Sob o Frio de Gramado, o Calor do Segredo = Parte 1



Como havíamos combinado que iríamos a Gramado, chegou o grande dia da viagem. Malas prontas, expectativa no ar e aquele brilho nos olhos que só quem ama viajar conhece. No aeroporto de Porto Alegre já estava à nossa espera o micro-ônibus reservado, motorista sorridente, tudo organizado até o dia do retorno. O caminho pela serra se abria diante de nós como uma promessa de beleza e encantos, e a cada curva o cenário parecia nos abraçar.
A primeira grande parada foi em Bento Gonçalves. O coração do Vale dos Vinhedos nos recebeu com suas colinas verdes cobertas por parreirais e aquele perfume doce que vinha da terra. Visitamos uma vinícola charmosa, onde as taças tilintaram em brindes cheios de riso e o vinho correu suave, aquecendo o corpo e a alma.
Seguimos então para Garibaldi, a terra das espumantes. Um brinde leve e festivo marcou a visita, enquanto as ruas tranquilas nos mostravam sua tradição italiana com fachadas antigas e cantinas cheias de histórias. Foi um sopro de leveza no meio do caminho, como se o tempo tivesse diminuído o ritmo só para que pudéssemos saborear cada instante.
Carlos Barbosa nos recebeu logo depois com sua simplicidade acolhedora. Foi ali que paramos para provar queijos artesanais, cada pedaço carregado de sabor, acompanhado por vinhos que pareciam feitos sob medida para o momento. As conversas ganharam ainda mais alegria, os risos se multiplicaram, e o cheiro forte do queijo fresco misturava-se com o da madeira das prateleiras e o calor suave da tarde.
A estrada seguiu nos levando até Canela, cidade vizinha de Gramado. A imponência da Catedral de Pedra foi o cartão de boas-vindas, erguida no centro como um poema em pedra e fé. Fizemos uma pausa rápida para apreciar a praça iluminada, e no ar já se sentia a antecipação do que estava por vir.
Finalmente, a chegada a Gramado. Hortênsias ladeavam as ruas, as luzes suaves davam ao lugar um ar europeu e acolhedor. O Hotel Colline de France parecia saído de um sonho, com sua arquitetura clássica e atmosfera refinada. Ao entrar, todos ficamos em silêncio por um instante, como se cada detalhe pedisse respeito. Era o cenário perfeito para dias que prometiam ser inesquecíveis, ainda mais com o Festival de Cinema transformando a cidade em um palco de glamour, arte e emoção.
A chegada ao Hotel Colline de France foi marcada por aquele silêncio que nasce quando a beleza surpreende. Os lustres reluziam com a luz dourada da tarde e o cheiro de flores frescas se misturava ao do café vindo discretamente da cozinha. Todos pareciam encantados com os detalhes da decoração, como se tivéssemos entrado em um palácio francês em pleno coração da serra gaúcha.
O check-in foi rápido, e logo vieram as chaves com a divisão dos quartos. Karol e Alberto, inseparáveis, ficaram juntos em uma suíte ampla, de frente para o jardim. Eu e Ricardo optamos por quartos separados, mas lado a lado, com portas vizinhas que pareciam guardar um segredo nosso. Carolina dividiu espaço com Beth, sempre cúmplices em suas conversas intermináveis. Rafaela ficou com Solange, uma dupla que transformava qualquer situação em risadas contagiantes. Silvana e Douglas completaram a sexta suíte, equilibrando o jeito sereno dela com o espírito expansivo dele. Roberto, por fim, ficou em um quarto só para si, privilégio que ele aceitou com um sorriso discreto, já que todos sabiam que gostava de seus momentos de recolhimento.
O corredor ganhou vida com as malas deslizando sobre o carpete, o abrir e fechar de portas, vozes misturadas em comentários e brincadeiras. Cada quarto, com sua decoração clássica e atmosfera intimista, parecia nos acolher de forma única. A sensação era de que Gramado nos oferecia não apenas hospedagem, mas um cenário perfeito para dias que ficariam gravados na memória.
Depois de nos instalarmos e tomarmos um banho demorado para aliviar o cansaço da estrada, combinamos que às vinte horas nos encontraríamos na sala de jantar do hotel. Eu ainda sentia o perfume suave do sabonete misturado ao cheiro das roupas recém-retiradas da mala, e aquela sensação de começar algo novo se espalhava pelo corpo. Desci alguns minutos antes para observar o ambiente, e encontrei um salão elegante, com mesas iluminadas por luz amarelada, toalhas impecavelmente brancas e arranjos discretos de flores.
Pouco a pouco, todos foram chegando. Karol surgiu de mãos dadas com Alberto, rindo de algo que só os dois sabiam. Ricardo apareceu logo depois, com o cabelo ainda úmido e um olhar que se demorou no meu por um instante antes de se dispersar para cumprimentar os demais. Beth e Carolina chegaram juntas, animadas como sempre, trazendo energia e comentários sobre o quarto delas. Rafaela e Solange já entraram rindo alto, atraindo olhares discretos de outros hóspedes. Silvana, sempre elegante, desceu com Douglas, equilibrando o jeito expansivo dele com a serenidade que parecia natural nela. Roberto foi o último, tranquilo, quase despercebido, mas completando a roda.
Sentamos em uma mesa comprida, que parecia ter sido preparada sob medida para nós. O garçom trouxe o cardápio e logo o vinho da serra gaúcha foi servido, enchendo as taças com um rubi profundo que brilhava à luz das velas. O jantar seguiu leve, com pratos que mesclavam a tradição europeia da casa com o toque brasileiro que não podia faltar. Entre risos, comentários sobre a viagem e planos para o dia seguinte, o tempo correu sem pressa.
Eu observava os detalhes: a maneira como Karol encostava a cabeça no ombro de Alberto, o jeito de Solange que fazia todos rirem, o silêncio confortável de Roberto, a atenção discreta de Ricardo sempre que nossos olhares se encontravam. Era o primeiro jantar de muitos que ainda viriam, e no fundo eu sabia que aquela noite não era apenas sobre comida ou descanso, mas sobre o início de algo que se tornaria inesquecível.
E no fundo eu sabia que aquela noite não era apenas sobre comida ou descanso, mas sobre o início de algo que se tornaria inesquecível.
As taças iam se enchendo e a conversa se espalhava como vinho derramado, leve e solta. Karol, como sempre, conduzia as provocações. Dizia que Alberto estava mais romântico do que nunca desde a viagem, e ele respondia com aquele sorriso tímido que só alimentava ainda mais as brincadeiras. Rafaela e Solange riam alto, lembrando histórias de viagens antigas, enquanto Douglas tentava se impor entre uma piada e outra, interrompido pela calma de Silvana, que sempre conseguia trazer um tom de equilíbrio à mesa.
Beth e Carolina disputavam atenção, cada uma com suas observações afiadas, arrancando risos e olhares curiosos. Ricardo, quieto, me lançava olhares que eu fingia não perceber, mas que queimavam em silêncio toda vez que nossas taças se encontravam no brinde. Roberto, discreto como sempre, observava tudo com aquele jeito de quem vê além das palavras, mas não entrega nada.
Foi então que percebi Carolina inquieta. Seus olhos não paravam de buscar uma mesa no canto do salão. Segui seu olhar e notei um homem sentado sozinho, elegante, que também não disfarçava quando voltava os olhos para nós. Era um olhar fixo, interessado, mas sem ser invasivo. Quando ela se inclinou para comentar algo com Beth, a curiosidade já havia se espalhado entre nós.
De repente, o garçom se aproximou carregando uma garrafa de vinho. Colocou-a sobre a mesa com discrição e disse que era um presente, oferecido por aquele homem. O silêncio caiu por um instante, e todos nós voltamos o olhar para ele. Carolina abaixou os olhos, mas o sorriso escapou.
O garçom completou: meu nome é..., sou fotógrafo. E foi só isso que bastou para acender ainda mais o clima de provocações ao redor da mesa.
Foi então que Carolina, em seu ímpeto tão característico, pediu ao garçom que perguntasse ao fotógrafo se ele não queria fazer companhia à nossa mesa. A frase caiu como uma pedra no silêncio. Todos nós olhamos para ela ao mesmo tempo, surpresos, mas quem teria coragem de contrariar? Depois de um gesto tão generoso, um vinho oferecido assim, qualquer recusa soaria como ingratidão.
Karol foi a primeira a quebrar o clima, rindo com ironia, como se já tivesse imaginado o que viria a seguir. Alberto balançou a cabeça, sem esconder o incômodo, enquanto Rafaela e Solange se entreolhavam maliciosas, já preparando os comentários que, mais tarde, certamente fariam ecoar gargalhadas. Beth fingia estar concentrada no guardanapo, mas o brilho nos olhos dela denunciava a curiosidade. Silvana mantinha aquela serenidade que não entregava nada, e Douglas parecia mais interessado em observar a reação geral do que em opinar. Roberto, fiel ao seu jeito discreto, apenas levantou uma sobrancelha e voltou a encarar a taça.
Eu, por dentro, senti um alívio. Nos últimos dias, Carolina vinha direcionando provocações insistentes para Ricardo, e isso estava me tirando do sério. Ver seu interesse se desviar para outro lado parecia abrir uma pequena fresta de paz, como se eu pudesse respirar. Mas também sabia que nada em nosso grupo passava sem consequências. O inesperado sempre surgia quando menos se esperava, e no fundo uma sensação inquietante começou a se instalar em mim.
O garçom fez o gesto com a cabeça e se afastou em direção à mesa do fotógrafo. O coração de Carolina já denunciava sua ansiedade, o olhar brilhava e o sorriso escapava como de uma adolescente em descoberta. Nós seguimos em silêncio, fingindo naturalidade, mas o ambiente já havia mudado. Eu sabia que a noite ainda guardava algo mais, e que talvez o pior ainda estivesse por vir.
O fotógrafo veio até nossa mesa com passos firmes, agradeceu a todos pela recepção e se apresentou de maneira educada, mas com aquele tom que já deixava transparecer autoconfiança. Disse que estava na cidade para cobrir o Festival de Cinema, e parecia orgulhoso disso. Puxou uma cadeira e sentou-se bem à minha frente, ao lado de Carolina, enquanto Solange ficou do outro lado, dividindo espaço com ele.
No instante em que o encarei, percebi de cara que não era o meu tipo. Tinha aquele jeito de galã conquistador, sorriso pronto, seguro demais de si, quase ensaiado. Era o tipo de homem que passa direto na minha vida, justamente por se mostrar meio atrevido, ousado na medida certa para incomodar. Ainda assim, sabia se enturmar. Em poucos minutos já estava conversando com todos, soltando comentários engraçados e conquistando risos fáceis.
Carolina parecia encantada, entregava-se à conversa como se não houvesse mais ninguém à mesa. Mas, enquanto falava com ela, eu percebia nitidamente que seus olhos sempre voltavam para mim. Um olhar direto, insistente, que não precisava de palavras. Karol percebeu também, e fez um sinal discreto, daqueles que só eu entendia, confirmando que não era impressão minha.
Do outro lado, eu via Ricardo com a expressão dura, a taça girando na mão e o silêncio se alongando. Não era difícil sentir o incômodo dele, havia um certo ciúme no ar, ainda que não confessado. Mas eu não dei bola, preferi manter a naturalidade, como se nada estivesse acontecendo, mesmo sabendo que aquela noite já não seria como havíamos planejado.
Foi então que ele largou, do nada, aquela frase que deixou todos em alerta. Disse que parecia que eu estava só ali, e logo emendou que já havia feito ensaios com várias personalidades, mas que estava encantado com a minha beleza e gostaria muito que eu marcasse uma hora para conversarmos sobre o assunto. A mesa quase pegou fogo. O silêncio inicial foi seguido por olhares rápidos, risadas nervosas e provocações sussurradas.
Fiquei ali olhando para ele, avaliando cada palavra, e percebi a malícia escondida no tom que usava. Respirei fundo, soltei uma resposta firme, quase irritada. Disse que era casada, que estava ali acompanhada do meu grupo de amigos, agradeci o elogio mas deixei claro que não fazia questão alguma de um ensaio fotográfico. As palavras saíram medidas, mas carregadas de recado.
Ricardo continuava quieto, ao meu lado, como uma sombra silenciosa que observava tudo. Foi nesse momento que o fotógrafo, forçando naturalidade, se voltou para ele e perguntou se não era meu namorado. Disse que desculpava o engano, porque pensou que fosse. Antes que eu pudesse responder, Carolina atravessou a conversa com seu jeito impulsivo. Olhando para todos, quase se divertindo com a situação, soltou em voz alta que ele não era meu namorado, mas sim o motorista da Vi, o guarda-costas, nosso guardião.
O fotógrafo ergueu as sobrancelhas com surpresa, deixando escapar um riso curto. Depois, provocou ainda mais ao comentar, alto o suficiente para todos ouvirem: um motorista aqui sentado com vocês?
Naquele instante, eu senti o ar da sala de jantar mudar, como se a tensão tivesse ganhado forma. Os olhos de Ricardo estavam fixos, e o clima entre todos ficou suspenso, esperando a próxima reação.
Foi aí que Ricardo, até então silencioso, se endireitou na cadeira e soltou firme, sem elevar o tom, mas deixando cada sílaba pesar. Me desculpe, senhor, se o senhor está incomodado com o motorista e guarda-costas sentado aqui com o senhor, pode voltar à sua mesa. Lá não vou incomodá-lo.
A mesa caiu em risos, e o clima que antes era tenso virou provocação coletiva. Karol foi a primeira a emendar, rindo alto, dizendo que Ricardo era muito mais do que motorista, era a pessoa que segurava a barra de todos nós quando ninguém mais tinha coragem. Alberto completou, dizendo que ele era praticamente o escudo do grupo, e que só quem já tinha vivido ao lado dele sabia o valor disso.
Beth não deixou passar e comentou que, se um dia alguém se metesse a besta com ela, preferia estar protegida por Ricardo do que por qualquer polícia. Carolina, mesmo sendo a causadora da confusão, tentou aliviar, dizendo que ele era nosso guardião e que já tinha salvo a pele dela em mais de uma situação. Rafaela e Solange, juntas como sempre, soltaram quase em coro que não trocariam a companhia dele por nenhum galã de hotel, arrancando gargalhadas.
Silvana, serena, disse que nem todo homem tinha a grandeza de sentar-se à mesa com dignidade e respeito, e Douglas logo completou que isso o tornava maior que muito doutor engravatado. Roberto, no seu jeito discreto, apenas levantou a taça e afirmou que Ricardo era de confiança absoluta, e que isso não se comprava.
Por último, olhei firme para o fotógrafo. Disse que talvez ele não estivesse acostumado, mas naquela mesa todos tinham lugar, porque amizade, lealdade e respeito não se medem por títulos ou profissões. E completei que, se ele não tinha entendido isso, talvez tivesse errado de grupo e de garrafa.
O silêncio foi imediato. O fotógrafo ficou sem jeito, pediu desculpas, mas o humor da mesa já havia mudado completamente. O riso coletivo, as provocações e a minha última palavra desmontaram qualquer pose que ele tivesse trazido consigo. Percebendo a força do ambiente que não o acolhia, ergueu-se em silêncio e voltou para sua mesa. De onde, no fundo, nunca deveria ter saído.
Assim que o fotógrafo retornou para sua mesa, Carolina largou alto, sem medir palavras. PQP, eu tenho o dedo torto, quando penso que vou me dar bem vem uma desgraça dessa. A mesa explodiu em gargalhadas. Ela completou dizendo que o homem não parava de olhá-la e que até tinha acreditado que a noite seria bem interessante, mas a figura decidiu investir em mim, querendo algo mais que fotos. O comentário foi o gatilho perfeito para uma onda de risos e provocações, cada um soltando a sua observação.
As piadas se multiplicaram, uns brincando com a sorte de Carolina, outros com o atrevimento do fotógrafo. O clima que antes havia ficado pesado agora se transformava em pura diversão, mas foi Ricardo quem, em tom sério, quebrou o riso coletivo. Pediu desculpas à mesa, dizendo que, no fim, tudo aquilo tinha acontecido por causa dele, por ser apenas motorista e guarda-costas. Acrescentou que infelizmente a sociedade ainda era hipócrita e que certas coisas nunca seriam vistas com naturalidade.
Aquela fala mexeu comigo. Eu não deixaria nenhuma dúvida. Olhei para todos e disse firme que ele não tinha culpa de nada, que não aceitaria que fosse diminuído perto de mim e que Ricardo sempre teria seu lugar ao meu lado, não importava o título que carregasse. O silêncio que se seguiu foi de respeito. Achei que seria a última palavra da noite.
Mas então Carolina, num gesto impulsivo, se levantou. Caminhou até Ricardo e, sem pedir licença, encostou-se e deixou um beijo no rosto dele, marcado pelo batom vermelho. Pediu desculpas pelo seu jeito e disse que a responsabilidade de tudo aquilo era dela, afinal, tinha sido ela quem havia exposto a profissão de Ricardo no meio da conversa.
Pronto, era o que ela queria, um meio de se aproximar de Ricardo. Aquilo me ferveu por dentro, mas tentei engolir o sentimento. Afinal, o fotógrafo havia sido provocativo demais comigo, quase uma cantada descarada, e eu tinha percebido os ciúmes de Ricardo. Preferi deixar passar. Parecia que a noite ainda prometia.
Logo após o beijo estalado de Carolina no rosto dele, todos caíram na gargalhada. Karol foi a primeira a soltar, dizendo que enfim tínhamos encontrado a nova vítima da Carolina, e que ela trocava de alvo como quem troca de taça de vinho. Alberto completou dizendo que Ricardo não fazia ideia do que estava prestes a enfrentar, e que talvez fosse melhor pedir reforços, arrancando mais risadas.
Rafaela, debochada como sempre, disse que pelo menos agora ela teria um “alvo fixo”, porque até então só mirava em todos os lados da mesa. Solange, sem perder a chance, emendou que Ricardo estava com cara de quem não sabia se corria, se ria ou se aceitava o beijo. Beth riu alto e disse que estava começando a acreditar que Carolina não tinha vindo para Gramado por causa do festival, mas sim para caçar.
Silvana, mais serena, comentou que a vida já era difícil demais, e que pelo menos Carolina sabia como temperar as noites com esse jeito intempestivo. Douglas não perdeu tempo e provocou que Ricardo devia estar sentindo-se num reality show, com todo mundo esperando sua reação. Roberto, no seu jeito seco, apenas levantou a taça e disse que aquilo ainda ia dar o que falar, e todos riram ainda mais.
Ricardo permanecia sério, o rubor no rosto marcado pelo batom, e eu, por dentro, sentia o fogo se espalhar em silêncio. A gargalhada coletiva não deixava dúvidas: Carolina havia encontrado uma nova vítima.
Já se aproximava das vinte e três horas quando Solange, sempre serena, trouxe todos de volta à realidade. Pessoal, amanhã o guia virá nos buscar às nove horas, acho melhor nos recolhermos. A mesa ainda estava tomada de risos e comentários sobre o episódio com o fotógrafo e as provocações de Carolina, mas a lembrança do horário caiu como um aviso necessário.
Karol foi a primeira a se levantar, puxando Alberto com aquele jeito decidido, dizendo que precisava descansar se quisesse aproveitar cada minuto do dia seguinte. Carolina fez piada, rindo de si mesma, e Beth respondeu no mesmo tom, as duas se despedindo entre risadas. Rafaela abraçou Solange, concordando que era melhor encerrar a noite, e Douglas ainda tentou emendar mais uma piada, arrancando risos finais antes de subir. Silvana agradeceu a todos pelo jantar e se despediu com sua calma habitual, enquanto Roberto foi o mais discreto, apenas levantou a taça pela última vez e seguiu pelo corredor.
Eu e Ricardo ficamos um instante a mais, recolhendo nossas coisas e trocando olhares silenciosos que não precisavam de palavras. Caminhamos juntos até o corredor do hotel, e as portas foram se fechando uma a uma, até que o silêncio tomou conta. Entrei no meu quarto com a certeza de que aquela noite ainda reverberaria em todos nós, e que o dia seguinte traria novos capítulos para a viagem.
Passaram-se trinta minutos desde que todos se recolheram. O corredor estava mergulhado em silêncio, iluminado apenas pelas luzes suaves que davam ao hotel um ar quase de segredo. Abri devagar a porta do meu quarto, olhei para os lados para ter certeza de que estava tudo livre, e caminhei até a porta de Ricardo. Bati duas vezes, o coração acelerado.
Ele abriu com um olhar preocupado, como se estivesse esperando por mim e ao mesmo tempo sem saber o que fazer. Entrei sem dizer nada, fechando a porta atrás de mim. O quarto estava com a penumbra acolhedora de uma única luz acesa, e o ar parecia mais denso, carregado de algo que eu não sabia definir.
Ricardo pediu que eu me sentasse, disse que precisava falar comigo. Obedeci em silêncio, sentindo um frio e um calor ao mesmo tempo, como se meu corpo não soubesse decidir entre arrepio e fogo. Ele não me deu um beijo, não tentou se aproximar. Pensei por um instante que iriamos brigar, e o silêncio me pesava como nunca.
Foi quando ele começou a falar. Sua voz baixa, quase um sussurro, mas cheia de peso. Pediu desculpas por ser apenas um motorista, um guardião. Disse que, no fim, tudo se resumia a isso, e que ele se sentia mal por me expor a comentários como os do fotógrafo.
Olhei fundo nos seus olhos, senti a dor escondida atrás daquela força que ele sempre mostrava. Então me ergui devagar, sem dizer uma palavra. Caminhei até ele, e quando nossos corpos se encontraram, me pendurei em seu pescoço e o beijei com voracidade. Ele reagiu com a mesma fome, mas quando sua língua encontrou a minha, mordi-a de leve, com carinho e provocação, deixando no ar o gosto de desejo e desafio.
Ao nos afastarmos do beijo, respirei fundo e falei firme, olhando diretamente nos seus olhos. Nunca mais diga isso. Você é o meu homem, e isso é o que mais importa em tudo.
Dito isso, começamos a rir, meio sem acreditar no peso da conversa e no quanto pensávamos iguais. Em uníssono, quase ao mesmo tempo, dissemos: você, hein, se aproveitou. Assim mesmo, rindo, jogando um no outro a mesma provocação. Foi nossa fala compartilhada, e mais uma vez caímos na gargalhada, como se aquele momento tivesse quebrado qualquer barreira.
Ele me olhou fundo e, ainda rindo, confessou. Pois é, os dois agindo como adolescentes com ciúmes. Cruzei os braços, fitando-o com malícia, e completei. Você sabe que sou ciumenta e demonstro sem pudor, mas você me surpreendeu, hein.
Não houve mais tempo para palavras. O silêncio seguinte foi devorado por um beijo alucinado, voraz, um choque de bocas que queimava e desafiava. Nossas línguas se encontraram com urgência, e quando a dele deslizou na minha, mordi-a de leve, com carinho e provocação, arrancando-lhe um gemido abafado.
As roupas foram se desfazendo como se não nos pertencessem, caindo ao chão uma a uma, deixando-nos nus diante da verdade que já não podia ser contida. O calor de sua pele contra a minha era eletricidade pura, e cada toque despertava em mim uma onda que crescia e se espalhava.
As mãos dele percorriam meu corpo com fome e devoção, gravando em memória cada curva, cada detalhe. Eu me entregava sem reservas, minhas unhas marcavam sua pele, puxavam-no mais fundo, mais perto, mais meu. O ritmo era frenético, alternando força e ternura, como se cada movimento fosse um diálogo entre amor e desejo.
Meu corpo tremia em espasmos, minhas pernas se fechavam ao redor dele como quem não aceita partida. A pressão, o calor, a pulsação dentro de mim me arrancavam gemidos que ecoavam no quarto silencioso do hotel, abafados só pela sua boca que me devorava.
O clímax veio como uma tempestade. Meu corpo explodiu em ondas, um arrepio que percorreu minha espinha e me deixou sem ar. Eu me arqueei inteira sob ele, gritando seu nome entre gemidos, sentindo cada contração me consumir. Ele veio junto, forte, profundo, entregando-se como nunca, seus gemidos graves ecoando com os meus, misturados, intensos.
Caímos exaustos sobre os lençóis revirados, pele contra pele, ainda ofegantes. Toquei seu rosto, beijei seus lábios suavemente, e disse em sussurro firme. Nunca mais diga que é apenas meu motorista. Você é o meu homem, e isso é tudo o que importa.
As palavras ainda estavam no ar quando a boca dele voltou a buscar a minha, e o beijo que se formou não era mais apenas desejo, era jura silenciosa. Senti a língua dele explorar a minha com firmeza, e respondi mordendo de leve, provocando o gemido grave que tanto me estremecia. Nossos corpos já se colavam quentes, e num instante as roupas se perderam pelo chão como se não existissem mais.
Deitada sob ele, senti o peso firme e protetor, o calor da pele roçando a minha até arrepiar. O toque das mãos dele percorria minhas curvas sem pressa, como se quisesse decorar cada pedaço de mim. Seus lábios desceram pelo meu pescoço, morderam meu ombro, e quando chegaram aos seios, a língua girava em círculos lentos, me fazendo arfar, gemer alto, perder o controle.
Segurei seus cabelos e o empurrei mais para baixo, implorando sem palavras. Ele entendeu. A boca dele me abriu em ondas, a língua percorrendo com precisão, firme e faminta, me deixando arqueada contra os lençóis, gemidos cada vez mais intensos escapando de mim sem que eu pudesse conter. Cada sucção, cada movimento me desmontava, até que o orgasmo veio como corrente elétrica, me sacudindo inteira.
Ofegante, puxei-o de volta para mim e inverti. Era minha vez. Desci pelo seu peito marcado, senti o gosto salgado da pele, o cheiro dele queimando minha memória. Segurei-o com as duas mãos e o envolvi com a boca, lenta no início, depois mais fundo, ouvindo os gemidos dele se tornarem graves e roucos. A cada movimento, ele me puxava pelos cabelos, me guiava com urgência, até que eu recuava só para provocar, olhando nos olhos dele com o sorriso malicioso que só ele entendia.
Ele me virou de repente, me tomou de quatro, e a entrega foi intensa, profunda, cada estocada ecoando no quarto em gemidos que se misturavam. Eu me perdi na sensação de ser possuída inteira, ao mesmo tempo em que sentia a mão firme dele segurando minha cintura, como quem nunca deixaria escapar.
Numa pausa, deitei de lado, e ele entrou por trás, lento, deslizando, cada movimento era poesia carnal. E quando senti o deslizar ousado, firme, me preenchendo por trás, um arrepio cortou meu corpo. A entrega anal começou lenta, respeitosa, mas logo se tornou intensa, e eu gemia mais alto, as unhas marcando o lençol, enquanto ele me dominava e me acariciava ao mesmo tempo.
Entre uma posição e outra, entre suor, beijos e mordidas, o tempo deixou de existir. Eu montava nele, cavalgo forte, os seios saltando contra o peito dele, e quando ele me segurava com força, invertia outra vez, me tomando inteira, me fazendo gritar em prazer absoluto.
O clímax chegou para nós dois como explosão. Eu sentia cada contração me consumir, e ele veio junto, profundo, gemendo no meu ouvido, a respiração quente queimando minha pele. Caímos sobre os lençóis revirados, pele contra pele, ainda ofegantes, os corpos grudados pelo suor e pelo amor que transbordava.
Toquei seu rosto, beijei seus lábios suavemente, e repeti em sussurro. Nunca mais se diminua. Você é meu homem, meu guardião, meu desejo, meu amor.
A madrugada já tinha se rendido ao silêncio quando, ainda abraçados, senti o peito dele vibrar com o som grave da voz. Ele estendeu o braço, pegou o telefone do criado-mudo e ligou para a recepção. Pediu em tom sereno, como se fosse rotina, que o acordassem às seis e meia em ponto.
Olhei para ele, surpresa, e um sorriso escapou dos meus lábios. Entendi na hora. Esse tempo seria o necessário para que eu voltasse ao meu quarto antes que alguém desconfiasse. Ele desligou, pousou o aparelho e me envolveu outra vez, firme e protetor, como se dissesse sem palavras que eu estava segura.
Adormeci aninhada em seus braços, ouvindo o ritmo forte e constante da respiração dele, sentindo cada batida como promessa. Pela primeira vez, não havia medo, apenas a certeza de que eu tinha passado a noite inteira dormindo com o meu homem.
Essa história não termina aqui.
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Ficha do conto

Foto Perfil vivianebeatriz
vivianebeatriz

Nome do conto:
Sob o Frio de Gramado, o Calor do Segredo = Parte 1

Codigo do conto:
242836

Categoria:
Traição/Corno

Data da Publicação:
20/09/2025

Quant.de Votos:
10

Quant.de Fotos:
4