O Dia no Hotel-Fazenda (Água, Cavalo e Trilha) - Hotel Fazenda Parte 4



O sol nasceu forte, dourando os campos ao redor do hotel-fazenda. Depois do café, a turma decidiu aproveitar o dia ao máximo. Primeiro, todos seguiram para a piscina, que brilhava como um espelho azul sob o céu claro.
As mulheres foram as primeiras a mergulhar, rindo alto, jogando água umas nas outras. Ricardo e Alberto demoraram para entrar, observando de fora. Mas quando tiraram as camisas, o clima mudou. Os corpos fortes, desenhados, chamaram a atenção imediata. Carolina soltou um assobio debochado, arrancando gargalhadas. Beth comentou alto que a água ia ferver, e Rafaela, maliciosa, disse que se fosse preciso, mergulharia só para se refrescar daquele calor.
Ricardo entrou tranquilo, mas os olhares grudados nele eram evidentes. Eu fingia rir junto, mas cada vez que alguma se aproximava demais, sentia o ciúme subir. Karol, percebendo, cutucava Alberto e dizia que, se ele não cuidasse dela, ia ter fila também. A gargalhada foi geral.
Depois do almoço, veio a cavalgada. Os cavalos alinhados no estábulo, e o grupo animado para explorar as trilhas. Alberto montou ao lado de Karol, ajudando-a a ajustar as rédeas. Ricardo, como sempre, foi designado a cavalgar próximo a mim, para “segurança”. Não passou despercebido. Carolina soltou uma piada dizendo que eu tinha arranjado até escolta particular para andar a cavalo. Beth emendou que, com aquele porte, não dava para saber quem era o cavalo e quem era o guardião. Todos riram, e eu apenas balancei a cabeça, tentando esconder o sorriso.
A trilha pelo campo trouxe momentos de silêncio e beleza, mas as provocações nunca paravam. Em certo ponto, quando paramos à sombra de uma árvore, Rafaela perguntou em voz alta se alguém ali já tinha tido fantasias com guardiões ou cavaleiros. Douglas, rindo, disse que se dependesse das mulheres, Ricardo já tinha virado personagem de romance.
As gargalhadas ecoaram pelo campo. Eu tentava disfarçar, mas cada piada era faca e mel ao mesmo tempo. Ricardo apenas sorria, impassível, como se fosse parte do jogo. Mas eu sabia: cada olhar que ele me lançava escondia um incêndio prestes a reacender.
O grupo voltou ao hotel exausto, mas animado. O clima era de festa, mas para mim, a tensão só crescia. Eu sabia que, mais cedo ou mais tarde, aquela chama que queimava entre nós dois teria que encontrar outra noite para se libertar.
A manhã estava ensolarada, e a piscina parecia um convite impossível de recusar. O grupo inteiro desceu junto, rindo alto, prontos para mergulhar. As mulheres foram as primeiras a entrar, jogando água umas nas outras, enquanto os homens ainda se acomodavam nas espreguiçadeiras.
Quando Ricardo tirou a camisa, o silêncio foi imediato. O corpo dele, musculoso e desenhado, arrancou suspiros — mas não foi isso que chamou a atenção. Carolina arregalou os olhos, seguida por Beth e Rafaela. O peito e as costas dele estavam marcados por arranhões visíveis, linhas avermelhadas que denunciavam noites de unhas cravadas.
Carolina riu com malícia. Olha só, o guardião de ferro também sangra. Quem será que deixou esses rastros?
Beth, rindo, completou. Isso não é de treino, não. Isso é unha de mulher.
Solange entrou na brincadeira. Então, Ricardo, quem foi que te atacou como fera?
Ricardo tentou disfarçar, dizendo que eram marcas antigas de treino, que tinha se machucado no tatame. Mas ninguém acreditou. Rafaela comentou que nenhuma luta deixava marcas tão alinhadas, e todas voltaram a rir. Eu, quieta, sentia o rosto corar, o corpo inteiro me traía.
Karol, percebendo, me puxou discretamente para o lado, horrorizada. Vi, precisamos arrumar uma desculpa urgente. Se não, tudo vai vir à tona.
Respirei fundo e soltei rápido. Dizemos que foi Carolina. Ela passou a noite inteira se jogando em cima dele. Poderia muito bem ter feito isso, nem lembraria depois da bebedeira.
De volta ao grupo, Karol plantou a semente. Talvez fosse coisa de Carolina, afinal, ela ficou colada nele a noite toda e bêbada como estava, podia ter se divertido mais do que devia. Alguns assentiram, dizendo que fazia sentido. Outros riram alto, lembrando dos vexames dela.
Carolina, ao ouvir, ficou vermelha de vergonha. Não lembrava de nada da noite anterior e balbuciava frases desconexas, sem conseguir se defender. Beth aproveitou e reforçou, dizendo que a amiga tinha sido atrevida demais e que não duvidava de nada.
Foi então que Roberto, rindo, lançou a ideia que deixou todos em polvorosa. Vamos comparar as mãos. Encostamos as unhas das mulheres nas costas de Ricardo e vemos quem é a culpada.
O clima mudou de brincadeira para tensão. Ricardo se virou irritado, a voz grave cortando o riso geral. Isso já passou do limite. Não gosto desse tipo de insinuação.
Mas mesmo assim, ninguém tirava os olhos dele. As marcas falavam mais alto que sua desculpa.
Foi nesse instante que Douglas, meio sem pensar, soltou o comentário que fez meu coração gelar. Estranho é que ontem cedo a Vivi estava andando toda torta, como se tivesse levado uma surra.
O silêncio caiu como pedra. Os olhares se voltaram para mim. Meu corpo inteiro ferveu, as bochechas queimando. Ricardo baixou os olhos, tentando desviar o peso da acusação, mas era inútil. A turma agora tinha certeza de uma coisa: ele havia passado a noite com alguém.
E pela maneira como eu tremia diante deles, as suspeitas começavam a se estreitar perigosamente.
O silêncio ainda pairava pesado, todos me olhando depois da frase de Douglas. O calor subia pelo meu rosto, minhas mãos suavam, e eu sabia que se não me mexesse logo, a verdade viria à tona. Karol percebeu antes de todos. Com um sorriso largo, fingindo leveza, ela se levantou e puxou a atenção para si.
Gente, pelo amor de Deus, vocês estão levando isso a sério demais. A Vivi reclamou ontem que a cama dela era horrível, dura como pedra. Eu mesma vi. É claro que ia acordar toda dolorida.
Alguns riram, outros desconfiaram, mas a desculpa abriu uma brecha. Eu completei, forçando a voz firme. É verdade, quase não dormi. A cama devia ser feita para castigar hóspede.
Mas Beth não se deu por vencida. Mesmo assim, essas marcas aí nas costas do Ricardo não são de cama. São de unha. Ou alguém vai me dizer que colchão agora arranha?
As risadas voltaram, e Ricardo então se ergueu, impondo sua presença. O tom grave dele silenciou todos. Basta. Não vou aceitar que fiquem brincando com minha honra nem com a da senhora. O que aconteceu ontem, ou melhor, o que não aconteceu, é problema meu. Não devo satisfação a ninguém aqui.
O peso da voz dele cortou o clima de deboche, mas não apagou as suspeitas. Roberto ainda arriscou uma última. Mas vamos ser sinceros… essas marcas são de luta? Nem você acredita nisso, Ricardo.
Ele então respirou fundo, deu um meio sorriso enigmático e respondeu. Nem sempre uma batalha acontece em tatames. Às vezes, as cicatrizes são de guerras que vocês não estão prontos para entender.
A resposta deixou todos desconcertados. Alguns riram sem graça, outros engoliram em seco, e o assunto começou a perder força. Karol, rápida, mudou de tema, puxando Alberto para contar uma história engraçada da noite anterior. O grupo caiu na gargalhada, e a tensão foi se desfazendo.
Mas eu sabia. Ricardo havia assumido a linha de frente, me protegendo, mas a sombra da suspeita ainda pairava. E o comentário de Douglas, repetido nas entrelinhas, continuava queimando como faca.
Quando a roda finalmente dispersou, Karol me puxou com força para um canto da varanda. Seus olhos estavam arregalados, a voz baixa mas firme. Vi, se não arrumarmos logo uma linha de defesa, vão colocar você contra a parede. Você precisa se acalmar, senão vai entregar tudo só pelo jeito de reagir.
Assenti em silêncio, ainda tremendo. Minha mente girava em busca de uma saída. Foi Karol quem sugeriu, com malícia disfarçada. Vamos deixar no ar que poderia ter sido a Carolina mesmo, ou até inventar outra… Camila, por exemplo. Ela vive grudada, todo mundo sabe que tem fogo no olhar. Ninguém vai duvidar se dissermos que ela se jogou.
Respirei fundo e aceitei. Fazia sentido. Precisávamos de um bode expiatório.
Mais tarde, já no final da tarde, consegui ficar sozinha com Ricardo no galpão menor ao lado do estábulo. Ele estava sério, o corpo ainda marcado pelos arranhões, e me encarava com aquela calma que sempre escondia tempestades. Ele falou baixo, mas firme. Vi, você precisa ter mais controle. O que aconteceu hoje quase nos destruiu. Eu não vou deixar que te exponham, mas também não posso inventar histórias.
Me defendi dizendo que Karol já tinha plantado a semente, que agora o grupo começava a acreditar que Carolina ou até Camila poderiam estar por trás daquelas marcas. Ele fechou os olhos, respirando fundo, e murmurou. Eu não vou negar nem confirmar nada. Quanto mais falarem, melhor. O silêncio é a minha arma.
À noite, no jantar, o clima voltou. Beth, rindo, soltou a provocação. Já pensaram que pode ter sido a Camila? Ela tem jeito de quem arranha, e muito. Todos riram, até Carolina, que aproveitou para se livrar do peso da culpa. Camila ficou sem graça, mas não negou nem confirmou.
Ricardo, sentado na ponta, apenas ergueu o olhar e sorriu enigmático. Não respondeu. Essa ausência de resposta incendiou ainda mais as teorias.
Douglas, debochado, soltou. Então quer dizer que o guardião teve uma noite de guerra e não vai contar com quem?
Ricardo bebeu um gole de vinho, apoiou o copo devagar e respondeu grave. Algumas batalhas não são para serem comentadas. São para serem sentidas.
A mesa ficou em silêncio por alguns segundos. O mistério, em vez de se dissipar, cresceu.
Mas dentro de mim a chama era outra: eu sabia que ele falava de mim, mesmo sem citar nomes. E isso, paradoxalmente, me deixava ainda mais exposta.
As risadas em torno da mesa iam e vinham, mas quando o nome de Camila entrou na roda, o clima mudou. Beth, debochada, insistiu que os arranhões no corpo de Ricardo tinham a assinatura dela. Carolina, aliviada de ter tirado o peso das próprias costas, reforçou que fazia sentido.
Camila arregalou os olhos, cruzou os braços e rebateu na defensiva. Vocês estão malucos? Eu? Eu dormi cedo, todo mundo viu. Não sei de onde tiraram isso, mas não aceito.
O silêncio que se seguiu foi desconfortável. Alguns riram para aliviar, outros olharam de soslaio, mas ninguém acreditava de verdade. Era só mais uma peça no jogo.
Até então, eu estava calada, observando, deixando as provocações correrem. Mas Karol me lançou um olhar firme, como quem dizia em silêncio: se você não entrar na brincadeira, vai parecer culpa. Respirei fundo, ajeitei o copo na mão e falei em tom leve, quase rindo.
Olha, gente, vocês estão indo longe demais. Eu mesma já acordei toda arranhada por causa do jardim da minha casa. Vai ver o Ricardo tropeçou em algum galho e pronto.
As gargalhadas vieram, meio nervosas. Roberto brincou. Claro, Vivi, então agora as árvores arranham em formato de unha?
Entrei no jogo, rebatendo rápido. Bom, se arranham, é melhor ninguém chegar perto do bosque daqui. Vai que alguém volta com as costas iguais.
Dessa vez, todos riram de verdade. O peso saiu de cima de mim, pelo menos por um instante.
Ricardo me olhou de canto, quase imperceptível, e ergueu o copo como quem brindava em silêncio comigo. Alberto, sentado ao lado de Karol, também notou e entrou no teatro. Pois é, às vezes vocês inventam cada coisa que daqui a pouco vão falar que fui eu que arranhei o mestre. E digo logo: não tenho coragem nem de encostar nele no treino.
A mesa explodiu em gargalhadas. Karol aproveitou e reforçou, debochada. Verdade, se até o Alberto respeita, imagina a gente. Ricardo é praticamente de aço.
Ricardo, por fim, encerrou o assunto com sua calma habitual. Quem quiser acreditar em lenda, que acredite. Eu só sei que dormi bem e acordei pronto para trabalhar. E o resto não diz respeito a ninguém.
As conversas se desviaram para outros temas, mas o clima ficou marcado. O mistério não se dissipou — pelo contrário, ganhava mais camadas. Mas entre nós quatro, o pacto silencioso estava firmado: protegeríamos uns aos outros a qualquer custo.
O ar ainda estava pesado com o rastro das provocações, mas Alberto, perspicaz, tomou a dianteira. Levantou-se, estufou o peito e disse em tom firme, carregado de respeito. Mestre, esse lugar me lembra muito aquele dojo em que o senhor treinava com seu mestre japonês. Sabe, eu estou me sentindo enferrujado. Que tal treinar aqui e agora? O senhor me ensinaria alguns golpes?
O silêncio virou brilho. Karol aplaudiu a ideia com entusiasmo, seus olhos vibravam. Eu mesma sorri, sentindo o peso sair de cima. Perfeito. Assim todo mundo vai ver nossos guardiões em ação.
Em poucos minutos, o gramado central se transformou em dojo improvisado. A turma formou um círculo, todos curiosos. Ricardo e Alberto se posicionaram frente a frente. Nenhum riso, apenas concentração. O respeito estava claro: discípulo diante de seu mestre.
Ricardo inclinou levemente a cabeça, gesto de reverência. Alberto retribuiu. E o treino começou.
O primeiro movimento foi leve: Alberto avançou com um soco reto, e Ricardo, rápido, desviou o braço dele em um arco suave, aproveitando o impulso para desequilibrá-lo. Alberto girou o corpo, evitando a queda, e voltou com uma sequência de chutes baixos. Ricardo absorveu cada um com bloqueios firmes, cadenciados, quase como um bater de tambores.
O grupo prendia a respiração. Era luta, mas também era dança.
Alberto então aplicou um golpe circular, tentando surpreender. Ricardo parou o movimento no ar, segurou o braço do discípulo e, com um giro de quadril, o projetou para frente. Mas em vez de jogá-lo ao chão, controlou a força e deixou que Alberto pousasse em pé, preservando a fluidez. O público explodiu em palmas.
Karol batia palmas, vibrando. É disso que eu estou falando! Olhem a leveza, parece até coreografia.
Ricardo manteve o semblante sereno. Alberto voltou, mais ousado. Partiu para uma sequência: soco reto, chute lateral, tentativa de gancho. Ricardo defendeu os dois primeiros com movimentos mínimos, quase imperceptíveis, e então, num instante de silêncio, desviou o último golpe com um passo lateral e aplicou um contra-golpe no peito do discípulo. Não foi violência: apenas toque firme o bastante para desequilibrar.
Alberto caiu de joelhos, rindo alto, suado e satisfeito. Mestre, não tem jeito. A cada tentativa, parece que o senhor já sabe onde vou estar antes de mim mesmo.
Ricardo apenas ergueu a mão e o ajudou a se levantar. O círculo explodiu em aplausos, gritos, comentários. Beth exclamou que nunca tinha visto nada igual. Douglas comentou que parecia cinema, mas com muito mais intensidade. Carolina, ainda tentando se recompor do vexame da noite anterior, murmurou que agora entendia por que todos chamavam Ricardo de guardião.
Eu, observando, sentia o orgulho latejar no peito. O homem que era meu segredo também era a fortaleza diante de todos. Karol me lançou um olhar cúmplice: a distração perfeita havia sido criada.
A sessão terminou com reverência. Ricardo e Alberto se curvaram levemente um para o outro, o respeito gravado no ar.
Naquele instante, ninguém mais falava em arranhões. O que restava era a imagem de dois guerreiros, mestre e discípulo, dançando no campo como se o dojo do velho japonês tivesse renascido ali, no coração do hotel-fazenda.
O treino terminou em aplausos e assovios. O suor brilhava no corpo de Ricardo e de Alberto, mas o que mais chamava atenção era a calma dos dois, como se tivessem acabado de fazer uma dança e não uma luta. O círculo se aproximou, todos falando ao mesmo tempo.
Douglas foi o primeiro. Cara, aquilo parecia cinema. Vocês ensaiaram?
Ricardo, sério, apenas respondeu. Não. O corpo aprende a ouvir antes da mente.
Rafaela, encantada, perguntou se ele poderia ensinar algumas técnicas às mulheres. Ricardo sorriu de leve. Qualquer pessoa pode aprender. Mas antes da força, é preciso disciplina.
Alberto, ainda ofegante, ergueu a mão como aluno aplicado. Mestre, qual foi o meu erro? Eu tentei variar os ataques, mas o senhor sempre encontrou a brecha.
Ricardo se virou para ele com respeito. O primeiro erro foi não observar a base. Quando você avançou com o soco, seus pés estavam muito juntos. Isso me deu a vantagem de usar seu próprio peso contra você. No chute lateral, você expôs demais o quadril. Bastou girar o meu para quebrar o ângulo. E no último gancho, você deixou o ombro falar antes do punho. Eu já sabia para onde viria o golpe.
Todos ficaram vidrados. A forma como ele explicava não era arrogante, era didática. Cada detalhe ganhava vida, como se fosse lição de mestre.
Foi então que Solange, atrevida, lançou a pergunta que virou o foco para mim. Ricardo, e se fosse em situação real? Por exemplo, alguém segurando a Viviane por trás e você à frente. Teria como agir sem machucar ela?
O ar pareceu prender. Eu senti o corpo inteiro se aquecer, os olhos de todos voltados para mim. Ricardo sustentou o olhar sereno, mas firme.
Sim, tem como. O agressor, ao segurar por trás, pensa que domina. Mas na verdade está vulnerável. Eu avançaria pelo flanco, aplicaria pressão no punho dele até soltar a senhora. No mesmo movimento, um contra-golpe no ponto vital do braço ou na base da perna, tirando a sustentação. Viviane estaria livre em segundos, antes que pudesse sofrer qualquer dano.
Um burburinho percorreu a roda. Beth comentou que era incrível a segurança na voz dele. Roberto brincou. Até parece que já ensaiaram isso. As risadas surgiram, mas por dentro eu sabia: era mais do que ensaio. Era promessa silenciosa.
A roda ainda fervia com perguntas quando Beth, excitada pela ideia, lançou o desafio em voz alta. Então mostra pra gente, Ricardo! Queremos ver como seria esse salvamento.
O coro cresceu. Todos queriam assistir. Meu coração disparou. Roberto se ofereceu de pronto, rindo. Eu seguro a Vivi por trás. Vamos ver se ele consegue tirar ela de mim.
Douglas, animado, entrou junto. E eu também vou atrapalhar, porque na rua nunca é só um.
A provocação incendiou o grupo. Palmas, risadas, todos incentivando. Karol vibrava como criança, gritando que queria ver sangue — no sentido figurado. Alberto, com os braços cruzados e o sorriso maroto, soltou a frase que fez a roda gargalhar. Vai ser moleza.
Meu corpo inteiro tremia. Olhei para Ricardo, que me fitou com calma absoluta. Apenas inclinou a cabeça em leve reverência, como quem dizia silenciosamente: confie.
A cena começou. Roberto veio por trás e me agarrou, prendendo meus braços contra o peito. Douglas avançou pela frente, braços erguidos, pronto para o confronto. O círculo se fechou, todos em expectativa.
Ricardo caminhou alguns passos, sem pressa, os olhos fixos, respiração serena. Quando Douglas tentou o primeiro golpe, ele apenas desviou com dois dedos na articulação do ombro. O rapaz soltou um gemido baixo e caiu de joelhos, sem entender como havia perdido a força do braço.
Roberto, ainda me segurando, riu nervoso e apertou mais forte. Ricardo se aproximou em silêncio. Com a ponta dos dedos, tocou o punho que me mantinha presa. Foi um toque rápido, quase imperceptível, mas Roberto soltou um grunhido e, em seguida, o braço simplesmente cedeu.
Antes que o grupo pudesse reagir, Ricardo girou o corpo, aplicou um leve toque na lateral do pescoço de Roberto, e ele tombou no chão, consciente mas incapaz de se mover, como se estivesse paralisado.
Douglas tentou se recompor e avançou de novo, mas Ricardo já estava pronto. Um giro elegante, um toque com três dedos na base da perna, e Douglas desabou como se tivesse perdido o chão. Caiu ao lado de Roberto, ambos imobilizados, respirando fundo, incapazes de levantar.
O silêncio caiu sobre o círculo. Ninguém piscava. Era como assistir a uma coreografia perfeita, uma dança letal executada com a leveza de quem domina não apenas a técnica, mas também o tempo e o espaço.
Ricardo então se voltou para mim. Com cuidado, afastou meu corpo do círculo de combate e colocou-me ao seu lado, como quem resgata o que é precioso. Só então se ergueu diante de todos e, em tom grave, explicou.
A força não está no músculo. Está no ponto certo, no tempo certo. Toquei apenas onde o corpo humano é vulnerável. O resultado não é dor, é controle.
Roberto e Douglas começaram a se mexer novamente, rindo nervosos, ainda sem acreditar. O círculo explodiu em aplausos, gritos e assovios. Beth exclamou que parecia magia. Solange disse que nunca mais queria ver Ricardo irritado. Carolina, com os olhos brilhando, murmurou que nunca tinha visto um homem dominar sem levantar a voz.
Karol vibrou, me abraçando pelos ombros. Vi, você percebeu? Ele te colocou de lado como quem guarda um tesouro.
Meu corpo estremeceu. Não era apenas demonstração. Era uma declaração silenciosa diante de todos.
E todos ali, fascinados, não conseguiam parar de repetir a mesma coisa. O guardião de aço tinha mostrado o poder de seus dedos. E, mais do que isso, havia mostrado que sua prioridade era me proteger.
A brasa estalava na churrasqueira, o cheiro de carne se misturava ao vento fresco, e as risadas ecoavam pelo gramado iluminado apenas por tochas e lanternas. Copos de vinho circulavam, e o assunto não saía da roda: a demonstração da tarde.
Douglas ria, ainda massageando o braço. Eu não consigo acreditar. Ele encostou dois dedos aqui e meu braço apagou. Como é que alguém faz isso?
Roberto gargalhou junto. E eu, então? Caí igual saco de batata. Nunca pensei que fosse tombar tão fácil.
Beth abanava as mãos, fascinada. Gente, aquilo parecia cena de filme. Carolina perguntou, séria, se aquilo podia matar. Rafaela entrou no jogo e disse que queria aprender só para usar no próximo namorado ciumento. A roda inteira caiu na gargalhada.
Foi nesse momento que Ricardo se levantou. O grupo silenciou, como se todos soubessem que algo estava para acontecer. Ele caminhou até Alberto e, sem dizer nada, inclinou-se em reverência. Um gesto contido, respeitoso, que parecia guardar mais do que mostrava.
Todos se entreolharam, curiosos. Carolina riu nervosa. Isso foi o quê, gente? Ritual secreto?
Douglas comentou que parecia coisa de filme japonês.
Eu senti o corpo estremecer. Aquilo tinha um significado, mas não consegui decifrar. Olhei para Karol, que também parecia intrigada. Me aproximei dela e murmurei. Você entendeu o que foi isso?
Karol franziu a testa, balançou a cabeça. Não… mas eu vou descobrir.
Ela se inclinou até Alberto, que ainda estava em pé diante de Ricardo, e perguntou baixinho, séria. O que foi essa reverência?
Alberto respirou fundo, um sorriso discreto escapando. Foi a forma dele agradecer pela ideia. Sem eu sugerir, não teria havido demonstração. E sem a demonstração, vocês ainda estariam falando daqueles arranhões.
Karol sorriu, satisfeita, e voltou para o meu lado. Encostou o ombro no meu, discretamente, e sussurrou no meu ouvido. Era só isso, Vi. Um agradecimento silencioso. Ele te protegeu de novo.
Meu corpo arrepiou. Aquele gesto simples, quase invisível, carregava mais do que todos os comentários da noite. Ricardo havia feito da reverência um código, uma forma de apagar suspeitas sem precisar dizer uma única palavra.
O assunto retomou força na roda. Roberto queria saber se qualquer pessoa podia aprender aquilo. Douglas insistia se o toque poderia ser revertido. Ricardo explicou com calma. Cada corpo é um mapa. Quem conhece os pontos certos controla a energia sem precisar de força.
Beth ergueu o copo, rindo alto. Equilíbrio é ótimo, Ricardo. Mas eu vi foi você derrubar dois marmanjos de cem quilos. Isso não é equilíbrio, é milagre.
O gramado explodiu em gargalhadas. O vinho, o churrasco e a noite estrelada completavam a cena. Os arranhões haviam sumido da memória coletiva. O que restava era o fascínio por aquele guardião que parecia sempre um passo à frente, em luta ou em silêncio.
O vinho já rodava solto, as carnes iam e vinham, e o assunto ainda girava em torno do que todos tinham visto no gramado. Beth, animada, abanava as mãos. Gente, eu vou sonhar com essa cena. Foi um espetáculo! Douglas tombando igual boneco e o Roberto ali, duro no chão, parecia que tinham desligado vocês.
Rafaela riu alto. Verdade. Eu até achei que o Roberto tinha morrido por uns segundos.
Roberto, vermelho de tanto rir, levantou as mãos. Pera lá, não exagera. Só fiquei… digamos, sem comando. Mas olha, vou dizer uma coisa. Se fosse pra segurar a Vivi mais tempo, não ia reclamar.
Um burburinho percorreu a roda. Todos riram, alguns assoviaram. Eu ergui as sobrancelhas, fingi uma bronca e soltei em tom de deboche. Vocês não têm jeito!
As gargalhadas estouraram. Foi aí que Douglas, sempre afiado, entrou na piada. Por isso que o Ricardo agiu tão rápido. Precisava salvar a deusa dele antes que o Roberto resolvesse se aproveitar.
O grupo explodiu em risadas e palmas. Carolina quase caiu da cadeira de tanto rir. Karol se curvou de tanto gargalhar, e Alberto, com aquele meio sorriso maroto, só confirmou com a cabeça.
Ricardo, no entanto, manteve o ar sereno. Um leve sorriso nos lábios, sem desmentir nem confirmar. Essa postura só alimentou ainda mais a brincadeira.
Beth provocou. Então é isso, Ricardo? Você é o guardião da deusa?
Rafaela completou, maliciosa. Porque, olha, do jeito que você entrou em cena, parecia até príncipe de filme.
As risadas voltaram, e eu aproveitei para brincar também, sem perder o tom. Melhor um guardião desses do que depender de vocês, né?
O círculo inteiro vibrou, rindo e aplaudindo. As provocações iam e vinham, mas agora em clima leve, cúmplice, com todos participando da farra. Os arranhões estavam esquecidos. O que restava era uma nova história: o espetáculo de Ricardo e Alberto, o discípulo reverente, e o salvamento da “deusa” que arrancava risos e olhares cúmplices.
O churrasco já tinha virado festa quando alguém lançou a provocação mais séria.
E você, Alberto? Seria capaz de salvar alguém, como o mestre fez com a Vivi?
O coro foi imediato. Sim, queremos ver!
Alberto ergueu o queixo, os olhos brilhando. Eu acredito que sim.
As palmas e assovios tomaram o gramado. Beth riu alto e apontou. A vítima vai ser a Karol.
Karol levou a mão ao peito, teatral. Sempre eu?
Douglas assumiu o papel de agressor pela frente, pegando um pedaço de pau perto da churrasqueira e erguendo como arma. Roberto, rindo, enrolou um maço de folhas e encostou no pescoço de Karol, simulando uma faca. O público vibrou, como se fosse cena de cinema.
Nesse momento, sentei-me mais perto de Ricardo. Encostei a cabeça em seu ombro, como quem busca abrigo silencioso. Ninguém pareceu reparar. Eu não queria chamar atenção. Era um gesto simples, de carinho e de admiração, mas também de preocupação. A cada risada e incentivo da roda, meu coração acelerava. O medo era bobo — tudo não passava de encenação —, mas a ideia de ver Karol naquela situação, ainda que fictícia, me deixava tensa.
Alberto caminhou até Ricardo. Parou diante dele, curvou-se levemente, gesto de respeito e pedido de permissão. Ricardo manteve a expressão séria e assentiu. Mestre e discípulo.
O círculo se abriu. Karol, presa contra Roberto, fingia estar em perigo. Douglas avançava com o pedaço de pau. A tensão cresceu, mas a mão de Ricardo encontrou a minha, discreta, me transmitindo calma.
Então sua voz soou firme, quase como narrador. Observem. Douglas vai tentar um golpe descendente. Alberto não vai bloquear. Ele vai usar a própria articulação contra o agressor.
E aconteceu. Douglas ergueu o bastão e desceu com força. Alberto girou, dois dedos na articulação do ombro, e o braço travou. Um leve toque no cotovelo, e o bastão caiu. Eu senti o corpo de Ricardo imóvel ao meu lado, como se ele soubesse cada passo antes de acontecer.
Ricardo continuou. Agora vejam. Ele vai neutralizar a perna.
Alberto se abaixou, pressionou a base da coxa de Douglas, e o grandalhão tombou de joelhos, rindo incrédulo.
A roda vibrou. Eu respirei fundo, encostada nele, sentindo o orgulho que transbordava.
Ricardo prosseguiu. Agora Roberto. Ele pensa que tem vantagem porque segura Karol. Mas observem o punho.
No mesmo instante, Alberto tocou a mão de Roberto, o maço de papel deslizou. Outro toque no ombro e Roberto cedeu, tombando de lado sem forças. Karol estava livre.
O gramado explodiu em aplausos. Alberto não hesitou: segurou Karol pela cintura, girou-a e a puxou para um beijo profundo. O público foi à loucura, gritos, palmas, assovios.
Beth ergueu o copo, rindo. Eu também quero ser salva, mas com beijo no final.
Rafaela completou. Então a fila só aumenta.
Carolina gargalhava. Melhor começar a organizar por ordem de chegada.
Eu apenas permaneci ali, encostada em Ricardo, sorrindo. O gesto dele em narrar cada detalhe, a confiança, o controle… aquilo me arrepiava. E ao mesmo tempo, me enchia de ternura. Ele não precisava me dizer nada. Naquele silêncio entre nós, eu sabia: Ricardo estava mostrando ao mundo sua força, mas para mim, ele mostrava cuidado.
As palmas e os assovios ainda ecoavam quando Alberto, depois de beijar Karol sob aplausos, caminhou de volta até Ricardo. O silêncio caiu no gramado quando ele parou diante do mestre e, sem hesitar, prestou-lhe uma reverência. O gesto foi firme, solene, carregado de respeito. Ricardo inclinou levemente a cabeça, aceitando a saudação.
Foi a deixa para as perguntas surgirem em coro. Ricardo, como você sabia dos golpes antes mesmo de o Alberto aplicá-los?
Douglas se adiantou. Cara, você narrava como se tivesse um roteiro na cabeça. Isso foi bruxaria?
Beth completou, fascinada. Eu juro que parecia que vocês dois tinham ensaiado uma coreografia.
Ricardo se manteve calmo, a voz grave ressoando no meio da roda. Não é magia, nem roteiro. É leitura de energia e de intenção. Quando você conhece o mapa do corpo, entende que cada movimento vem antes do golpe. O ombro avisa antes do soco, o quadril denuncia antes do chute, o olhar se adianta antes da ação. E quando o discípulo está em sintonia com o mestre, a previsibilidade se torna natural. Eu só traduzi o que já estava escrito no corpo do Alberto.
O grupo suspirou em uníssono. Algumas mulheres levaram a mão ao peito, encantadas. Rafaela soltou em voz alta. Gente, isso é poesia em forma de luta.
Roberto, ainda rindo, ergueu a cerveja. Poesia que derruba brutamontes de cem quilos, né?
As risadas ecoaram, mas eu estava imóvel. A cabeça ainda apoiada no ombro de Ricardo, os olhos fixos nele. Meu coração disparava entre ternura e admiração. Era como se cada palavra dele fosse um presente só para mim.
Foi então que a roda percebeu. Carolina apontou, maliciosa. Olha lá, gente. A Vivi tá derretendo do lado do mestre.
Beth riu alto. E ela achava que a gente não ia notar.
Douglas provocou. Agora tudo faz sentido. Ele previu os golpes porque a musa estava do lado dando energia extra.
O gramado explodiu em gargalhadas. Eu corei na mesma hora, mas não consegui esconder o sorriso. Ricardo apenas ergueu o canto dos lábios, sem negar nem confirmar.
Karol, sempre pronta, levantou a taça e gritou. Deixem ela em paz! Até as deusas precisam de guardiões.
O brinde foi unânime, copos se chocaram, risos se espalharam.
Naquele instante, percebi: ninguém mais falava de suspeitas, nem de arranhões. Só se falava do mestre, do discípulo, e da mulher que, mesmo sem querer, tinha se tornado parte viva daquele espetáculo.
As tochas já ardiam mais fracas, mas a roda parecia não querer acabar. A cada gole de vinho ou cerveja, surgia uma nova piada.
Roberto, ainda se recompondo da encenação, levantou o copo. Só quero deixar registrado que eu não tive culpa de nada. Fui obrigado a segurar a Karol, senão não tinha cena.
Beth gargalhou. Sei, sei… pelo sorriso, parecia que estava aproveitando.
O grupo caiu na risada. Karol fez cara de indignada, mas logo entrou no jogo. Vou perdoar só porque sei que não teve nem tempo. Meu guardião chegou rápido demais.
Todos aplaudiram e assoviaram, exaltando Alberto, que apenas abriu um sorriso contido, orgulhoso.
Douglas, provocador, cutucou Ricardo. Mestre, e se fosse a Vivi de novo? O senhor deixaria o discípulo salvá-la ou ainda prefere cuidar sozinho?
O círculo vibrou, rindo e batendo palmas.
Eu rolei os olhos, tentando manter a naturalidade. Mas antes que eu pensasse em responder, Carolina disparou. Ah, isso a gente já sabe. A Vivi só olha pro guardião dela. Se fosse outra pessoa, nem precisaria de luta. Ela mesma já se jogava no colo do mestre.
As risadas explodiram, e eu corei, cobrindo o rosto por um instante.
Rafaela completou. Então pronto, a gente descobriu o segredo. Ele não precisa prever golpe nenhum, basta prever o coração da deusa.
Ricardo apenas soltou aquele meio sorriso calmo, que mais incendeia do que apaga.
Beth ainda insistiu, provocadora. Eu acho que devia ter uma fila oficial para ser salva. Primeiro fui eu, depois a Rafa, depois a Carol… mas com beijo no final, igual o Alberto fez.
Carolina ergueu a mão, rindo. Eu topo! Mas o beijo tem que ser daqueles de novela.
A roda vibrou mais uma vez, alguns quase caindo de tanto rir.
Eu, já rendida ao clima, ergui meu copo e soltei em tom de desafio. Melhor se conformarem, meninas. Guardião desse porte é artigo raro, e o que eu vi hoje vale mais que ouro.
A roda respondeu em coro, copos erguidos. À deusa e ao guardião!
As gargalhadas ecoaram pelo gramado, leves, soltas, varrendo qualquer sombra do que havia antes. Era só alegria, cumplicidade e uma chama silenciosa queimando entre olhares que só eu e Ricardo sabíamos traduzir.
As gargalhadas foram diminuindo à medida que o vinho acabava e a brasa da churrasqueira se apagava em estalos tímidos. Aos poucos, cada casal ou grupo foi se retirando para os chalés. Douglas, ainda brincalhão, jurava que no dia seguinte conseguiria resistir ao toque de Alberto. Beth dizia que ia sonhar com os beijos do salvamento. Carolina, carregada por Rafaela, ria alto até desaparecer no corredor de luz amarelada.
O silêncio foi se impondo, quebrado apenas pelos grilos e pelo ranger da madeira do hotel-fazenda. O ar da madrugada estava fresco, quase frio, trazendo consigo o cheiro doce de terra molhada.
Eu e Ricardo nos despedimos junto com os outros, mas sem palavras trocadas além do necessário. No meio da roda, eu tinha mantido a naturalidade. Agora, porém, o coração batia como um tambor, sabendo que não era o fim da noite.
No quarto, fechei a porta devagar, como quem guarda um segredo. O corpo ainda carregava o calor das provocações, e a lembrança dos olhares cúmplices dele me consumia. Sentei na beira da cama, mas não consegui ficar parada. A chama me chamava.
Então ouvi. Um som quase imperceptível. Dois toques curtos na madeira da janela, como um código silencioso que só eu entenderia. Caminhei até ali. No escuro, sob a lua pálida, a silhueta de Ricardo se destacava na sombra do estábulo ao longe.
Meu corpo estremeceu. Peguei um casaco leve para disfarçar, abri a porta devagar e caminhei pelo gramado úmido, as sandálias afundando na grama. Cada passo era um risco, mas também uma certeza. A distância até o estábulo parecia maior do que era, o coração disparado, a respiração curta.
Ele já estava lá, de pé, encostado à madeira, me esperando. O olhar faiscava mesmo na penumbra. Quando me aproximei, ele apenas abriu os braços, como quem entrega o corpo e a alma sem precisar de palavras.
Quando alcancei o estábulo, Ricardo me puxou de imediato pela cintura e me fez girar, colando minhas costas contra o peito dele. Seu braço forte me prendeu e, por um instante, não houve sexo, só silêncio. Senti sua respiração pesada no meu ouvido, o coração batendo como se fosse tambor de guerra.
As mãos dele deslizaram devagar pelo meu corpo, por cima do vestido, sem pressa. Um toque reverente, quase religioso, que me arrepiou inteira. Virei-me para encará-lo e o beijo foi como uma descarga: urgente, cheio de fome. Ele me levantou pelas coxas e me sentou na borda de uma carroça velha que estava encostada ao canto. O ferro gelado contra minha pele contrastava com o calor do corpo dele.
Com os joelhos afastados, ele ajoelhou-se diante de mim. O som do feno rangendo sob seus pés se misturava ao meu gemido quando sua língua encontrou minha vagina. Eu arqueava, puxava seus cabelos, enquanto ele me devorava sem pudor, explorando cada dobra, sugando o clitóris até me fazer gozar em espasmos curtos, quase sem controle.
Não me deu trégua. Me virou de bruços sobre a carroça, o vestido erguido, e me penetrou de uma vez. O barulho de seu corpo contra o meu ecoava no estábulo como uma música proibida. As estocadas eram fortes, rápidas, e o metal vibrava sob meu ventre a cada investida. Eu gemia alto, mas ele tampava minha boca com a mão, sussurrando rouco. Se acalme, Vi, ou vão nos ouvir.
Aquilo só incendiou ainda mais. Me virei de frente, o puxei para dentro de mim com as pernas, e o ritmo se tornou frenético. O suor escorria, nossas bocas se devoravam com mordidas, e o gosto de sangue misturado ao desejo me enlouquecia.
No auge, ele me deitou no monte de feno e me ergueu pelas pernas, penetrando fundo enquanto meu corpo ficava suspenso apenas pelos seus braços fortes. O prazer era tanto que lágrimas caíam dos meus olhos. Gritei seu nome, gozando de novo, e senti o jorro quente dele me preencher inteira.
Mas não acabou. Eu desci para o chão de terra batida, empurrei-o sentado sobre o feno e montei nele, cavalgando com força, meus seios balançando diante de seus olhos famintos. Ele segurava minha cintura, mas eu mandava no ritmo, descendo até sentir cada centímetro pulsar dentro de mim. Gozei de novo, rebolando lento sobre seu pênis, e antes que ele recuperasse o fôlego, deslizei até seu ânus, tomando-o de surpresa. A penetração foi lenta, mas depois brutal, e eu quase desmaiei de prazer com a intensidade.
Quando finalmente desmoronamos, exaustos e suados, o cheiro de palha e sexo impregnava o ar. Ficamos abraçados, rindo baixinho como cúmplices de um crime delicioso.
O risco, no entanto, ainda estava ali. Vestimos as roupas em silêncio, ajeitando o que dava. Ele saiu primeiro, firme, atravessando o gramado até seu chalé. Esperei alguns minutos e segui, as pernas bambas, o corpo ardendo, mas com o sorriso de quem tinha queimado no fogo do próprio guardião.
Na cama, deitei de bruços. Ainda sentia o calor dele dentro de mim, o corpo latejando. Adormeci assim, exausta, mas plena.
Foto 1 do Conto erotico: O Dia no Hotel-Fazenda (Água, Cavalo e Trilha) - Hotel Fazenda Parte 4


Faca o seu login para poder votar neste conto.


Faca o seu login para poder recomendar esse conto para seus amigos.


Faca o seu login para adicionar esse conto como seu favorito.


Twitter Facebook

Comentários


foto perfil usuario coroaandre

coroaandre Comentou em 13/09/2025

Sempre ótimos e sensuais parabéns . Voto com certeza




Atenção! Faca o seu login para poder comentar este conto.


Contos enviados pelo mesmo autor


242283 - Meu silêncio grato pela sua amizade - Categoria: Poesias/Poemas - Votos: 7
242263 - O Churrasco da Noite (O Ciúme em Brasa) Hotel-Fazenda Parte3 - Categoria: Traição/Corno - Votos: 8
242260 - O Café da Manhã (As Pistas no Corpo) – Hotel-Fazenda - Parte 2 - Categoria: Traição/Corno - Votos: 6
242250 - Desabafo-Homem com Testosterona Não Faz Chororô - Categoria: Traição/Corno - Votos: 7
242191 - Dias de Calmaria Hotel-Fazenda - Parte 1 - Categoria: Traição/Corno - Votos: 10
242179 - A Cidade (Conversas Pendentes) - Categoria: Traição/Corno - Votos: 7
242095 - A Prova do Nosso Amor - Categoria: Traição/Corno - Votos: 18
241903 - No Colo do Guardião - Categoria: Traição/Corno - Votos: 9
241902 - Entre o Desejo e a Honra - Categoria: Traição/Corno - Votos: 8
241901 - A Primeira Saída a Quatro - Categoria: Traição/Corno - Votos: 12
241900 - O Amanhecer das Leoas - Categoria: Traição/Corno - Votos: 7
241831 - O Dia da Leoa - Karol a Descobre - Categoria: Traição/Corno - Votos: 11
241805 - O Sítio da Família (O Almoço dos Quatro) - Categoria: Confissão - Votos: 9
241790 - Meu Motorista - O Elevador da Tentação Parte 2 o Final - Categoria: Traição/Corno - Votos: 14
241735 - Meu Motorista - O Elevador da Tentação Parte 1 - Categoria: Traição/Corno - Votos: 17
241682 - Ricardo, meu eterno - Categoria: Poesias/Poemas - Votos: 12
241641 - Parte 2 – O Segredo do Nosso Pecado - O Peso da Escolha - Final - Categoria: Traição/Corno - Votos: 14
241637 - Parte 1 – O Segredo do Nosso Pecado - Categoria: Traição/Corno - Votos: 14
241520 - Entre Segredos e Desejo Minha cunhada me confessou - Categoria: Traição/Corno - Votos: 21
241517 - Desejo no Caminho de Casa - Categoria: Traição/Corno - Votos: 22
241444 - Quando o Motorista Despertou a Mulher em Mim - Categoria: Traição/Corno - Votos: 41

Ficha do conto

Foto Perfil vivianebeatriz
vivianebeatriz

Nome do conto:
O Dia no Hotel-Fazenda (Água, Cavalo e Trilha) - Hotel Fazenda Parte 4

Codigo do conto:
242325

Categoria:
Traição/Corno

Data da Publicação:
13/09/2025

Quant.de Votos:
3

Quant.de Fotos:
1