SERÁ QUE TUDO ESTÁ ESCRITO NAS ESTRELAS? Capítulo 66
Essa foi a primeira vez que perdi a paciência com ela e fiquei sem chão. Assim que ela terminou de falar, meu celebro repassou palavra por palavra do que ela disse: “— Vai, saí dessa casa, vai fazer alguma coisa que você goste... eu não me importo. Sabe o quanto é patético você viver essa vidinha pacata e ficar correndo atrás de mim?! Eu estou sendo sincera... não tenho mais sentimentos por você... Porém, se quiser continuar se enganando, pode ficar a vontade. Só não pega mais no meu pé... não me cobra mais nada...” Já estávamos a mais de quatro anos juntos e nunca havíamos brigado. Já tínhamos tido apenas algumas poucas e pequenas discussões bobas. E eu tive que responder para ela: — Eu só estou tentando te ajudar! Não sou o seu saco de pancadas... eu preferia quando você só ignorava que eu existia... Seu olhar para mim era de ódio, diferente dos outros dias, em que seu olhar era apático e sem brilho. Ela não falou nada, só me empurrou e foi cambaleando para o seu quarto. Terminei de limpar tudo na cozinha antes de voltar para o meu quarto. Naquele dia deu saudades dos dias em que eu cozinhava e ela ficava ao meu lado, rindo, perguntando tudo e me ajudando, principalmente a lavar as louças. Tudo que eu queria era proteger a minha esposa e a idéia de não estar no controle da situação só piorava os sentimentos ruins que eu estava sentindo. Antes de dormir dei uma rápida olhada no sistema de monitoramento da internet, que ainda estava funcionando. Eu havia deixado o sistema funcionando por mais alguns dias, só por precaução, e uma vez por dia subia no sótão para ver se ele havia encontrado algo novo envolvendo a Manú ou o Anderson. Eu tinha planejado desligar todo o sistema somente no dia cinco de dezembro. Nesse dia não precisei nem pesquisar muito, pois nas redes sociais me deparei com várias fotos da Manú, com ela usando aquela mesma roupa que a encontrei há pouco na cozinha. Ela estava junto com algumas amigas (entre elas a Paola) em uma boate da cidade. Na terça-feira, quando saí para o trabalho ela ainda estava dormindo e, quando retornei para casa, no final do dia, ela estava em seu quarto, com a porta aberta e falando animadamente ao telefone. Não parei para escutar a conversa, porém, enquanto subia as escadas, ouvi ela falando claramente “— ... por isso que eu falo que você é muito doida... Paola, além de você, quem mais sai para beber e acorda pelada na cama do cara? E com ele também pelado ao seu lado e nem imagina o que aconteceu e nem como foi parar lá? Só você mesma... e ainda acorda e sai de mansinho de lá...”. No dia seguinte, que foi a última quarta-feira de novembro, ela também saiu e chegou já depois da uma hora da madrugada. Ela quase não conseguiu subir as escadas, de tão bêbada que estava. Ouvi o barulho, saí do quarto e falei para ela: “— Isso são horas de se chegar em casa? Eu estava preocupado contigo!” — Ela nem me deu bolas, passou por mim e senti o cheiro forte de álcool e cigarro. Ela estava com um vestidinho preto, que ia até um pouco acima do meio da coxa (esse vestido eu nunca tinha visto antes), que tinha um belo decote e deixava as costas totalmente nuas. Ela estava com um sapato de salto alto, com meias 7/8, possivelmente de cinta liga (não deu para ver) e, quando ela passou por mim, percebi que estava de calcinha fio dental, pois o vestidinho era justinho e era evidente a calcinha marcando a sua bunda (o pior é que sempre que ela usava vestido ou saia ela colocava uma calcinha tipo short por baixo o que não fez dessa vez). De manhã a encontrei, toda produzida, vestindo um terninho e de óculos escuros. Ela estava sentada na bancada da cozinha e segurando uma xícara de café com as duas mãos. Dei bom dia e ela não respondeu, continuou do jeito que estava, segurando a xícara e olhando para o horizonte. Fui fazer o meu café e lhe dei uma cutucada: “— Você nunca tinha chagado tão tarde igual à ontem.” — Ela fingiu que não era com ela que eu estava falando. Aquilo me deixou com mais ódio. Minha vontade era tirar a xícara das mãos dela e lhe dar umas palmadas para ver se ela reagia a algo. Eu insisti e ela só falou: — Eu não vou ter essa conversa com você! E continuou tomando o seu café. Parecia que eu estava conversando com uma estranha. Eu tenho a convicção de que as pessoas mudam com o tempo e eu tinha a certeza de que a Manú não seria mais a mesma pessoa depois da violência que sofreu. Eu também havia mudado. Eu só tinha a ilusão de que a forma como ela estava me tratando no começo fosse apenas uma fase. Só que essa ilusão foi desfeita e agora eu tinha quase certeza que ela iria me deixar, só não sabia quando. Estava na cara que ela se cansou de mim e claramente já havia dito que nosso casamento não existia mais Provavelmente me deixaria quando estivesse segura, junto com sua família, lá nos Estados Unidos. Apesar de ter concordado com as orientações da terapeuta da Manú e ter me distanciado um pouco dela, de ter dado um tempo nas minhas preocupações, até mesmo porque eu não queria brigar com a Manú, mas estava muito desconfiado das suas saídas. Nunca fui ciumento e sempre confiei na minha esposa, só que eu sei que tudo tem a sua primeira vez. Minha esposa era muito atraente, tinha o corpo absurdamente chamativo, era extremamente comunicativa e eu sabia que não faltavam homens querendo levá-la para a cama. Porém, ela continuava abalada e aquela forma de diversão boêmia que ela estava experimentando era perigosa. Sei que nesses ambientes existe muita gente bonita, bebidas, drogas, não faltam caras bons de lábia doidos para levar uma menina bonita para sua cama e, claro que eu sei que todos têm suas fantasias. Quase todas as pessoas possuem fantasias sexuais e, independente do sexo ou orientação sexual da pessoa, ela tem além de fantasias, também taras e desejos, que ficam mais a flor da pele nesses ambientes. Fora que a Manú já havia me olhado nos olhos e dito que não me amava mais. Juntei toda a minha dignidade, uma dose tripla de paciência e me sentei ao lado dela na bancada e procurei conversar com ela: — Sabe Manú, o que eu mais sinto saudade é das nossas conversas intermináveis. De como mudávamos de assunto a toda hora e de como eu sempre aprendia uma coisa nova com você... Você sabe que pode conversar comigo a qualquer hora e sobre qualquer assunto! Eu já não conhecia mais a Manú. Minha estratégia de, ao menos tentar conversar com a minha esposa não deu certo (olha que eu nem imaginava chegar aos segredos que toda mulher guarda só para si. Eu só queria conversar mesmo), pois ela nem olhou para o meu lado, só deu mais uma golada em seu café. Fiquei uns segundos olhando para ela e dei um foda-se mental. Me levantei, peguei uma das marmitas fitness no congelador e fui para o trabalho. Como eu tinha pilhas e mais pilhas de papel sobre a minha mesa, para despachar nesse dia, eu não sairia para lugar nenhum e resolvi ir andando para o trabalho e almoçar lá no escritório mesmo. Eu estava frustrado. Sempre procurei ser um bom marido. Estava tentando ser forte o suficiente por nós dois, só que a minha paciência já tinha chegado ao limite. A minha idéia era continuar dando o meu melhor para ajudá-la até o dia 20 de dezembro, que era o dia em que embarcaríamos para passar o natal com a família dela nos Estado Unidos. Ali então ela teria se pronunciar sobre tudo aquilo. Eu estava respeitando todas as suas vontades, inclusive a de não contar nada para ninguém sobre o estupro e nem sobre como estávamos vivendo desde aquele evento. Mas com todos os seus familiares ali reunidos não teria como esconder. A Manú era apenas uma caricatura daquela mulher que foi um dia. E o engraçado era que, ao contrário de mim, que havia perdido mais de 12 quilos desde o estupro e estava magro, cheio de olheiras e abatido. Fisicamente, a aparência da Manú estava muito bem e não parecia que havia qualquer coisa de errado com ela. Entretanto, psicologicamente ela estava um caco. Toda aquela força, vida e luz que ela tinha pareciam que haviam sido drenados dela. Ela vivia apagada e triste. O escritor Lewis Carroll, no excelente livro “Alice no País das Maravilhas”, escreveu algo que gosto muito e que pode se enquadrar nesse momento que estávamos vivendo: “Dizem que o tempo resolve tudo. A questão é: quanto tempo?”. Nesse turbilhão eu estava sendo empurrado para fora da vida dela e assistia impotente a destruição do nosso casamento, sem conseguir fazer nada para reverter a situação. Passei a encarar os sinais e deixar de me iludir, por mais que aquilo me matasse por dentro. Pelo visto as nossas férias juntos, e todo o divertimento que havíamos planejado com meses de antecedência, com a ida para Nova York e depois o tour pela Europa, dificilmente iriam acontecer. O que eu mais queria era que ela fosse feliz, nem que para isso eu tivesse que me afastar por um tempo e deixá-la com seus familiares. E eu acredito que, no fundo, era isso o que ela queria, principalmente na parte de eu me afastar. Se, para reencontrar a felicidade, a Manú precisasse ficar longe de mim, eu me afastaria dela sem qualquer problema. Eu morreria por dentro, mas respeitaria a sua vontade. Nesse mesmo dia, voltei do trabalho já depois das 19 horas. A Manú ainda não havia chegado em casa. Comi alguma coisa, troquei de roupas e fui para a academia. Voltei para casa por volta das 22h 30mim e nada da Manú. Subi para o meu quarto para tomar banho. Estava debaixo do chuveiro e até me assustei, quando vi um vulto na porta do banheiro do quarto de hospedes que eu estava usando. Era a Manú (incrivelmente naquele dia ela havia chegado em casa antes das 23 horas). Ela estava com um vestidinho curto e de botas de cano muito alto, que iam até o joelho. Nem dei bolas, continuei o banho, com ela me espionando. Logo ouvi o som do seu telefone tocando e ela deu dois passos para trás e o atendeu: “— Oi Paola, tudo bem amiga?... Não, já estou em casa... é, hoje foi o aniversário da Beth... acho que você não a conhece... foi em uma pizzaria... eu seeeeiiii, você só gosta de boate... pois eu vi tudo que você aprontou! Ontem foi muito louco, você é maluca! Eu nem sei como cheguei em casa... pois é, eu também estou louquinha para ir nessa nova casa de shows... amanhã não dá, eu quero ir para dançar muito e encher a cara... e São Paulo fica complicado para fazer esse bate a volta! Vamos fazer o seguinte: Vamos numa quinta, arrumamos um hotelzinho para ficar e emendamos o final de semana todo...” Eu não aguentei ouvi-la falando aquilo e desliguei o chuveiro. Eu odiava a amizade e o contato constante entre elas. E não sei se a Manú se assuntou ou se tocou que estava na porta do meu banheiro e, assim que a água parou de cair, ela rapidamente saiu do meu quarto e se trancou no quarto dela. Eu saí do banheiro com muita raiva, a ponto de explodir! Afinal ela estava saindo direto com a safada da Paola. Só não fui esmurrar a porta do quarto dela e pedir explicações, pois eu sabia que ela não estava bem. Apesar das gargalhadas da conversa que havia acabado de ouvir, pelo telefone, eu conhecia muito bem a Manú e sabia que ela não estava nem um pouco bem psicologicamente. É incrível o quanto você consegue aguentar quando ama alguém e se agarra a um mísero fio de esperança... Entramos no mês de dezembro. E teve o episódio que me deixou com mais ciúmes e chateado. Na quarta-feira ela foi muito cedo para São Paulo e não voltou para casa naquele dia. Só percebi que ela havia dormido fora na manhã do dia seguinte. Fiquei preocupado, tentei ligar e ela não atendeu. Deixei mensagens e fui dar uma olhada no sistema de monitoramento, que eu pretendia começar a desmontar ainda naquela semana. Logo de cara eu vi uma postagem nas redes sociais da minha cunhada, a Millene, com umas 10 fotos da Manú. Na postagem a Millene agradecia a uma cabeleireira, a uma manicure e a uma maquiadora (que estavam marcadas nas fotos) por lhe ajudarem a produzir a Manú. Haviam fotos da Manú com essas profissionais e as últimas cinco fotos eram só da Manú, usando aquela máscara linda e sensual, que ela usou para mim na minha primeira ida a Porto Velho, e ela estava trajando um vestido bege claro (quase branco), brilhante, bem justo, muito decotado e sensual, com alças cruzadas sobre os seios, deixando as costas toda nua e mostrando, além de um generoso decote, grande parte da barriga, cintura e quadris. Havia um lacinho sobre aquela bunda empinada e uma fenda enorme na perna direita. Ela tinha no pescoço um enorme colar, com pedras, do qual descia um longo pendente que chegava até o meio dos seus seios, chamando ainda mais a atenção para aquele ousado decote. O título da postagem das fotos era: “Minha cunhadinha pronta para arrasar no baile de máscaras”. A busca ainda achou outro resultado, dessa vez de um blog. Era a foto da Manú, com aquela roupa que ela estava nas postagens da Millene. Ela estava ao lado de um rapaz. Os dois estavam na frente de um daqueles cartazes em que colocam o nome do evento e os patrocinadores. Os dizeres da foto eram: “Os Procuradores da República Max Hernandez e a linda Fernanda Manuela Chermont Blanc Malcher também prestigiaram o evento beneficente”. Depois li que houve um leilão e depois uma recepção com um baile de máscaras, com a presença da alta sociedade paulistana, políticos, empresários e muita gente de dinheiro e, inclusive, o evento teve a participação de alguns príncipes árabes, que estavam em visita de negócio na capital paulista. Nessa mesma hora eu peguei o meu telefone e fui pedir explicações para a minha cunhada. Eu não conseguia acreditar que a Manú estava saindo com o safado do Max! Justo ele, que ela me dizia que odiava. A Millene se explicou, dizendo que a Manú só tinha um convite para àquele evento e foi representar o seu chefe nessa festa beneficente, que foi realizada em uma mansão no Morumbi. Falou que a Manú não queria ir e que foi ela quem a incentivou a participar. Falou inclusive que o vestido que a minha esposa usou era dela. Pedi para falar com a Manú e a Millene me disse que ela não estava lá, pois, após a festa, preferiu passar a noite em um hotel. Ela também falou que a Manú já havia deixado um recado para ela, dizendo que estava bem, que depois do almoço voltaria para São José e que devolveria o vestido só no final de semana, pois havia caído um pouco de vinho na barra dele. Acho que ali foi a primeira vez eu percebi que o meu casamento havia mesmo acabado. Será que a Manú estava dando para esse Max? Ela sempre foi uma mulher fogosa e comigo não estava transando (acho que a última vez que realmente fizemos amor foi na noite anterior à sua fatídica viagem para Brasília) e olha que eu sempre precisei me manter em forma para dar conta da libido da Manú. Eu já não conhecia mais a minha esposa. A mulher com quem me casei nunca usaria em público um vestido extremamente provocante como aquele. A vontade que me deu foi a de ligar para a minha sogra, contar tudo para ela e ir embora dali. Só não fiz isso por já estarmos próximos da maldita viagem para os Estado Unidos e eu teria de ser forte para suportar mais aqueles dias. Em compensação não fiquei em casa para esperar a Manú voltar. Era dia de futebol e, apesar de não gostar do jogo e sempre recusar os convites dos amigos, dessa vez eu aceitei. Eu estava fervendo por dentro e, do trabalho, já emendei para um barzinho com os amigos e só cheguei em casa após a meia noite. Apesar de, nos últimos meses ter ficado claramente em negação com relação às atitudes, às companhias, às escolhas e às formas de diversão que a Manú estava tendo, de uns dias para cá suas atitudes ficaram tão extremas que só reforçaram a certeza que ela me deixaria quando estivesse com sua família. Por causa disso eu já tinha até sondado alguns hotéis em São Francisco; pesquisei como trocar os trechos e datas das minhas passagens da volta. Eu só não havia decidido se voltaria direto para o Brasil ou aproveitaria uns dias em Nova York, pois já estava com passagem e estadia pagas naquela cidade.
Então perdi a paciência com a Manú pela segunda vez. Na sexta-feira de manhã cheguei ao trabalho e a Carmem já me disse que a Manú havia entrado em contato com ela e comunicou que não seria mais a sua madrinha de casamento e falou que nem iria ao almoço de noivado, que seria na sexta-feira seguinte (dali a uma semana). Fiquei muito puto com a Manú, tentei ligar para ela, para esclarecer, só que a Manú não atendeu as minhas ligações, como sempre. Naquele dia estava marcado que iríamos para um barzinho, para comemorar o aniversário do Renato, que era o coordenador do nosso grupo de leitura. Apesar de não estarmos frequentando assiduamente esse grupo, tínhamos bom amigos lá e o Renato era uma excelente pessoa. À tardinha cheguei em casa e a Manú me disse que, além de não querer mais ser a madrinha da Carmem no casamento, também não iria para o aniversário do Renato, pois sairia mais tarde com as amigas. Nessa hora eu soltei os cachorros encima dela. Falei para ela repensar suas prioridades, para ver bem quem eram os seus verdadeiros amigos, a questionei de suas escapadas egoístas, falei da sua falta de carinho com todo mundo e da sacanagem que ela estava fazendo para as pessoas que realmente se preocupavam com ela. Ela ouviu impassível o meu desabafo. O clima de animosidade estava instaurado e piorou quando a questionei, perguntando se ela estava fodendo com o Max e deixando o marido idiota em casa. Fiz essa pergunta contrariando todas as orientações da terapeuta e, claro que eu só tinha conjecturas, mas eu tinha que colocar isso para fora, pois aquilo estava me corroendo. Ela não me disse nada. Só me lançou um olhar indignado, ruborizou de ódio, se levantou e foi se trancar em seu quarto, como se estivesse fugindo, e me deixou falando sozinho. É, meus amigos, só me restava a ilusória esperança de salvar o meu casamento, pois a razão gritava comigo sobre o termino da nossa relação. Depois de um tempo achei que foi até bom ela ter ido embora, pois o clima estava tenso e eu queria discutir e passar aquela situação a limpo. E sabemos que nada se resolve com a cabeça quente. Eu deveria ter sido mais condescendente, só que eu vivia constantemente preocupado com ela e sabia muito bem que ela continuava frágil e psicologicamente instável. Fui sozinho para o aniversário do Renato. Quando me perguntaram da Manú, eu, ainda puto, não tentei justificar a sua ausência e só disse que ela tinha outros planos para aquela noite. Na primeira sexta-feira do mês (me lembro bem dessa data, pois foi o dia do almoço de noivado do Nunes com a Carmem, e a Manú não foi para esse almoço), fizemos uma festinha no escritório, comemorando por termos fechado um grande negócio com a Prefeitura de uma cidade próxima. Como já disse, a Manú, apesar de ser muito amiga da Carmem e uma das maiores incentivadoras daquele casamento, há uns dez dias atrás comunicou para os noivos que não seria mais madrinha deles (ela seria o meu par como uma das madrinhas desse casamento). Ela sequer apareceu no almoço e eu tive que dar várias explicações para aqueles que não sabiam da decisão da minha esposa. A Carmem havia convidado, para substituir a Manú como madrinha, a Sueli, que trabalhava em uma empresa de representação que ficava no andar abaixo do que ficava a nossa empresa. Essa Sueli era bonitinha, novinha e ainda tinha cara cheia de espinhas. Ela havia saído algumas vezes com o Marquinhos e o meu amigo me confidenciou que ela lhe pagou o melhor boquete da vida dele. Ele falou que a menina devia ter pós-doutorado na matéria (e olha que esse elogio, vindo de alguém que já devia ter sido chupado por bem mais de duzentas putas, é algo a ser considerado). Depois que o Marquinhos me contou essa história eu não conseguia ver a Sueli sem imaginar qual era a sua técnica especial.
Por conta do almoço do noivado não trabalhamos na parte da tarde e eu cheguei em casa por volta das 15 horas. Então resolvi lavar a parte de baixo da casa. Apesar de termos uma diarista que limpava a casa uma vez por semana, a Manú fazia essa lavagem do piso inferior da casa a cada três ou quatro semanas. Ela dizia que o piso era lindo, porém que depois de alguns dias, só parecia limpo e brilhante se fosse lavado. E, desde antes do aniversário da Manú esse piso não era lavado. Recolhi os tapetes, coloquei as cadeiras encima da mesa e, com água e sabão fui lavando. Quando já estava secando o piso percebi que a Manú estava me olhando, toda encolhidinha no alto da escada. Essa era uma situação atípica, já que ela fazia de tudo para ficar longe de mim. E, apesar de ainda estar muito chateado, resolvi falar com ela: — Oi amor, não sabia que você estava em casa! Não foi trabalhar hoje à tarde? Ela estava séria e fez que não com a cabeça. Percebi que, como estava ocorrendo nas últimas semanas, ela não estava para conversas. Resolvi não insistir e continuei com o meu serviço. Passado mais alguns minutos ouço ela me chamando: — Beto, eu precisava falar contigo... Parei o que estava fazendo e respondi: — Sim, claro. — É que... não sei se você... aí, deixa pra lá... — Pode falar. — É... que você está trabalhando tanto que nem está cortando mais o cabelo... E, após falar isso, ela se levantou, ainda me encarou lá do alto da escada, mas não disse nada, só voltou para o quarto. Ela aparentava estar mais triste ainda e isso cortava o meu coração, pois eu não sabia como agir naquela situação. Ver a Manú se afastar, desanimada e melancólica era realmente muito triste. Achei estranho, pois, pela sua expressão, ela queria falar de algum assunto mais sério... E realmente o meu cabelo estava grande. Pensei que ela queria falar sobre as suas redes sociais. Como faziam mais de dois meses que ela não postava nada e havia muita gente perguntando o motivo disso, eu coloquei um aviso dizendo que ela estava passando por uns problemas de saúde, que estava bem e que voltaria em breve.
No sábado, como sempre, ela foi para sua consulta em São Paulo e dessa vez voltou na noite do mesmo dia, só que bem mudada. Assim que chegou veio conversar comigo, perguntou do noivado do Nunes com a Carmem, se desculpou por não ter ido ao almoço, dizendo que conversaria com a Carmem durante a semana. E até me convidou para irmos ao cinema no domingo. Achei aquilo muito estranho. Me questionei e tive a esperança de que a iminência de se encontrar com sua família tivesse feito ela repensar suas atitudes. Ou quem sabe o tratamento finalmente estava surtindo efeito. Falei para ela que o casamento do Nunes com a Carmem já estava marcado para o mês de maio. Ainda conversamos mais um pouco naquele dia e, no domingo, fui com ela para o cinema e vimos o filme Napoleão, do Ridley Scott, como se fossemos dois amigos. Ela havia melhorado, mais nem tanto, pois sequer consegui pegar em sua mão. E, que filme ela foi escolher, afinal eu cresci ouvindo que Napoleão foi um grande general e um conquistador, mas no filme ele é retratado como um corno manso. Apesar disso, essa ida ao cinema já foi um avanço considerável. Só que no dia seguinte ela já voltou ao que era antes, triste, distante e me evitando. Na segunda-feira ela chegou até a virar o rosto quando fui lhe dar um beijo no rosto. Apesar de estarmos passando por aquela fase difícil eu estava tentando de todas as formas resolver as coisas para encaminhar com o nosso relacionamento para a direção certa. Não era fácil ser tratado daquele jeito pela pessoa com quem eu mais me importava nesse mundo todo. Durante a semana teve um dia que eu estava procurando o carregador do meu telefone celular. Já havia olhado em todos os lugares possíveis e resolvi dar uma geral no quarto. Abri a terceira gaveta do criado mudo e um vibrador branco rolou dentro da gaveta. Demorei uns cinco segundos para me lembrar em como ele poderia ter aparecido lá. A recordação foi muito prazerosa. Foi no dia que envernizei a penteadeira da Manú, que ficava em nosso quarto, há uns quatro meses. Esse móvel era de madeira de lei, lindamente trabalhado, muito pesado (vi quatro caboclos penando para subir esse móvel até o quarto) e que sofreu muito na mudança, chegando em casa muito arranhado. Lixei toda essa penteadeira e a pintei no nosso quarto mesmo. Naquela noite a Manú não quis dormir no nosso quarto, por causa do cheiro da tinta e fomos dormir nesse quarto de hospedes que eu estava usando. Naquela época fazíamos amor em quase todos os dias e, quando a Manú saiu do banho, enrolada somente em uma toalha, ela esperou que eu prestasse a atenção nela e então deixou a toalha cair no chão. Com seu sorriso mais malicioso ela só disse: — Ops! Nessa hora o meu mundo parou. Ela estava deliciosa, com marquinhas de biquíni maravilhosas em seu corpo. Ela parecia uma daquelas modelos fitness, com a barriga chapada e aquelas coxas musculosas. Fora aqueles seios que eu amava tanto e aqueles fiozinhos de cabelo, em forma de uma chama de vela, sobre a xoxotinha. Ela me lançou um sorriso malicioso, seus lindos olhos verdes brilharam e ela deu uma voltinha graciosa, quando eu pude conferir aquela bunda perfeita que ela tem, e a sua deliciosa silhueta. Me aproximei da Manú e ela jogou as duas mãos por trás do meu pescoço e entrelaçou as pernas na minha cintura antes de me beijar. Coloquei uma das minhas mãos por baixo da sua bunda, como apoio, e a outra mão coloquei nas costas dela e colei o seu corpo ao meu. A levei para a cama e me deliciei com aquela mulher linda. Ela estava pegando fogo e então peguei a mão da Manú e a direcionei para a sua bocetinha e pedi para ela se tocar. A Manú me olhou com a carinha meio assustada, pois eu nunca havia pedido aquilo para ela, mas logo ela entrou no jogo, quando eu me ajoelhei ao lado dela e enfiei o meu pau em sua boca. A brincadeira estava deliciosa e logo tive outra idéia. A Manú estava na sua fase mais exibicionista, sempre querendo filmar a nossa transa. Então corri para o nosso quarto, entrei no closet e peguei o primeiro vibrador que encontrei (foi aquele branco que acabei de achar na gaveta), desci para o escritório e peguei a câmera e o tripé que usávamos nas gravações que a Manú fazia para as suas redes sociais e voltei para o quarto onde a Manú estava. Montei a câmera aos pés da cama, coloquei para gravar e dei o vibrador para a Manú. A carinha de putinha que ela fez foi impagável. Ela começou a se tocar, a princípio bem tímida e em pouco tempo ela já estava gemendo enquanto usava o vibrador. Aproveitei e novamente me ajoelhei ao lado de sua cabeça e a coloquei para mamar o meu cacete. E ficamos assim até ela gozar, gemendo muito. A Manú estava ofegante, mesmo assim ela disse que me amava e depois falou que eu não havia gozado ainda. Assim, ela pegou o meu cacete e começou a apunhetar, só que eu tinha outra ideia na minha mente. Botei a câmera do lado da cama e fui me deitar nas costas da Manú, de conchinha. Ela continuava ofegante e com os pelinhos da nuca arrepiados. Eu olhava para ela e imaginava como foi que ganhei na loteria por ter essa mulher. Fui beijando suas costas e o seu cangote, enquanto minhas mãos se perdiam nas curvas da minha esposa. Logo eu estava fodendo a Manú naquela posição. Inclusive coloquei a Manú para se tocar novamente, enquanto eu metia sem dó na bocetinha dela. Quando ela gozou ruidosamente eu só virei a Manú, colocando ela deitada de bruços na cama, e montei naquele espetáculo de mulher. A visão daquela bunda, enquanto eu fodia aquela bocetinha gulosa, sempre foi a minha kriptonita e gozei segundos depois. Bem, isso e todas as nossas juras de amor, de uma época em que a Manú era uma excelente esposa, que além de fogosa e claramente me amar, era também dedicada, atenciosa, respeitosa, me apoiava e somava comigo, ocorreram em um passado que eu já tinha certeza que não se repetiria.
Na quinta-feira cheguei do trabalho e a encontrei sentada no sofá, com a expressão triste. Cheguei perto dela e fui falando o quanto a amava e o quanto ela era linda. Nessa hora ela explodiu. Disse para deixá-la em paz e que ela não queria ouvir aquelas bobagens. Ela falou isso enquanto se levantava, subiu as escadas e se trancou no quarto. Tudo isso só fazia eu me sentir mais frustrado e incapaz. Nessa semana ela também não passou todo o final de semana em São Paulo e voltou de lá no sábado à tardinha. Eu havia ido ao mercado e quando voltei, por volta das 17 horas, vi pelo carro estacionado na garagem, que ela já havia voltado. Entrei em casa e comecei a guardar os mantimentos na dispensa. Foi aí que ela chegou por trás de mim e falou, com aquela sua voz linda: — Beto, precisamos conversar. Tem coisas que preciso te dizer. Eu me virei para ela, sorrindo, acreditando que, como no sábado anterior, ela havia retornado melhor depois da consulta com a terapeuta, só que minha esperança logo se desfez, pois ela me olhava com a cara mais culpada e desconfiada do mundo. Pensando bem, acho que o que mais me impactou foram aqueles olhos verdes dela, que estava nervosos. Não sei nem explicar o que senti. E ela foi logo me entregando uns papeis. Folheei as folhas impressas e o titulo da primeira página era algo como “terapia do espelho” (eu confesso que não me lembro com certeza qual era o título correto). E, enquanto eu tentava descobrir o que era aquilo, ela foi falando com a voz tensa: — Eu tenho uma coisa para te contar. Algo que está me consumindo já há um tempo. Naquela hora um arrepio percorreu a minha espinha. Novamente era como se eu estivesse prevendo que algo ruim estava para acontecer. As palavras que ela disse fizeram com que eu me esquecesse dos papeis que estavam em minhas mãos e olhasse para ela, que continuou falado. — Esses papéis falam de uma terapia não convencional que a Millene tem tentado me convencer a fazer já há bastante tempo... São só quatro etapas. Nós fizemos a primeira na semana passada e hoje fizemos a segunda. Continuei olhando para ela sem entender nada e ela continuou a falar: — Beto, só me deixa contar tudo antes de você falar alguma coisa... Essa terapia... é para cuidar de mulheres que sofreram abuso. O envolvimento com uma terapeuta do mesmo sexo faz com que as barreiras que levantamos, por causa da violência, sejam aos poucos derrubadas. Assim, na primeira seção é só o contato íntimo entre as duas mesmo. Já na segunda seção a paciente se solta mais um pouco, por causa de ter uma outra pessoa assistindo a relação entre as duas... Ela me olhava atentamente, obviamente interessada em como eu reagiria ao que ela estava me dizendo. E eu a olhava de volta, não crendo ou não tentando entender o que estava ouvindo. Nunca tive motivos para duvidar da fidelidade da Manú, mas o que ela estava contando levava a crer que ela estivesse fazendo sexo com a Millene, a irmã do meu irmão. Então a interrompi, perguntando meio incrédulo: — Vocês duas transaram?! A minha pergunta fez a expressão dela mudar totalmente. E ela fez cara de assustada, arregalou os olhos, ficou branca, perdendo toda a cor e passou a se defender: — Você tem que entender! É parte da terapia... está escrito aí... Ela falou isso com a voz tremendo e os olhos fugindo dos meus. Então a interrompi bruscamente: — Para Manú! — Falei sério e fui ríspido — Ouça bem! Papel aceita qualquer coisa. Como uma mulher instruída e inteligente igual a você foi cair na lábia da Millene. Ela só queria te comer! Deixa eu adivinhar, nessa segunda vez o Zé Renato ficou do lado de vocês, só assistindo vocês se pegarem. E na próxima vez você vai virar o recheio do sanduíche deles, vai ser uma dupla penetração maravilhosa, com os dois te fodendo ao mesmo tempo... Ela começou a chorar. E meu corpo todo tremia de raiva, enquanto eu pensava e repensava o nosso relacionamento. E busquei na memória se a culpa era minha. Poxa, eu dava total atenção para ela, saíamos juntos e lhe dava presentes. Eu cultivava o nosso relacionamento... Eu segurei as pontas enquanto ela estava mal e a coloquei acima de qualquer outra coisa! No fundo eu estava vendo a história se repetir. Assim como a Fernanda (a minha ex-esposa), a Manú era uma menina inteligente, decidida e que tinha conhecimento. E mesmo assim as duas se deixaram levar e foram envolvidas em histórias nojentas de traição. Totalmente aturdido com o que ela me disse, ainda vasculhei rapidamente todos os detalhes, para ver o que tinha dado errado, me questionando se eu era o problema. Poxa, eu cuidava dela, fazia jantares românticos, lhe enviava mensagens carinhosas, a priorizei acima de qualquer outra coisa... só saí do meu devaneio quando ela suplicou chorando: — Me desculpa! Me desculpa! Eu não consegui com ele nos olhando, então ele ficou no outro quarto acompanhando por uma câmera. Eles não gravaram, só passaram a imagem em uma TV... Meu estômago estava revirando. Então eu explodi de vez quando ela falou aquilo. Por mais que tentasse eu não consegui me controlar e dei um grito, que saiu do fundo do meu ser. Logo em seguida saiu da minha boca um “— Puta que o pariu Fernanda!” — seguido de vários palavrões. Ela chegou a dar um passo para trás de tão assustada. Sua expressão era de perplexidade. Acho que ela nunca esperou essa minha reação. E deve ter percebido a minha fúria, primeiro porque eu nunca falava palavrões quando ela estava por perto e, também, porque a chamei de Fernanda, o que havia acontecido apenas no dia que a conheci. — Meu Deus Fernanda, eu não conheço mais você. A mulher por quem me apaixonei... a minha esposa não faria uma coisa dessas... — Beto, você tem razão por estar bravo comigo, mas me deixa explicar... o tratamento... Na minha cabeça eu estava tentando descobrir o que fiz de errado para merecer aquilo. Talvez fosse alguma maldição! Porque Deus iria querer me castigar assim? Eu não estava confuso e nem com tesão. Eu sentia muito ódio por aquela vagabunda estar me traindo. Como eu não percebi o que estava acontecendo bem na minha frente? Eu devia ter notado alguma coisa! Minha cabeça começou a girar. Eu estava desnorteado e sem saber o que fazer. Eu estava em choque e ela se desfazendo em soluços. Minha saúde mental tinha sido totalmente abalada. E, enquanto ela falava: “— Eu sei que você está com raiva e eu estou errada...” — Eu soltei outro grito: — Vai se catar! Eu estou com nojo de você! Acho que o meu rosto era puro ódio. Por tudo o que ela passou, pelo seu sofrimento e pelo amor que eu tinha pela Manú eu toleraria quase tudo dela, menos aquilo. Como contei para vocês eu até já estava aceitando a hipótese dela me deixar, mas não queria crer que ela teria coragem de me trair, mesmo saindo sozinha com frequência para várias festas. Respirei fundo e continuei tentando me acalmar: — Sabe Manú, eu estou cansado de lutar. Você já me humilhou demais... Depois dessa eu desisti... não tenho mais forças... Olhando o meu reflexo, de relance, no espelho da parede, pude ver que minha expressão de cansaço era visível. Peguei as chaves do carro e fui em direção à porta de saída da casa. Eu queria estar em qualquer lugar menos ali. Ela ainda se colocou na minha frente e foi falando: — Beto, eu estava assustada, com medo... eu só queria voltar a ser aquela mulher que você conheceu antes... eu estava muito confusa... perdi o controle. Por favor, fica! Vamos conversar. Olhei bem nos olhos dela, que pareciam duas torneiras de tantas lágrimas que escorriam, e falei bem sério: — Nosso casamento acabou! Por isso eu vou embora.... Adeus! Só me deixa passar! Empurrei a Manú para o lado e fui embora de casa! Saí de casa com nada além do pouco que restava da minha dignidade.
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