Parte 1 – O Segredo do Nosso Pecado



Passaram-se duas semanas desde o feriado no sítio. Aquele silêncio incômodo ainda pairava no ar, como se algo tivesse ficado escondido atrás das paredes de cada lembrança.
Naquela segunda-feira, Helo se preparava para retornar à Europa. Suas férias chegavam ao fim, e a despedida parecia mais pesada do que deveria. Foi nesse clima que ela me procurou, com a voz doce, mas carregada de uma intenção que eu ainda não sabia decifrar.
Ela perguntou se Ricardo estaria disponível naquele dia ou se eu iria precisar dele.
O tom era leve, mas a pergunta caiu em mim como uma pedra na água, formando ondas que se espalharam pelo meu peito. Eu sorri, mas por dentro, algo começou a se mover.

A terça-feira foi um tormento. Ricardo passou o dia inteiro com Helo, como ela mesma havia pedido na véspera. Eu tentei me ocupar, mas nada conseguia afastar da minha mente a imagem dos dois juntos. Quando o relógio começou a se aproximar da noite, minha ansiedade se transformava em ciúme.
Foi então que ela apareceu. Helo entrou em casa às 8 horas da noite, e cada detalhe me feriu como uma lâmina. Estava toda produzida, maquiagem impecável, o cabelo solto caindo com perfeição, como se tivesse ido para um desfile. Não era o rosto de quem apenas fez compras, era o rosto de quem foi caçar. E eu sabia muito bem quem era a presa.
Seus olhos brilhavam de uma maneira quase insolente, aquele brilho radiante que só se vê em quem acabou de provar algo proibido. Com um sorriso leve, quase disfarçado, ela me disse que havia dado a quarta-feira de folga para Ricardo. Pediu desculpas por não ter me avisado antes, como se fosse apenas um detalhe sem importância.
Eu apenas a encarei, tentando controlar a fúria que me queimava por dentro. Ela seguiu com a encenação, dizendo que precisava de um banho porque estava exausta. As compras tinham rendido, disse, tentando justificar-se. Mas quando caminhou em direção ao quarto, percebi o detalhe que me destruiu por dentro: Helo mal conseguia andar direito. O corpo dela entregava o que a boca tentava esconder.
Meu sangue ferveu. Não era apenas suspeita, era a certeza pulsando em cada fibra do meu ser. A safada tinha me feito de tola, e eu não conseguia decidir se sentia mais raiva, dor ou desejo de arrancar a máscara dela ali mesmo.

Eram nove horas quando decidi ir até o quarto de Helo. A janta já estava pronta, e a verdade é que eu não aguentava mais esperar. Parte de mim também queria confrontar aquele brilho estranho que não saía da minha cabeça.
Empurrei a porta devagar e encontrei-a ali, diante de mim. Ela ainda estava de toalha, o cabelo úmido escorrendo pelos ombros. Bastou um olhar para que meu mundo desabasse. No pescoço dela, bem visível, havia marcas. Não eram arranhões de acaso, não eram sombras de maquiagem. Eram chupadas. Sinais de uma boca faminta que eu conhecia bem demais.
Por um instante perdi o chão. Senti o coração despencar dentro de mim, como se uma lâmina tivesse atravessado o peito. Ainda assim, engoli a dor e fingi controle. Não deixaria que ela visse meu abismo.
Disse apenas que tinha vindo ver como ela estava e que a janta estava pronta. Minha voz saiu firme, mas por dentro era só escombros.
Ela me olhou com uma expressão de espanto, quase de quem foi pega em flagrante, e respondeu que não iria jantar. Precisava dormir e descansar.
As palavras dela foram a sentença final. Eu sorri de canto, como se não tivesse notado nada, mas por dentro sangrava. A verdade estava diante de mim. Ricardo havia me traído. Justo ele, que tinha prometido que não queria mais nada com Helo. Justo ele, que jurara que estava comigo.
Agora estava claro.

A noite foi um inferno. Quase não preguei os olhos. Minha mente era um turbilhão, mil imagens passando sem descanso. Eu os imaginava juntos, na cama, fazendo exatamente o que ele fazia comigo. Cada detalhe corroía minha alma. A raiva se misturava com a sensação de ser uma trouxa, usada, humilhada. Quanto mais eu tentava afastar esses pensamentos, mais eles vinham, mais vivos, mais cruéis.
Quando finalmente o sol nasceu, eu já estava decidida. Levantei cedo, preparei meu café com mãos trêmulas, mas firmes de propósito. Havia tomado uma decisão.
Lembrei da ficha profissional de Ricardo, que ele havia entregue no início, e que eu mesma tinha mandado para o escritório do meu marido. Era ali que eu encontraria o que precisava. Peguei o telefone e liguei para a secretária, pedindo que me enviasse por e-mail os detalhes. Nome completo, endereço, telefones, até a data de nascimento.
Fiz questão de soar natural, para não levantar suspeitas. Expliquei que estava organizando alguns documentos em casa e me lembrei do cadastro. Disse que seria útil termos tudo à mão, caso fosse necessário um dia.
Mesmo assim, ela hesitou e perguntou se estava tudo bem. Eu respirei fundo e respondi com calma que sim, que estava apenas pondo ordem nas coisas.
Poucos minutos depois, tudo estava na minha caixa de entrada. Abri o e-mail com o coração disparado, e lá estava. O endereço do apartamento de Ricardo.
Não pensei duas vezes. Peguei minhas coisas, fechei a porta de casa e segui rumo ao lugar onde ele morava.

Cheguei ao apartamento de Ricardo com o coração martelando dentro do peito. Toquei a campainha e, quando a porta se abriu, o impacto foi imediato. Ele surgiu sem camisa, o corpo ainda úmido de banho ou talvez de outra coisa, e antes mesmo que pudesse falar, meus olhos atravessaram o vão da porta. No fundo do corredor, uma garota de shorts curtos segurava um copinho, o olhar preguiçoso e um ar de intimidade que me destruiu por dentro.
Foi outro soco no estômago. A raiva me tomou inteira. Empurrei a porta com força, sem dar tempo para explicações, e avancei em direção à garota como uma doida. Comecei a gritar, a ofendê-la, chamando-a de tudo que vinha à mente. As palavras saíam afiadas, cortando o ar. Perguntei se ele a usava antes ou depois de mim e da Helo, o veneno escorrendo da minha boca sem freio.
A garota apenas me encarava, meio assustada, até que disse uma única palavra. Rick.
Esse nome na boca dela fez meu sangue ferver ainda mais. Senti o chão fugir. Ricardo tentava me conter, pedindo que eu parasse, que não fizesse aquilo. Mas quanto mais ele pedia, mais minha fúria crescia. Eu já não era dona de mim.
Foi então que a garota abriu a boca de novo. Disse que eu não parecia ter nada a ver com a dona Helo, uma mulher fina, elegante, educada. E ainda ousou dizer que Ricardo estava se rebaixando comigo.
Aquilo foi a faísca final. Levantei o dedo no rosto dela, pronta para explodir de vez. Ricardo, desesperado, me segurou com força, uma força que eu nunca tinha visto nele. Consegui me desvencilhar e, em um impulso cego, soltei um tapa em seu rosto.
O silêncio que seguiu me atravessou. O som seco da minha mão contra sua pele ainda ecoava, e só então percebi o que tinha feito. Minhas pernas fraquejaram. Desmoronei diante dele, tomada por vergonha e desespero.
Foi quando Ricardo, com o rosto marcado pelo tapa, respirou fundo e falou. Dona Viviane, essa é a Carina, minha irmã.
O chão se abriu debaixo de mim. Senti o sangue sumir do meu rosto. Não sabia onde enfiar a cara. Comecei a pedir desculpas, a implorar, como se minhas palavras pudessem apagar o estrago.
Mas foi nesse instante, quando me aproximei dele para tentar reparar o irreparável, que notei. No ombro direito de Ricardo, havia marcas de dentes. Uma mordida profunda, recente. Eu conhecia bem aquelas marcas. Eram de Helo.
Meu coração parou.
Ricardo respirou fundo, ainda com a marca do meu tapa no rosto. Disse que a cada quinze ou vinte dias Carina vinha até o apartamento para arrumar as coisas e pegar o dinheiro das compras de casa. Contou também que ela morava com a tia deles no interior.
Foi nesse instante que a própria Carina, com a voz firme e um olhar que parecia me atravessar, completou a revelação. Disse que dona Helo sempre passava por lá para levar mantimentos.
Senti outra facada no peito. Não bastava a certeza das marcas no ombro dele, agora eu descobria que Helo fazia parte dessa rotina escondida, como se sempre tivesse estado mais perto de Ricardo do que eu poderia imaginar. O estrago já estava feito. Eu queria desaparecer dali.
Ainda assim, engasgada, tentei reagir. Perguntei por que ele nunca havia me contado aquilo. Ricardo me olhou de maneira fria, sem raiva, apenas cansado, e respondeu que eu nunca havia perguntado sobre a família dele. Disse que era normal esse distanciamento entre patrão e empregado.
Suas palavras me atingiram com a mesma força de um soco. Eu, que acreditava ter intimidade, confiança, descobria naquele momento que, para ele, havia uma barreira intransponível.
O silêncio pesou, até que Carina quebrou o clima com uma ironia cruel. Disse que achava melhor Ricardo me levar para conversar em outro lugar, porque ela tinha muito o que fazer ali e não queria perder tempo com “xilique de dondoca”.
Aquilo me fez ferver de novo. Era como se ela tivesse enfiado o dedo na ferida aberta. E, por mais que as palavras dela fossem insuportáveis, eu sabia, no fundo, que tinha dado motivos para ouvi-las.
Olhei novamente para Carina, desta vez com os olhos marejados. Minha voz saiu baixa, trêmula, carregada de arrependimento. Pedi desculpas, disse que nunca havia sido assim, que não sabia o que tinha acontecido comigo.
Era verdade. Eu mesma já não me reconhecia.

Ricardo passou a mão no rosto, ainda sentindo a marca do meu tapa. Sorriu de leve, mas não de deboche, apenas com aquela calma que sempre me tirava do eixo. Gostei, disse, a senhora tem a mão pesada. Em seguida pediu que eu o acompanhasse para um lugar mais calmo, onde poderíamos conversar e talvez nos entender.
Respondi que não queria sair dali, que precisava falar naquele momento. Carina me lançou um olhar firme e cortou a discussão. Rick, trinta minutos. Vai lá para a sala ou para o quarto. Eu vou começar por aqui.
E assim ele me conduziu até o quarto.
Quando chegamos, não hesitei. Desabei sobre ele tudo o que estava entalado. Falei da minha desconfiança, das mentiras silenciosas, da traição que queimava em minha cabeça. Contei que tinha visto as marcas no pescoço de Helo e agora, ali diante de mim, as marcas no ombro dele. Coloquei o dedo sobre a mordida e apertei com força, arrancando dele um gesto de dor que só confirmou o que eu já sabia: era recente.
Ele permaneceu em silêncio, me deixando falar, me deixando despejar toda a dor, a raiva e a vergonha. Quando terminei, ofegante, ele respirou fundo. Posso falar agora, dona Viviane?
As palavras dele vieram como um espelho cruel. Trouxe de volta nossa primeira conversa, quando deixei claro que amava meu marido e que, se quiséssemos continuar, teríamos que respeitar essa condição. Ele repetiu que nunca me cobrou nada além disso. E então cravou fundo. Disse que sempre viu como eu tratava o doutor Rubens quando ele estava em casa, que nunca me pediu mais do que eu podia dar. Perguntou se, caso ele me pedisse para abandonar meu marido, eu o faria. A resposta, disse, era não.
Foi outro soco no estômago. Porque eu sabia que ele estava certo.
Senti meu corpo ceder. Concordei com cada palavra. E fui além. A partir de hoje, Ricardo, somos patroa e empregado. Não se esqueça disso.
Levantei, firme na decisão, embora por dentro estivesse em pedaços. Olhei para ele mais uma vez e finalizei. Até amanhã. Sei que a Helosinha lhe deu o dia de folga hoje, então aproveite.
Caminhei até a cozinha, onde Carina ainda organizava as coisas. Pedi desculpas outra vez, com a voz embargada. Ela hesitou, mas no fim aceitou. Peguei minha bolsa, segurei firme para não tremer, e saí por aquela porta.
Meu chão desmoronando a cada passo.

Peguei meu carro e saí dali o mais rápido que pude. Só queria um lugar calmo para pensar, mas não conseguia voltar para casa. Acabei indo até um shopping. Sentei-me na praça de alimentação, pedi um suco e fiquei ali por horas, tentando me acalmar, tentando colocar em ordem o turbilhão que me consumia.
Quando finalmente olhei para o relógio, já haviam se passado quase 3 horas. Decidi voltar. Eram dezesseis horas quando abri a porta de casa.
Helo estava sentada no sofá. Assim que me viu, ergueu os olhos e disse com firmeza. Vi, senta aqui, precisamos conversar.
O tom dela me atravessou como uma ordem. Meu sangue ferveu. Eu a olhei com raiva, mas não podia me recusar. Não podia demonstrar nada.
Sentei. E foi aí que veio a revelação final, a pior de todas.
Ela já sabia de tudo.
Vi, não cometa os mesmos erros que eu cometi. Todo mundo está percebendo que você está apaixonada pelo Ricardo. Eu me vejo em você. Seus olhos brilham, seu humor mudou, você está dando na vista, minha cunhada. Eu sei o que é se perder por ele, sei como é enlouquecer. Ricardo sabe tratar uma mulher. Ele sabe valorizar.
E como eu sei disso? Eu provei.
As palavras dela caíram sobre mim como pedras. Helo confessava, sem pudor, que também tinha caído no feitiço dele. E foi além. Disse que havia deixado transparecer tanto, que Jorge acabou percebendo. Ele veio falar com ela, desconfiado. Ela sempre negou e ele acreditou. Até que pediu que ela demitisse Ricardo.
Ela contou que concordou, mas pediu tempo. Disse a Jorge que seria melhor deixar o rapaz arrumar outro emprego antes de dispensá-lo. E acrescentou que sempre ajudou a família dele no interior, levando mantimentos para a tia.
E então cravou a última faca.
Estou te contando isso porque sei onde você esteve. Carina me ligou chorando e contou a humilhação que passou com você.
Eu apenas escutava, incapaz de responder, incapaz de negar. Minha cabeça baixa, o coração em pedaços.
Tome muito cuidado com o que você vai fazer. E se for fazer, não faça como eu. Seja discreta. O mais discreta possível.
O silêncio me engoliu. Não havia mais o que falar. Eu apenas concordei, em silêncio, submissa.
Quando ela se levantou, concluiu com um olhar firme, quase cúmplice.
Fique tranquila. Esse é o nosso segredo. O segredo do nosso pecado.
Nesse instante, para encerrar a conversa, nos aproximamos. Troquei um abraço com ela e um beijo no rosto. Forcei um sorriso e respondi baixinho. Pode contar comigo sempre que precisar.


Ficou muito grande então vou colocar aqui a parte 2


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Comentários


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mans Comentou em 04/09/2025

a sua escrita e suave diferenciada e excitante!!!

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fernando1souza2 Comentou em 04/09/2025

Vc se supera, q tesão!




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Ficha do conto

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Nome do conto:
Parte 1 – O Segredo do Nosso Pecado

Codigo do conto:
241637

Categoria:
Traição/Corno

Data da Publicação:
04/09/2025

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