O Barzinho de 2023



2023 mudou a dinâmica da nossa roda. Karol e Alberto ficaram ainda mais firmes, tão sintonizados que viraram referência para todos nós. Ele, sempre ao lado dela, atento, brincalhão, protetor quando precisava. Ela, explosiva e leal, agora com um parceiro à altura. Juntos, seguravam naturalmente o eixo do grupo.
Ricardo, por outro lado, atravessava outra realidade. O assédio sobre ele crescia semana após semana: olhares demorados, provocações sussurradas, comentários de canto de boca. Como ele nunca falava de namorada ou relacionamento, as insinuações se multiplicavam. Alguns, maldosos, espalhavam que ele não gostava da fruta, como se silêncio fosse prova de alguma coisa.
Carolina era a mais insistente. Inventava convites disfarçados, piadas ousadas, provocações diretas. Recebia sempre um não, mas não desistia. Para ela, a resistência de Ricardo era desafio e troféu.
Naquela sexta, o barzinho estava cheio. Taças tilintavam, a música vinha abafada, o calor da noite se misturava às conversas que iam e vinham. Foi quando os boatos começaram a se juntar na mesa, desta vez em voz alta. Beth cochichava, Carolina se insinuava, as piadas escorregavam para o incômodo.
Ricardo, até então calado, ergueu a cabeça e falou. A voz dele cortou o ar com uma firmeza limpa: já que vocês querem tanto saber, eu vou dizer. Eu tenho uma pessoa sim. Não falo dela porque não tenho necessidade de provar nada a ninguém. Relacionamento não é vitrine. É para ser vivido.
O silêncio caiu como peso sobre a mesa. Carolina se recostou, surpresa, mas sem abandonar o sorriso torto de sempre. Karol foi a primeira a quebrar a tensão: isso mesmo, quem quiser que engula seco. Alberto riu baixo, aprovando. Eu fiquei em silêncio, observando. Ricardo não fala por impulso, ele fala por convicção. Mais do que se defender, ele protegia algo maior, algo que, no fundo, eu sabia estar ligado a mim.
A noite seguia quente, e as provocações também. Entre uma taça e outra, as piadinhas ganharam corpo. Alguém disse em tom de deboche que achava que Ricardo nem gostava da fruta. Beth completou, escondendo-se atrás de uma risadinha, que ele nunca falava de mulher nenhuma.
Carolina, como sempre, foi além. Inclinou-se para frente, olhos brilhando de provocação, e lançou que ele precisava provar; que contasse quem era essa pessoa que ninguém nunca tinha visto, ou então aquilo era desculpa.
O silêncio voltou. Todos se voltaram para ele. Ricardo se ajeitou na cadeira, olhou em volta, e sem elevar o tom disse que tinha alguém sim. Não precisava postar foto nem desfilar de mãos dadas para provar nada. Ela existia. Era a pessoa que ele escolheu para estar ao lado dele.
Carolina arqueou a sobrancelha, pronta para retrucar, mas ele continuou. Disse que ela não era feita de exibicionismo, e sim de presença. Alguém que conhecia suas manias, seus silêncios e até seus defeitos. Uma mulher que não precisava de vitrine para ser importante, porque já ocupava tudo dentro dele. Quando ela sorria, ele esquecia o resto. Quando se calava, ele entendia mais do que mil conversas. Era com ela que passava as noites. Era nela que pensava ao acordar.
A mesa ficou muda. Alguns baixaram os olhos, outros passaram a brincar com o celular. Carolina forçou um riso: bonito discurso, parecia poesia, mas o grupo queria saber quem era.
Ele respondeu que quem precisava saber já sabia. E quem não sabia, não precisava.
Karol levantou o copo e brindou, cortando o peso. Era isso: quem tinha ouvidos, que entendesse; quem tinha inveja, que engolisse. Alberto riu junto. Eu continuei quieta, mas o coração batia acelerado. Cada palavra dele soava como confissão indireta, descrição feita sob medida para mim.
Carolina se recostou de novo, os lábios curvados em provocação, mas o brilho nos olhos entregava raiva misturada com desafio. Ela não desistiria fácil.
Enquanto todos falavam, permaneci em silêncio. O coração corria, o corpo quieto. Não entrei nas provocações, não acrescentei nada às perguntas; só observei. Era estranho demais ver tantas mulheres tentando arrancar algo de Ricardo, querendo tirar uma casquinha, enquanto eu ficava na minha, a certinha do grupo.
A atenção começou a se voltar para mim. Primeiro em brincadeira, depois em insinuações diretas. Perguntaram se eu sabia quem era a tal mulher. Riram entre si, dizendo que era impossível eu não ter notado nada. Carolina, venenosa, soltou que parecia até que o romance secreto tinha em mim, Viviane, a protagonista.
Foi ali que explodi. As palavras saíram atravessadas de indignação. Eu disse que não provocava Ricardo, que nunca precisei disso; que não admitia jogarem meu nome no meio de fofocas maldosas só porque eu escolhia me comportar diferente delas. Eu não aceitaria ser alvo por não me rebaixar às mesmas atitudes.
O silêncio voltou pesado. Antes que alguém retrucasse, Ricardo se ergueu. A voz firme dele atravessou a mesa. Ele disse que não admitia meu nome sendo colocado em roda de especulações; que eu merecia respeito; que o que mais valorizava em mim era exatamente a minha postura. Eu não precisava de gritos nem provocações para existir; minha presença falava por si.
Foi choque coletivo. Carolina tentou rir, mas a máscara estava trincada. Karol sorriu cúmplice, como quem acabou de assistir a um golpe certeiro em plena arena. Alberto ergueu a taça, em silêncio. Eu respirei fundo, sentindo que, mais uma vez, Ricardo não defendia só a si. Ele me defendia. E ali, diante de todos, a verdade começava a se revelar nas entrelinhas.
Depois da defesa firme de Ricardo, o clima na mesa parecia ter se acalmado. As conversas se espalharam de novo, alguém puxou assunto sobre viagens, outro sobre música, e por alguns minutos tudo soou leve. Eu tentava me manter quieta, controlando o turbilhão por dentro.
Mas a calmaria durou pouco. Carolina, já embalada pela bebida e pelo orgulho ferido, não se conteve. De repente, em voz alta e clara, diante de todos nós, confessou que sentia muito, mas não mandava no coração. Disse abertamente que achava estar apaixonada por Ricardo.
A mesa congelou. Alberto se ajeitou desconfortável na cadeira, Beth arregalou os olhos como quem assiste a um escândalo, e eu senti aquilo me atravessar como um golpe direto no peito. O ar ficou pesado. Eu quis responder, quis colocar um fim naquilo, mas quando abri a boca, Karol se adiantou e não deixou que eu falasse nada.
Ela se ergueu com a força que lhe era característica, e sua voz firme cortou o silêncio. Disse que entendia os sentimentos de Carolina, porque ninguém escolhe de quem gosta, mas que havia uma linha que não se cruza. Jogar baixo, insistir em público, expor os outros para alimentar vaidade, isso não se faz. Olhou diretamente para ela e completou que todos tinham o direito de sentir, mas também tinham a obrigação de respeitar.
O impacto foi imediato. Carolina tentou disfarçar com um sorriso amarelo, mas estava evidente que tinha sido colocada em seu devido lugar. Beth desviou os olhos, fingindo mexer no celular, e até o garçom que passava próximo pareceu sentir o peso do momento.
Ricardo não disse nada. Manteve o olhar firme no copo, como se não quisesse dar palco para aquilo. Para mim, bastou. A defesa que ele já tinha feito mais cedo ecoava dentro de mim, e agora era Karol quem erguia a voz para proteger o que era certo.
Respirei fundo em silêncio. Parte de mim queria ter respondido, mas talvez Karol tivesse razão. Talvez naquele momento fosse melhor ouvir do que explodir.
Ricardo respirou fundo e pediu atenção. O barzinho, barulhento por natureza, pareceu diminuir sua algazarra apenas ao redor da nossa mesa. Ele começou pedindo desculpas a Carolina, olhando diretamente para ela. Disse que a considerava uma pessoa incrível, admirava sua força e sua determinação, mas que infelizmente não poderia retribuir o sentimento. Explicou que amava outra pessoa e que isso estava acima de qualquer vaidade. Reforçou que tinha valores dos quais não abriria mão.
Foi então que soltou a bomba. Contou que havia decidido se afastar das nossas rodas. Que compreendia que sua presença ali já não era justa, principalmente com Carolina exposta em seus sentimentos. E que, afinal, não pertencia àquele círculo. Que estava entre nós porque havia me conhecido primeiro, já que eu era sua patroa, e que no fundo não passava de um funcionário que tinha atravessado a linha entre trabalho e vida social. Disse que, a partir dali, preferia me acompanhar apenas como profissional, respeitando o lugar que cabia a um funcionário.
O silêncio foi absoluto. Por alguns segundos ninguém respirou. Então a mesa reagiu, uma voz de cada vez, cada um colocando sua alma sobre a mesa.
Karol foi a primeira a se erguer quase da cadeira. Disse que aquilo era uma bobagem sem tamanho, que ninguém ali via Ricardo como funcionário. Que ele havia conquistado seu lugar por mérito próprio, não por minha causa. E que, se Carolina se magoava, isso era problema dela, não um motivo para ele se excluir.
Alberto apoiou em tom mais calmo, mas não menos firme. Disse que respeitava a decisão de qualquer homem em preservar sua honra, mas que não podia aceitar ver Ricardo se diminuir. Lembrou que amizade não se compra nem se herda de emprego, se conquista. E que Ricardo já era parte da mesa, parte da família.
Beth interveio em seguida, um tanto constrangida. Disse que também se sentia culpada por já ter alimentado comentários maldosos, mas que nunca quis ver o grupo desfeito. Pediu desculpas a Ricardo, reconheceu que tinha errado, e implorou para que ele não deixasse de estar entre nós.
Carolina, surpreendentemente, não reagiu com raiva. Ficou visivelmente tocada pelas palavras dele e, com lágrimas nos olhos, disse que entendia, mas que não queria ser o motivo da saída dele. Confessou que talvez tivesse passado dos limites, mas que não suportaria carregar a culpa de afastá-lo.
Solange, que até então permanecia em silêncio, balançou a cabeça e disse que já tinha visto muitos homens se perderem no orgulho. Que Ricardo tinha mostrado ser diferente e, justamente por isso, não deveria se afastar. Disse que, se ele saísse, a roda perderia sua essência.
Rafaela entrou logo depois, rindo de nervoso. Disse que já tinha exagerado em provocações, mas que no fundo admirava a postura dele. Reforçou que se fosse para cortar alguém, que fosse ela mesma com suas piadas fora de hora, não ele.
Silvana, sempre mais ponderada, apoiou com serenidade. Disse que amizade era feita de equilíbrio e que Ricardo era o peso que mantinha a balança firme. Retirar esse peso seria derrubar tudo.
Douglas não resistiu e falou com o jeito provocador de sempre, mas sério. Disse que entendia a honra masculina, mas que era justamente a postura de Ricardo que ensinava todos os homens da mesa a serem melhores. Que se ele saísse, não sobraria exemplo.
Roberto completou de forma simples e direta. Disse que respeitava o gesto, mas que homem que segura a roda não pede licença para sair, permanece. E que a presença de Ricardo era parte da identidade deles como grupo.
Por fim, todos se calaram, e os olhares convergiram para ele novamente. A mesa inteira havia se manifestado, cada um à sua maneira, e todos deixaram claro que não aceitariam sua saída.
Eu permaneci calada, sentindo uma mistura de orgulho e dor. Orgulho por ver o homem que ele era, dor por não poder, naquele momento, dizer tudo o que latejava dentro de mim. O silêncio que se seguiu às palavras de todos parecia pesar sobre mim. Eu continuava imóvel, apenas observando, mas a cada segundo os olhares iam se voltando para o meu lado da mesa.
Karol foi a primeira a dizer o que todos pensavam: faltava ouvir a minha opinião.
Senti o coração acelerar, mas não desviei os olhos. Respirei fundo e falei em alto e bom tom, clara o bastante para que não houvesse dúvidas.
Disse que não concordava com a decisão de Ricardo. Que compreendia sua postura e reconhecia a nobreza de suas palavras, mas que, se ele acreditava que deveria se afastar, então eu também não participaria mais da roda. Acrescentei que não concordava com a posição dele, porque a amizade que construímos não poderia ser medida por hierarquia profissional. Afirmei que todos ali já haviam aprendido algo com ele, em silêncio ou em gesto, e que perder isso seria desperdiçar a presença de um homem íntegro. Terminei dizendo que a roda precisava dele, e que se ele fosse embora, o grupo deixaria de ser completo.
A mesa reagiu como se tivesse levado um choque.
Karol levou a mão à boca, surpresa pela firmeza, e em seguida sorriu orgulhosa. Disse que já esperava que eu fosse falar algo com peso, mas não imaginava que eu chegaria a tanto.
Alberto, que até então mantinha a calma, comentou que as minhas palavras só confirmavam o que todos já sabiam: Ricardo era parte essencial da roda, e até eu reconhecia isso sem disfarces.
Beth piscou para mim, um tanto emocionada, e disse que agora sim estava provado que a roda não existiria sem ele.
Rafaela riu nervosa e soltou que eu tinha acabado de jogar uma bomba no colo do guardião, porque agora ele não teria saída.
Carolina, que ainda estava sensibilizada, se ajeitou na cadeira e disse que não esperava ouvir aquilo de mim. Que, se até eu estava disposta a abrir mão da roda por causa dele, então talvez tivesse que rever seus próprios sentimentos.
Solange balançou a cabeça e afirmou que, depois do que eu tinha dito, não havia mais discussão. Que qualquer insistência de Ricardo em sair seria desrespeitar não apenas a mim, mas a todos.
Silvana, ponderada, acrescentou que as minhas palavras eram a costura que faltava para fechar a noite. Que o grupo tinha falado em coro, mas o meu tom era o selo final.
Douglas brincou dizendo que, com aquele discurso, eu teria que ser promovida a presidente vitalícia da roda. Mas logo depois completou sério que não lembrava de já ter ouvido alguém falar de Ricardo com tanta elegância.
Roberto bateu a mão na mesa e afirmou que agora estava resolvido. Disse que se até eu estava disposta a sair junto, era sinal de que ninguém poderia aceitar a saída de Ricardo.
O peso da minha fala ficou suspenso no ar por alguns instantes. Ricardo me olhou fixo, o olhar firme e profundo, mas sem um traço de sorriso. Havia nele um reconhecimento silencioso, como se minha coragem tivesse se somado à dele diante de todos.
A roda, naquele momento, estava unida como nunca. E, de certa forma, todos entenderam que não havia mais espaço para a dúvida.
Depois de todos falarem, Ricardo pediu novamente a palavra. Sua voz não saiu tão firme quanto antes, havia nela um peso diferente, carregado de emoção. Disse que ficava muito honrado com os comentários, que não esperava tanta lealdade e carinho. Tentou continuar, mas a respiração falhou, e todos percebemos que ele estava lutando para conter a emoção.
Foi nesse instante que agi sem pensar. Levantei da cadeira num gesto rápido, me abaixei ao lado dele e, diante de toda a roda, encostei os lábios em seu rosto. O beijo não foi demorado, mas suficiente para deixar a marca nítida do batom em sua pele.
Ricardo corou no mesmo instante. Seu olhar se encontrou com o meu, firme e profundo, como se o mundo tivesse parado por um segundo inteiro. O barzinho seguiu ruidoso, mas na nossa mesa o silêncio durou até que alguém explodisse em gargalhada.
Beth bateu as mãos na mesa e gritou que agora sim a patroa tinha marcado o guardião. Rafaela gargalhou alto e disse que aquilo era a assinatura oficial da noite. Douglas fez piada dizendo que ele não poderia mais apagar a marca sem pedir recibo. Roberto completou rindo que aquele batom tinha mais peso que qualquer contrato de amizade.
Carolina levou a mão à boca, surpresa, e apenas balançava a cabeça em choque, enquanto Solange, sem disfarçar, dizia que já suspeitava e agora não restava dúvida. Silvana, mais contida, sorriu de canto como quem guarda segredo.
O barulho cresceu, a mesa foi ao delírio, e por alguns instantes tudo parecia ter voltado ao normal, mas com um tempero novo, como se o grupo tivesse testemunhado algo histórico.
Karol, porém, me lançou um olhar apavorado, os olhos arregalados como se pedissem explicação imediata. Eu, ainda de pé ao lado de Ricardo, não sabia o que dizer. O coração martelava no peito, e o riso dos amigos se misturava com o peso do gesto que acabara de escapar de mim.
Ricardo, em silêncio, ainda me fitava, o rosto marcado pelo meu batom como um estandarte impossível de negar.
Ainda de pé, com o coração acelerado e todos rindo, ergui a voz antes que alguém transformasse aquilo em algo maior. Perguntei se eles não tinham reparado na emoção do guardião de gelo. Disse que era raro ver Ricardo deixar transparecer algo, e que eu mesma tinha amado aquela reação. Completei que meu gesto tinha sido só uma forma carinhosa de mostrar nossa gratidão a ele, nada além disso, e que tinha encontrado naquela marca de batom um jeito de tornar o momento mais alegre.
A mesa inteira explodiu em aplausos, gargalhadas e novas piadas. Douglas disse que ia patentear o beijo como selo da patroa. Rafaela afirmava que aquilo tinha mais peso que qualquer diploma. Beth dizia que finalmente o guardião de gelo tinha derretido, e Roberto completava que só podia ter sido com fogo dourado.
Ricardo, corado como nunca, esperou o burburinho se acalmar e, balançando a cabeça, soltou num tom divertido que não tinha jeito mesmo, que a turma não prestava. Disse rindo que a roda era impossível, mas que talvez fosse justamente isso que os tornava únicos.
Foi quando Solange se inclinou sobre a mesa, os olhos brilhando de malícia. Riu e comentou que os homens nem imaginavam como nós éramos. E, antes que alguém perguntasse, completou entre risadas que, ah, se eles soubessem o que falávamos deles em nossa roda secreta, não teriam coragem de aparecer de novo.
O riso dela contagiou, e todos caíram na gargalhada junto. O barzinho inteiro parecia vibrar com a nossa mesa, como se ali existisse um pacto silencioso: de que, apesar dos segredos, dos medos e das emoções, a roda continuaria inteira, impossível e viva.
A roda ainda ria alto das provocações de Solange. Douglas fazia piada sobre a tal roda secreta das mulheres, Rafaela já inventava um código imaginário, e Ricardo, ainda marcado pelo meu batom, balançava a cabeça como quem se rendia à confusão. O bar inteiro parecia mais leve.
Foi nesse embalo que senti uma mão segurar firme meu braço. Karol se inclinou até mim e, sem dar tempo de reação, me puxou para fora da roda, até perto do balcão, onde a música abafava o som das conversas. O olhar dela era o mesmo de sempre quando queria arrancar uma verdade: intenso, direto, impossível de driblar.
Ela sussurrou rápido, como se não pudesse esperar. Perguntou se eu tinha enlouquecido. Disse que, diante de todos, eu tinha praticamente marcado Ricardo como meu. A voz dela estava carregada de preocupação, não de julgamento. Reforçou que entendia a emoção, mas que eu precisava ter cuidado. Lembrou que, por mais que a roda fosse cúmplice, as palavras e os olhares poderiam transformar uma brincadeira em suspeita real.
Eu respirei fundo, tentando me recompor. Expliquei que não havia sido um plano, que simplesmente me deixei levar. Disse que não aguentei ver a emoção de Ricardo contida e precisei agir, que aquele beijo no rosto tinha sido a maneira que encontrei de tornar o momento leve e mostrar gratidão. Confessei que não tinha pensado nas consequências, apenas no gesto.
Karol suspirou fundo, balançou a cabeça e depois esboçou um meio sorriso. Disse que me conhecia bem demais para acreditar em explicações calculadas. Afirmou que, no fundo, eu tinha feito o que o coração mandou. E completou que, por sorte, a roda inteira transformou aquilo em piada — mas que da próxima vez eu precisava medir, porque um gesto tão pequeno poderia ser lido como uma confissão inteira.
Antes que eu respondesse, Alberto se aproximou perguntando o que as duas cochichavam. Karol sorriu rápido, deu um tapinha no meu braço e voltou para a mesa como se nada tivesse acontecido. Fiquei parada por um instante, respirando fundo, até decidir segui-la de volta.
Na mesa, todos ainda riam. Ricardo, porém, desviou o olhar para mim por um segundo, o rosto ainda marcado pelo meu batom. E naquele instante, sem palavras, soube que ele tinha entendido cada detalhe do gesto.
O relógio já se aproximava da meia-noite e o barzinho começava a esvaziar. As últimas músicas do violão ecoavam suaves quando Beth, sempre a mais imprevisível, bateu os dedos no copo e lançou a proposta. Disse que conhecia um lugar encantador no sul do país, na serra gaúcha, e sugeriu que passássemos uma semana em Gramado e Canela. Falou do friozinho aconchegante, das ruas floridas, das casas em estilo europeu e dos cafés que, segundo ela, eram perfeitos para noites de conversa sem pressa.
A roda inteira se animou. Rafaela aplaudiu a ideia como se fosse um espetáculo, Douglas disse que já se via comendo fondue até não aguentar mais, Solange comentou que não perderia a chance de desfilar casacos de inverno, e Karol já começou a anotar detalhes no celular como se a viagem estivesse marcada. Alberto, com um meio sorriso, disse que se fosse com Karol a tiracolo, toparia qualquer destino.
Silvana, sempre discreta, confirmou que uma semana seria perfeita para desligar da rotina. Carolina, em tom mais controlado depois da noite intensa, afirmou que toparia sem pensar duas vezes. Roberto, rindo, disse que a serra era linda, mas que o grupo ia transformar qualquer cidade em uma bagunça.
Eu, encantada com a ideia, disse que adoraria. E percebi que todos compartilhavam da mesma empolgação. O plano começava a nascer ali mesmo, entre risos, taças quase vazias e a promessa de dias diferentes.
A noite esfriava e já era hora de nos despedirmos. Um a um, fomos nos levantando, ajeitando casacos e deixando o bar. O vento da madrugada cortava leve, mas havia um calor novo entre nós, como se o convite de Beth tivesse dado ao grupo mais uma razão para permanecer unido.
Antes de sair, olhei de relance para Ricardo. Não precisei dizer nada. Apenas um olhar firme, rápido, o suficiente para dar o sinal silencioso de que a nossa noite ainda não tinha terminado. Ele entendeu de imediato. Um sorriso de canto escapou em seu rosto, cúmplice, discreto, como quem responde sem palavras.
E assim seguimos, cada um para um lado da rua, cada um com seus pensamentos, mas eu com a certeza de que o frio da madrugada seria apenas um detalhe diante do fogo que ainda me aguardava.
Entramos no carro em silêncio. Eu me sentei ao lado dele, o homem que tinha me transformado no que sou hoje. Não precisei dizer nada, bastou um olhar. Ricardo entendeu de imediato. O trajeto foi rápido, cada segundo aumentando a tensão que queimava em nós.
Assim que a porta do Recanto se fechou atrás de nós, o ar virou urgência. Não deixei espaço para palavra: lancei-me sobre Ricardo e nossas bocas se agarraram com a fome que a noite inteira havia acumulado. Ele me ergueu sem cerimônia; minhas pernas o envolveram, e fui esmagada contra a parede do corredor — pele com pele, perfume de homem misturado ao gosto de vinho ainda nos lábios. A dureza dele pressionava minha barriga por baixo da roupa, quente e firme, e eu senti o corpo inteiro responder como quem reconhece um território conhecido. O beijo era bruto e suave ao mesmo tempo: língua, dentes, respiração quente no ouvido.
O caminho até o sofá foi um turbilhão de mãos que rasgavam tecido, botões saltando, risos baixos que viravam gemidos. Caímos no estofado como dois corpos incendiados. Tirei a camisa dele com pressa, beijei o peito suado, percorri a pele quente com a língua — gosto salgado, ferro leve do suor e a doçura do vinho na memória. A mão dele segurava minha nuca, pressionando minha cabeça quando desci para encontrá-lo. O membro, rígido e quente, entrou na minha boca; chupei, sorvi, deslizei a língua ao redor, sentindo a veia pulsar contra minha língua. Cada movimento arrancava gemidos graves que me atravessavam inteira. O sabor dele — sal, calor, uma presença que invadia — me deixava tonta.
Quando me puxou de volta com força, senti a pressa dele nos dedos que rasgaram minha roupa por trás. Me virou de bruços sobre o sofá, ergueu meu quadril e me invadiu de uma vez. O choque me atravessou: doeu e ardeu, e junto veio um prazer agudo que me fez soltar um grito abafado no tecido. O ritmo inicial foi duro, praticamente selvagem; o barulho cadenciado do corpo dele batendo no meu preenchia a sala, e eu me abria a cada estocada, sentindo o calor dele me possuir até o fundo. A mistura de dor leve e prazer cortante fazia minhas pernas tremerem; eu me jogava contra ele, faminta, querendo mais. Ele sussurrava rouco no meu ouvido que me queria inteira, e eu me entregava, implorando em gemidos.
Quando me virou de frente, seus olhos queimavam num silêncio tão puro que parecia cortar. Ele mordeu meus seios com fome, chupou com força, deixando marcas que ardiam. A boca dele, depois, voltou-se para a minha — beijos que rasgavam e curavam. O orgasmo veio como uma onda concentrada no ventre: calor que subiu, pernas que tremeram, respiração partida. Meu corpo se contraiu ao redor dele, pulsando; senti cada músculo ceder e depois se curvar ao prazer. Mesmo depois da explosão, suas estocadas continuavam, arrancando novos gemidos e deixando-me desmanchar embaixo dele.
Ricardo não deixou a ânsia esfriar. Me ergueu do sofá no colo, caminhou até a mesa e me deitou de costas sobre o tampo frio. O contraste da madeira gelada com minha pele quente intensificou tudo. Ele abriu minhas pernas e a boca dele voltou a devorar-me. A língua explorou cada dobra, sugou o ponto mais sensível com fúria e carinho. O som da minha respiração subiu, virou gemido alto; meu corpo arqueou, os quadris se ergueram sozinhos, e o orgasmo sobre a madeira veio em ondas curtas e ferozes — jatos de prazer que ele sorveu, saboreou, lambendo cada gota como se fosse vinho raro.
Levantou-me nos braços como se eu fosse leve e me levou para a cama. Deitou-me de costas, ergueu minhas pernas e mergulhou em mim outra vez, com uma fúria mais controlada, uma cadência que sabia onde abrir feridas e onde dar colo. Cada estocada me empurrava para frente e para dentro; sentia-o inteiro em mim, quente, latejante, arrancando lágrimas de prazer dos meus olhos. Quando ele gozou, senti o jorro profundo e quente encher-me por dentro; era um preenchimento denso que me marcou como se fosse dele. O prazer dele me arrastou numa onda que me fez gozar junto, intensa, longa, com o corpo tremendo debaixo do peso dele.
E ainda havia mais. Ele me virou de joelhos, segurou minha cintura com firmeza e buscou o lugar mais proibido. A ponta dele roçou, provocando um arrepio cortante. O primeiro avanço trouxe ardor e surpresa, mas logo se transformou em calor denso. Ele pediu que eu respirasse, que relaxasse; sua voz era comando e promessa. Os movimentos começaram lentos, calibrando cada centímetro, até que meu corpo cedeu. A dor deu lugar a um prazer transgressor, profundo, que me fazia gemer diferente, mais rouca, mais desesperada.
A cada estocada anal, a sensação era intensa: um rasgo que ao mesmo tempo acariciava, um preenchimento que queimava e me fazia querer mais. Eu me abria inteira, agarrada aos lençóis, enquanto ele acelerava o ritmo. O choque das investidas arrancava gemidos altos, soluços entrecortados. O prazer explodiu de repente, um orgasmo brutal que me convulsionou de dentro para fora, contraindo meus músculos em espasmos que me deixaram sem ar. Gritei sem vergonha, entregue ao êxtase, e ele explodiu junto, se derramando pesado e quente dentro de mim até o fim.
Caímos exaustos, o corpo suado, marcado por mordidas, arranhões e beijos. A respiração dele ecoava contra meu pescoço, misturada ao cheiro forte da nossa entrega. Me puxou contra o peito, os dedos passando pelo meu cabelo molhado. A voz baixa e rouca sussurrou como uma promessa eterna: você é o meu incêndio, Viviane.
Ficamos ali mesmo, deitados na cama, ainda nus, exaustos mas incendiados. Olhei nos olhos dele e falei sem rodeios: eu entendo sua honra, sua cautela, mas não vou aceitar que você se afaste. Lá fora você pode ser guardião de gelo; aqui comigo você não se esconde. Ele permaneceu em silêncio por alguns segundos, o olhar marejado. Passei a mão no rosto dele, insisti: você não é apenas alguém que entrou pela porta de serviço da minha vida. Você é parte de tudo em mim.
Ele confessou baixinho o medo que carregava — medo dos olhares, dos comentários, do peso de um segredo. Encostei minha testa na dele e respondi que viver de medo era muito mais perigoso do que enfrentar qualquer língua venenosa. Falamos da viagem à serra gaúcha, da tentação de uma semana juntos. Admiti que só de pensar meu corpo já ardia. Pedi, quase em súplica, que nunca mais falasse em se afastar. Que não importava o preço, eu queria ele comigo, custasse o que custasse.
O silêncio que veio a seguir não era vazio; era um pacto selado. Deitei sobre o peito dele, ouvi as batidas aceleradas do coração, e deixei-me envolver pelo braço forte que me prendia. O beijo suave na testa encerrou a noite. Adormecemos assim, colados e marcados, sabendo que dali em diante nada seria igual — e que, ainda assim, valeria cada risco.
Foto 1 do Conto erotico: O Barzinho de 2023

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Comentários


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cadofloripa Comentou em 18/09/2025

Texto nos prende e suavemente vai nos levando aonde quer...gostei. Levou meu voto.

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farmaceutico- Comentou em 18/09/2025

Amando tudo isso! Karol e a melhor, Ricardo não existe e vivi uma princesa !

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coroaandre Comentou em 18/09/2025

Ótimo conto sensual

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umpoucodetudo Comentou em 18/09/2025

Esses dois não tem jeito viu, nasceram um para o outro




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241901 - A Primeira Saída a Quatro - Categoria: Traição/Corno - Votos: 12
241900 - O Amanhecer das Leoas - Categoria: Traição/Corno - Votos: 7
241831 - O Dia da Leoa - Karol a Descobre - Categoria: Traição/Corno - Votos: 11
241805 - O Sítio da Família (O Almoço dos Quatro) - Categoria: Confissão - Votos: 9
241790 - Meu Motorista - O Elevador da Tentação Parte 2 o Final - Categoria: Traição/Corno - Votos: 14
241735 - Meu Motorista - O Elevador da Tentação Parte 1 - Categoria: Traição/Corno - Votos: 18
241682 - Ricardo, meu eterno - Categoria: Poesias/Poemas - Votos: 12
241641 - Parte 2 – O Segredo do Nosso Pecado - O Peso da Escolha - Final - Categoria: Traição/Corno - Votos: 14
241637 - Parte 1 – O Segredo do Nosso Pecado - Categoria: Traição/Corno - Votos: 15
241520 - Entre Segredos e Desejo Minha cunhada me confessou - Categoria: Traição/Corno - Votos: 23
241517 - Desejo no Caminho de Casa - Categoria: Traição/Corno - Votos: 23
241444 - Quando o Motorista Despertou a Mulher em Mim - Categoria: Traição/Corno - Votos: 43

Ficha do conto

Foto Perfil vivianebeatriz
vivianebeatriz

Nome do conto:
O Barzinho de 2023

Codigo do conto:
242687

Categoria:
Traição/Corno

Data da Publicação:
18/09/2025

Quant.de Votos:
8

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5