aos meus reflexos, eu consegui me desviar por pouco.
               Olhei bem para ele e reconheci o agressor como sendo o Lorenzo, somente pelas tatuagens, em tons de vermelho vivo nos dois braços. A diferença era que ele não estava com os cabelos compridos como da outra vez que o vi, e sim com os cabelos bem curtinhos, como se tivesse raspado todo ele com o pente um da máquina. Eu só o havia visto uma vez, no dia do meu casamento com a Manú, e foi em um lugar meio escuro, sem contar que nesse dia ele fugiu de mim em disparada, como se fosse um covarde.
               Não que essa emboscada que ele armou para mim não fosse algo mais covarde ainda.
               Quando eu o reconheci devo ter dado um enorme sorriso, e devo ter feito uma cara de psicopata, que o assustou. Eu ainda estava me recuperando do atropelamento e poderia apanhar dele. Ele poderia até me matar com aquele bastão de madeira, mas com certeza eu iria soltar meu monstrinho interior, que estava muito raivoso e ele seria o alvo. Há muito tempo eu esperava essa oportunidade de ficar a sós com aquele idiota.
               Como o pedaço de pau era grande e grosso, o próximo ataque foi lento, eu consegui me desviar e fui para cima dele. Diminuí a distância entre nós dois e o abracei pela cintura. Com o impacto fomos para o chão. Mesmo com os movimentos limitados do braço esquerdo, causados pelo atropelamento, e da dor nas costas da paulada que eu havia acabado de receber dele, que atingiu praticamente no mesmo lugar que já estava bem machucado, eu consegui dominá-lo com um pouco de dificuldade, pois o cara era forte.
               Coloquei-o para baixo, de costas no chão, e lhe dei socos e cotoveladas em sua cara. E foi delicioso ouvir o barulho do nariz dele quebrando. Porém, depois ele forçou o corpo para o lado e minha perna direita fraquejou, fazendo com que eu caísse para o lado. Ele se levantou e, enquanto eu ainda estava de joelhos, ele desferiu um chute contra a minha cabeça, que por sorte e reflexo eu consegui aparar com o antebraço do lado machucado. Segurei a perna dele com esse braço por um instante e atingi o joelho daquela perna com toda a minha força, usando o cotovelo do outro braço. Na hora eu escutei o barulho de algo quebrando e ele caiu no chão gritando de dor. Eu me levantei e lhe dei uns dois chutes nas costelas, uns cinco pisões no joelho. Por fim peguei o pedaço de pau que ele havia me atacado e dei um só golpe, de cima para baixo, direto no meio das pernas dele, na altura dos joelhos.
               A vontade que eu tinha era de fazer com ele o mesmo que o sargento Donny Donowitz fazia com os nazistas, no filme “Inglourious Basterds” (Bastardos Inglórios, no Brasil) ou de enfiar aquele bastão tão fundo no rabo do Lorenzo que ele nunca mais iria sentir prazer enquanto estivesse dando o cú para alguém, mas ele estava inconsciente e eu bem machucado. Tinha sangue na minha calça e eu não sabia de quem era. Então joguei o pedaço de pau no chão, em um canto do estacionamento, e fui, meio cambaleando, subindo pela rampa de acesso dos carros, até chegar na portaria do hotel. Contei o que havia acontecido para o concierge que estava na portaria, e ele desceu correndo para a garagem, junto com um outro funcionário. A recepcionista do balcão de atendimento me ajudou a sentar em uma cadeira e foi ver o que havia acontecido pelas câmeras de segurança.
               Quando um dos funcionários voltou foi logo falando para a recepcionista ligar para a polícia e para o SAMU, pois a dona Edvânia, outra hospede do hotel, havia atropelado o bandido sem querer. A moça pegou o telefone e começou a discar e o funcionário foi olhar as filmagens no monitor, mas ela foi logo adiantando, que não dava para ver nada, pois o meu agressor virou as câmeras para o lado. Eu me levantei e fui ver o monitor. Realmente a única coisa que dava para ver, em uma das câmeras, era ele me atacando pelas costas, eu caindo e depois me desviando do outro golpe que ele me deu. A última vez que aparecemos nas câmeras de segurança foi quando o agarrei pela cintura e caímos não chão. Depois de um tempo eu aparecia novamente, indo em direção à rampa de acesso à garagem.
               
               A dona Edvânia, uma senhora com uns 65 anos, chegou na recepção do hotel antes das autoridades. Ela estava apavorada e me disse que não viu o homem. Falou que quando deu ré no carro, para entrar na vaga da garagem, passou por cima de alguma coisa. Parou o carro e foi ver o que era e só então encontrou esse homem debaixo do carro.
               Logo após chegaram a policia militar e o SAMU. A ambulância levou o Lorenzo embora e a policia fez o relato da ocorrência. Os PMs levaram a dona Edvânia para a delegacia, para prestar depoimento, e ainda me deram uma carona para o hospital, pois eu estava sangrando e com muita dor nas costas. Os policiais só foram embora após eu me comprometer que, após ser atendido, iria direto para prestar depoimento na delegacia.
               Enquanto esperava para ser chamado pelo médico tentei ligar para a Manú e ela não atendeu, então deixei um recado, dizendo que havia sido atacado pelo Lorenzo e que eu estava no pronto socorro do Hospital Municipal, mas que estava bem.
               Eu estava naquela sala de espera, totalmente lotada, quando olho vejo a Dra. Vanessa, minha amiga e parceira de tênis, e percebo que ela é um dos médicos que estava fazendo a triagem. Acenei para ela e notei que ela me viu, mas entrou com um paciente para seu consultório e fechou a porta. Quando o paciente saiu, ela saiu junto, foi para o balcão de atendimento e, depois, voltando para o consultório chamou pelo meu nome. Assim que a porta se fechou ela foi logo falando:
               — O que foi Beto, você está péssimo! Sofreu algum acidente.
               Expliquei para ela o que havia acontecido, depois ela me examinou e disse que, aparentemente não era nada grave, que me encaminharia para um exame de raio-x e para que a enfermagem fizesse os curativos. Perguntei para ela se teria como ver se o Lorenzo havia dado entrada lá e se sim, qual o seu estado de saúde dele. Ela me respondeu que era quase certeza que ele estava lá, verificou no sistema e viu que ele havia sido internado pela ortopedia e então me disse que o cara estava pior que eu, pois certamente havia quebrado alguma coisa, mas que ele ainda iria passar por mais exames. Falou que, quanto à situação dele, só o pessoal da ortopedia poderia responder.
               Então perguntei para ela:
               — Você não conhece ninguém lá dentro que possa adiantar como ele está?
               — Claro que eu conheço! Você também conhece alguém! Esqueceu que o Dr. Marcos é ortopedista?
               — Ele trabalha aqui?
               — Beto, ele é um dos chefes da ortopedia...
               — Tem como você ligar para ele? Eu troquei o número do meu telefone e perdi vários dos meus contatos.
               — Ligo sim.
               Ela pegou o telefone e fez a ligação. O Marcos atendeu e eu quase tomo o telefone da mão dela. Conversei com o Dr. Marcos e expliquei tudo o que havia acontecido e ele pediu para retornar o telefone para a Vanessa e pediu para que ela me classificasse como paciente da ortopedia e que, no máximo em uns 10 minutos alguém viria me buscar.
               Mal ela terminou de fazer os lançamentos da consulta no computador e já haviam dois internos batendo na porta para me levar. Fui muito bem tratado. Passeei de cadeira de rodas e eles me colocaram um daqueles pijamas ridículos, de pacientes, e me levaram para fazer alguns exames. E, mais de uma hora depois, já com os exames feitos, eles me levaram para a sala do Dr. Marcos, que me recebeu entusiasmado:
               — Beto, meu amigo, que saudades de você... agora você me paga por aquelas bolinhas curtas que você dá jogando tênis...
               — Pois é meu amigo, eu queria te reencontrar na quadra e não aqui.
               — Ossos do ofício! Quando quebram alguma coisa me mandam consertar, o que não foi o seu caso. Temos aqui várias escoriações e esse trauma nas costas não vai nem precisar de pontos. Vamos fazer só mais uns exames por precaução. Você vai sofrer um pouquinho na recuperação, pois a batida foi forte e vai ter inchaço, vermelhidão ou roxidão, dor e limitação de movimentos na região. Vou te passar uns analgésicos e antiinflamatórios e em uns dois meses você já vai voltar para as quadras.
               Ele foi olhando os exames e fazendo anotações no prontuário, depois me examinou, olhou o ferimento, pediu para movimentar o braço, perguntou o que havia acontecido com a minha perna e, quando falei para ele do atropelamento, ele disse que era para eu me benzer.
               Quando ele estava fazendo a receita eu perguntei do Lorenzo e ele respondeu:
               — Esse seu amigo vai ser meu cliente por um bom tempo. Ele está algemado na maca para ser operado mais tarde. Quebrou a tíbia e a fíbula de uma perna e o joelho da outra perna está todo arrebentado. Mas não se preocupe que as lesões foram lançadas como sendo compatíveis com atropelamento em baixa velocidade.
               Ele riu para mim, terminou a receita e me falou que a Manú estava me esperando lá fora. Falou que ela estava muito aflita e perguntou se eu queria vê-la.
               Eu agradeci muito a ele pela ajuda e disse que eu iria até ela.
               Assim que me viu a Manú correu para me abraçar e tive que impedi-la por causa do meu braço. Aparentando estar muito preocupada ela foi logo perguntado:
               — Meu Deus Beto, você não imagina o quanto estou preocupada contigo! Desde que recebi a sua mensagem... você não atende ao telefone...
               Dava para ver claramente o quanto ela estava preocupada e expliquei para ela que o telefone havia ficado junto com minhas roupas e lhe fui contando do que havia acontecido. Ela tentou segurar as lágrimas, mas deu para ver o quanto estava emocionada.
               Enquanto não saiam os resultados dos últimos exames, o Dr. Marcos me deixou descansando em um dos quartos e pude conversar bastante com a Manú e havia uma grande tensão entre nós.
               Em um determinado momento ela disparou em falar:
               — Meu coração ainda está disparado! Nessas horas que eu vejo que te amo de uma forma que nunca pensei que fosse humanamente possível. Eu queria fazer você voltar a confiar em mim... que você voltasse a acreditar que eu te mereço. Nós já passamos por muitas coisas juntos... Só me deixe dizer o que eu realmente sinto! Eu só penso em como... eu cometi milhares de erros e só penso em como posso te compensar... se você me der uma chance... vou ficar te devendo pelo resto da minha vida...
               — Não é a hora de falar sobre isso. Eu é que fico preocupado com você... Com um maluco desses soltos por aí... Manú, eu quero o seu bem e sempre estive do seu lado...
               Ela ficou me olhando e levou um bom tempo para falar novamente:
               — Beto, eu tenho que te contar uma coisa. Aqui não seria o melhor lugar para falar isso, só que eu não consigo mais ficar sem contar isso com você. Promete não ficar bravo comigo!
               Como eu não respondi e só olhei para ela, esperando ela me contar uma outra merda que ela havia feito, ela começou a falar:
               — Eu já te contei que quando você foi embora eu liguei para a minha mãe e ela veio e passou um mês aqui comigo. Então eu contei para ela tudo o que aconteceu... só não tive coragem de contar para ela do meu envolvimento com a Millene. Foi minha mãe quem abriu os meus olhos para as besteiras que eu estava fazendo e a nova terapeuta ainda me ajudou muito, fazendo com que eu me colocasse no seu lugar e só aí eu percebi o quanto você ficou do meu lado e depois foi ferido pelas minhas atitudes, mesmo depois de tudo o que você fez por mim... Beto, você é honrado e demonstrou ser um grande homem e um excelente companheiro...
               Ela abaixou os olhos e continuou contando agora sem olhar nos meus olhos:
               — Eu estava em uma depressão péssima e muito vulnerável. Minha mãe, assim que chegou em casa, ouviu só uma parte de uma conversa minha com a Tais, e já a detonou. Falou que não queria mais que eu nem conversasse com ela, dizendo que a Tais estava fazendo de tudo para me afastar de você. Depois ela praticamente expulsou a Paola lá de casa. Ela viu umas mensagens da Paola no meu celular e teve um dia que a Paola foi lá em casa e a minha mãe partiu para cima dela, dizendo que ela era má influência e que estava me levando para o “mau caminho”... chamou ela de puta, de safada...
               — Deve ter sido algo grave para tirar a dona Renate do sério. Eu já sabia que elas estavam fazendo a sua cabeça, só não conseguia que você me ouvisse.
               Ela pegou o telefone celular e me mostrou a mensagem de texto que a Paola lhe havia enviado:
               “Manú, larga desse bode e vamos aproveitar! É véspera de natal! Esquece o Beto e te dê um presente. Coloque seu lado felina para fora e arrume alguém para te foder. Garanto que o professor lá da musculação iria adorar te levar para a cama. Pensa que não vai haver envolvimento emocional, vai ser só sexo. Se você quiser experimentar algo diferente, eu conheço quatro caras que podíamos levar para a sua casa. Se imagine dentro da banheira, com um homem de cada lado, te beijando e te bolinando. E ter 3 ou 4 picas à sua disposição. Você vai esquecer totalmente do corninho e gozar muito.”
               Li a mensagem e devolvi o telefone para ela. Aquilo batia totalmente com o que a Fabíola havia me contado. Olhei para a Manú e ela estava com uma expressão diferente, meio agoniada. Olhei bem para ela e falei:
               — E o que você não está me contando? Para de falar meias verdades e seja honesta!
               Ela levantou a cabeça, com os olhos arregalados, me encarou e gaguejou bastante no começo da frase e, por essas indicações, eu já sabia que viria bomba.
               — Não vai ser fácil! Eu queria muito te falar disso, só que eu ainda não tinha tido confiança para te contar lá no hospital, em Brasília. Eu queria te contar naquela hora, só que por muito menos você já estava me expulsando do quarto e eu sabia que naquela hora você precisava de mim... Beto, não quero mentir para você nem te esconder mais nada...
               — Manú não precisa...
               — Precisa sim... só deixa te contar isso...
               — Tá bom, pode contar! Que eu dou conta da verdade, por pior que ela seja.
               — Eu preciso que você confie em mim novamente... Eu juro que é a última coisa que eu ainda não te contei...
               Ela me olhou bem nos olhos, desviou o olhar e começou a falar:
               — Então, depois do estupro eu passei a ir para as festas e comecei a beber para tentar esquecer tudo. E me doía muito não ser mais a mulher que você conheceu... e, nessas noitadas aconteceram (ela pensou por alguns segundos antes de continuar) cinco coisas que eu preciso te contar...
               Ela me olhou rapidamente, só para ver a minha reação e já continuou o seu relato e o fez claramente envergonhada e sem me olhar nos olhos:
               — A primeira vez foi quando eu fui para um barzinho com uma amigas, em São Paulo. Eu sempre me policiava para me afastar da aproximação de qualquer homem, mas lá nesse barzinho eu encontrei um escritor que eu adoro. Ele escreve sobre direito das crianças e adolescentes e eu usei muito os livros e artigos dele quando era promotora. Ele estava em uma mesa com dois casais de amigos e eu o reconheci, tomei coragem e fui conversar com eles. Fiquei horas conversando com ele! Primeiro junto com o restante do pessoal e depois fomos, só nós, dois para uma mesa. A conversa foi maravilhosa e deu até para esquecer dos meus problemas. Ele é um coroa bonito, muito culto e inteligente, com os cabelos grisalhos e mais de 50 anos. E, só em uma hora, em que fui pegar uma bebida, que minha amiga veio brincando e dizendo que eu estava me divertindo com meu “sugar daddy” e outra amiga completou que “sugar daddy” é para solteiras e que, para casadas, como eu, já seria amante. Nessa hora eu pensei em você, dei um jeito de me livrar dele e voltei para as minhas amigas.
               Ela nem olhou para a minha expressão e já continuou:
               — A segunda vez também foi em São Paulo, quando saímos para uma boate, para comemorar o aniversário de um colega da pós-graduação. Nesse dia eu bebi muito e um dos colegas foi dançar comigo e tentou me beijar. Eu não deixei, só que mais tarde ele chegou por trás de mim, agarrou os meus peitos e tentou beijar o meu pescoço. Eu empurrei ele e foi a maior confusão. Acabou que uma outra colega me tirou de lá, me levou para a casa dela e nesse dia dormi em seu sofá.
               Ela nem olhou nos meus olhos e já emendou a terceira história:
               — Nas outras três vezes a Paola estava envolvida. Bem que você me disse para que eu me afastasse dela. Só que, quando eu estava mal, era ela que me levava para sair. E, com isso, ela tentou me beijar. Acho que por quatro vezes, em lugares e ocasiões diferentes... Já a quarta vez foi quando eu fui a uma danceteria com a Paola e lá ela encontrou três rapazes. Depois ela queria que nós duas fossemos para um motel com os rapazes. Como eu não aceitei, ela foi sozinha com eles e eu continuei lá na danceteria. Depois de algum tempo eles voltaram e a Paola me contou que os três a comeram e ela havia adorado. Mais tarde ela veio perguntar se eu queria ir para o motel com esses rapazes, dizendo que seria muito divertido, que ela iria também. E que, se eu não desse conta dos três, que ela pegaria um ou dois deles.
               Então ela me olhou com aqueles olhos arregalados e a expressão triste e falou:
               — Obviamente eu não aceitei... E a quinta e última vez foi quando ela me convidou para um cinema e, sem eu saber, ela convidou mais dois rapazes, um ficante dela e um amigo dele. Depois do cinema eles nos levaram, de carro, para uma pracinha e estacionaram o carro em um canto escuro. A Paola começou a se agarrar com o ficante dela e eu saí do carro. O outro rapaz também saiu do carro e ficou perto de mim. Não fomos muito longe e mal trocamos umas duas palavras e esse rapaz me apontou para o carro, dizendo que a Paola e o amigo dele já estavam transando. Nessa hora esse rapaz abaixou as calças, botou o pinto para fora e me falou: “— Se você não quiser pagar um boquete, pelo menos me toca uma punhetinha e me deixa pegar nos seus peitos”. — Falei que ele estava louco e me afastei. Mais para dentro da praça estava mais iluminado e tinha uma senhora com um cachorro enorme sentada em um banco. Eu corri e também me sentei nesse banco e puxei conversa com essa mulher. Acho que o meu acompanhante ficou com medo do cachorro e não se aproximou muito. Fiquei lá até que a Paola e o amante dela chegaram, com a Paola me dizendo que, se eu quisesse, eles já tinham até testado as molas do carro. E eu falei para ela que só entraria naquele carro para pegar a minha bolsa e cair fora de lá.
               Foi só então que ela me encarou, visivelmente preocupada, e falou com uma voz de medo:
               — Desculpa, mas eu tinha que te contar isso. Você deve estar me odiando por isso. Uma grande parte de mim me odeia... mas eu tinha que ser totalmente honesta contigo. Eu sei isso porque amor e ódio são sentimentos opostos!
Foto 1 do Conto erotico: SERÁ QUE TUDO ESTÁ ESCRITO NAS ESTRELAS? Capítulo 74

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Ficha do conto

Foto Perfil obetao
obetao

Nome do conto:
SERÁ QUE TUDO ESTÁ ESCRITO NAS ESTRELAS? Capítulo 74

Codigo do conto:
238219

Categoria:
Heterosexual

Data da Publicação:
14/07/2025

Quant.de Votos:
5

Quant.de Fotos:
3