No Colo do Guardião



O fim de semana chegou com o convite de Karol. Ela queria que todos nós passássemos uns dias no sítio da família, afastado da cidade, rodeado de árvores, lago e silêncio. Para ela, seria um descanso. Para mim, era também uma oportunidade de ver Ricardo fora da rotina — e talvez, finalmente, em paz.
Chegamos em duas caminhonetes cheias de malas e risadas. Karol, animada como sempre, corria de um lado para o outro organizando tudo. Alberto a seguia, brincando, provocando, já tão colado nela que parecia parte da família. Eu observava e sorria, feliz pela química evidente entre eles.
Ricardo, como sempre, foi o último a se pronunciar. Carregava malas, organizava o espaço, verificava portas e janelas como quem ainda estava em serviço. Eu o observei, sentindo o coração apertar com a devoção silenciosa que ele carregava.
Foi no fim da tarde, quando o sol pintava o céu de dourado, que nos reunimos na varanda para tomar café. Karol e Alberto riam de algo bobo, e eu estava ao lado de Ricardo quando, de repente, Alberto se inclinou para frente, com um sorriso maroto.
“Vocês sabiam que esse homem aqui já me salvou mais vezes do que eu consigo contar? Não só fisicamente, mas também… como homem. Muita coisa que sei hoje, aprendi com ele.”
Todos olharam curiosos. Karol arregalou os olhos, pronta para cutucar.
“Como assim, Alberto? Conta!”
Ele riu, balançando a cabeça.
“Não posso entregar tudo. Mas vou dizer uma coisa: se hoje eu tenho disciplina, caráter e até controle sobre meus impulsos, foi porque o Ricardo não só me treinou em técnicas, mas também em como ser alguém melhor. Ele nunca falou isso, mas pra mim é mais que um mestre. É um irmão.”
Fiquei em silêncio, o peito cheio de emoção. Ricardo manteve a postura séria, mas percebi o desconforto pelo elogio público.
“Alberto exagera.”
Mas Alberto não deixou barato.
“Exagero nada. Você é o tipo de homem que não precisa se gabar. Mas quem te conhece de verdade sabe. E quem tem a sorte de ter você por perto… sabe o tesouro que carrega.”
Meus olhos marejaram sem que eu pudesse evitar. Era como se, pelas palavras de Alberto, eu finalmente enxergasse partes de Ricardo que ele nunca me revelara. Aquele homem ao meu lado era mais do que um protetor. Era um mestre, um guia, alguém que moldava vidas sem pedir nada em troca.
Karol, emocionada, suspirou.
“Pronto, agora fiquei com inveja. Por que eu não tive um Ricardão desses pra me ensinar também?”
A gargalhada geral quebrou o clima pesado, mas dentro de mim, algo já tinha mudado.
A fogueira queimava alta, iluminando o rosto de cada um de nós com tons dourados e avermelhados. O vinho passava de mão em mão, Karol ria de tudo e Alberto parecia cada vez mais à vontade. Ricardo, como sempre, mantinha-se quieto, apenas observando, mas eu sabia que por trás daquele silêncio havia muito mais.
Em certo momento, Alberto pousou a taça, olhou para a fogueira e depois para nós.
“Vocês sabem que esse homem aí já foi mais teimoso do que qualquer um de nós juntos?”
Karol arregalou os olhos, curiosa.
“Conta logo!”
Alberto riu, mas seu tom ficou mais sério.
“Quando éramos mais novos, eu lembro de uma vez que o mestre dele — o japonês que ensinava aquelas técnicas — pediu para Ricardo treinar sob chuva. Estava caindo o mundo, trovão, vento gelado. E eu, moleque bobo, pensei que ele ia desistir. Mas não. Ele ficou lá, sozinho, encharcado, repetindo o mesmo movimento até o corpo dele não responder mais. O mestre apareceu horas depois e disse que tinha sido um teste… e que pouquíssimos suportariam aquilo sem reclamar. Foi aí que ele conquistou o respeito definitivo do velho.”
A chama da fogueira estalou, como se confirmasse cada palavra.
Meu peito se apertou, um misto de admiração e dor. Imaginei aquele garoto, exausto, mas firme, sem arredar pé porque carregava dentro de si algo que ninguém podia ensinar: disciplina.
Karol respirou fundo, balançando a cabeça.
“Ricardão, você é de outro planeta. Nem ferrando que eu aguentava isso. Eu teria fugido na primeira gota de chuva.”
Ricardo se mexeu, enfim quebrando o silêncio.
“Não foi coragem. Foi necessidade. Eu sabia que, se desistisse naquele dia, nunca mais teria a chance de aprender com ele. E eu não podia perder aquela oportunidade.”
Alberto assentiu, olhando para mim e para Karol.
“É por isso que eu digo. Esse homem aqui nunca pediu nada de graça. Cada passo que deu foi com suor. E se hoje é quem é, é porque nunca aceitou atalhos.”
Fiquei sem palavras. Meus olhos buscaram os dele, e Ricardo me devolveu o olhar com a calma de sempre, como se nada daquilo fosse extraordinário. Mas para mim, era.
A noite seguia animada, com Karol e Alberto trocando provocações e risadas perto da fogueira. Eu, no entanto, não conseguia tirar os olhos de Ricardo. As palavras de Alberto ainda ecoavam na minha mente, e eu sentia que havia muito mais escondido por trás daquele silêncio dele.
Aproximei-me devagar, toquei de leve em sua mão e murmurei baixinho que precisava de ar. Ele apenas assentiu, levantou-se comigo e caminhamos até a beira do lago, onde a lua se refletia na superfície calma da água.
O barulho distante das gargalhadas dos dois se misturava ao som dos grilos. Ali, a solidão parecia criar um espaço só nosso.
Olhei para ele e perguntei se tudo aquilo que Alberto contou era mesmo verdade. Ricardo respirou fundo, manteve os olhos fixos no reflexo da lua e respondeu que sim, mas havia mais. Contou que, naquela noite de treino sob a chuva, não era apenas a disciplina que estava em jogo. O mestre queria ver se ele carregava dentro de si a paciência para suportar a dor e o silêncio. Disse que foi naquele dia que entendeu que sua vida sempre seria diferente da dos outros.
Engoli em seco, tomada pela emoção, e perguntei se ele nunca sentiu vontade de desistir de tudo. Ricardo virou o rosto para mim, e pela primeira vez naquela noite, sua expressão perdeu a rigidez. Ele confessou que muitas vezes pensou em largar tudo, mas que a ideia de proteger aqueles que amava era mais forte do que qualquer dor.
Eu senti um nó na garganta. Me aproximei, coloquei a mão em seu peito e senti o coração dele bater forte sob a palma da minha mão. Ele pegou minha outra mão e a segurou firme, como se me entregasse algo invisível.
Com a voz grave, disse que havia coisas que nem Alberto sabia. Revelou que o mestre não apenas o treinou, mas também o preparou para uma vida de sacrifícios. E que, no fundo, sempre carregou o medo de perder quem estivesse ao seu lado, porque sabia que sua existência estava ligada a perigos que outros jamais enfrentariam.
Meus olhos marejaram. Aproximei meu rosto e encostei minha testa na dele, sussurrando que ele não precisava carregar esse peso sozinho. Ricardo fechou os olhos e me puxou para um abraço forte, como se aquele gesto fosse a única resposta possível.
Ali, na beira do lago iluminado pela lua, percebi que o silêncio dele não era frieza. Era a forma que tinha de proteger, de guardar dentro de si os segredos que só agora ele começava a dividir comigo.
O abraço dele era firme, intenso, como se o mundo inteiro pudesse desmoronar ao redor e ainda assim ele não soltaria. Permanecemos assim por alguns segundos, ouvindo apenas o barulho da água e o crepitar distante da fogueira.
Afastei o rosto devagar e, olhando direto em seus olhos, soltei a pergunta que queimava dentro de mim.
Ricardo, me diga a verdade. Qual é o seu maior medo?
Ele ficou em silêncio, o olhar fixo no reflexo da lua sobre o lago. Respirei fundo, achando que ele não responderia. Mas, então, sua voz grave e baixa cortou o ar.
Meu maior medo não é perder uma luta, nem enfrentar a morte. Isso eu aceitei desde cedo. O que realmente me assusta é falhar com quem confia em mim. É ver alguém que eu amo sofrer porque eu não fui rápido o bastante, forte o bastante, presente o bastante.
Meu coração apertou. A sinceridade em suas palavras doeu fundo em mim. Toquei seu rosto, obrigando-o a me encarar.
Você nunca falhou comigo. Nunca.
Ele segurou minha mão contra o próprio rosto, fechando os olhos por um instante.
Você não entende, Viviane. Eu carrego esse medo todos os dias. Quando te vejo, quando te toco, quando penso em você. É como se uma parte de mim sempre estivesse em alerta, sabendo que, se algo te acontecesse, eu não me perdoaria jamais.
As lágrimas arderam em meus olhos. Inclinei-me e o beijei com ternura, mas também com a intensidade de quem queria arrancar de dentro dele qualquer sombra de dúvida. Nossos lábios se encontraram num gesto demorado, e quando nos afastamos, sussurrei contra sua boca.
Você não vai falhar. Não comigo.
Ele me abraçou de novo, mais forte que antes, como se quisesse me fundir ao próprio corpo. E ali, na beira do lago, entendi que por trás da postura firme e inabalável, Ricardo carregava um coração vulnerável, marcado pelo medo de perder aquilo que mais amava.
Eu ainda estava nos braços de Ricardo, sentindo o peso das palavras dele ecoando em meu peito, quando ouvi passos na grama e uma risada abafada. Soltei-o devagar, e quando olhei para trás, lá estavam Karol e Alberto, de mãos dadas, trazendo consigo o som da descontração da fogueira.
Karol colocou as mãos na cintura, fingindo ar de repreensão.
“Ahhh, pronto! Sabia que ia encontrar vocês dois escondidos. Já vi que não perdi nada, só mais uma cena de novela.”
Alberto riu, passando o braço pelos ombros dela.
“Eu falei, Karol, deixa eles respirarem. Mas você é curiosa demais.”
Ela se aproximou, estreitando os olhos como quem investigava.
“Então, me contem… estavam brigando, se declarando ou ensaiando um beijo proibido? Porque a cara dos dois tá denunciando tudo.”
Senti minhas bochechas queimarem, e Ricardo apenas arqueou uma sobrancelha, com aquele meio sorriso que só ele sabia dar.
“Karol, volta para a fogueira. Você já se meteu demais por hoje.”
Ela riu alto, cutucando Alberto.
“Viu só? Até você, Ricardão, tá mais leve agora. Quer saber? Eu vou aceitar a bronca porque sei que estou certa. Esse silêncio de vocês aí não é de discussão… é de reconciliação. Acertei?”
Não respondi. Apenas soltei uma risadinha nervosa, mas Karol levantou a taça que ainda segurava como se fosse um troféu.
“Pronto! Confirmado. Não preciso ouvir mais nada.”
Alberto completou, rindo.
“Vocês dois parecem adolescentes escondidos dos pais. Só faltou deixar bilhetinho embaixo da porta.”
A gargalhada geral quebrou o clima pesado de vez. Karol agarrou Alberto pelo braço e já foi puxando-o de volta para o calor da fogueira, mas antes de se afastar, piscou para mim e soltou em tom provocativo.
“Não se preocupem, eu vou guardar o segredo… por enquanto.”
Ricardo suspirou fundo, segurou minha mão e me puxou para caminharmos juntos de volta. No fundo, sabíamos que Karol não descansaria até brincar mais um pouco com o que tinha visto.
Ricardo foi o primeiro a se sentar na roda da fogueira. O fogo iluminava seu rosto sério, e mesmo no meio de um fim de semana de descanso, ele ainda exalava aquela imponência difícil de ignorar. Fiquei em pé diante dele, sentindo os olhos de Karol e Alberto em mim, curiosos.
Olhei firme para Ricardo e pedi baixinho que abrisse as pernas. Ele me encarou de lado, como se quisesse ter certeza do que eu estava fazendo, e em silêncio obedeceu. Sentei-me de costas, encaixando meu corpo entre os dele. O calor do seu abraço me envolveu imediatamente, e por um instante tudo ao redor desapareceu.
Karol arregalou os olhos, soltando uma gargalhada.
“Mas olha só! A Viviane não perdeu tempo. Achou logo o trono perfeito: no colo do Ricardão.”
Alberto riu junto, levantando a taça em direção a nós dois.
“Isso aí é jogar limpo. Quem tiver dúvidas, que olhe agora. Não tem como esconder mais nada.”
Eu sorri, ruborizada, mas não saí do lugar. Pelo contrário, apoiei minhas mãos nos braços de Ricardo, reforçando o gesto. Ele apertou minha cintura discretamente, e essa cumplicidade só me deixou mais arrepiada.
Karol, já mais atrevida pelo vinho, apontou para nós dois e disse.
“Se alguém aqui ainda tinha dúvida, pode esquecer. Vocês estão entregues e nem disfarçam mais. Eu sabia que ia ver essa cena algum dia.”
Ricardo manteve o rosto sereno, mas sua voz grave cortou o ar.
“O que eu e Viviane temos não precisa ser explicado. Só quem precisa saber, já sabe.”
Karol e Alberto trocaram olhares e caíram na risada. Ela se inclinou para frente, mordendo os lábios de curiosidade.
“Tá bom… mas me digam uma coisa. Estar aí, no abraço do Ricardão, é tão bom quanto parece, Viviane? Porque, se for, eu vou começar a ficar com inveja.”
A provocação arrancou mais risos de Alberto, que completou.
“Karol, cuidado. Você já tem o seu Ricardão versão aprendiz. Não vai querer confusão agora.”
Ela gargalhou, levantando a taça em um brinde improvisado.
“Tudo bem, tudo bem. Mas vou confessar… eu adoro ver vocês dois juntos. É como assistir a uma novela proibida, só que ao vivo.”
O fogo estalou alto, iluminando nossos rostos. Eu permaneci no abraço de Ricardo, sentindo que todos os segredos estavam ali, expostos na chama, mas guardados dentro de nós quatro.
A noite avançava, e a fogueira lançava suas chamas dançantes contra o céu estrelado. Karol, já com a taça na mão e o sorriso atrevido de sempre, se ergueu de repente.
“Ricardão, Alberto… por que vocês não mostram um pouco do que sabem? Seria sensacional ver uma luta entre vocês dois.”
Ricardo franziu o cenho, sério, e Alberto soltou uma risada curta.
“O que fazemos não é para demonstração, Karol. É arte, é disciplina. Não é espetáculo.”
Mas ela não recuou. Me olhou como quem buscava apoio.
“Fala você, Viviane. Não ia ser incrível ver com os próprios olhos o que esse homem sabe fazer?”
Suspirei, fitando Ricardo, e sorri.
“Concordo com a Karol. Uma vez só. Uma demonstração rápida. Vai ser só entre nós quatro, ninguém mais vai ver. Por favor.”
Ricardo me encarou, e depois olhou para Alberto. Ambos ficaram em silêncio por alguns segundos, até que Alberto arqueou a sobrancelha e disse em tom respeitoso.
“Se for para eles entenderem o valor do que a gente aprendeu… que seja.”
Ricardo assentiu.
“Então vamos.”
Nos levantamos e demos espaço para os dois. Karol e eu ficamos lado a lado, excitadas pela curiosidade, com os olhos brilhando diante da cena que se formava.
Ricardo e Alberto se posicionaram frente a frente na grama. Nada de agressividade, apenas foco. Eles inclinaram a cabeça em reverência, um gesto que arrepiou minha pele.
O primeiro movimento foi de Alberto: um avanço rápido com o braço direito, buscando o ombro de Ricardo. Ele girou suavemente o corpo, desviando sem esforço e redirecionando a energia do golpe, fazendo Alberto perder o centro de gravidade. Não houve força bruta, apenas precisão.
Alberto recuperou a postura e contra-atacou com um chute médio, mirando a lateral do tronco. Ricardo bloqueou com o antebraço, firme e seco, e no mesmo movimento deslizou a mão até o punho do amigo, controlando-o sem violência.
Karol arfou ao meu lado, encantada.
“Meu Deus… parece uma dança.”
Eles se afastaram por um instante e voltaram a se encarar. Alberto atacou com dois socos rápidos, mas Ricardo desviou de ambos apenas girando o quadril e mudando o peso do corpo. Na sequência, Ricardo avançou com um passo preciso, pegou o braço de Alberto e aplicou uma chave simples que o obrigou a flexionar o corpo para não sentir dor.
Alberto se libertou, girando em um contra-golpe, tentando surpreender. Mas Ricardo já estava um passo à frente. Em um movimento fluido, agarrou o punho do amigo com uma das mãos e, com a outra, segurou seu ombro, redirecionando toda a força de Alberto contra o próprio corpo. Bastou uma torção calculada para desequilibrá-lo e levá-lo ao chão.
Não houve violência. Apenas técnica.
Ricardo manteve Alberto imobilizado no chão, usando apenas o peso do corpo e um controle preciso dos pontos de apoio. Alberto bateu levemente no braço dele em sinal de rendição.
“Basta. O mestre venceu.”
Ricardo soltou-o imediatamente e o ajudou a se levantar. Os dois se cumprimentaram com outra reverência, um respeito mútuo que me arrepiou inteira.
Karol levou as mãos ao rosto, extasiada.
“Eu nunca vi nada igual… foi como assistir a algo sagrado.”
Eu não consegui responder. Estava em êxtase, com o coração disparado, encantada pela perfeição e pelo domínio que aquele homem tinha sobre si mesmo e sobre o outro. Não havia um gesto em falso, não havia força desnecessária. Apenas equilíbrio, foco e precisão.
Ricardo e Alberto voltaram a se sentar como se nada tivesse acontecido. Mas para mim e Karol, aquele momento nunca seria esquecido.
O silêncio depois da rendição de Alberto era quase solene. O fogo crepitava atrás de nós, mas parecia pequeno diante da intensidade do que tínhamos presenciado. Karol e eu trocamos um olhar arrepiado, ainda em êxtase.
Ela foi a primeira a quebrar o silêncio, quase implorando.
“Ricardão… você precisa me ensinar um dia. Nem que seja um movimento só. Eu quero sentir isso também.”
Ricardo sorriu de leve, negando com a cabeça.
“O que fazemos exige responsabilidade. Não é só técnica, é filosofia. Não serve para alimentar curiosidade, e sim para ser usado em último caso.”
Ainda com a respiração acelerada, soltei a pergunta que queimava dentro de mim.
“Ricardo, e aquele último golpe… a imobilização? O que exatamente você fez? E qual foi o erro do Alberto para sucumbir tão rápido?”
Ele me olhou com paciência, e sua voz grave soou quase como uma lição.
“O que apliquei foi um controle de articulação baseado no princípio do Kyusho. O erro de Alberto foi ter avançado com o peso projetado demais para frente. Isso abriu o centro de gravidade dele, e eu só precisei usar a energia que ele mesmo gerou contra ele. Não foi força. Foi precisão.”
Alberto, já de pé, ouviu cada palavra com atenção. Então, em um gesto de humildade, reverenciou Ricardo.
“É por isso que ele é o mestre. Eu ataquei com ímpeto, mas me esqueci do equilíbrio. E ele… como sempre, leu cada movimento meu antes mesmo que eu concluísse.”
Karol suspirou alto, teatral.
“Socorro… eu não sei se quero um homem desse pra lutar comigo ou pra me dominar de vez.”
Nós rimos, mas dentro de mim o que havia era muito mais que humor. Era uma admiração profunda, quase reverência. Ricardo não era apenas o homem que me fazia arder em segredo. Era um mestre, um guardião, alguém que carregava consigo um conhecimento ancestral que não podia ser medido por força física.
Eu me recostei contra o peito dele, ainda no colo onde tinha me acomodado antes, e senti seus braços me envolverem de novo. Ali, percebi que mais do que nunca, eu estava exatamente onde deveria estar.
Ainda ofegante pelo que havia assistido, Karol levou as mãos ao rosto e soltou um riso nervoso.
“Pronto. Agora não tenho mais dúvidas. Eu quero um Ricardão na minha vida também. Vi, divide um pedacinho comigo, só um treinozinho, vai.”
Alberto gargalhou, colocando a mão no peito fingindo indignação.
“Como assim, Karol? Eu estou aqui do seu lado e você pedindo o Ricardão emprestado? Tá me trocando na frente de todo mundo.”
Ela deu um tapinha brincalhão no braço dele, sorrindo com malícia.
“Ah, Alberto, não é isso… mas vamos ser sinceros. Você viu o que ele acabou de fazer? Parece que controla até o ar em volta. Quem não queria sentir uma demonstração dessas no corpo?”
Alberto fingiu ciúmes, cruzando os braços.
“Tá bom. Então a partir de hoje eu vou dobrar meu treino. Quem sabe daqui uns dez anos eu chego nesse nível.”
Ricardo apenas balançou a cabeça, com aquele meio sorriso que sempre escondia mais do que revelava.
“Não é questão de tempo. É questão de disciplina.”
Karol suspirou, teatral como sempre.
“Disciplina… é isso que falta pra mim. Mas olha, Vi, se eu tivesse um homem desse jeito ao meu lado, juro que até acordava cedo pra treinar.”
Eu ri e rebati com firmeza, provocando.
“Karol, se você tentasse, acabaria levando uma chave igual ao Alberto. E te garanto: não ia aguentar nem cinco segundos.”
Todos riram alto. Alberto aproveitou a deixa e piscou para Karol.
“Pois é, Karol. Acho melhor você ficar com o aprendiz aqui mesmo. O mestre já tem dona, e a dona é brava.”
Karol gargalhou, ergueu a taça e brindou.
“Tudo bem, tudo bem. Eu aceito o aprendiz. Mas que ele me faça sentir pelo menos um décimo do que o mestre sabe fazer.”
Alberto a puxou para perto e respondeu, com aquele jeito galanteador que arrancava suspiros até nas brincadeiras.
“Um décimo eu garanto. O resto, você vai ter que me ensinar.”
Ela riu alto, abraçada a ele, enquanto Ricardo apenas balançava a cabeça e eu me ajeitava ainda mais no colo dele, sentindo que naquela roda de fogo e provocações, tudo tinha o equilíbrio perfeito: a leveza de Karol, o charme de Alberto, a seriedade de Ricardo e o fogo que queimava entre nós.
A fogueira já tinha se transformado em brasas vivas, lançando fagulhas para o céu estrelado. O vinho circulava sem pressa, e a conversa se alternava entre risadas e silêncios carregados de cumplicidade.
De repente, Karol virou-se para Alberto, os olhos brilhando não só pela bebida, mas pelo desejo claro que não escondia mais. A voz dela saiu baixa, mas firme.
“Alberto, vou falar de uma vez… eu gosto de você. Não como brincadeira, mas de verdade. Você entrou na minha vida feito um furacão.”
Ele não hesitou. Segurou o rosto dela com as duas mãos e respondeu com intensidade.
“E você virou meu mundo de ponta-cabeça. Eu também quero você, Karol. Sem máscaras.”
Antes que pudéssemos reagir, os dois se beijaram. Não foi um selinho tímido, mas um beijo profundo, carregado de fogo, desejo e entrega. Os lábios se buscavam com fome, as mãos exploravam, e o calor da fogueira parecia aumentar em volta deles.
Senti meu peito subir em suspiros, e ao meu lado Ricardo também observava em silêncio, o olhar fixo, mas com um leve sorriso escondido.
Eu não aguentei. Olhei para ele e cochichei com humor.
“E não é que a menina conseguiu domar o aprendiz?”
Ricardo arqueou uma sobrancelha e completou, em tom grave.
“Pelo jeito o aprendiz também não resistiu ao charme dela.”
Nós dois rimos, e aproveitei para provocar ainda mais, em voz alta.
“Olha só, Karol, quem diria… você, a mais sem juízo de todas, virando mocinha apaixonada. Que cena rara de se ver.”
Ricardo entrou no jogo, firme, mas divertido.
“Alberto, cuidado. Essa mulher é mais perigosa que qualquer golpe que você vai aprender comigo. Se você sobreviver a ela, pode se considerar mestre também.”
Karol e Alberto se afastaram por um instante, rindo, mas os rostos ainda colados, sem conseguir disfarçar a chama que os unia. Karol nos encarou com as bochechas vermelhas.
“Ah, vocês que se cuidem. Porque agora o casalzinho aqui vai dar trabalho.”
Alberto completou, rindo com malícia.
“Parece que o trono de vocês dois vai ter concorrência. Estamos só começando.”
Eu e Ricardo nos entreolhamos, sorrimos cúmplices e brindamos nossas taças juntos. Pela primeira vez, a brincadeira não estava sobre nós. Era sobre eles. E assistir àquele romance nascer diante da fogueira, tão intenso e tão inesperado, era um espetáculo à parte.
O beijo deles ainda estava vivo na memória quando me inclinei para mais perto de Ricardo, olhando Karol e Alberto colados, trocando carícias sem o menor pudor. Eu soltei a primeira provocação, rindo.
“Ricardo, você acha que precisamos arrumar colchões extras? Porque pelo jeito essa noite vai ser longa para esses dois.”
Ele apertou minha cintura, cúmplice, e respondeu com a voz grave e calma.
“Melhor deixar a chave do quarto trancada. Senão corremos o risco de ouvir coisas que ninguém deveria.”
Karol fingiu indignação, mas o sorriso a entregava.
“Ei! Vocês dois não prestam. Não estão vendo que é amor verdadeiro?”
Alberto gargalhou, piscando para Ricardo.
“Deixa, Karol. Eles estão com ciúmes porque agora não são mais o único casal em destaque. A fogueira tem espaço para duas histórias ao mesmo tempo.”
Eu ergui a taça e brindei em direção a eles.
“Duas histórias? Não sei… mas energia para duas noites inteiras eu acho que vocês vão precisar. E olha, Karol, por favor, tenta não acordar a gente com seus gritos, está bem?”
Ricardo entrou no jogo, olhando firme para Alberto.
“E você, meu amigo, prepare-se. Dominar a Karol é mais difícil do que enfrentar qualquer imobilização que já praticamos. Espero que esteja pronto para uma luta sem regras.”
Todos riram alto. Karol escondeu o rosto nas mãos, mas seus ombros tremiam de tanto rir. Alberto, cheio de marra, a puxou para junto de si.
“Deixa eles. Se eles soubessem a química que eu estou sentindo agora, ficariam calados. Essa noite promete.”
Soltei uma gargalhada e olhei para Ricardo.
“Pronto, está dito. Pelo jeito, essa fogueira ainda vai queimar muito mais forte até o sol nascer.”
Ele me beijou no topo da cabeça, com aquele gesto protetor e íntimo, e acrescentou.
“Então vamos aproveitar. Porque pelo clima, ninguém aqui vai esquecer dessa noite.”
A chama crepitava, iluminando nossos rostos com um brilho dourado, enquanto o riso e as provocações continuavam. Não éramos apenas quatro amigos em um sítio. Éramos dois casais, cada um incendiado por sua própria chama, vivendo uma noite que prometia ecoar por muito tempo.
Karol ergueu a taça, os olhos faiscando de malícia. O sorriso dela denunciava que vinha bomba.
“Tá bom, chega de vocês dois rindo da minha cara. Agora é minha vez. Porque, vamos ser sinceros, se essa fogueira falasse… tenho certeza de que contaria histórias muito mais picantes sobre o casalzinho aqui atrás do ar sério do Ricardão.”
Eu arregalei os olhos, surpresa com a ousadia, mas Ricardo apenas arqueou a sobrancelha, imponente, como se aceitasse o desafio.
Alberto entrou no jogo, rindo alto.
“Eita, Karol… agora você cutucou onça com vara curta. Vai sobrar pra você.”
Karol não recuou. Mordeu o lábio e completou.
“Viviane, fala a verdade… você acha mesmo que engana alguém? Esse brilho nos seus olhos quando ele fala, esse jeito de se apoiar no peito dele… todo mundo percebe. E se eu tivesse que apostar, diria que vocês dois já incendiaram muito mais do que essa fogueira.”
Meu rosto queimou, mas não de vergonha — de ciúmes e desejo ao mesmo tempo. Ricardo, sentindo meu corpo retesar contra o dele, deslizou a mão firme pela minha cintura e respondeu com sua voz grave, serena e definitiva.
“O que eu e Viviane temos é nosso. Só nosso. Quem precisa saber, já sabe. Quem não precisa… que imagine.”
O silêncio durou apenas alguns segundos antes de ser engolido por gargalhadas. Karol levou as mãos ao rosto, chocada com a firmeza da resposta, e então caiu na risada.
“Pronto! Tá aí. Não precisa falar mais nada. Esse homem acabou comigo.”
Alberto, fingindo ciúmes, a puxou para si.
“É, Karol… melhor você se preocupar com a luta que vai ter daqui a pouco comigo, porque o mestre aqui já mostrou que não perde pra ninguém.”
Ela riu, escondendo o rosto no pescoço dele, enquanto eu, ainda colada a Ricardo, deixava escapar uma risadinha nervosa. Por dentro, porém, cada palavra dele ainda vibrava no meu corpo.
As brasas da fogueira já ardiam baixas, lançando um brilho avermelhado que iluminava apenas nossos rostos. O silêncio se misturava às risadas espaçadas, até que Karol se espreguiçou no colo de Alberto e disse com um sorrisinho maroto.
“Chega de provocação por hoje. Se eu ficar mais tempo aqui, alguém vai ter que me carregar.”
Alberto se ergueu primeiro, ajudando-a a levantar. O jeito como a segurava denunciava que ela já não queria se soltar. Ele olhou para nós dois e, sem cerimônia, declarou.
“Vou levar essa aqui pro quarto. Pelo jeito, a noite dela vai ser tão longa quanto a de vocês dois.”
Karol riu alto, sem vergonha alguma, e completou.
“Se preparem, meus amores. Hoje cada casal vai escrever o seu próprio capítulo.”
Eu e Ricardo apenas sorrimos. Observamos os dois se afastando de mãos dadas, até sumirem dentro da casa principal do sítio. O clima entre eles era tão natural, tão incendiado, que arrancou um suspiro meu. Ricardo, percebendo, me abraçou ainda mais firme pela cintura.

Seguimos então para o recanto, afastado, nosso lugar reservado dentro do sítio. Assim que a porta se fechou atrás de nós, Ricardo me puxou com força contra o peito, e nossos lábios se encontraram num beijo carregado de tudo que havia ficado preso durante a noite.
Eu senti meu corpo incendiar sob o dele. Cada carícia era ao mesmo tempo selvagem e terna, como se ele quisesse me dominar e ao mesmo tempo me reverenciar. Fomos nos despindo entre beijos e risadas abafadas, até que não restasse nada além de pele contra pele.
Na cama, a entrega foi total. Ele marcou meu corpo com seu desejo: na boca, nos seios, na pele inteira, até me preencher completamente. Houve selvageria nos movimentos, mas também um romantismo profundo, como se cada gesto fosse uma declaração silenciosa de devoção. Quando ele tomou meu corpo por inteiro, inclusive pelo caminho mais proibido, senti-me levada a um lugar onde não existia mais nada além de nós dois.
O prazer me arrancou suspiros, gemidos e lágrimas, até que por fim me desfiz em seus braços. Ele, tomado pelo mesmo incêndio, derramou-se em mim, deixando sua marca em cada parte do meu corpo.
Caímos exaustos, mas ainda entrelaçados. Apoiei a cabeça em seu peito, ouvindo as batidas fortes de seu coração, e enrosquei uma perna por cima da dele. Foi assim que adormeci, sentindo-me completa, segura, e amada de uma forma que só Ricardo podia me dar.

O Sítio da Família (A Manhã Seguinte)
O sol da manhã entrava preguiçoso pelas frestas da cortina, misturando-se ao cheiro da madeira e do café fresco que vinha da cozinha. Eu despertei nos braços de Ricardo, ainda enroscada nele, a cabeça sobre seu peito, a perna jogada por cima da dele. Ele dormia profundamente, mas o semblante era sereno, como se a noite anterior tivesse apagado qualquer sombra de tensão.
Levantei-me devagar, vesti uma roupa simples e fui até a cozinha. Karol já estava lá, descalça, cabelo desgrenhado, com aquele sorriso malandro que denunciava mais do que qualquer palavra. Alberto apareceu logo atrás dela, exibindo uma tranquilidade satisfeita que arrancou de mim um arqueamento de sobrancelhas.
Karol foi a primeira a provocar.
“Dormiu bem, irmãzinha? Porque eu… digamos que tive uma noite inesquecível.”
Alberto apenas riu, servindo-se de café, mas o olhar que lançou a ela dizia tudo.
Ricardo entrou pouco depois, já de banho tomado, impecável como sempre. Sentou-se ao meu lado, pousando uma mão firme sobre minha perna, e eu aproveitei para soltar a farpa.
“Olha, vou confessar uma coisa. Em determinado momento da noite, os sons vindo do quarto de vocês estavam tão fortes que quase atrapalharam a minha noite com o Ricardo.”
A cozinha explodiu em risadas. Karol se jogou contra o balcão, fingindo vergonha, mas com as bochechas coradas.
“Não acredito que você ouviu! Ai meu Deus, que vergonha.”
Alberto, em vez de disfarçar, ergueu a xícara num brinde improvisado.
“Se o som chegou até vocês, é porque a sintonia foi verdadeira. Não vou pedir desculpas por isso.”
Ricardo soltou uma gargalhada curta, rara, mas que deixou todos surpresos.
“É… pelo jeito, o aprendiz está aprendendo rápido demais.”
Eu caí na risada junto, e até Karol não resistiu, escondendo o rosto nas mãos.
“Vocês dois não prestam. Mas quer saber? Valeu cada segundo.”
A mesa se encheu de humor, provocações e olhares cúmplices. O clima era leve, quase familiar, mas com aquela chama secreta que só nós quatro sabíamos interpretar.
A mesa estava posta com pães ainda quentes, frutas e o café forte que exalava pelo ambiente. Karol não parava quieta na cadeira, rindo sozinha, mordendo os lábios, como se a lembrança da noite anterior estivesse latejando nela. Eu já sabia que, mais cedo ou mais tarde, ela iria abrir a boca.
Entre uma colherada de iogurte e outra, ela disparou.
Eu vou falar porque não consigo guardar nada. Ontem à noite foi insano. Eu não imaginava que o Alberto fosse assim.
Alberto tossiu de propósito, fingindo desconforto.
Karol, não exagera. Eles não precisam saber de tudo.
Ela se inclinou para frente, olhos brilhando.
Preciso sim. Porque, olha, se vocês acham o Ricardão intenso, vou dizer que o aprendiz não ficou atrás. Acho que nunca tinha sentido tanta energia de alguém que parecia querer me devorar inteira e ao mesmo tempo me proteger.
Ricardo tomou um gole de café em silêncio, mas eu percebi o leve sorriso surgir no canto dos lábios. Eu não resisti e soltei, provocando.
Karol, cuidado para não queimar a largada. O aprendiz pode estar inspirado agora, mas o mestre continua sendo único.
Karol arregalou os olhos, quase engasgando de tanto rir.
Ahhh, pronto! Então é disputa? Porque se for, eu já tô preparada para defender meu aprendiz com unhas e dentes.
Alberto ergueu a mão, como quem pedia calma.
Não preciso de defesa. Só preciso continuar aprendendo. E se tem alguém que pode confirmar se a aula foi boa, é ela.
Karol suspirou alto, encostando-se na cadeira.
Confirmo. E como. Ainda tô com as pernas bambas.
A mesa caiu em gargalhadas. Até eu não consegui segurar e deixei escapar um riso alto, enquanto Ricardo balançava a cabeça, sério apenas na aparência. Ele me apertou a coxa discretamente sob a mesa, e esse gesto silencioso foi mais do que uma resposta a todas as provocações.
Karol, ainda vermelha, se inclinou para mim e cochichou alto o bastante para todos ouvirem.
Vi, você que lute, porque acho que a leoa vai ter concorrência na hora de manter o aprendiz sob controle.
Eu encarei Ricardo e soltei outra provocação.
O mestre já é meu. Se ela quiser brincar de domar o aprendiz, que tente. Mas eu garanto que não vai ser fácil.
Todos riram ainda mais, e Alberto piscou para mim como quem aceitava o desafio em silêncio. O clima era leve, divertido e cheio de segredos não ditos, como se a mesa fosse cúmplice das nossas histórias.
O café já estava quase no fim quando Karol apoiou o queixo nas mãos, me olhando fixamente com aquele sorriso maroto que eu conhecia bem. Ela não resistiu.
Vi, agora sou eu quem pergunta. Como é estar com o Ricardão? Quero detalhes, não enrola. Porque olha, só de ver a maneira como você se derrete quando ele chega perto, eu já fico imaginando coisas.
Engasguei com o gole de café, tossi e tentei disfarçar.
Karol, você não presta. Essas perguntas não se fazem na mesa do café da manhã.
Ela riu ainda mais.
Ah, mas eu quero saber. É tudo isso mesmo que a gente imagina? Ou é ainda mais intenso?
Alberto gargalhou, batendo na mesa.
Cuidado, Karol, que daqui a pouco você apanha.
Ricardo permaneceu sério, apenas observando. Seus olhos me atravessaram como se quisessem dizer que eu não precisava responder nada. Mas a pressão da risada de Karol me deixou ruborizada.
Eu tentei sair pela tangente, sorrindo.
Digamos que estar com ele é como estar em um campo de força. Não dá para resistir.
Karol se abanou com a mão, rindo alto.
Sabia! Eu sabia! Então é por isso que você anda com esse brilho no olhar, irmãzinha.
Ricardo finalmente falou, voz grave, quebrando o riso geral.
Karol, algumas coisas não precisam ser ditas. Se você olhar com atenção, já tem todas as respostas.
O silêncio durou apenas um segundo antes de ser engolido por gargalhadas. Karol, atrevida, jogou as mãos para o alto.
Tá bom, tá bom. Eu paro. Mas se um dia eu tiver a chance de aprender pelo menos um pouquinho com o mestre aqui, eu aceito sem pensar duas vezes.
Alberto balançou a cabeça, rindo.
Pronto. Já vi que vou ter que treinar em dobro, senão essa mulher me troca em plena luz do dia.
Eu e Ricardo trocamos um olhar cúmplice, e por debaixo da mesa senti novamente o aperto firme de sua mão na minha perna. Um gesto silencioso, cheio de posse, que respondeu por nós dois.
Karol, ainda atiçada pelas provocações, se virou para Alberto e ergueu a sobrancelha.
Agora, me diga você, aprendiz. Quem é que manda aqui? Porque ontem à noite eu juro que senti que era eu quem estava no controle.
Alberto riu alto, cruzando os braços como quem aceitava o desafio.
É mesmo? Engraçado, porque da minha lembrança foi exatamente o contrário. Você até pediu arrego em certo momento.
Ela abriu a boca, chocada, e bateu nele de leve.
Mentira! Não fala isso na frente deles.
Eu gargalhei, levando a mão à boca.
Pronto, agora temos a versão dele e a versão dela. Vai ser difícil saber a verdade.
Ricardo, sério como sempre, soltou uma única frase que fez a mesa inteira rir.
O que importa é que no fim, quem acha que venceu sempre perdeu.
Karol ficou sem reação por um instante, e então caiu na gargalhada, rendida.
Tá vendo? É por isso que você é o mestre, Ricardão. Até na zoeira você ganha.
Alberto ergueu a taça de suco como se fosse um brinde.
Tudo bem, eu aceito. Mas vou deixar registrado: essa história ainda não acabou. A luta entre mim e Karol vai ter muitas rodadas.
Ela encostou no ombro dele, mordendo os lábios com aquele jeito atrevido.
Pode apostar. Mas te aviso: no fim, sempre sou eu quem vence.
A mesa inteira explodiu em risadas. Eu me apoiei no peito de Ricardo, rindo junto, e senti o aperto firme da sua mão na minha cintura, como se quisesse deixar claro que, entre nós, a resposta nunca estaria em dúvida.
Enquanto Karol e Alberto seguiram em direção ao jardim, rindo e trocando carícias como adolescentes apaixonados, eu e Ricardo tomamos o caminho oposto. Descemos pela trilha estreita até o rio que cortava o sítio, suas águas claras refletindo o dourado do sol da manhã. O som da correnteza se misturava ao silêncio cúmplice entre nós.
Parei à beira da margem, tirei as sandálias e molhei os pés. A água fria fez meu corpo estremecer. Olhei por cima do ombro e encontrei Ricardo me observando, imóvel, o olhar queimando como fogo. Sem dizer uma palavra, mergulhei mais fundo, a água subindo pelas pernas até cobrir minha cintura. Ele não resistiu. Em poucos segundos estava ao meu lado, as roupas coladas ao corpo, desenhando cada músculo, cada linha da sua força.
Eu o puxei pelo colarinho e o beijei com a fúria acumulada. A água ao nosso redor parecia ferver. Minhas mãos percorreram seu peito, descendo até o volume que já latejava entre suas pernas. Senti sua ereção crescer contra mim, firme, impiedosa. Sorri entre beijos e deslizei para baixo, afundando na água até que minha boca o encontrou. Suguei-o com avidez, engolindo cada centímetro, a corrente fria contrastando com o calor que ele pulsava dentro de mim. Ricardo gemeu baixo, segurando meus cabelos, guiando minha boca como se quisesse se perder por completo ali.
Quando emergi, o encarei com os lábios molhados e ele me ergueu nos braços sem esforço, prendendo minhas pernas em sua cintura. Me penetrou ali mesmo, dentro do rio, com uma força que arrancou de mim um grito abafado. Cada estocada ecoava pela água, e eu me segurava em seus ombros como quem se agarra à vida.
Ele me virou de costas, apoiando meu corpo contra uma pedra lisa, e me tomou por trás. O rio corria, mas quem dominava era ele. A cada investida, minha pele se arrepiava, minha voz se perdia em gemidos que só a natureza testemunhava. Até que sua mão firme deslizou para trás, invadindo o lugar mais proibido, meu ânus. Um gemido desesperado escapou de mim, e quando ele me penetrou ali, alternando entre os dois caminhos, fui levada para um transe. O prazer explodiu em ondas que me deixaram sem ar, meus olhos se revirando, meu corpo tremendo por inteiro.
Ricardo me marcava como sempre fazia: no meu corpo, no meu espírito, no meu coração. Derramou-se em mim com um urro que ecoou pelo vale, deixando seu néctar dentro de cada parte minha. E eu, completamente entregue, me desfiz em seus braços, sentindo que não havia mundo fora daquele rio, fora daquele homem.
Exaustos, caímos lado a lado dentro da água, rindo entre beijos, com os corpos ainda entrelaçados. O sol brilhava sobre nós, mas a chama que nos incendiava era muito mais intensa que qualquer luz.
Ali, no rio, Ricardo não foi apenas meu amante. Foi meu guardião, meu fogo, minha perdição e meu paraíso.
Subimos a trilha ainda de mãos dadas, os cabelos úmidos, a pele cheirando a rio e a desejo. Eu tentava disfarçar o sorriso bobo, mas Ricardo caminhava com sua postura séria de sempre, embora o olhar denunciasse tudo o que havia acontecido minutos antes.
Assim que nos aproximamos da varanda, Karol e Alberto já estavam ali, rindo e trocando carícias descaradas. Karol, sempre com a língua afiada, foi a primeira a soltar a provocação. Disse que até que enfim havíamos aparecido, porque ela já pensava que íamos montar acampamento no rio.
Alberto completou rindo, dizendo que pela cara dos dois o rio devia ter aprendido alguns segredos novos naquela manhã.
Eu gargalhei, corando, mas não deixei barato. Comentei que o jardim também parecia pequeno diante de tanta risadinha e suspiros, e que a família inteira deveria ter ouvido Karol.
Minha irmã ficou vermelha, mas se jogou no colo de Alberto fingindo inocência e respondeu que não negava nada, porque quando a química é boa não dá para segurar.
Ricardo, até então em silêncio, soltou uma frase seca que incendiou ainda mais as provocações. Disse que o importante é que cada um saiba cuidar do que tem.
Karol arregalou os olhos e riu alto, dizendo que até quando ele soltava uma indireta era de arrepiar e que não entendia como eu conseguia aguentar.
Alberto ergueu a mão num gesto teatral e completou que o melhor seria não competir sobre quem incendiou mais a manhã, mas sim brindar à sorte de termos encontrado o par perfeito para nos enlouquecer.
Eu ergui a taça junto com a deles, rindo, mas sem conseguir disfarçar o calor que subia pela pele só de lembrar o que tinha acontecido no rio. Karol piscou para mim de forma cúmplice, como quem dizia sem palavras que estávamos todas no mesmo barco.
E assim a manhã no sítio se transformou numa festa íntima, quatro corações batendo no mesmo ritmo, quatro corpos ainda vibrando do fogo que cada um tinha acabado de viver.


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Comentários


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mans Comentou em 08/09/2025

Excitante!!!! Sem mais palavras

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farmaceutico- Comentou em 08/09/2025

A cada investida, minha pele se arrepiava, minha voz se perdia em gemidos que só a natureza testemunhava. Até que sua mão firme deslizou para trás, invadindo o lugar mais proibido, meu ânus. Um gemido desesperado escapou de mim, e quando ele me penetrou ali, alternando entre os dois caminhos, fui levada para um transe. O prazer explodiu em ondas que me deixaram sem ar, meus olhos se revirando, meu corpo tremendo por inteiro.




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Ficha do conto

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vivianebeatriz

Nome do conto:
No Colo do Guardião

Codigo do conto:
241903

Categoria:
Traição/Corno

Data da Publicação:
08/09/2025

Quant.de Votos:
5

Quant.de Fotos:
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