A Prova do Nosso Amor



O barzinho estava cheio como sempre, mas para mim nada tinha graça. As risadas, a música, as taças tilintando… tudo soava distante. Desde que Rubens passara dois meses em casa comigo, eu me afastara do grupo. E agora, de volta, me via cercada por olhares e cochichos.
Beth, com aquele jeito venenoso de sempre, lançou a faísca.
“Viviane, você ficou sabendo? Solange anda suspirando por Ricardo. E na última saída com a turma, parece que os dois… sumiram juntos.”
O sangue me ferveu. O coração bateu descompassado, e a única coisa que vi foi Ricardo sentado, firme, impassível, como se nada tivesse acontecido.
Antes que eu explodisse, Karol se levantou. A voz dela cortou o barulho da mesa.
“Chega. Eu estava lá em todas as vezes. O Ricardo nunca passou dos limites. Ele não se aproxima de Solange, é ela quem se insinua. E se vocês querem espalhar boatos, façam sozinhas. Mas não ousem colocar esse homem na boca de vocês.”
O silêncio caiu. Todos olharam para ela, depois para mim. Senti uma mistura de orgulho e raiva: orgulho por ter Karol me defendendo, raiva por ainda sentir a sombra do ciúme me corroendo.
A noite continuou, mas para mim estava arruinada. Assim que saímos, pedi a Ricardo que me levasse ao Recanto.
Lá dentro, o silêncio era sufocante. Encostei-me na parede e finalmente explodi.
“Então é isso, Ricardo? Dois meses eu cumpro meu papel, fico ao lado do meu marido, e você me paga com boatos? Você não imagina o ridículo que eu senti hoje.”
Ele permaneceu firme, os olhos fixos em mim.
“Viviane, eu não devo nada além da verdade. E a verdade é simples: não fiz nada. Se Solange tentou alguma coisa, foi problema dela. Eu nunca dei espaço.”
Meu peito queimava, as lágrimas ameaçavam.
“Mas você não vê? Só de estarem falando já é o suficiente para me destruir.”
Ele respirou fundo, e sua voz veio grave, carregada.
“Não posso lutar contra boatos, Viviane. Só posso ser leal a você. Se isso não basta… então talvez nada vá bastar.”
As palavras dele cortaram como lâmina. Eu queria acreditar, mas o ciúme ainda pulsava. Virei o rosto, respirando fundo, e com a voz embargada apenas disse:
“Me leva para casa, Ricardo. Hoje não.”
Ele ficou parado por alguns segundos, até que pegou as chaves, abriu a porta e me acompanhou em silêncio até o carro. No trajeto, nenhuma palavra foi dita. Apenas o som do motor preenchia o espaço entre nós — um espaço que, pela primeira vez, pareceu intransponível.

A manhã amanheceu cinza, mesmo com o sol atravessando a janela. O café estava pronto, mas não tinha gosto. Tudo parecia mais silencioso do que deveria, como se até as paredes soubessem da distância que havia se instalado entre nós.
Ricardo apareceu na sala pontual como sempre, postura firme, expressão impenetrável. Disse apenas um “bom dia” seco, sem olhar nos meus olhos, e seguiu para cumprir a rotina. Aquele silêncio dele doía mais do que qualquer palavra dura que pudesse ter me dito na noite anterior.
Passei o dia tentando me ocupar: pequenos afazeres, leituras, telefonemas de fachada. Mas, no fundo, nada preenchia o vazio. A briga ainda ecoava dentro de mim, junto com a dor dos boatos que me corroíam.
Foi no meio da tarde que Karol apareceu. Entrou sem cerimônia, como sempre, e me encontrou sentada no sofá, absorta. Sentou-se ao meu lado, me empurrou de leve com o ombro e falou no seu jeito direto.
“Tá, conta. O que aconteceu ontem entre você e o Ricardão? Porque eu saí de lá pronta pra defender ele até o fim, mas o jeito que vocês dois estavam… parecia que o mundo ia acabar.”
Suspirei fundo, evitando os olhos dela.
“Karol… eu não aguento. Esses boatos, essa sombra. Eu sei que ele é leal, mas quando todo mundo fala, quando até parece verdade… eu desmorono.”
Karol me segurou pelo queixo e me fez encará-la.
“Escuta, irmã. Eu vi tudo. Eu estava em todas. O Ricardo não fez nada, absolutamente nada. Se tivesse feito, eu mesma seria a primeira a te contar. Ele é fiel a você de um jeito que até me assusta. Você precisa acreditar nele, porque se não acreditar… você vai perder.”
As palavras dela entraram fundo. E antes que eu respondesse, ela completou, mais suave.
“E quer saber? Eu nunca vi um homem olhar para uma mulher do jeito que ele olha pra você. Até quando você estava com Rubens em casa, eu via. Ele se mantinha firme, mas o olhar… era só seu. Você acha que qualquer outro teria suportado? Ele suportou.”
As lágrimas escorreram, silenciosas. Karol me puxou para um abraço apertado, e ficamos assim por alguns minutos. Então ela riu, como sempre fazia para aliviar.
“Agora vamos combinar: vocês dois são cabeça dura. Eu vou falar com ele também. Vou dar um jeito de colocar vocês frente a frente de novo. Porque, Viviane, um amor desses não dá pra jogar fora por causa de fofoca de mesa de bar.”
Assenti em silêncio, o coração apertado. E pela primeira vez desde a noite anterior, senti uma fagulha de esperança. Talvez Karol tivesse razão. Talvez ainda houvesse como reconstruir a ponte quebrada.
Karol chegou cedo, batendo a porta como quem já vinha com a sentença pronta. Entrou na sala, jogou a bolsa no sofá e cruzou os braços diante de mim.
“Viviane, a gente precisa conversar. E hoje não é fofoca nem risadinha. É sério.”
Sentei, já sentindo o peso da voz dela. Karol suspirou fundo, me olhando firme.
“Você tá se deixando consumir, irmã. Eu vi seu olhar ontem, vi como voltou destruída. Você ama o Ricardo, mas em vez de confiar, deixa o ciúme falar mais alto. Isso não é justo nem com você, nem com ele.”
Abri a boca para responder, mas ela ergueu a mão, pedindo silêncio.
“Não adianta, eu já decidi. Esse papo não vai ser só entre nós. O Ricardão também vai ouvir.”
Antes que eu protestasse, ela se levantou e chamou em voz alta pelo corredor.
“Ricardo! Pode vir aqui agora. Esse puxão de orelha é pros dois.”
Ele apareceu na porta alguns segundos depois, sério como sempre, o olhar desconfiado. Karol apontou para o sofá.
“Senta. Não é pedido, é ordem.”
Ricardo ergueu a sobrancelha, mas obedeceu. Ficamos lado a lado, enquanto Karol se posicionava na nossa frente, como uma juíza prestes a dar o veredito.
“Pronto. Agora escutem. Viviane, você precisa parar de se sabotar. Eu estava lá em todas as saídas, eu vi. Se Solange tentou alguma coisa, problema dela. O Ricardo não deu espaço. Mas você… prefere acreditar nos cochichos em vez de no homem que tá ao seu lado. Isso vai acabar te destruindo.”
Meu rosto queimava, mas Karol não parou. Virou-se para Ricardo, o dedo apontado como uma seta.
“E você, Ricardão, não pense que tá limpo. Você se fecha, engole tudo e acha que o silêncio resolve. Não resolve! A Viviane não é adivinha. Ela precisa ouvir de você, precisa sentir segurança nas palavras também. Então chega de só olhar e se calar. Fala, se abre.”
O ar ficou pesado. Eu baixei os olhos, sentindo a bronca que merecia. Ricardo respirou fundo, a mandíbula firme, até que finalmente falou.
“Eu não errei, Viviane. Não cometi nada do que dizem. Se ainda assim você duvida, eu não sei o que mais posso fazer. Mas saiba que eu não quero abrir mão de você.”
As lágrimas encheram meus olhos. Karol bateu as mãos, como quem encerrava o julgamento.
“Pronto. Era isso que vocês precisavam ouvir. Agora, decidam: confiam um no outro ou parem de se torturar. Porque eu, sinceramente, não vou viver apagando incêndio de casal cabeça dura.”
Ela se inclinou, deu dois tapinhas em nossos ombros e abriu um sorriso largo.
“E sim, foi puxão de orelha. Se reclamarem, dou outro.”
A gargalhada dela quebrou o peso do momento. Até Ricardo, sério, deixou escapar um sorriso discreto. Eu respirei fundo, ainda com o coração apertado, mas sentindo que uma ponte tinha começado a se reconstruir.
A porta bateu atrás de Karol, e o silêncio se espalhou pela sala. O rastro da gargalhada dela ainda ecoava, mas agora éramos só nós dois. Eu e Ricardo, lado a lado no sofá, com uma distância mínima entre nós, e ao mesmo tempo um abismo que parecia infinito.
Fixei os olhos nas mãos entrelaçadas no meu colo. Não sabia por onde começar. Foi ele quem quebrou o silêncio, com a voz grave, baixa, mas firme.
“Viviane… eu nunca pensei que fosse tão difícil pra você confiar em mim. Achei que meus gestos bastassem. Achei que meus olhos falavam mais do que minhas palavras. Mas pelo visto, não é suficiente.”
Levantei a cabeça devagar, encarando aquele rosto que sempre me pareceu inquebrável.
“Ricardo, não é falta de confiar. É medo. Medo de te perder, medo de que o mundo lá fora me roube o que encontrei em você. Quando escuto boatos, mesmo sabendo que não são verdade, eles entram como veneno. Me consomem.”
Ele fechou os olhos por um instante, respirando fundo, antes de voltar a falar.
“Você não entende. Desde o primeiro dia em que me entreguei a você, eu já aceitei o risco. Já aceitei o peso de estar na sombra, de ser só o seu guardião na frente dos outros. Eu nunca precisei de título, nunca precisei de reconhecimento. Só precisava que você soubesse que eu sou seu. E isso nunca mudou.”
As lágrimas queimavam nos meus olhos. Segurei sua mão com força, sentindo o calor firme da pele dele.
“Eu sei, Ricardo… mas às vezes meu coração não acompanha minha razão. Eu olho pra você e vejo todas as mulheres te desejando. E dentro de mim cresce esse medo de que uma hora você se canse, de que perceba que merece mais do que posso te dar.”
Ele se inclinou, aproximando o rosto do meu. Seus olhos ardiam como brasas.
“Mais? O que mais eu poderia querer, Viviane? Eu já tenho o que busquei a vida inteira. Você. Com suas dúvidas, com seus medos, com esse ciúme que às vezes me arranca do sério. Mas é você. Só você. E eu não trocaria isso por nada.”
A respiração ficou presa na minha garganta. Senti que aquelas eram as palavras que sempre faltaram, as que eu tanto esperava ouvir. O silêncio que seguiu não foi pesado, mas sereno. Ele entrelaçou seus dedos aos meus, e dessa vez, não havia distância.
Ficamos assim por longos minutos, sem pressa, sem necessidade de mais nada. Só duas verdades que finalmente tinham se encontrado.
O peso da briga parecia finalmente começar a se dissolver. Eu e Ricardo estávamos no sofá, mãos entrelaçadas, sem precisar de mais nada além do silêncio que agora tinha sabor de paz. Pela primeira vez em dias, meu coração respirava.
Foi nesse momento que a porta se abriu de repente, e Karol reapareceu. Carregava uma bolsa pequena e um sorriso atrevido.
“Acham mesmo que eu ia embora deixando vocês dois desse jeito? Esqueçam. Hoje eu durmo aqui.”
Ricardo soltou um suspiro pesado, mas não protestou. Eu, surpresa, apenas ri.
“Karol, você não tem jeito.”
Ela se jogou no sofá ao nosso lado, colocando os pés em cima da mesinha como se fosse dona do lugar.
“Não mesmo. E vou logo avisando: eu não prego o olho enquanto não tiver certeza que vocês resolveram tudo. Então, contem lá… já fizeram as pazes?”
Olhei para Ricardo, que apenas me encarou com aquele olhar firme. Respondi em voz baixa.
“Estamos no caminho.”
Karol bateu palmas, satisfeita.
“Ótimo. Porque vocês dois juntos são uma muralha. E quando brigam, parece que o mundo inteiro desaba. Eu não vou deixar isso acontecer.”
A noite seguiu leve. Conversamos sobre tudo: lembranças da infância, histórias engraçadas, até pequenos segredos que nunca havíamos compartilhado. Ricardo falou pouco, mas o suficiente para arrancar risadas sinceras de mim e de Karol. Ela, por sua vez, não parava de repetir, com o jeito maroto de sempre.
“Agora sim. Hoje eu posso dormir tranquila. Minha irmãzinha e o Ricardão finalmente se acertaram.”
A sala estava iluminada apenas pelo abajur da esquina, lançando sombras suaves pelas paredes. Eu e Ricardo permanecíamos lado a lado no sofá, de mãos entrelaçadas, enquanto Karol se espalhava confortavelmente na outra ponta, observando cada gesto nosso como uma espectadora ansiosa.
Ela suspirou, dramática, apoiando o queixo na palma da mão.
“Tá bonito de ver vocês assim, mas ainda não me convenceram. Quero provas de que se acertaram, ou não sossego.”
Olhei para Ricardo, e pela primeira vez naquela noite, vi algo diferente: não apenas firmeza, mas a chama que sempre queimava por mim. Ele manteve o olhar cravado nos meus olhos, aproximou-se devagar, e sua mão subiu até minha nuca. Meu corpo estremeceu. Eu respirei fundo, hesitei por um segundo, e então me rendi.
Nossos lábios se encontraram em um beijo profundo, ardente, cheio de tudo que tínhamos guardado. Não foi apenas reconciliação, foi um grito de pertencimento. Ele me puxou mais para perto, como se quisesse me engolir inteira, e eu correspondi com toda a fome que havia acumulado.
Karol, ao lado, soltou um gemido exagerado, quase como uma plateia enlouquecida.
“Meu Deus! Eu tô vendo isso mesmo? Vocês perderam a vergonha de vez?”
Mas não paramos. Pelo contrário, o comentário dela só incendiou ainda mais o beijo. Ricardo deslizou a mão pela minha cintura, me puxando para seu colo, e eu me deixei cair sobre ele sem pensar em nada além do calor daquele momento. Nossos lábios se buscavam como se o mundo tivesse parado.
Karol bateu palmas, os olhos brilhando em êxtase.
“Isso! Isso sim é reconciliação. Nunca pensei que veria esse dia… vocês dois sem disfarce, sem medo. Estou em choque, mas apaixonada por essa cena.”
Eu finalmente me afastei de Ricardo, ofegante, os lábios ainda latejando pelo beijo. Olhei para Karol e sorri, corando.
“Pronto, convencida?”
Ela se jogou de costas no sofá, rindo como uma criança.
“Convencidíssima! Esse foi o maior presente que vocês poderiam me dar. Eu tô em êxtase, de verdade. Nunca mais vou esquecer dessa noite.”
Ricardo passou o braço ao redor da minha cintura e me manteve junto dele, em silêncio, mas o sorriso discreto no canto de sua boca dizia tudo. Eu estava em casa outra vez, inteira, dele.
A sala, que antes estava carregada de tensão, agora transbordava calor, riso e cumplicidade. Karol ainda falava sem parar, mas no fundo, sabia que tinha acabado de testemunhar algo único: nossa entrega descarada, sem máscaras, pela primeira vez.
O silêncio após o beijo ardente durou pouco. Karol ainda estava em êxtase, os olhos brilhando como quem tinha visto algo proibido. Ela se ergueu no sofá, apoiou os cotovelos nos joelhos e nos olhou fixamente, como uma investigadora prestes a arrancar confissões.
“Tá, agora eu quero detalhes. Vocês acham que vão me enlouquecer com esse beijo e vão parar por aí? Nem pensar. Eu quero saber tudo. Como é que vocês fazem quando estão sozinhos? Quem começa? É você, Vi, ou é o Ricardão que domina logo de cara?”
Meu rosto queimou instantaneamente, mas não deixei de rir, escondendo o rosto entre as mãos.
“Karol, você é impossível!”
Ricardo, ao meu lado, não desviou o olhar. Ele manteve aquela postura firme, mas a sombra de um sorriso denunciava que estava se divertindo com a ousadia dela.
“Karol, algumas coisas não se perguntam.”
Ela arregalou os olhos, teatral.
“Ah, pronto! Misterioso até nisso. Eu sabia! Ele deve ser do tipo que te deixa sem ar, Viviane. Fala a verdade, irmã, eu tô certa?”
Suspirei fundo, tentando manter o ar sereno, mas minha voz saiu carregada de duplo sentido.
“Digamos que… quando o Ricardo decide, não sobra muito espaço para eu resistir.”
Karol bateu palmas e soltou um grito.
“Eu sabia! Eu sabia! Esse homem tem cara de que não dá trégua.”
Ricardo arqueou a sobrancelha, me puxando mais para perto do seu peito.
“Você fala demais, Karol.”
Ela riu, mordendo o lábio inferior, e não desistiu.
“Tá, mas e você, Vi? Nunca tentou virar o jogo? Nunca quis mostrar pra ele que também sabe mandar?”
Olhei para Ricardo, provocativa, lembrando da noite anterior, e sorri de canto.
“Já tentei sim. E posso garantir… deu certo.”
Karol levou as mãos à cabeça, em êxtase.
“Meu Deus! Vocês me matam! E eu aqui, testemunha viva de que esse casal é fogo puro.”
O riso tomou conta da sala. O peso da briga parecia ter se dissolvido por completo. Ricardo permanecia calado, mas cada olhar dele para mim carregava a intensidade de mil palavras. Eu sabia que ele estava deixando Karol se divertir, e de certa forma, isso também era uma forma de reconciliação: mostrar que até as provocações não abalavam mais a confiança entre nós.
Karol, ainda rindo, se jogou contra a almofada, mas antes de fechar os olhos lançou a última farpa.
“Tá decidido, eu não vou embora nunca mais. Quero viver nessa novela de vocês. Nunca vi tanta paixão e tanto ciúme virar um espetáculo assim.”
Eu ri, encostando minha testa na de Ricardo, e pela primeira vez em muito tempo, me senti leve. Não havia boatos, não havia sombra. Só nós três, naquela sala, entre risos, provocações e uma cumplicidade que nenhum olhar externo seria capaz de entender.
Karol não conseguia parar. A cada minuto parecia mais excitada pela ousadia de estar ali, vendo o que nunca tinha visto. Ela se levantou de repente, foi até a cozinha, voltou com uma taça de vinho e se sentou na ponta do sofá, nos encarando como se estivesse prestes a soltar uma bomba.
“Tá, já que hoje vocês resolveram jogar limpo, vou perguntar de uma vez. Ricardo… qual foi a coisa mais louca que você já fez com a minha irmã?”
Engasguei na hora, tossindo, enquanto o vinho quase caiu da minha taça.
“Karol! Você perdeu a noção!”
Ela se jogou para trás, rindo alto.
“Ah, qual é, Vi! Eu sou sua irmã, não sou estranha. Você acha mesmo que eu não imagino? Eu quero é saber da boca de vocês.”
Ricardo permaneceu sério, mas a linha de seu maxilar ficou marcada. Seus olhos me fitaram por um segundo, e então ele respondeu baixo.
“O que acontece entre mim e sua irmã pertence só a nós dois.”
Karol arregalou os olhos e riu como se tivesse recebido a confirmação que queria.
“Ah, pronto! Essa resposta diz tudo. Quer proteger a Viviane, mas entregou geral. Se até pra mim você não responde, é porque foi coisa grande.”
Eu já estava corando até as orelhas, mas Karol não parou. Cruzou as pernas, olhou de lado para mim e soltou outra provocação.
“E você, irmãzinha? Me conta pelo menos uma. Só uma. O que é que esse homem faz que te deixa sem chão?”
Suspirei fundo, tentando manter o tom leve, mas deixei escapar um sorriso.
“Karol… se eu te contar, você nunca mais vai dormir em paz.”
Ela bateu palmas, gargalhando.
“Era isso que eu queria ouvir! Já valeu a noite. Eu tô ficando com inveja real de vocês dois.”
Ricardo bufou discretamente, ajeitando-se no sofá.
“Karol, você gosta de provocar demais. Mas lembre-se: cada resposta sua irmã me dá, eu vou cobrar dela depois.”
Karol quase caiu para trás de tanto rir.
“Ahhh, então é assim? Ele cobra, Vi? Meu Deus, vocês são melhores do que qualquer série que eu já assisti.”
O clima estava leve, mas carregado de malícia. Eu olhei para Ricardo, percebendo o desconforto mascarado pela sua postura firme. O ciúme queimava em mim, mas ao mesmo tempo, a presença dele ao meu lado, cada palavra, cada olhar, me trazia segurança.
Karol levantou-se mais uma vez, erguendo a taça como se fizesse um brinde.
“Decidi: vocês dois são meu entretenimento oficial. E eu não descanso até arrancar todos os segredos desse casal proibido.”
Eu ri, balançando a cabeça, mas por dentro sentia o coração em chamas. Ricardo apenas sorriu de canto, aquele sorriso quase imperceptível, mas que eu já sabia decifrar: ele estava me prometendo que depois cobraria cada palavra dita ali.
Karol já tinha bebido mais uma taça de vinho e estava soltinha, entregue às próprias provocações. O sorriso atrevido não saía de seus lábios, e os olhos brilhavam de malícia. De repente, inclinou-se para frente, olhando fixamente para Ricardo.
“Tá, Ricardão… vou mandar na lata. Se um dia você pudesse me provar do mesmo jeito que prova a Viviane… você toparia?”
O ar sumiu da sala. Minha taça quase escorregou da mão. O sangue subiu em disparada, e antes que eu pudesse responder, já senti o ciúme me incendiar inteira.
“Karol!” Minha voz saiu firme, quase um rugido. “Você passou do ponto.”
Ela riu, como sempre, tentando aliviar.
“Calma, irmã, foi só provocação! Eu queria ver a reação de vocês.”
Mas o fogo dentro de mim já ardia. Ricardo permaneceu imóvel por alguns segundos, até que finalmente falou. Sua voz veio grave, baixa, carregada de certeza.
“Karol, você me respeita. A Viviane não é só a mulher que eu protejo. Ela é a única mulher que eu desejo. O que eu tenho com ela não se repete com ninguém. Nunca.”
O silêncio caiu pesado. Senti as lágrimas subirem aos olhos, não de dor, mas de alívio. Karol piscou algumas vezes, surpresa com a dureza do tom dele, e então levantou as mãos em rendição.
“Ok, ok, entendi. Foi mal. Realmente passei do ponto.”
Ricardo virou o rosto para mim, e seus olhos encontraram os meus.
“Não deixa isso te corroer, Viviane. Você sabe a verdade. E a verdade é que eu sou seu. Só seu.”
Segurei a mão dele com força, ainda tremendo, mas sentindo o peso do ciúme se transformar em orgulho. Karol, percebendo o impacto que causara, respirou fundo e mudou o tom.
“Tá bom, prometo que não cutuco mais. Foi só o vinho falando mais alto. E… sabe de uma coisa? Vocês dois são tão intensos que até brincar com isso dá medo.”
Ela riu sem graça, tentando se redimir. Eu apenas encostei a cabeça no ombro de Ricardo, deixando que o calor dele me devolvesse a paz.
O silêncio ainda pairava no ar depois das palavras firmes de Ricardo. Eu, com a cabeça apoiada em seu ombro, sentia o coração finalmente aquietar. O ciúme que antes me consumia agora era engolido pela certeza de sua devoção.
Karol, percebendo o peso que havia criado, suspirou fundo, se jogou de costas no sofá e ergueu as mãos.
“Tá, tá, eu rendo. Passei do ponto, reconheço. Mas também… vocês dois são de outro mundo. A gente cutuca e logo descobre que esse fogo todo não é brincadeira.”
Virou-se de lado, abraçou uma almofada e riu baixinho.
“Pronto, não falo mais nada. Só vou ficar aqui quietinha assistindo vocês dois, porque já vi que isso é espetáculo exclusivo.”
Eu e Ricardo trocamos um olhar silencioso. Ele, com aquele meio sorriso de canto, passou a mão suavemente pelo meu rosto, afastando uma mecha de cabelo. Toquei seus dedos, levando-os até meus lábios, e o beijei com ternura. Não foi um beijo urgente como antes, mas um gesto lento, cheio de calma e certeza.
Karol, de olhos semicerrados, não resistiu a uma última provocação.
“Pronto, agora sim. Beijo de paz selada. Eu posso dormir tranquila. Vocês finalmente se acertaram.”
Soltei uma risadinha, e Ricardo apenas balançou a cabeça, como se aceitasse a cena toda do jeito que era. Ficamos ali, os três, a madrugada avançando em silêncio. Karol adormeceu primeiro, ainda abraçada à almofada. Eu e Ricardo permanecemos juntos, mãos entrelaçadas, como se nada mais precisasse ser dito.
A reconciliação estava feita. Não pelas palavras, mas pelo gesto simples de permanecermos lado a lado, firmes, apesar de tudo.
A claridade atravessava as frestas da cortina quando acordei. Ricardo ainda dormia ao meu lado, corpo pesado, respiração profunda. Levantei devagar, ajeitei os lençóis sobre ele e fui até a sala.
Karol já estava acordada, deitada no sofá com uma xícara de café na mão e um sorriso maroto nos lábios. Quando me viu, ergueu a sobrancelha como quem não precisava de muitas palavras.
“Bom dia, irmãzinha. Dormiu bem? Eu até dormi feito um anjo… mas a grande pergunta é: e vocês dois, o que fizeram depois que eu apaguei?”
Cruzei os braços, tentando manter a seriedade, mas o rubor denunciava mais do que eu queria.
“Karol, você é impossível. Acha mesmo que vou responder isso?”
Ela abriu a boca para retrucar, mas não precisou. Nesse instante, Ricardo surgiu pelo corredor. O cabelo bagunçado, a expressão séria, os olhos ainda semicerrados pelo sono… mas o jeito dele bastava. Só de olhar, já era óbvio que algo tinha acontecido.
Karol arregalou os olhos, levou a mão à boca e caiu na risada.
“Meu Deus! Nem precisa responder mais nada. A cara do Ricardão já entregou geral!”
Eu tentei disfarçar rindo, mas o sangue queimava em minhas bochechas. Ricardo, impassível, passou direto para a cozinha e serviu-se de café como se não tivesse ouvido nada. Essa calma dele só atiçava ainda mais a imaginação de Karol.
“Pronto, confirmado. Eu apaguei como uma santa e vocês incendiaram a casa inteira. Agora tô oficialmente com inveja.”
Ricardo voltou para a sala, sentou-se ao meu lado e encarou Karol com aquela firmeza que calava qualquer provocação.
“O que eu e sua irmã fazemos quando estamos sozinhos não é assunto para você, Karol.”
Ela caiu na gargalhada, batendo palmas.
“Eu sabia! Quanto mais ele nega, mais confirma. Vocês dois são meu entretenimento preferido.”
Olhei para Ricardo e, no instante em que nossos olhos se encontraram, senti a cumplicidade pulsar entre nós. Sorri de canto, como quem guarda um segredo que ninguém jamais roubaria.
Karol soltou um suspiro exagerado, se jogando contra a almofada.
“Tá bom, tô excluída do capítulo de ontem. Mas confesso, só de ver vocês dois assim, já vale o espetáculo.”
O fim da manhã chegou rápido. Eu preparei a mesa enquanto Karol se encarregava das piadinhas de sempre, provocando com olhares e risadas. Ricardo, como sempre, ajudava em silêncio, pegando os pratos, servindo a água, agindo com aquela calma que só ele tinha.
Sentamos juntos, os três, e logo Karol começou.
“Pronto, agora quero saber. Se eu tivesse apostado ontem que vocês iam fazer as pazes com um beijo de novela e uma noite de fogo, eu teria ganhado fácil. Só me resta uma dúvida… quando é que vão me contar os detalhes?”
Revirei os olhos, fingindo impaciência.
“Karol, você não vai descansar nunca, né?”
Ela deu de ombros, sorrindo marota.
“Jamais. Esse é o papel da irmã mais nova: atormentar.”
Ricardo, até então calado, largou os talheres e olhou fixamente para nós duas. O silêncio dele chamou a atenção de imediato. Quando falou, sua voz veio grave, carregada de peso.
“Vocês riem, brincam… mas vou dizer algo que nunca disse. Muitas vezes eu pensei em largar tudo. Trabalho, rotina, vida inteira. Só pra poder viver ao lado da Viviane sem máscaras.”
As palavras caíram como uma pedra no meio da mesa. Karol arregalou os olhos, sem piada pronta dessa vez. Eu senti o coração acelerar, a respiração falhar.
Ele continuou.
“Mas sei que não é tão simples. Eu aceitei o lugar que ocupo, aceitei o risco, aceitei o silêncio. E só aceitei porque o que sinto por ela é maior que qualquer sacrifício.”
As lágrimas queimaram meus olhos. Estendi a mão, segurando a dele com firmeza.
“Ricardo…”
Karol respirou fundo e, para quebrar a tensão, deixou escapar um sorriso emocionado.
“Olha só vocês dois… até eu que sou dura fiquei mole agora. Se alguém ainda duvidava, acho que ficou mais claro impossível. Ricardão, você acabou de selar o que eu já sabia: você é dela. E só dela.”
Ele não respondeu. Apenas manteve meus dedos entrelaçados aos seus, firme, como um pacto silencioso.
A refeição seguiu, agora num misto de risos tímidos e silêncios cheios de significado. Karol, mesmo tentando trazer humor de volta, não conseguia esconder o brilho nos olhos.
A mesa estava em silêncio depois da declaração de Ricardo. Eu ainda segurava sua mão, e sentia meu coração bater descompassado. Karol respirava fundo, olhando para nós dois como quem havia assistido a algo sagrado.
De repente, ela bateu as palmas, quebrando o clima.
“Pronto! Decidi. Depois de ouvir isso, não vou mais largar vocês. Se o Ricardão já pensou em largar tudo pela minha irmã, então eu viro oficialmente a guardiã desse amor. Vocês não escapam de mim nunca mais.”
Soltei uma risada entre lágrimas, e até Ricardo deixou escapar um meio sorriso.
“Karol…”
Mas ela não parou. Levantou a taça de suco e ergueu como se fosse um brinde.
“A partir de hoje, eu declaro: ninguém vai separar vocês. Nem boato, nem ciúme, nem distância. Porque se tentarem, vão ter que passar por mim primeiro.”
Ricardo arqueou uma sobrancelha, com aquele ar sério que sempre o acompanhava.
“E quem vai proteger você de você mesma, Karol?”
Ela gargalhou, dando de ombros.
“Você, claro! Ou o Alberto, se ele aprender direito com você. Mas até lá, eu mesma me viro.”
Todos rimos, e a tensão se desfez. A refeição seguiu leve, recheada de provocações e piadinhas, mas com algo diferente no ar: a sensação de que, apesar dos ciúmes, dos riscos e das dores, havia um pacto invisível nos unindo ainda mais.
No fim, Karol se levantou, cruzou os braços e nos encarou como quem dava um ultimato.
“Só pra deixar claro: se algum de vocês dois tentar estragar isso de novo, eu mesma puxo a orelha. Entendido?”
Olhei para Ricardo, e ele apenas assentiu, sério, mas com um brilho de cumplicidade no olhar. Eu sorri, sentindo uma paz que não lembrava havia semanas.

Foto 1 do Conto erotico: A Prova do Nosso Amor


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Comentários


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mans Comentou em 10/09/2025

Voce é insuperavel Vivi.... Pelo titulo claro, logo esperei algo mais explicito (dentro dos seus limites), mas não, um momento sublime depois da tormenta de amor e cumplicidade. Parabens

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casalbisexpa Comentou em 10/09/2025

puro tesao lindas == larissabritosss Grupo == s/+zmpWy6G7mgtjOGEx

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fernando1souza2 Comentou em 10/09/2025

Q gostosas!

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carinhoso196- Comentou em 10/09/2025

Votei Só porque gostei da foto as meninas são muito linda

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farmaceutico- Comentou em 10/09/2025

amando esse serie! Que foto hein, duas gatissímas! E a karol oscar de melhor coadjuvante.

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umpoucodetudo Comentou em 10/09/2025

Que história 👏👏👏👏👏👏




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241641 - Parte 2 – O Segredo do Nosso Pecado - O Peso da Escolha - Final - Categoria: Traição/Corno - Votos: 14
241637 - Parte 1 – O Segredo do Nosso Pecado - Categoria: Traição/Corno - Votos: 14
241520 - Entre Segredos e Desejo Minha cunhada me confessou - Categoria: Traição/Corno - Votos: 20
241517 - Desejo no Caminho de Casa - Categoria: Traição/Corno - Votos: 20
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Ficha do conto

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Nome do conto:
A Prova do Nosso Amor

Codigo do conto:
242095

Categoria:
Traição/Corno

Data da Publicação:
10/09/2025

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