Coração em pedaços

Cinco anos apenas…
um corpo pequeno, uma alma imensa,
presas em um quarto de hospital
onde o tempo corre devagar,
mas a dor não espera.

Na última visita,
enquanto eu lia a história de Moisés,
ele me olhou com a pureza dos anjos
e sussurrou com a voz que não me deixa dormir:
“Tia Vivi, o que eu fiz de errado para Deus me deixar aqui?
Eu só queria brincar com meus amiguinhos…”

Meu coração se partiu em silêncio,
meus olhos se encheram de mares,
e a vida nunca mais soou igual.

Hoje… hoje novamente é o dia.
Vou voltar a vê-lo,
levar histórias, sorrisos, talvez um carinho
na tentativa de cobrir com amor
aquilo que a medicina ainda não pode curar.

E dentro de mim, sei que voltarei despedaçada,
porque nenhuma força me prepara
para encarar a inocência pedindo explicação ao céu.

Ainda assim vou.
Vou porque a presença é bálsamo,
porque o abraço é oração,
porque até no sofrimento,
há uma centelha de esperança
quando alguém segura sua mão.

E enquanto tantos reclamam da vida,
eu sigo em silêncio,
com a lembrança daquele menininho
que só queria brincar…
e que me ensina, a cada visita,
o verdadeiro sentido de existir.