Parte 2 – O Segredo do Nosso Pecado - O Peso da Escolha - Final



O amanhecer chegou silencioso. A claridade suave entrava pelas cortinas, mas em mim não havia paz. A noite tinha sido de pensamentos partidos, lembranças e feridas que ainda latejavam. Na cozinha, o cheiro do café fresco preenchia o ar, e eu já estava à mesa quando Helo apareceu.
Sentou-se comigo, e sem rodeios deixou escapar aquilo que guardara da noite anterior. Vi, o Ricardo não é aproveitador. Uma coisa eu não te falei ontem. Eu consegui arrancar dele a verdade. Ele está doidinho por você. Está apaixonado. Veja bem o que estou te confidenciando. Isso está em suas mãos.
As palavras dela foram um choque, mesmo depois de tudo. Havia dor, mas também havia ternura em sua voz. Respirei fundo e respondi com firmeza. Não se preocupe, minha cunhada, minha amiga, minha cúmplice. Eu já coloquei um fim nisso tudo. Vai doer, mas eu preciso disso. Não quero machucar o Rubens. Eu o amo.
Helo ficou em silêncio por um instante. Seus olhos se encheram de lágrimas, o olhar pesado de quem revive a própria história. Baixou a cabeça e murmurou. Sei muito bem o que você está passando. Você está sendo eu no passado.
Nesse exato momento ouvimos a porta se abrir. Era Ricardo. Ele entrou devagar, como quem sabe que não é bem-vindo, e parou ali, imóvel, esperando. Nossos olhares se cruzaram e, antes que ele dissesse qualquer coisa, soltei em voz firme. Pode esperar na área dos empregados, Ricardo. Se eu ou a Helo precisarmos dos seus serviços, te chamaremos.
Ele me olhou por alguns segundos, com um silêncio pesado, e respondeu apenas. Perfeitamente, dona Viviane.
Helo, ao meu lado, permaneceu calada. Eu a encarei como quem pergunta em silêncio se havia feito o certo. Ela devolveu o olhar, e depois de alguns segundos respondeu com a voz embargada. Você está se machucando muito, minha querida. Cuidado. Eu sei o que você está sentindo, mas não deixe isso mudar a sua personalidade. Você não é essa mulher que falou agora.

O domingo chegou com uma surpresa. Recebi a ligação de Rubens no meio da tarde. Sua voz era calorosa, familiar, trazendo de volta uma sensação de segurança que eu já não sabia se existia em mim. Ele disse que havia conseguido uma folga de 3 dias e voltaria naquela noite. Pediu que eu fosse buscá-lo no aeroporto.
Seu retorno me levantou. Meu coração se acalmou ao vê-lo passar pelo portão de desembarque, sorridente, com aquela energia serena que sempre me fazia sentir protegida. Durante aqueles 3 dias vivemos momentos maravilhosos. Passeios, conversas, risadas, até mesmo noites de amor. Tudo parecia perfeito.
Mas dentro de mim, algo ainda me corroía. O nome de Ricardo ecoava em silêncio. Por mais que eu tentasse, ele permanecia ali, como uma sombra que não me deixava em paz.
Em um momento mais íntimo, Rubens me olhou com seriedade. Vi, aconteceu algo que preciso saber?
Senti o sangue gelar. Uma culpa feroz me invadiu, como se ele tivesse lido minha alma. Respondi rápido, negando. Não, por que essa pergunta?
Rubens respirou fundo e disse que havia notado algo. Comentou que Ricardo estava sempre na ala dos empregados, distante, quando antes ficava mais por perto, como havíamos combinado desde o início.
Pensei rápido, me recompus e soltei a justificativa. Amor, sabe, às vezes precisamos manter os empregados no lugar deles, para não atrapalhar a nossa intimidade. Várias vezes eu queria te provocar e não podia, porque a presença dele não nos deixava à vontade.
Rubens me encarou em silêncio por alguns segundos, depois sorriu. Você está certa, meu amor. Se inclinou, me deu um beijo profundo e, em seguida, me carregou para o quarto. Foi como uma despedida antecipada, já que na manhã seguinte ele voltaria para a Europa para finalizar o projeto.
Foi muito bom. Mas apenas bom. Nada comparado à intensidade, ao fogo, à loucura que eu sentia com Ricardo. E ali, mais uma vez, mesmo deitada nos braços do homem que eu dizia amar, minha mente voava para outro.
Eu tinha que esquecer Ricardo. Eu precisava. E, ainda assim, me esforçando ao máximo, não conseguia.
Rubens embarcou de volta para a Europa logo cedo. Fiquei sozinha outra vez, com a casa silenciosa e minha mente pesada. Eu ainda sentia o calor do beijo dele na despedida, mas ao mesmo tempo carregava comigo o vazio que só aumentava.
No meio da tarde, meu celular tocou. Era Karol. Sua voz animada atravessou a linha. Disse que queria passar lá em casa para combinarmos um happy no nosso barzinho na sexta-feira e perguntou se eu toparia. Respondi que não precisava, que eu confirmaria sem problemas. Mas Karol insistiu. Disse que fazia questão de me ver pessoalmente.
Acabei aceitando. Pouco tempo depois, ao chegar em casa, encontrei Karol já me esperando na sala. Ela abriu um sorriso largo e me abraçou com a energia de sempre. Sentamos para conversar e, em meio às risadas, ela soltou a pergunta que me desarmou.
Cadê o Ricardo, aquele nosso Deus Grego protetor?
Olhei firme para ela, segurando a raiva que ainda me queimava por dentro, e respondi seca. No lugar dele. Na ala dos empregados.
Karol arregalou os olhos, surpresa, quase assustada. Perguntou se havia acontecido alguma coisa.
Respirei fundo e dei a mesma resposta que já havia dado a Rubens. Só que agora, coloquei o peso no papel de mulheres e amigas. Expliquei que, às vezes, precisávamos manter os empregados em seu espaço. Que havia momentos em que queríamos conversar coisas nossas, íntimas, segredos de mulher, e a presença dele sempre parecia nos privar disso.
Karol me encarou por alguns segundos, medindo minhas palavras. Depois soltou um suspiro carregado e comentou em tom meio irônico, meio sério. Nossa, amiga. Você mudou, hein.
As palavras dela ficaram ecoando em mim. Porque no fundo, eu sabia que tinha mudado. E não tinha mais volta.
A sexta-feira chegou. Logo cedo chamei Ricardo e comuniquei que naquela noite ele deveria estar pronto para me levar ao nosso barzinho de happy. Eu precisava me divertir um pouco com minhas amigas. Ele me olhou firme, com aquele tom seguro que sempre me desmontava por dentro, e respondeu que estaria à disposição. Perguntou se era só isso. Eu mantive a postura e disse que sim, que poderia se retirar.
Mal sabia eu que à noite me esperava uma surpresa, algo que não teria como evitar. Mais uma vez, seria obrigada a encarar meu destino. Aquele homem era a minha perdição.
Quando anoiteceu, me arrumei com cuidado. O espelho me devolvia uma imagem que eu mesma mal reconhecia: maquiagem impecável, sorriso ensaiado, mas um coração em guerra. Ricardo me levou até Karol, como sempre fazia, e seguimos juntas para o barzinho.
Ao chegarmos, a turma já nos esperava. Eu, Karol, Fernanda, Débora, Beth e Solange. O bar estava cheio, barulhento, cheio de energia. Logo na entrada, Karol, em seu jeito expansivo, segurou o braço de Ricardo e disse rindo que ele deveria sentar com a gente.
Minha reação foi imediata, enérgica, quase ríspida. Não, Karol. Ricardo não vai sentar conosco. Já reservei uma mesa para ele ficar à vontade e fazer seu trabalho sem distrações.
Karol me lançou um olhar duro, surpreso, quase ofendido. Sua voz saiu seca. Nossa, calei. Tudo bem. Obedeça a patroa, Ricardo.
Ricardo tentou me olhar, mas eu não cedi. Mantive o rosto impassível e repeti com frieza. Pode ir, Ricardo. Sabemos o caminho, faça o seu serviço.
Ele assentiu. Sim, senhora. E se afastou para a mesa que eu havia reservado.
Quando finalmente me sentei com as meninas, a ausência dele virou assunto na mesma hora. Todas perguntaram por Ricardo.
Mais uma vez tive que repetir a mesma justificativa que já havia dado a Rubens, a Karol, agora para todas elas. Expliquei que às vezes precisávamos colocar limites, manter empregados no seu lugar, para termos liberdade de conversar como quiséssemos.
O clima na mesa mudou. As meninas se entreolharam, e uma delas quebrou o silêncio. Nossa, Vi, aconteceu algo? Que mudança, hein, amiga. Tome cuidado. O que você está fazendo agora é exatamente o que sempre lutou contra. Você era mais humana. Agora parece um robô, automatizado.
As palavras ecoaram fundo. Bastaram para que, por um instante, a alegria da noite se apagasse.
Karol, com suas antenas sempre ligadas, olhou para a mesa de Ricardo e soltou em voz alta. Nossa, parece que ele arrumou companhia. E pelo jeito o papo está bom, até um sorrisinho ele deixou escapar.
As palavras dela me cortaram como faca. Um calor subiu pelo meu corpo, fiquei vermelha de raiva e as meninas notaram, caindo na risada às minhas custas. Engoli seco para não perder a compostura, mas o ciúme queimava por dentro. Levantei e fui em direção a ele.
Ricardo se ergueu ao me ver. Falei firme. Não aconteceu nada, Ricardo. Só não esqueça que está aqui a trabalho, não para namorar. Faça o serviço, que é bem pago.
Ele baixou os olhos e respondeu com calma. Desculpe, senhora, mas estou apenas conversando. E não tiro os olhos da senhora. Pode ficar tranquila, estou atento.
Minha raiva não cedeu. Risonho também, acrescentei, deixando escapar meu veneno.
A mulher ao lado dele me encarou surpresa e perguntou quem eu era para falar daquela forma. Respondi gelada. Sou a patroa dele. Ele é meu motorista e segurança. Então fique na sua. Ele te falou que está aqui para trabalhar?
Ela sorriu charmosa, pedindo desculpas a Ricardo, e soltou ainda mais veneno. Me desculpe, Rick, jamais poderia imaginar que ainda existissem patrões tão desumanos. Aqui está meu telefone. Assim que terminar o trabalho, me ligue. Adorei a conversa, podemos continuar em um ambiente mais reservado.
E, ao se levantar, completou como uma provocação final. Pronta, patroa, seu funcionário está à disposição.
Meu sangue ferveu. Voltei para a mesa com o coração em chamas. Mas antes que eu me recomposse, dei de cara com Evandro, um velho conhecido que sempre dera em cima de mim. Ele segurou meu braço, surpreso por me encontrar ali. Ricardo, ao fundo, já se erguia instintivamente para me proteger. Olhei para ele e cortei na hora. Fique sentado. Eu conheço o Evandro.
Levei-o até nossa mesa e o fiz sentar ao meu lado. As meninas logo se agitaram. Solange o reconheceu, já tivera um romance com ele, e pediu para trocar de lugar. Recusei, dizendo que queria conversar também. Beth, mais calma, cedeu seu assento para Solange.
O jogo estava armado. Eu deixei que Evandro me galanteasse, rindo das suas piadas, enquanto em silêncio buscava os olhos de Ricardo ao fundo. Cada vez que nossas vistas se cruzavam, meu peito ardia. Era meu troco, minha vingança, e mesmo assim a dor só aumentava.
A noite correu nesse vai e vem até que Evandro se atreveu a me roubar um beijo. Minhas amigas riram, mas eu me levantei indignada e soltei um tapa nele. Foi nesse instante que percebi Ricardo atrás de mim, firme, pronto como sempre, um anjo protetor que nunca me abandonava.
O clima pesou, todos intervieram. As meninas pediram que eu deixasse Ricardo ficar mais perto, para evitar que a situação descambasse. Concordei, ainda ofegante. Havia uma vaga na mesa depois que Evandro saiu, e sugeriram que Ricardo se sentasse ali, ao meu lado.
Foi meu ponto fraco. Depois de tanto tempo distante, tê-lo tão perto me desmontou por dentro. O perfume dele, o calor do corpo, a postura ereta. Minhas pernas amoleceram. Senti meu corpo reagir contra a minha vontade, a imaginação correndo solta, o desejo queimando.
A noite seguiu, mas eu já não conseguia mais prestar atenção em nada. Só conseguia pensar em Ricardo ao meu lado. A vontade de pular em seu colo e deixar que ele me carregasse para onde quisesse me consumia inteira.
A noite terminou tensa, mas também estranhamente alegre. Ricardo estava ali, sentado conosco, e só o fato de tê-lo tão perto já mudava tudo. As meninas se deliciavam com sua presença, fazendo brincadeiras, jogando olhares, enquanto eu me escondia atrás de uma máscara de serenidade. Por dentro, um vulcão.
Na hora de ir embora, Karol foi a primeira a ser levada para casa. Depois, restamos apenas eu e ele. O silêncio tomou conta do carro. Não havia uma palavra entre nós, apenas a tensão que enchia o espaço. Quando chegamos em casa, olhei para o relógio e soltei fria. Se quiser se divertir com aquela mulher, pode ir, Ricardo, está liberado por hoje.
Ele não hesitou. Não, senhora. Vou colocá-la em segurança e depois vou para meu quarto descansar. Amanhã será outro dia.
Dito isso, me deixou. Mas naquela noite, na solidão da minha cama, as lembranças se tornaram mais fortes do que eu. Revivi cada instante com ele. Sua boca em mim, suas mãos firmes, seu corpo me tomando como se fosse dono. O desejo latejava tanto que me perdi em mim mesma. Toquei meu corpo pensando no dele, gemendo baixinho, sentindo a ausência que mais parecia uma ferida. O prazer veio, mas com ele a dor, a culpa, a insônia. Rolei de um lado para o outro até que o amanhecer chegou.
Exausta, fui tomar meu café. Ricardo já estava em pé, em prontidão, com aquela postura firme que só me corroía mais. Quando terminei, ele se aproximou decidido. Dona Viviane, preciso conversar com a senhora.
Entregou-me um papel dobrado. Era sua carta de demissão. Dizia que não podia continuar, que seus serviços estavam deixando a desejar, que não conseguia mais me olhar sem sentir o peso do que havia acontecido.
O chão se abriu. A dor me atravessou como uma lâmina. O ar me faltou, comecei a perder os sentidos. Ricardo se apavorou, correu e me levou nos braços até o quarto. Quando abri os olhos, ele estava ali, cuidando de mim, sua mão sobre a minha, sua respiração acelerada.
Foi nesse instante que compreendi. Eu não tinha como fugir desse homem. Ele era meu abismo, mas também meu porto.
Pedi a carta de volta. Ele me entregou, confuso. Rasguei-a diante dele. Ele baixou a cabeça, sem entender. Coloquei minhas mãos em seu rosto, ergui-o e me atirei em seus braços. Nossa boca se encontrou em um beijo avassalador, faminto, sem volta.
O desejo nos engoliu. As roupas caíram depressa, como folhas secas levadas pelo vento. Ricardo me tomou de lado primeiro, me abrindo, preenchendo, invadindo como quem reclama o que já era seu. O prazer me atravessou tão fundo que perdi a noção do mundo.
Depois me virou de frente. Seus olhos nos meus eram um espelho da perdição. Cada investida era um choque de fogo, cada beijo uma confissão muda de tudo o que sentíamos. Segurei-o forte, gemendo em sua boca, pedindo mais sem precisar falar.
De costas, me entreguei ainda mais, arqueando, deixando-o entrar até não sobrar nada de mim que não fosse dele. Sua força me guiava, mas era minha própria vontade que o chamava, que o aceitava inteira.
Por fim, me sentei nele, cavalgando como quem se lança num abismo sem medo. Suas mãos na minha cintura, me erguendo e me puxando de volta, seu corpo inteiro pulsando dentro do meu. Eu me movia enlouquecida, gemendo alto, sem pudor, sem medo, perdida em sua intensidade.
Sua boca percorreu cada caminho meu. Língua, dentes, respiração, redesenhando minha pele, desnudando meus segredos. Ele me tomou por inteiro, em todos os lugares, até eu não ter mais resistência, até só restar o êxtase.
Foram horas assim. De lado, de frente, de costas, sentada nele. De todas as formas possíveis. Nosso quarto se transformou em templo, prisão, paraíso e inferno. O pecado e a redenção no mesmo instante.
E quando finalmente desabamos, exaustos e entrelaçados, não restava nada além do silêncio. Silêncio pesado, quente, eterno. Eu sabia que tinha voltado ao lugar de onde nunca deveria ter saído.
Ficamos ali, entrelaçados, apenas nos olhando. O silêncio pesava, e eu sabia que precisava falar. Comecei a abrir minha alma. Contei a ele sobre a dor que senti quando vi Helo voltar radiante, com aquele brilho nos olhos, as marcas no pescoço. Contei sobre a mordida em seu ombro, que me atravessou como uma lâmina. Disse que me fechei em sofrimento, ergui um muro, tratei-o como empregado, como se assim pudesse sufocar o que sentia.
Ele ouviu em silêncio, depois respirou fundo.
Dona Viviane, preciso te dizer a verdade. Carina, aquela moça que a senhora encontrou no meu apartamento, não era amante. Era minha irmã. Ela vem de tempos em tempos arrumar as coisas e pegar dinheiro para as compras. Mora com nossa tia no interior. Quando a senhora entrou daquele jeito, Carina ficou sem chão. Mais tarde me disse que nunca tinha se sentido tão humilhada.
Ele fez uma pausa, os olhos firmes.
E Helo… ela me colocou contra a parede. Me fez confessar. Eu não podia negar. Todas aquelas marcas que deixei nela não foram de carinho, foram de raiva. Eu acreditava que ela nunca mais me procuraria. Mas foi nesse momento que ela percebeu. Percebeu que, mesmo tocando o corpo dela, eu já não a desejava como antes. Ela viu que meu coração estava em outro lugar. Ela entendeu que eu amava você.
Meu coração disparava. Ele prosseguiu, a voz carregada.
No sítio, uma das noites em que estivemos juntos, Helo subiu até o meu quarto para conversar. Mas antes de entrar, ela escutou. Escutou seus gemidos, os meus, escutou a entrega inteira. E me disse depois que aquilo ficaria para sempre com ela, mas que um dia viria conversar contigo.
As lágrimas vieram. Toquei seu rosto. Então tudo sempre esteve diante de nós. Não havia como fugir.
Ele levou minha mão aos lábios e murmurou. Eu sou teu, dona Viviane. Mesmo que o mundo nos negue, eu sou teu.
O choque daquele dona queimou dentro de mim. Sem pensar, me lancei em seus braços. Nossos lábios se encontraram num beijo faminto. O desejo explodiu. O quarto se incendiou. Nos amamos com urgência, de lado, de frente, de costas, sobre ele. Sua boca percorreu cada caminho meu, sua língua me redesenhou inteira, me preenchendo em todos os lugares até eu perder o ar.
Foi só depois, exausta, ainda ofegante entre seus braços, que ergui seu rosto e falei firme. Nunca mais me chame de dona Viviane quando estivermos a sós. Isso morre aqui. A partir de hoje, para você, eu sou apenas Vi.
Ele sorriu com ternura, os olhos marejados, e respondeu baixinho. Vi. Só Vi. Para sempre Vi.
E me beijou de novo, repetindo meu nome contra meus lábios, como um mantra, como uma promessa.
Nossos corpos ainda queimavam, mas a fome não tinha fim. Quando nossos olhares se cruzaram novamente, a chama reacendeu mais forte. Ricardo me puxou para si, e em segundos já estávamos outra vez nos devorando, como se o mundo inteiro tivesse desaparecido.
Sua boca percorreu cada curva minha, cada segredo, redesenhando minha pele com a língua, incendiando lugares onde eu já não tinha defesa. Ele me tomou de lado, lento no início, profundo depois, cada movimento me arrancando gemidos que ecoavam pelo quarto. De frente, me prendeu pelos quadris, e nossos olhos não se desgrudaram enquanto eu me desfazia em prazer. De costas, arqueada, senti-o me possuir até não restar espaço para nada além dele.
Por fim, sentei em seu colo, cavalgando sua intensidade, conduzindo o ritmo como se fosse minha última dança. Suas mãos me seguravam firme, seus lábios me beijavam com devoção, e cada investida era um pacto selado no fogo do desejo.
Horas se passaram entre gemidos, sussurros, promessas. Amor e pecado se misturaram até não sabermos mais onde começava o corpo e onde terminava a alma.
Quando finalmente desabamos, exaustos e entrelaçados, fiquei ali, ouvindo sua respiração forte, sentindo o calor dele em mim. Um silêncio cheio de paz, de pertencimento, de certeza.
Me ergui devagar, as pernas bambas, o corpo ainda tremendo, e caminhei em direção à cozinha. A cada passo, sentia nele ainda dentro de mim, seu líquido quente escorrendo pelas minhas coxas como marca da nossa entrega.
O dia tinha sido maravilhoso. Nada, jamais, poderia apagar aquilo.
Naquele instante, eu sabia: estávamos condenados… e salvos.
Os dias voltaram a parecer normais, pelo menos aos olhos de quem nos observava. Eu retomava minhas rotinas, minhas obrigações, enquanto Ricardo seguia sempre por perto, firme como sombra e guardião. Cada vez que seu olhar encontrava o meu, eu sentia o coração disparar. Ele me protegia em cada gesto, fosse ao abrir uma porta, ao carregar algo pesado, ou apenas ao se manter atento a cada detalhe do meu redor. Mas o que só eu sabia era que, por trás daquela postura profissional, havia também carinho. Um carinho que me alcançava em toques sutis, em sorrisos roubados, em silêncios cúmplices.
Nosso segredo estava vivo, pulsando entre nós. Mas junto com o desejo havia a consciência de que precisávamos ser cuidadosos.
Uma tarde qualquer, já em casa, nos sentamos para conversar. O tom era sério, mas cheio de ternura.
Ricardo começou. Vi, precisamos ser mais discretos. As paredes têm ouvidos, e nem sempre conseguiremos controlar tudo. Não quero que ninguém suspeite, não quero que nada recaia sobre você.
Eu concordei. Você tem razão. A partir de agora, vamos ser mais cautelosos. E quando a vontade for forte demais, teremos nosso lugar. O seu apartamento. Lá poderemos ser nós mesmos, sem medo de olhares, sem medo de julgamentos.
Ele sorriu, aliviado, como se eu tivesse acabado de lhe dar o presente mais precioso. O apartamento seria nosso refúgio. Nosso santuário secreto, onde não precisaríamos esconder nada.
Aproximei-me dele, acariciei seu rosto e disse baixinho. Ali seremos livres, Ricardo. Ali eu serei só sua Vi, sem barreiras, sem disfarces.
Ele me puxou para seus braços, me abraçou forte, e naquele instante eu soube que, mesmo com o peso da culpa, nós tínhamos encontrado um caminho. Discreto, secreto, mas nosso.
E enquanto o mundo lá fora seguia acreditando que tudo estava normal, dentro de nós queimava um fogo que não se apagaria jamais.


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Comentários


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mans Comentou em 04/09/2025

Voce é de mais Vivi

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fernando1souza2 Comentou em 04/09/2025

Cada vez melhor!

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jmgaucho Comentou em 04/09/2025

Nossa que delícia de conto. Votado nos dois conto seu




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Ficha do conto

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vivianebeatriz

Nome do conto:
Parte 2 – O Segredo do Nosso Pecado - O Peso da Escolha - Final

Codigo do conto:
241641

Categoria:
Traição/Corno

Data da Publicação:
04/09/2025

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