Sob o Frio de Gramado, o Calor do Segredo – Parte 3



O relógio marcava seis e meia da manhã quando despertei nos braços de Ricardo. A noite anterior ainda queimava em minha pele como brasas, mas sabíamos que a madrugada tinha ficado para nós e o dia pertencia ao grupo. Ele me olhou sério, mas com aquele brilho cúmplice nos olhos, e murmurou que precisava voltar ao seu quarto antes que alguém desconfiasse. Beijou minha boca devagar, longo o suficiente para me arrancar um suspiro, e se foi em silêncio pelo corredor. Fiquei alguns instantes olhando para a porta fechada, sentindo o perfume dele impregnado no lençol, até me levantar.
Me arrumei com calma, escolhendo um vestido leve, adequado para a manhã gelada de Gramado. Ao abrir a janela, respirei o ar frio que descia das montanhas, fresco e úmido, trazendo consigo um silêncio quase sagrado. O coração ainda batia acelerado, dividido entre o arrepio da noite passada e a ansiedade pelo que estava por vir.
Pouco a pouco o grupo começou a se encontrar no saguão do hotel. Karol surgiu de braços dados com Alberto, cúmplices como sempre, e logo atrás vinham Carolina e Beth, trocando risadas abafadas. Rafaela e Solange pareciam animadas, falando sobre as fotos do dia anterior. Silvana chegou com Douglas, e já ali se percebia uma leveza diferente entre os dois — um olhar mais demorado, um sorriso sem pressa, como se o tempo tivesse abrandado para eles. Roberto foi o último, discreto como de costume.
Seguimos juntos para o salão de café do Hotel Colline de France, e ao cruzar aquelas portas, foi impossível não prender o fôlego. O ambiente parecia extraído de um palácio francês: lustres de cristal espalhavam a luz em mil reflexos dourados, as cortinas em veludo rosé emolduravam janelas enormes, e mesas impecavelmente postas nos aguardavam. Um piano branco no canto reforçava a atmosfera de realeza, como se a qualquer momento Chopin pudesse soar para completar a cena.
Nossa mesa era um espetáculo à parte. Sobre a toalha branca de linho repousavam porcelanas delicadas e talheres com detalhes em dourado. Croissants amanteigados ainda quentes exalavam perfume de manteiga e pão fresco. Waffles polvilhados com açúcar de confeiteiro chamavam os olhos, ao lado de uma torre de três andares repleta de mini tortas, bolinhos de frutas e macarons coloridos. Queijos maturados, presuntos artesanais e geleias em pequenos potes de cristal formavam uma paleta de cores que misturava o dourado do queijo, o rubi da framboesa e o âmbar do damasco.
Carrinhos prateados circulavam discretamente, trazendo crème brûlée ainda morno, com o açúcar queimado ali mesmo diante de nós, estalando sob o toque do maçarico. Em taças delicadas, sucos frescos exibiam tons vivos de laranja, uva e kiwi. Para os mais ousados, o espumante francês completava o cenário, tilintando em brinde ao amanhecer.
Sentamo-nos, e não demorou para que as primeiras brincadeiras surgissem. Rafaela, mordendo um pedaço de brioche, foi a primeira a dizer que nossas dietas tinham ido diretamente para o espaço sideral. A mesa inteira caiu em gargalhadas, e ninguém sequer tentou negar. Carolina completou, dizendo que se continuássemos assim, voltaríamos de Gramado rolando.
Enquanto as risadas ecoavam, meus olhos notaram Silvana. Douglas servia café em sua xícara sem que ela pedisse, e o gesto simples ganhou ares de intimidade. Ela sorriu com delicadeza, e ele a olhou demoradamente, como quem já não tinha pressa de esconder. O grupo, perceptivo como sempre, começou a trocar olhares cúmplices. O clima estava formado: entre risos, provocações e delícias à mesa, nascia ali algo novo.
Foi nesse momento que eu e Ricardo, como se estivéssemos conectados, fizemos a mesma pergunta ao mesmo tempo. Perguntamos sobre a noite de Silvana e Douglas. Romance no ar? A mesa inteira se voltou para eles e o silêncio durou apenas um instante até que Silvana, serena e sorridente, respondeu.
Sim, entramos em um relacionamento mais sério. Aproveitamos o clima daqui, nos entregamos ao que já havíamos sentido e chegamos a um consenso. E por que não tentar?
A revelação foi recebida como uma explosão. Palmas, gargalhadas, brindes improvisados, todos vibraram como se fosse uma conquista coletiva. Karol abraçou os dois com entusiasmo, Beth já falava em planos de casamento, e Roberto, sempre provocador, aproveitou para atiçar ainda mais.
E será que aqui entre nós surgirá mais algum casal?
De imediato os olhares se voltaram para mim e Ricardo. Eu estava de um lado dele, Carolina do outro, e o peso daquela insinuação pousou direto sobre nós dois. Meu coração acelerou, mas mantive o semblante sereno, enquanto ele permanecia calado, bebendo um gole de café com sua expressão grave.
Foi quando Carolina, maliciosa e atrevida, inclinou-se em direção a ele e disse em tom provocador. Ricardo, estou só, viu.
A mesa caiu em gargalhadas. Karol quase se engasgou de tanto rir, Rafaela levou a mão ao rosto como quem não acreditava no atrevimento, Solange bateu na mesa repetindo que Carolina não tinha jeito. Até Douglas e Silvana, recém-revelados, riam cúmplices da ousadia.
Ricardo manteve a postura firme por alguns segundos, fitando Carolina em silêncio. Mas então ergueu levemente uma sobrancelha e deixou escapar um sorriso contido que incendiou ainda mais as provocações. O grupo gritava, fazia barulho, cutucava, e eu, por dentro, sentia o sangue ferver, mas por fora apenas ergui minha taça e sorri de canto, disfarçando.
O salão do Colline de France, tão elegante e silencioso no início da manhã, agora parecia tomado por nós. O riso, as provocações e as insinuações deixavam claro que aquele dia ainda prometia muito mais.
Nesse clima de risos ainda ecoando pelo salão, o Sr. Sebastião entrou silencioso, mas sua presença se fez notar. Piscou para o grupo, limpou a garganta, e falou com voz firme:
“Assim que terminarem o café, estarei pronto para levá-los a um lugar ainda mais belo. Em Canela há quedas d’água que nem o frio consegue apagar o encanto. Vamos partir para as cascatas, para os mirantes, para aquele lugar que parece feito para pessoas que querem deixar o coração à mostra.”
A mesa ficou em expectativa. Guardamos nossos talheres, trocamos olhares cúmplices. Indiana de excitação subiu; Carolina disse que levaria mais trufas para a viagem, paradoxo delicioso; Beth ajeitou a gola do casaco dizendo que queria chegar ao vento nas cachoeiras.
Saímos do salão com os corpos aquecidos, risos ainda presos nos lábios. A van aguardava nos fundos do hotel. Os passos ecoavam no corredor, as malas leves, as jaquetas prontas. Ricardo abriu a porta para mim, ofereceu o braço, e juntos atravessamos o jardim úmido do hotel até o carro.
A estrada que segue para Canela serpenteia entre pinheiros, araucárias, casas de pedra com telhados de madeira. O nevoeiro rasteiro pendia sobre os vales, envolvendo a van em brumas brancas que pareciam véus. Silvana sentou-se ao lado de Douglas, sua mão encontrou a dele num gesto quase instintivo. Karol e Alberto trocaram risadas sobre o frio, Carolina tirava fotos pela janela embaçada.
O ar sentida fresco entrando pelas frestas do vidro, cheiro de terra úmida, musgo e pinha. Sr. Sebastião, ao volante, aproveitava a suavidade da gravidade das montanhas, apontava para mirantes escondidos. Ele disse que primeiro pararíamos nas Quedas do Caracol, depois no Parque da Cascata do Caracol, onde as águas despencam sobre o abismo, criando nuvens de vapor e arco-íris nas gotículas. Também que passaríamos pela Catedral de Pedra, cartão-postal de Canela, a igreja gótica imponente que vigia a cidade do topo da colina. E para completar, uma parada no Morro do Elefante se o tempo permitisse, para ver a vista de toda a serra azul-acinzentada se perder no horizonte.
A van seguia pela estrada sinuosa, ladeada por pinheiros e araucárias que desenhavam a paisagem serrana. O frio da manhã embaçava os vidros, e o nevoeiro repousava nos vales como um manto. Lá dentro, o clima era leve: Carolina não largava a câmera, captando cada curva da serra úmida; Beth, sempre animada, comentava sobre a beleza da Catedral de Pedra; Karol se aconchegava no ombro de Alberto; enquanto Silvana e Douglas trocavam olhares cúmplices, deixando claro que o romance nascente já florescia em algo mais sério.
No volante, Sr. Sebastião conduzia sereno e ao mesmo tempo guiava nossa imaginação. Contava que a primeira parada seriam as Quedas do Caracol, seguidas pelo Parque Estadual do Caracol, famoso pelo mirante e pela longa escadaria que desce até o rugido da água. Falava também da Catedral de Pedra, cartão-postal de Canela, e prometia que, se o tempo colaborasse, subiríamos ainda ao Morro do Elefante, de onde se vê a serra inteira emoldurada pelo céu.
Encostei a testa no vidro frio, observando a paisagem esbranquiçada pela névoa. Foi quando percebi o reflexo de Ricardo ao meu lado, metade do rosto iluminado pela manhã cinzenta. Nossos olhares se encontraram, e bastou o sorriso breve que ele me deu para que eu sentisse aquela certeza silenciosa: estávamos no lugar certo, vivendo o que tínhamos de viver.
A van reduziu a velocidade quando a mata começou a se abrir em clareiras. O som das águas já se insinuava à distância, grave e constante, como um tambor oculto. Quando descemos, o ar frio bateu no rosto, misturado ao perfume úmido da vegetação. O caminho de pedra nos guiava entre árvores altas até que, de repente, a visão se abriu para o espetáculo.
A Cascata do Caracol descia em queda livre por mais de cento e trinta metros, um véu branco se desfazendo em espuma contra as rochas escuras. O arco-íris, tímido no meio da névoa, parecia nos receber. O grupo ficou em silêncio por instantes, como se precisasse absorver a grandiosidade. Beth levou a mão ao peito e suspirou que nenhuma foto faria justiça àquele cenário. Carolina disparava cliques sem parar, tentando capturar cada ângulo.
Silvana se aproximou de Douglas, e os dois ficaram lado a lado na beira do mirante, compartilhando um olhar que dizia mais que qualquer palavra. Karol, com os olhos brilhando, agarrou o braço de Alberto e sorriu largo, como quem se encantava tanto com a paisagem quanto com a companhia. Solange e Rafaela riam, competindo para ver quem conseguia gritar mais alto o próprio nome para ouvir o eco devolvido pela mata.
Ricardo permaneceu firme ao meu lado, o vento levantando discretamente seu cabelo. Quando a névoa da cascata alcançou nossos rostos, senti a mão dele buscar a minha em silêncio, um gesto pequeno, mas que me atravessou inteira. O frio parecia desaparecer diante daquele calor escondido entre nós.
Sr. Sebastião, com a calma de guia experiente, explicou que havia ali um mirante ainda mais próximo, e também a escadaria com setecentos degraus que levava até a base da queda. O grupo se animou, cada um escolhendo como explorar o lugar. Alguns se apressaram para a descida, outros preferiram ficar no alto admirando a vista. Eu apenas respirei fundo, guardando na memória aquele instante em que a natureza e o coração se confundiam.
Caminhamos até um ponto mais afastado do mirante, onde a mata parecia abrir uma pequena varanda natural. O som da cascata se tornava ainda mais intenso, e a névoa fria molhava levemente nossos rostos. Ficamos apenas nós dois ali, como se o tempo tivesse decidido nos dar aquele presente. Ricardo se virou para mim, os olhos escuros refletindo a espuma branca da queda, e sua voz grave rompeu o silêncio.
Disse que eu era a razão pela qual aquela viagem tinha sentido, que nenhum lugar, por mais belo que fosse, se comparava à força do que ele sentia quando estava ao meu lado. Confessou que muitas vezes tentava conter, mas que já não conseguia imaginar um mundo em que eu não fosse sua mulher. Senti a respiração acelerar, o coração disparado, e respondi do fundo da alma. Falei que ele tinha transformado cada pedaço da minha vida, que não era apenas meu guardião, mas meu homem, meu fogo, meu refúgio.
O beijo aconteceu como explosão. Nossas bocas se encontraram com a fome de quem já não sabe esperar, as mãos dele me puxaram pela cintura, e eu me perdi no calor daquele instante. Foram poucos minutos, intensos e urgentes, até o som de passos se aproximar pelo caminho de pedra. O grupo estava retornando.
Quando nos viram ali, juntos e afastados, as insinuações surgiram de imediato. Risadinhas abafadas, olhares debochados, perguntas maliciosas sobre o que fazíamos sozinhos. Antes que eu pudesse responder, Ricardo se adiantou, ereto e firme. Disse que estávamos contemplando a natureza, como qualquer um faria diante de um espetáculo daqueles. Mas não parou ali. Acrescentou que alguns momentos são tão grandiosos que merecem silêncio e respeito, e que talvez fosse isso que faltava a quem não soubesse apreciar.
O riso coletivo cessou de imediato. Ninguém ousou retrucar. Apenas trocaram olhares entre si e seguiram adiante, calados. Eu permaneci quieta, mas por dentro sentia a chama de orgulho e desejo se misturando. Ricardo não apenas me defendia, ele nos protegia, colocando cada coisa em seu lugar.
Ficamos ainda alguns minutos diante da cascata, deixando que o som das águas em queda se misturasse com o frio úmido que subia do vale. O grupo foi voltando devagar até a van, cada um em silêncio ou em pequenas conversas, como se cada passo fosse ainda parte daquele espetáculo da natureza.
Sr. Sebastião já nos esperava ao volante. Entramos um a um, ajeitando casacos e sacolas de lembranças, e logo seguimos estrada acima. Pela janela, as araucárias emolduravam o caminho, o nevoeiro ia se dissipando aos poucos, revelando campos verdes e casas em estilo alpino. A viagem não era longa, mas o trajeto tinha algo de mágico, como se a serra nos conduzisse de um cenário de pura natureza para um encontro com o espírito humano em sua expressão mais grandiosa.
Carolina não largava a câmera, registrando curvas da estrada e pequenos detalhes. Beth falava que ainda sentia o som da água ecoando dentro dela. Karol, encostada em Alberto, comentava que aquela serra tinha algo de espiritual, como se obrigasse cada um a rever seus próprios silêncios. Silvana e Douglas se entreolhavam discretamente, cúmplices no romance recém-assumido.
Quando a van se aproximou do centro de Canela, vimos ao longe a torre da Catedral de Pedra despontando contra o céu cinzento. A cada curva, ela crescia diante de nós, até que, ao estacionarmos na praça, sua imponência se revelou inteira.
Descemos da van e o vento frio nos envolveu. A praça estava florida, os canteiros bem cuidados contrastando com o tom escuro das pedras da catedral. Paramos instintivamente, todos ao mesmo tempo, como se precisássemos de alguns segundos apenas para contemplar. Aquele momento tinha peso de revelação.
Assim que a van parou diante da praça, um vento cortante atravessou a rua e fez com que todos encolhessem os ombros. O céu estava cinzento, o nevoeiro começava a descer pelas torres da Catedral de Pedra e a temperatura havia caído bruscamente. Assim que desci, senti o gelo me atingir de imediato. Meu casaco, elegante mas fino demais, não foi suficiente para conter o arrepio que percorreu meu corpo.
Ricardo percebeu antes mesmo que eu pedisse. Sem hesitar, retirou o casaco grosso que usava, aproximou-se e, com um gesto firme, o colocou sobre os meus ombros. O tecido ainda trazia o calor do corpo dele, um calor íntimo que me envolveu por inteiro. O gesto foi silencioso, mas intenso.
Todos ao redor notaram. Karol abriu um sorriso malicioso e lançou aquele olhar cúmplice que só ela sabia dar. Alberto riu baixo, disfarçando como quem entendia mais do que dizia. Beth e Rafaela trocaram olhares e suspiraram, como se assistissem a uma cena de filme. Carolina, de braços cruzados, ficou quieta, mas os olhos denunciaram o incômodo — o tipo de incômodo que nasce da mistura de inveja e desejo. Silvana, mais contida, sorriu discreta. Douglas, de mãos nos bolsos, apenas observou em silêncio, mas o brilho nos olhos deixava claro que também havia percebido a delicadeza do gesto. Solange e Roberto seguiram em frente, mas não sem antes lançar um olhar rápido de aprovação.
O frio que antes parecia insuportável desapareceu em segundos. O casaco de Ricardo era mais que um abrigo: era um gesto de cuidado, de posse silenciosa, de algo que nenhum comentário conseguiria apagar. Eu o encarei por um instante, e o sorriso breve que ele devolveu foi suficiente para dizer tudo o que não podia ser dito em voz alta.
Seguimos então em direção à Catedral. A imponência da fachada gótica parecia ainda maior envolta pelo nevoeiro. As pedras cinzentas se erguiam para o céu como guardiãs de um segredo eterno, e a torre alta cortava o ar frio com seu relógio imponente. Os vitrais vistos de fora já deixavam entrever manchas de cor, prometendo um espetáculo silencioso lá dentro.
As portas de madeira foram empurradas devagar, e um frio diferente nos envolveu — não apenas da pedra, mas da sacralidade. O som da rua ficou para trás, e o silêncio ecoou entre nós. Cada passo dentro da nave se transformava em um eco suave sobre o piso polido.
Karol se agarrou ao braço de Alberto e murmurou que parecia estar entrando em outro mundo. Beth andava devagar, os olhos voltados para o teto abobadado, como se buscasse respostas entre as curvas da arquitetura. Carolina permaneceu por instantes diante de um vitral, imóvel, e disse que aquilo a lembrava de sua infância. Rafaela suspirou fundo, tocando o peito como se a beleza a atravessasse. Silvana e Douglas trocaram um olhar que parecia selar ainda mais o romance recém-assumido. Solange fechou os olhos por um momento e fez uma prece silenciosa. Ricardo permaneceu ao meu lado, firme, mas o aperto suave de sua mão na minha dizia mais que mil palavras.
Eu mesma senti um nó na garganta. Sentei em um dos bancos da frente e deixei que a luz dos vitrais coloridos tocasse meu rosto. Era como se cada cor revelasse uma emoção guardada, lembrando-me de que, além da viagem, estávamos vivendo algo maior, um elo que nem o frio, nem os olhares, nem o silêncio poderiam apagar.
Sr. Sebastião, sempre atento, caminhava devagar à frente e com a voz calma começou a narrar a história da Catedral de Pedra. Explicou que sua construção em estilo gótico moderno havia começado em 1953, e que cada bloco de basalto extraído da região carregava o esforço de homens que moldaram não apenas uma igreja, mas um marco eterno de Canela. Contava que o sino maior, vindo da Itália, podia ser ouvido a quilômetros quando tocava em ocasiões especiais.
Apontou para os vitrais coloridos, obra de artistas uruguaios, que contavam passagens da vida de Cristo em tonalidades tão intensas que pareciam vivas quando a luz atravessava o vidro. Rafaela levantou o celular para fotografar, mas logo abaixou, como se tivesse se sentido pequena diante da grandeza que nenhum registro poderia traduzir.
Beth ficou em silêncio prolongado, os olhos fixos em um vitral onde Maria segurava o menino Jesus. Murmurou baixinho que se emocionava porque lembrava da mãe. Silvana, de mãos dadas com Douglas, sorria ao observar as cores refletindo no rosto dele, como se o momento fosse mais deles do que da própria Catedral.
Carolina permaneceu um pouco distante, mas os olhos marejados denunciavam que algo ali a tocava profundamente, embora tentasse disfarçar com os braços cruzados. Solange ajoelhou-se em um dos genuflexórios e fez uma oração em silêncio, os lábios se movendo levemente. Karol, sempre impulsiva, comentou em voz baixa com Alberto que sentia um arrepio bom, diferente, como se fosse lembrada de algo maior que todos. Ele apenas a abraçou pelos ombros e sorriu.
Ricardo não dizia nada. Apenas mantinha-se ao meu lado, firme, os olhos percorrendo o altar central e depois voltando para mim. Senti sua mão tocar discretamente a minha, escondida entre os bancos. Foi como se o calor dele me ligasse de volta ao mundo, lembrando-me de que, mesmo naquele espaço sagrado, o que havia entre nós também era sagrado à sua maneira.
Quando o guia encerrou a explicação, pediu que todos ficassem em silêncio por alguns minutos. O grupo se dispersou entre os bancos e corredores, e o som que restou foi apenas o leve tilintar de velas sendo acesas. Permaneci ali, em silêncio, respirando fundo, sentindo que aquele instante dentro da Catedral ficaria gravado em mim como um dos mais intensos da viagem.
Saímos da Catedral de Pedra ainda com o frio grudado no corpo. A van nos esperava com o motor aquecido e o Sr. Sebastião já ao volante. Entramos rindo baixo, trocando impressões sobre a imponência da igreja, os vitrais, a sensação quase mística que havíamos experimentado. A estrada até Gramado parecia mais iluminada, as fachadas coloniais ganhando vida sob os postes, vitrines acesas e o vaivém de turistas na Avenida das Hortênsias.
Foi então que a fachada iluminada do Galeto Mamma Mia apareceu, convidativa, com seu letreiro marcante e o aroma de forno escapando até a calçada. Descemos e fomos recebidos pelo calor interno, um contraste imediato com o frio que ainda nos acompanhava. O salão era amplo e acolhedor, com mesas cobertas por toalhas brancas, quadros coloniais nas paredes e uma luz quente que fazia cada detalhe parecer aconchego.
Nos acomodamos em uma grande mesa no centro, todos juntos. Garçons ágeis trouxeram cestas de pães fumegantes, polentas douradas crocantes, queijos artesanais e molhos caseiros. Logo chegaram o galeto assado, pele dourada e suculenta, o macarrão caseiro mergulhado em molho sugo fresco, e a polenta mole servida ainda borbulhando. O vinho da casa foi servido em taças que exalavam o perfume doce das uvas recém-colhidas.
Enquanto o grupo se distraía provando cada prato, eu deslizei minha mão por baixo da toalha até encontrar a dele. Ricardo já me esperava. Seus dedos se entrelaçaram aos meus com firmeza, aquecendo minha pele de um jeito que nada naquele jantar poderia igualar. Era um segredo só nosso, invisível a todos, protegido pela mesa, mas que me fazia sentir inteira, cúmplice, ligada a ele em silêncio.
As conversas seguiam animadas. Douglas elogiava o tempero, Silvana brincava dizendo que poderia viver só de polenta, Beth ria de como Carolina queria fotografar até o vinho antes de beber. Karol e Alberto brindavam de taça erguida. Mas nada me distraía daquele calor escondido entre nossas mãos.
Foi então que alguém comentou o gesto dele mais cedo, quando tirou o próprio casaco para me proteger do frio diante da Catedral. A mesa inteira concordou que gentilezas assim revelam mais do que mil palavras. Nesse momento, sem soltar a mão dele, ergui o rosto, chamei Ricardo para perto e lhe dei um beijo no rosto diante de todos. Agradeci em voz clara, dizendo que um gesto simples tinha poder de mudar um dia inteiro, e que eu jamais esqueceria.
Ele sorriu contido, os olhos brilhando sob a luz quente da sala, e apertou minha mão por baixo da mesa com ainda mais força. O grupo aplaudiu a cena, riu, fez comentários brincalhões, e logo todos voltaram ao galeto, ao vinho e às histórias. Mas eu sabia: naquele instante, em segredo, havia algo muito maior acontecendo sob a mesa do Galeto Mamma Mia.
O salão inteiro parecia respirar junto com a comida. O cheiro de uva fermentada do vinho misturava-se ao perfume da manteiga derretida sobre a polenta, ao molho de tomate fresco e às ervas que exalavam do galeto dourado. Era como se cada prato carregasse a alma da Serra Gaúcha.
Carolina foi a primeira a soltar um comentário, ainda com a câmera em mãos. Esse galeto é uma obra de arte, e olha que já tirei foto de muita comida na vida. Mas nada supera o sabor da carne macia, quase desmanchando na boca.
Beth completou rindo enquanto mergulhava um pedaço de pão no molho sugo. Se eu morasse aqui, teria que andar de bicicleta o dia inteiro para compensar. Esse molho é pecado em forma de comida.
Rafaela, sempre animada, ergueu a taça. Pecado nada, é bênção. Esse vinho artesanal parece que foi feito para acompanhar exatamente isso, doce no começo e quente no final.
Silvana olhou para Douglas, e os dois riram em cumplicidade antes de ela falar. A polenta crocante chega a estalar quando a gente morde, mas quando vem a mole, cremosa, parece um abraço quente. É como se a gente fosse criança outra vez.
Douglas, mais contido, comentou em voz baixa, mas com firmeza. O sabor é caseiro de verdade. Nada de cozinha de luxo ou de hotel. Aqui tem gosto de família.
Solange, exagerada como sempre, ergueu o garfo com um pedaço de galeto ainda pingando caldo. Se família fosse assim, eu já tinha casado com o cozinheiro.
As gargalhadas tomaram a mesa, e o garçom aproveitou para trazer mais uma rodada de massas. Karol não resistiu e enfiou o garfo no macarrão fumegante, girando-o antes de falar. Esse molho é tão fresco que parece que a nona italiana acabou de sair da cozinha.
Alberto completou, limpando os lábios com o guardanapo. E a gente agradece a nona em silêncio, porque isso não se come, se reverencia.
Ricardo, discreto, provou o vinho e comentou com simplicidade. Tem corpo, mas não pesa. É o tipo de vinho que acompanha, não que domina.
Eu não resisti e acrescentei. É isso. A comida aqui não disputa espaço, ela se soma. Cada prato conversa com o outro.
Os olhares se voltaram para mim, alguns riram, outros assentiram, e Ricardo apertou minha mão embaixo da mesa, como se aprovasse minhas palavras.
Carolina, sempre provocadora, não deixou passar. Tá vendo, até falando de comida ela solta poesia. Aposto que é o vinho, ou será que é o galeto.
Mais risos explodiram, e Beth completou com malícia. Não sei o que é, mas a Vi está mais inspirada que nunca.
Fingi não ouvir, levei a taça aos lábios e respirei fundo. O perfume do vinho, o sabor adocicado misturado ao tempero forte da carne, a manteiga escorrendo da polenta, tudo formava um cenário perfeito. O salão aquecido, as conversas, as gargalhadas e a cumplicidade tornavam aquele jantar inesquecível.
As travessas chegavam sem cessar. Primeiro o galeto dourado, suculento, pele crocante e carne macia. Depois as polentas fritas, que estalavam a cada mordida, seguidas da polenta mole servida fumegante em tigelas de barro. O macarrão caseiro, coberto com molho sugo fresco, exalava o perfume do tomate bem temperado com manjericão. O radicci com bacon equilibrava tudo com sua leve amargura tostada. O salão inteiro parecia um só corpo, envolto pelo cheiro de vinho, manteiga e ervas.
Carolina comentava animada, garfo em mãos. Esse galeto não é só comida, é herança. Dá pra sentir o tempero passando de geração em geração.
Beth mergulhava pedaços de pão no molho. É crime chamar isso de simples. Isso é melhor que qualquer restaurante chique que já pisei.
Rafaela, rindo alto, ergueu a taça de vinho artesanal. Aqui dieta não existe. Eu vou é brindar à polenta e ao macarrão, porque não existe casamento mais feliz.
Silvana, trocando olhares cúmplices com Douglas, acrescentou. Esse molho parece um abraço da nona. Não tem como parar de comer.
Douglas, mais sério, mas com brilho no olhar, completou. Caseiro de verdade. Não tem luxo, mas tem alma.
Solange não perdeu a chance. Se a nona fosse viva, eu casava com ela só pelo macarrão.
As gargalhadas encheram a mesa. O garçom, sorrindo, trouxe mais vinho e recolheu os pratos, abrindo espaço para o que todos esperavam.
As sobremesas chegaram em travessas simples, mas carregadas de memória. O pudim tremia delicado sob a calda de caramelo. O sagu com creme exalava o perfume doce da uva cozida lentamente, lembrando festas de interior. A ambrosia, dourada e macia, trazia o aroma de canela e leite condensado levemente queimado.
Karol suspirou ao provar o sagu. Isso é infância pura. Parece que voltei pra cozinha da minha avó.
Alberto, de olhos semicerrados, provava a ambrosia. Doce de verdade não precisa de mais nada. Só isso e um gole de vinho.
Beth gargalhou, com a colher de pudim já pela metade. Se minha avó tivesse feito pudim assim, eu teria ficado mais tempo na casa dela.
Ricardo, sereno, experimentou cada doce sem pressa, e comentou baixo. Simples, mas eterno. É assim que a gente lembra o sabor da vida.
A mesa inteira silenciou por um instante, absorvendo as palavras. Logo, as conversas voltaram em tom leve, entre risos e brindes. Aos poucos, a noite foi se encerrando. Do lado de fora, o frio de Gramado nos esperava, mas dentro de mim havia um calor que nenhuma lareira poderia reproduzir.
Quando as últimas colheradas de sagu e ambrosia foram saboreadas, o garçom recolheu as travessas e nos deixou apenas com o vinho na mesa. As conversas continuaram por alguns minutos, mas já era hora de encerrar. O salão da Galeteria Mamma Mia ainda estava cheio, mesas repletas de turistas sorrindo, mas nosso grupo se levantou em meio a risadas e casacos sendo ajeitados.
Do lado de fora, a van já nos esperava. O frio da serra cortava forte naquela hora da noite, e as luzes de Gramado davam um brilho acolhedor às ruas de pedra. Entramos um a um, ainda comentando sobre a fartura da janta, as piadas de Solange e a alegria contagiante de Beth. O cheiro de vinho e comida parecia acompanhar o grupo, como se ainda estivéssemos na mesa.
O trajeto até o Hotel Colline de France foi tranquilo. A van deslizava pela Avenida das Hortênsias, ladeada por pinheiros altos e vitrines iluminadas que piscavam com letreiros elegantes. Alguns já cochilavam nos bancos, embalados pelo balanço suave, enquanto outros ainda comentavam os detalhes do dia. Eu, encostada à janela, sentia Ricardo ao meu lado em silêncio, mas sua mão buscava a minha discretamente debaixo do cobertor que eu levava sobre as pernas.
Pouco depois das dez, a van parou em frente ao hotel. A fachada iluminada do Colline de France parecia ainda mais imponente naquela noite fria, lembrando um castelo europeu em miniatura. Subimos os degraus de pedra, e a maioria do grupo se despediu rapidamente, ansiosa pelo descanso.
Mas eu, Ricardo, Karol e Alberto ficamos um pouco mais, caminhando até o jardim lateral. Os bancos de ferro trabalhado, as luminárias douradas e o som da fonte criavam um cenário quase onírico. O ar era frio e perfumado pelas flores do jardim, um contraste perfeito para a conversa tranquila que se formou ali.
Karol suspirou primeiro, dizendo que aquele havia sido um dos dias mais bonitos da viagem, pela mistura de natureza, fé e boa comida. Alberto concordou, acrescentando que Canela tinha mexido com ele, principalmente o impacto da catedral ao entardecer. Eu fiquei em silêncio por alguns instantes, absorvendo o cenário, até sentir o olhar de Ricardo fixo em mim. O coração acelerou, mas era preciso disfarçar.
Foi Karol quem soltou a provocação suave. Ela comentou que aquele jardim tinha um ar romântico demais, perigoso para quem não quisesse ser descoberto. Alberto riu baixo, completando que, justamente por isso, precisávamos ter cuidado. Acrescentou que amigos de verdade servem também para proteger, mesmo que em silêncio.
A cumplicidade era evidente. Eu agradeci com um sorriso discreto, e Ricardo, com a voz baixa, também agradeceu, deixando escapar uma sinceridade que tocou a todos nós.
Foi então que Alberto, num tom descontraído, quebrou a serenidade com uma pergunta direta. O que rolou naquele momento em que vocês ficaram sozinhos na cachoeira? Karol, meio cúmplice, meio curiosa, o apoiou com o olhar, como quem também queria a resposta.
O frio pareceu mais intenso naquele instante, e o silêncio que se seguiu carregava mais peso que as palavras. Ricardo permaneceu sereno, mas não respondeu de imediato. Apenas respirou fundo, encarando-os em silêncio, como quem deixa a dúvida pairar de propósito.
Foi aí que, olhando para Karol e Alberto, resolvi falar a verdade. Contei em poucas palavras o que tinha acontecido na cachoeira, os olhares, a declaração e o beijo roubado pelo vento e pela força da água. O silêncio durou alguns segundos, até que ambos nos chamaram de loucos. Karol arregalou os olhos, repetindo que se alguém tivesse aparecido naquela hora, estaríamos perdidos. Alberto, meio sério, meio brincalhão, reforçou que estávamos brincando com fogo, e se alguém nos pegasse, não haveria explicação possível.
A tensão durou pouco. Bastou um olhar cruzado entre nós quatro para que o riso explodisse, primeiro contido, depois aberto. Gargalhamos como adolescentes que escondem um segredo proibido, cúmplices da mesma travessura. O jardim, iluminado apenas pelas lanternas douradas, parecia ainda mais cúmplice do nosso pacto silencioso.
Quando conseguimos respirar entre as risadas, Alberto falou que já era hora de recolhermos, antes que alguém notasse a ausência dos quatro juntos ali fora. Karol concordou, erguendo-se do banco e ajeitando o casaco, e todos entendemos que era melhor não dar mais na vista.
Nos despedimos ali mesmo, com olhares mais cúmplices que palavras. Eu segui para o meu quarto, passos firmes pelo corredor do hotel, mas o coração batia acelerado. Sabia que, pouco depois, Ricardo viria até mim. E a noite, mais uma vez, seria só nossa.
As batidas de leve na porta fizeram meu corpo estremecer. Eu sabia quem era. Quando abri, Ricardo entrou rápido, e antes que qualquer palavra fosse dita, puxei-o pela camisa e o trouxe para dentro. Fechei a porta sem olhar para trás.
Nossas bocas se colaram com urgência, línguas em duelo, respirações quentes se misturando. As mãos dele exploravam minha cintura, apertando firme, enquanto eu sentia o corpo dele já responder ao meu. Fui empurrada contra a parede, minha pele arrepiada ao toque frio, contrastando com o calor do beijo.
Subi as mãos até seu pescoço, puxando-o ainda mais para mim. Quando ele deslizou os lábios pelo meu pescoço, mordi os lábios para segurar o gemido. O cheiro dele, misturado ao perfume da noite, me dominava. Ricardo ergueu minha perna, encaixando-se entre minhas coxas. O atrito foi imediato, provocador, arrancando de mim um suspiro desesperado.
Tirei sua camisa com pressa, beijei o peito suado, mordisquei seus ombros. Ele me ergueu sem esforço, minhas pernas o envolveram e o senti me carregar até a cama. Caímos sobre os lençóis, meu corpo já ardendo, minha calcinha úmida denunciando a fome que eu tinha dele.
Beijei seus lábios novamente, mas desta vez fui descendo, explorando com a língua o peito, a barriga, até alcançar seu membro ereto. Segurei firme, passei a ponta da língua devagar pela extensão, saboreando cada pulsação. Ele gemeu rouco, as mãos apertando meus cabelos. Então o engoli por inteiro, sugando com força, alternando ritmo, sentindo-o vibrar na minha boca.
Ricardo gemeu alto, o corpo tenso, e isso só me fez intensificar, explorando-o como quem saboreia um vinho raro. Quando percebi que ele estava no limite, parei, subindo novamente para beijá-lo, deixando-o sentir meu gosto misturado ao dele.
Ele me virou de bruços na cama, puxando minha cintura para cima. Senti o roçar dele contra mim, quente, firme, provocador. A respiração dele vinha pesada sobre a minha nuca, o corpo colado ao meu, me prendendo inteira.
Quando me penetrou de uma vez, um gemido rasgado escapou da minha garganta. A sensação era profunda, ardente, como se cada centímetro abrisse caminho dentro de mim. O som das investidas preenchia o quarto — pele contra pele, respirações descompassadas, meu corpo se arqueando em resposta.
A cada estocada mais forte, minhas mãos se agarravam ao lençol, meus cabelos caíam pelo rosto, e eu gemia sem conseguir me conter. Ele me segurava pela cintura, firme, como se não fosse me deixar escapar jamais. A dorzinha inicial logo se transformou em prazer brutal, e eu empinava ainda mais, pedindo sem palavras que ele me tomasse com mais força.
Os gemidos graves dele se misturavam aos meus, ecoando na penumbra do quarto. Eu sentia o corpo tremer, as pernas vacilando, o orgasmo se formando como uma onda inevitável. Quando ele se inclinou sobre mim, beijando minha nuca e mordendo meu ombro enquanto continuava dentro de mim, perdi o controle. Gozei com intensidade, gritando seu nome, sentindo cada contração me consumir por dentro enquanto ele me preenchia.
Ele continuou, mais lento, deixando que meu corpo se desfizesse em espasmos, aproveitando cada reação. Me virei de lado, e ele não saiu de mim — apenas me encaixou de novo, mantendo o contato, como se não pudesse permitir que eu me afastasse nem por um instante.
Ele segurava meus quadris com mais firmeza, o corpo colado ao meu, o calor queimando entre nós. O ritmo era forte, contínuo, e cada investida fazia minha pele arrepiar. Eu me arqueava ainda mais, abrindo espaço, deixando-o entrar fundo, tomar tudo o que eu era naquele instante. A sensação de preenchimento era tamanha que meu corpo tremia a cada segundo, gemidos roucos escapando como música bruta da minha boca.
Quando achei que iria desmoronar, ele puxou meus cabelos para trás, me erguendo contra o peito dele. Eu me vi de joelhos, de costas para ele, sendo tomada inteira. Senti a respiração quente na curva do meu pescoço, o peito dele colado às minhas costas, as mãos dele dominando meus seios, apertando com fome. Eu não tinha como resistir. Minhas pernas já cediam, meu corpo implorava por mais.
Ele sussurrava rouco ao meu ouvido, palavras que eram ordens e promessas. Eu me contorcia, pedindo mais fundo, mais forte, e ele obedecia, cada estocada mais intensa que a anterior. O som de nossos corpos ecoava no quarto, misturado ao tilintar distante da janela com o vento da serra. Eu gozei de novo, sem controle, gritando, sentindo minhas pernas tremerem até quase me derrubar.
Ricardo não parou. Me virou de frente, deitando-me de costas sobre a cama. Abriu minhas pernas com firmeza, ainda dentro de mim, e começou um novo ritmo, mais lento e profundo. Ele olhava nos meus olhos enquanto me penetrava, e aquele olhar era como uma confissão silenciosa. Eu o puxava contra mim, unhas cravadas nos ombros, sentindo o suor escorrer entre nós, misturado ao calor da entrega.
Meu corpo já não distinguia dor de prazer, tudo era uma corrente elétrica atravessando cada parte de mim. Quando ele acelerou de novo, senti o mundo inteiro se dissolver, e o orgasmo veio brutal, longo, deixando-me arqueada e sem fôlego. Ele me acompanhou, gozo quente e intenso me preenchendo, enquanto nossos corpos colapsavam juntos sobre os lençóis revoltos.
Ainda suados, Ricardo não me deu tempo de descansar. Suas mãos firmes deslizaram pela minha cintura, me virando de bruços. A pressão dele em meu quadril me arrancou um gemido de antecipação. Eu já sabia o que viria, e meu corpo se abriu para recebê-lo sem resistência. O primeiro movimento foi fundo e preciso, trazendo aquele prazer intenso que só o anal nos dava, cheio, quente, dominador.
As estocadas vinham fortes, cadenciadas, fazendo o colchão ranger. Eu me agarrava aos lençóis, o corpo inteiro respondendo em ondas que misturavam prazer e desespero delicioso. A cada investida eu arqueava mais, pedindo sem palavras que ele fosse mais fundo. O som dos nossos corpos se chocando preenchia o quarto, gemidos meus se misturando ao ronco grave da respiração dele.
Quando acelerou, a sensação tomou conta de mim por inteiro, um prazer proibido e selvagem que me fez perder o controle. O orgasmo explodiu de forma violenta, arrancando de mim gritos abafados contra o travesseiro. Senti-o gozar logo depois, jorrando quente e intenso, segurando minha cintura com força enquanto se enterrava até o limite.
Caímos juntos, suados, exaustos, pele contra pele. O cheiro da nossa entrega impregnava o quarto. Ele me puxou contra o peito, beijando minha nuca devagar, num contraste com a brutalidade da paixão.
Caímos juntos, suados, exaustos, pele contra pele. O cheiro da nossa entrega impregnava o quarto. Ele me puxou contra o peito, beijando minha nuca devagar, e ali não havia mais pressa, só o aconchego quente de estarmos completos.
Ainda ofegante, quebrei o silêncio. Disse a ele que cada noite ao seu lado parecia um risco, mas um risco pelo qual eu estava disposta a pagar qualquer preço. Ele sorriu baixo, deslizando os dedos pelo meu cabelo, e respondeu que não tinha medo de mais nada quando estava comigo, que só temia me perder.
Acariciei o rosto dele e garanti que não iria a lugar algum, que já éramos parte um do outro. Por um instante ficamos apenas nos olhando, como se não precisássemos de mais palavras. Ele suspirou, encostou a testa na minha e murmurou que o amanhã poderia trazer o que fosse, porque aquela noite já tinha valido por uma vida inteira.
Sorri, beijei seus lábios com ternura e brinquei que ele precisava dormir, senão o guia nos arrastaria pela serra de olhos fechados. Ele riu, apertou-me ainda mais contra si e prometeu que acordaria antes de todos só para me ver dormir.
O quarto silenciou, nossos corpos enlaçados, e assim fomos cedendo ao sono. O frio da serra batia nas janelas, mas em nós só havia calor. O amanhã nos esperava, e nele uma nova história.

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Comentários


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satiko Comentou em 04/10/2025

Viviane-san nos envolve com sua narrativa, palavrar bem colocadas, os detalhes dos locais e paisagens, levando o nosso imaginário a compartilhar os locais visitados. E as delícias da cozinha gaucha.... ahhh... não tem como não ficar com água na boca. Narrativa leve, sensualidade e erotismo na medida, intensa, ousada. Parabéns,

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thadeu41 Comentou em 26/09/2025

Viviane você da aula de escrever. Com Sensualidade e leveza o erótico...... A descrição da cena de amor é explícita, intensa e bem ritmada. Você usa a linguagem da urgência, da fome e da entrega para fechar a noite em um clímax de paixão física que corresponde à tensão emocional acumulada ao longo do dia. É uma escolha ousada que garante um final de grande impacto.... Votadíssimo. Como Sempre Excelente Conto.

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farmaceutico- Comentou em 24/09/2025

Incrível como a escritora nos faz estar presente, como se estivéssemos vivenciando o momento




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Ficha do conto

Foto Perfil vivianebeatriz
vivianebeatriz

Nome do conto:
Sob o Frio de Gramado, o Calor do Segredo – Parte 3

Codigo do conto:
243111

Categoria:
Traição/Corno

Data da Publicação:
24/09/2025

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