SERÁ QUE TUDO ESTÁ ESCRITO NAS ESTRELAS? Capítulo 75
Eu tive que respirar fundo antes de falar, pois era muita coisa para digerir. Pensei em ficar indiferente com relação ao que a Manú havia acabado de me contar, porém eu não consegui e a indaguei: — Quer dizer que, se você tivesse ido ao cinema com o seu escritozinho crush e coroa, ao invés do garoto babaca, teria rolado um belo sexo no carro. O escritor tinha um bom papo, certamente era um conquistador e aproveitaria para te dar uma bela cantada. Derrepente até rolava uma suruba de vocês com a Paola... e... falando no diabo, ainda não entendi como você resistiu e não quis aumentar a sua experiência lésbica com a Paola... ela deve ser muito experiente com gurias... A Manú me cortou e respondeu em um tom bem indignado: — Eu sempre vou te amar!!! Você tem o direito de me odiar por tudo que fiz naquela época... eu também me odeio... Beto, você sabe que eu não quero ficar com ninguém além de você! Eu não me interesso por mais ninguém... te escolhi para ser o meu parceiro... queria que fosse o pai dos meus filhos... eu só quero você... — Eu já não sei de mais nada! Acho que, desde que nos conhecemos, eu te coloquei num pedestal. Confiava cegamente em você e fazia tudo o que eu podia para realizar os seus desejos. Para mim você era a mulher perfeita... era alguém ideal... era o amor da minha vida... era... Tive que respirar fundo novamente, criando coragem para tentar tirar algo mais dela e então eu continuei falando: — Não seria a primeira vez que você me decepciona... Depois doooo... Todos me falaram que era para te dar tempo e espaço e você aprontou isso comigo... Apesar de ser complicado eu quero acreditar em você... você tem algo mais para me contar? Aproveita e conta logo tudo, pois essa é a hora. — Não, com isso eu já contei tudo. Só me desculpe se eu te decepcionei... Sinto muito... — Pode parar! Estou cansado de ouvir você se desculpando! Pois eu não tenho nada para te contar! Enquanto estivemos juntos eu nunca sequer dei brecha para outra mulher se aproximar de mim. Depois que nos separamos... bem, já não é da sua conta se eu saí ou não com alguém... — É justo, mas saiba que depois daquele dia que você foi embora... que me deixou aquelas coisas e aquele bilhete... eu nunca mais saí nem com as minhas amigas. O meu foco era em te achar, saber se você estava bem e tentar conseguir o seu perdão. Eu sei que fiz e disse coisas que não me orgulho... eu fui muito egoísta... mas eu estava ferida e perdida... Beto, eu te amo! Você foi a melhor coisa que já aconteceu na minha vida e agora o seu amor por mim virou ódio. Eu sabia que isso iria te magoar, mas eu tinha que contar. Eu prometi que sempre serei sincera... — É aí que você está enganada, quando disse que “amor e ódio são sentimentos opostos”. Eu acho que o contrário do amor é a indiferença. E ódio é o que estou sentido por não conseguir deixar de te amar. Porém, já não tenho pelo que lutar. Não conversamos mais nada. Ela deve ter visto a dor e a suspeita nos meus olhos. Eu me deitei, coloquei o antebraço sobre os olhos e fiquei calado, até os exames ficarem prontos.
Em uma conversa bem recente com a Laura, ela havia me perguntado se era por orgulho que eu não havia voltado para a Manú. Foi uma pergunta que me fez pensar muito e questionar todos os meus sentimentos. E a resposta estava ali: Além de ainda estar sofrendo muito, “havia acontecido muita coisa e eu não sabia de muita coisa que havia acontecido” e, por causa dessas desconfianças que eu acreditava que não conseguiria voltar a ter uma relação saudável com a Manú. Mais tarde, quando recebi alta do hospital, ela me acompanhou até a delegacia. Enquanto esperávamos para falar com o delegado, ela novamente me pediu desculpas e me disse que desde o começo do ano o Lorenzo estava pegando no pé dela e não a deixava em paz. (a Renate já havia me dito isso antes. Que possivelmente o Lorenzo tomou a iniciativa após o apelo feito pela Manú, nas suas redes sociais, para que eu voltasse para ela). A Manú confessou que ele inicialmente chegou carinhoso, oferecendo presentes, se dizendo preocupado com ela e alegando que continuava apaixonado e que queria reatar a relação deles. E que, diante da negativa dela, ele passou a ficar mais insistente, passou a persegui-la e até tentou agarrá-la a força em uma oportunidade. Ela disse que havia feitos três boletins de ocorrência contra ele e que já havia até solicitado judicialmente uma ordem de restrição contra o Lorenzo. Falou ainda que nunca imaginou que o Lorenzo chegaria ao ponto de me agredir daquela forma. Ali, na delegacia, eu já fiquei imaginando que certamente o Lorenzo já vinha me seguindo e planejou tudo aquilo. Certamente a intenção dele era me tirar do caminho, de preferência me matando. Fiz o boletim de ocorrência e já prestei o meu depoimento para o delegado. O delegado era conhecido da Manú e a seguia nas redes sociais. E por isso ele ficou mais tempo trocando figurinhas com a Manú do que me interrogando. No final, o delegado pediu para ouvir a Manú dentro de uns dois dias e então nos liberou. Já adianto a vocês que o Lorenzo foi processado por tentativa de homicídio e outras infrações menores. A Manú inclusive contratou um advogado para atuar como assistente de acusação no processo. E as duas vezes que vi aquela escória da sociedade, que era o Lorenzo, após aquele dia, em todas elas ele estava caminhando de muletas e com certeza pensava muito em mim.
Após sairmos da delegacia a Manú queria que eu fosse para casa dela, para que ela pudesse cuidar melhor de mim, o que eu agradeci e recusei. Falei que ainda estava magoado e decepcionado com o que ela havia me contado no hospital. Eu falei para ela que precisava ficar só, mas fiquei com raiva de mim mesmo ao vê-la tão preocupada, tão carinhosa e romântica e, ao mesmo tempo, poderosa, gentil, inteligente e dona daquela beleza misteriosa que até hoje não sei explicar como é que mexe tanto comigo. Mas eu não conseguia esconder os meus sentimentos e não sabia se poderia confiar nela. Vieram novas dúvidas na minha mente: Será que ela teve recentemente algo com o Lorenzo? Será que ela cedeu às suas investidas? Será que a Manú estava se encontrando com a Millene? Ou estaria dando para outra pessoa? Ou será que aquelas histórias, que ela havia me contado no hospital, na verdade terminaram de outra forma? Como é triste amar uma pessoa e não poder confiar nela.
O que sei é que, apesar de suas confissões, que me magoaram muito, aquele episódio acabou nos unindo mais. Eu queria a resposta para aquelas perguntas e questionei a mim mesmo se ainda amava a Manú e a resposta foi que só de imaginar a minha vida sem ela já me deixava triste. A minha estadia em São José dos Campos estava sendo o oposto do que eu planejei inicialmente, pois não poderia tirar ela da minha cabeça enquanto estivesse convivendo com a Manú praticamente todos os dias. Ela me ligava diariamente, me chamava para sair e eu sempre inventava uma desculpa para não ir. Quando eu me mudei para o apartamento acabei me afastando um pouco mais dela, sob a justificativa dos prazos curtos do trabalho. E realmente o meu prazo estava se esgotando e ainda faltava muito por fazer no computador criptográfico. Nas duas últimas semanas apertei o ritmo, passei a trabalhar das seis da manhã até a meia noite e consegui entregar o material, já totalmente testado, com apenas um dia de antecedência.
Terminado aquele serviço, resolvi me dedicar ao meu projeto de pesquisa para o doutorado, no qual eu pretendia utilizar algoritmos de inteligência artificial para criptografar e, dessa forma, “tornar mais segura a tramitação de grandes quantidades de dados por redes não seguras ou no espectro de rádio terrestre ou no espectro de rádio por satélite”, que foi o tema de um estudo prévio que eu havia feito há cerca de um ano atrás e que consegui publicar em uma revista científica.
Só que, oito dias após entregar o computador criptográfico, recebi uma ligação do exterior. A princípio não reconheci o código do país, que era +972. Atendi ao telefone e a pessoa (que não me recordo o nome) se identificou como funcionário de uma empresa Israelense e me disse que tinha uma proposta de trabalho para mim, por indicação do Dr. John Nielson, da CALTECH. Eu perguntei para a pessoa sobre o que se tratava e ele disse que, se eu me interessasse, eu poderia me encontrar com o representante da empresa para uma reunião no dia seguinte, em São Paulo. O que ele falou me despertou uma enorme curiosidade e, no dia seguinte, eu me encontrei com o Ramon, representante da Empresa na América Latina, em um hotel em Guarulhos. Após eu ter assinado um acordo de confidencialidade, o Ramon me contou que era representante de uma empresa do ramo militar, sediada em Israel, e que, há dois dias um de seus veículos aéreos não tripulados (VANT), realizando uma missão tática sobre uma área de conflito no oriente médio, sofreu um ataque cibernético, que fez com que eles perderem o controle da aeronave e que ela recebeu comandos para seguir e pousar no território inimigo e que, eles só não perderam esse VANT porque o sistema de navegação secundário, que utilizava imagens aéreas do terreno para navegar, entrou em conflito com o os comandos recebidos pelo sistema de navegação principal e fez a aeronave voltar para o ponto de partida. Ele me contou que, desde aquele dia todos os cerca de 400 VANTS produzidos pela empresa e que operavam em cerca de 30 países, estavam no solo, esperando que corrigissem o problema para poderem voltar a operar. A proposta dele era para que eu me juntasse à equipe deles e a um grupo de especialistas, para trabalhar nesse problema. Eu nem pensei muito no assunto, aceitei a proposta e voltei a São José só para arrumar algumas coisas e embarcaria para Israel em menos de dois dias. Eu estava muito feliz, afinal apareceram dois ótimos trabalhos para mim, não só financeiramente, mas também pelos desafios que apresentavam. No dia seguinte arrumei minhas malas, peguei tudo o que precisava e, a noite resolvi dar uma passada na academia. Minhas seções de fisioterapia haviam terminado e já tinham uns 15 dias que eu havia voltado a frequentar a mesma academia que eu já frequentava anteriormente. Como eu sabia que a Manú não estava mais malhando lá, era um local que eu ia tranquilamente. Assim que cheguei o professor Lukas passou por mim, cantando e todo alegre. Me cumprimentou e foi para o vestiário. Fiz uma cara de admirado e a Célia (a menina da recepção que a Manú tinha mais ciúmes) percebeu meu espanto e veio falar comigo: — Não fica admirado não, o Lukas tá assim a tarde toda. Eu não sei quem é a vítima, mas ele falou que tem uma princesa que ele andava cantando há muito tempo, que ela andava meio triste e finalmente aceitou tomar um chopp com ele hoje. Eu até brinquei, dizendo que, como macho alfa, era só uma outra que ele ia comer. E ele até me falou que essa era diferente. Sei que a diferença é porque ela é difícil. Depois que ele enfiar aquela rola grande e grossa nela, não vai querer mais nada com a menina. No meio da academia vi a Helen, aquela loirinha deliciosa, balançando os braços e me cumprimentando. Era a primeira vez que eu via e Helen por lá depois que voltei a frequentar. Recentemente eu havia ficado sabendo, através da Cida, que era a fofoqueira oficial da academia, uma coisa interessante da Helen. A Cida era uma sessentona metida a menininha e vivia tentando forçar amizade com todo mundo, ela insistia de uma forma que, para mim, chegava a ser inconveniente. Porém, com seu jeito atirado, ela sabia de tudo o que acontecia por lá. E, logo no primeiro dia que voltei, a Cida me contou que a Helen já havia saído com uns três frequentadores da academia, que não tinha ido para os finalmentes com nenhum deles, mas que, cada um deles ganhou um belo boquete no final do encontro. A academia era grande e nos horários de pico chegavam a ter quatro professores orientando os praticantes da musculação, porém naquela sexta-feira a academia estava vazia e uma das poucas pessoas que estava malhando lá era uma menina que estava correndo na esteira e o seu coque de cabelo, preso no alto da cabeça, era exatamente igual ao que a Manú sempre fazia quando ia praticar exercícios e isso me fez relembrar de quando nós íamos juntos para lá. O turno do Lukas era até as 21 horas e, nas poucas vezes que o vi por lá depois desse horário ele estava trabalhando como personal ou assediando alguma garota bonita. Eu havia ficado muito amigo de outro professor de lá, o Leon, que assim como eu era apaixonado por basquete e passávamos muito tempo conversando sobre NBA e de nosso sonho (cada vez mais distante) do basquete se desenvolver mais no Brasil, dele ter mais visibilidade e virar o segundo esporte do país. Sei que o Lukas é aquele tipo de homem que chama a atenção das mulheres por seu corpo esculpido, é safado e um comedor experiente. Já tinha ouvido relatos que ele, além de ser muito bem dotado, era muito bom de cama. A Manú já havia me confidenciado que ele foi a melhor transa que a Paola já teve, e olha que não faltavam homens comendo aquela mulher. O Lukas não demorou muito e já saiu do vestiário de banho tomado e todo perfumado, se despediu rapidamente das meninas e saiu para o seu encontro. Eu ainda estava na recepção e ainda ouvi a Célia falando para a outra recepcionista: — Lá vai o Lukas. Esse gosta é da caçada e de conseguir várias mulheres... Nessa hora não sei de onde veio, mais me deu uma insegurança enorme e uma agonia. Juro que fiquei com ciúmes, pois não sei de onde, mas comecei a imaginar que ele poderia estar indo ao encontro da Manú. Imaginei a Manú toda apaixonada pelo Lukas e ele a olhando com aquele seu sorriso sacana e depois ele a fodendo com força, com aquele seu pau enorme, a arrombando toda e a fazendo gritar como se fosse uma vagabunda qualquer. E depois, finalizando com uma gozada encima da xoxota dela, fotografando e saindo de lá com mais um troféu. Nessa hora bateu um desespero e resolvi ir atrás do garanhão. Só que eu estava sem carro! Saí apressado da academia e fui, apertando o passo, até a pracinha, para pegar um táxi. No caminho vi o carro do Lukas saindo do estacionamento da academia. O único taxista que estava no ponto era um gordo, lento e que ainda estava do outro lado da rua. Demorou um ano para ele chegar até o carro e, nesse tempo, acabei perdendo o carro do Lukas de vista. Pedi para o taxista me levar até uma rua em que haviam vários barzinhos e que ficava próxima de onde a Manú trabalhava. Apesar de São José dos Campos ser uma cidade do interior, é uma metrópole com mais de 700 mil habitantes, quase tão grande quanto Maceió, que passa dos 900 mil. Acho que achar alguém em Criciúma, que tem “apenas 200 mil habitantes” já é difícil, imaginem em São José. Foi só dentro do táxi que eu pensei na loucura que estava fazendo. O que eu faria se pegasse a Manú com aquele babaca arrogante? Com que direito eu faria alguma coisa se pegasse os dois juntos? Nós não tínhamos mais nada e eu tentava a todo o momento me esquecer dela e da dor que ela me causou e, mesmo assim, me sentia inseguro só de imaginar que ela sairia com outra pessoa. Realmente eu não via um final feliz para mim nessa nossa história. Mesmo assim, após o taxista me deixar, eu ainda passei na porta de uns oito barzinhos e não vi ela nem o Lukas. Então chamei um carro de aplicativo e voltei para casa, pois logo embarcaria para Israel. Cheguei ao apartamento que havia alugado, me sentei e fiquei vários minutos olhando para o telefone na mão. Depois achei o número da Manú na agenda do telefone. Foi mais para admirar a sua foto de perfil, pois eu sabia o seu número de cor (engraçado que essa expressão “saber de cor” é de origem francesa e significa “saber pelo coração”). E ainda fiquei mais um bom tempo admirando aquela foto antes de tomar coragem de ligar para ela. Ela atendeu a ligação logo no primeiro toque e me deu um: “— Oi Beto, que surpresa você me ligando!” — com um tom muito feliz na voz. — Me desculpe estar te incomodando nessa hora... — Deixa disso, você nunca incomoda! — Estou atrapalhando alguma coisa? Eu sei que é sexta-feira e vo... — Eu já disse que você não incomoda! Estou tentando ver um filme na TV. Já cochilei e já nem sei mais nem quem é quem na história... eu já não tenho mais você para me manter acordada nessas horas. Fizemos uns segundos de silêncio e ela continuou a falar: — As meninas do escritório me chamaram para um happy hour hoje e uma amiga me convidou para ir num barzinho, só que eu tô sem vontade de sair. Tô meio entediada e nostálgica! — Eu só liguei para ver se você está bem, estava com uma sensação estranha e queria saber se está tudo bem contigo. — Beto, eu tô vivendo como posso... você não quer dar uma passadinha aqui pra gente conversar pessoalmente. Eu faço um café forte e a gente conversa lá nos fundos, até altas horas, igual fazíamos antigamente. Você podia até me ajudar... eu tô revisando uns orçamentos para comprar alguns equipamentos eletrônicos, móveis e eletrodomésticos para seis ONGs que trabalham ajudando mulheres que sofreram violência ou abuso, e você poderia me ajudar com a especificação dos equipamentos. Eu não conheço ninguém melhor do que você para me ajudar com isso... sempre fomos uma ótima equipe trabalhando juntos... — Desculpa Manú. Não vai dar! Estou indo, nessa madrugada, para Israel, a trabalho, e nem sei quando volto. Vamos fazer o seguinte, quando eu voltar vamos marcar para tomar um cafezinho naquela padaria que você adora! — Tá fechado! Vou esperar ansiosa. Toma cuidado lá! E não vai se encantar por uma daquelas israelenses empoderadas, que andam com um fuzil a tira colo... Poxa, fiquei com inveja de você. Lembra que Israel era um dos lugares que sempre planejamos em conhecer juntos? — Eu vou a trabalho. Quem sabe ainda vamos lá a passeio... — Olha, nunca prometa nada para pobre, porque eles cobram... — Hahahá, tá bom moça, fica bem! Quando eu voltar nos falamos. — Beto, você sabe que eu te a... eu adorei que você tenha ligado e vou ficar ansiosa esperando a sua volta. Nos despedimos. Comigo amaldiçoando aqueles hormônios idiotas que insistiam em me tirar do controle quando o assunto era a Manú e, ao mesmo tempo meu cérebro dizendo que era para ter mais orgulho que eu já tinha daquela menina, por ela se preocupar tanto em ajudar as pessoas. E viajei com o coração mais leve. Conversar com a Manú sempre foi fácil. Ela era engraçada, inteligente e sempre sabíamos o que o outro precisava.
Lá em Israel, fiquei em Haifa, que é a terceira maior cidade do País e fica no litoral, quase na fronteira com o Líbano. Na fábrica conheci os cinco ou seis tipos de VANTs que eles produziam e que utilizavam sistemas de navegação, comunicação e controle parecidos. E tive a oportunidade de acompanhar a simulação de ataque cibernético, feito pelo pessoal que já estava trabalhando na solução do problema no mesmo VANT que quase foi perdido, quando fazia uma missão de reconhecimento e vigilância Além de umas 10 pessoas da própria empresa e de mim, também chegaram quatro outras pessoas contratadas somente para ajudar na solução: o Aarav, um Indiano bem palhaço; a Margot, uma Inglesinha ruiva de cabelo curtinho e que morava nos Estados Unidos; o Miguel, um argentino baixinho e bem arrogante; e o Willy, que era holandês e que também morava nos Estados Unidos. Eu e o Aarav ficamos na equipe que iria identificar o problema e tentar soluções para corrigir a vulnerabilidade. Os outros três ficaram na equipe que tentaria descobrir como foi feito o ataque. Foi delicioso mergulhar nos códigos de programação daquela máquina e imaginar quantas milhares de horas de trabalho eles estavam à frente, por exemplo, do projeto que ajudei o Nunes e o Marquinhos a fazerem do submarino. Viramos noites em claro, sempre na companhia divertida do meu novo amigo indiano e dos israelenses. E, no início do terceiro dia, não só conseguimos identificar o problema como também descobrimos a vulnerabilidade que foi usada para o ataque. Passamos as informações para a outra equipe que, com os dedos ágeis da Margot no teclado, rapidamente conseguiu repetir o ataque. Agora era só corrigir o problema. Fiz inicialmente um reparo de emergência, modificando alguns comandos e desativando algumas funções e, após cerca de 30 horas de trabalho, sendo mais da metade com testes de segurança e de simulação de voo, conseguimos fazer as aeronaves serem liberadas para voltarem à operar. Como eu era habilitado como piloto, me deixaram voar com a aeronave, desligando algumas vezes o sistema de navegação autônomo e estudando as reações da aeronave aos ataques. Para quem amava simulador de voo aquilo foi o ápice. Confluímos tudo e a correção de emergência foi enviada para os demais operadores pelo mundo e, ainda trabalhamos mais cinco dias para liberar uma atualização de segurança decente e definitiva. Os outros três membros da equipe foram dispensados e eu e o Aarav voltamos para casa, com a missão de apresentar, em até 20 dias, um estudo para implementar novas medidas de segurança e operação, não só emergencial, mas também para serem implantadas nas novas versões do sistema operacional das aeronaves. E ainda consegui um dia de folga para turistar um pouco.
No passado eu tinha planos para visitar Israel, mas na companhia da Manú e não com o Aarav no meu pé. Eu pretendia visitar a região em um momento mais tranquilo e não naquele, onde se via claramente na face das pessoas a tensão e o medo do conflito eminente. Eu fui muito bem pago por aquele serviço. Recebi aproximadamente 28 mil euros por um pouco mais de um mês de trabalho (o tempo que fiquei lá em Israel e dos dias que levei para reescrever as medidas de segurança para a operação). Depois eles aceitaram minhas propostas de melhoria e me contrataram para trabalhar na atualização do software das aeronaves e, para isso, recebi um pouco mais de 80 mil euros, para quase sete meses de trabalho, praticamente em home office. O único problema desse trabalho para os Israelenses e que, também permitiu que eu contasse essa parte da história para vocês, foi que o Miguel deu com a língua nos dentes e deu até entrevista falando do trabalho que havia feito para os Israelenses. Na reportagem ele deu todos os detalhes, defeitos e soluções encontradas no sistema e até os nomes de quem trabalhou no projeto (inclusive o meu). Dessa forma, o sigilo foi por água abaixo e pude compartilhar com vocês essa minha aventura.
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Gostosobsb1. Também torço por eles (o que não quer dizer que teremos um final feliz! Porém, quem sabe!) Faltam só três episódios e pretendo publicá-los na semana que vem (na 3ª, na 5ª e no sábado). Valeu por acompanhar!