Eu já tinha passado na matéria, mas queria muito atingir uma ótima nota no boletim. Gostava de matemática e, por isso, torcia para cair num grupo que pudesse ter a possibilidade de tirar uma boa nota. Os nomes iam rolando e seguia ansiando para eu cair em um que pudesse atingir meu objetivo particular. Porém, nada do meu nome sair.
Faltando menos de dez alunos a serem sorteados, notei que Bruna estava "sobrando" feito eu e comecei a pensar em como poderia valer a pena abrir mão do meu objetivo de nota para poder conversar com ela. Eu a admirava quase tendo um caso platônico e o trabalho poderia me render oportunidades que eu jamais teria naquele finalzinho de ano. Passei então a torcer para ter a sorte de cair no mesmo grupo dela.
— Bruna! - falou o professor que logo buscou os papéis com os números dos grupos.
— Grupo 3! - completou.
No grupo estavam: Ana, uma patricinha super fútil que se achava a pessoa mais gostosa do mundo - ela até era realmente muito atraente, mas era burrinha feito uma porta; Júlia, uma morena de cabelos cacheados ótima para escrever e produzir trabalhos escritos, mas péssima em apresentar, não tinha um atributo físico que chamasse tanta atenção, mas não era feia, apenas "sem sal", e; Jorge, aluno repetente que era super gente boa, da turma do fundão, animado, adorava esportes, mas em se tratando de estudar e ler um livro, era melhor deixar pra lá.
Ver Bruna ir para esse grupo me deixava confuso. Eram personalidades muito diferentes juntas. A chance de uma excelente nota era muito baixa, mas aquele desejo de poder ter um assunto para puxar com ela ainda estava me atraindo muito.
— Vamos para a última rodada de sorteio. Só que farei diferente! - disse o professor sendo interrompido por toda a turma que estava contrariada por ter grupos tão diferentes e estranhos e aproveitava-se da "mudança de regra" pra tentar invalidar todo o processo.
— Calma gente, deixa falar! Não vou mudar ninguém dos grupos não. Vou sortear os nomes, só que agora é o aluno que escolhe o grupo que ele quer ir já que ficou por último. - concluiu o professor sendo novamente interrompido.
Isso tomou um tempo que me fez sentir os olhares dos grupos sobre mim e os outros quatro colegas que ficaram por último. Os olhares eram de um certo desprezo somado à um interesse, como se quisessem falar que só iria pro grupo deles se fizesse tudo sozinho. Foi uma sensação esquisita. Tanto que nem percebi se Bruna e seu grupo chegou a fazer o mesmo.
O professor chamou um nome e dois grupos meio que imploraram para que o colega fosse pra lá. Mas ele optou por outro, que não era o de Bruna, ainda bem. O segundo sorteado contrastou com o primeiro pois quando ele optou por ir ao grupo 1, os colegas meio que fizeram cara de ódio por aquilo. Claramente não queriam ele por lá.
Finalmente ouvi meu nome e, pra mim, estava claríssimo onde queria ir. Mas ao observar o grupo, vi que Jorge estava aproveitando a oportunidade para trocar uma boa conversa com Bruna. Como aquilo me deixou enciumado, no momento cheguei até a pensar em ir pra outro grupo só para não ver cenas como aquela. Mas em questão de milésimos de segundos resolvi ignorar, afinal, ele também precisava interagir com todo mundo pra fazer o grupo funcionar.
— Qual grupo quer ir? perguntou o professor.
— Grupo 3! - respondi
— Aff! - disse Ana, reprovando minha escolha, ao passo que ignorei totalmente sua opinião.
Assim que o sorteio terminou, o professor pediu para que nos reuníssemos e iniciássemos nossas pesquisas. Me aproximei do grupo e fizemos uma roda. Jorge ficou à minha direita, Júlia à esquerda. Ana e Bruna ficaram um pouco mais afastadas.
— Como a gente vai fazer o trabalho? - quis saber Ana com uma cara debochada e ainda reprovando minha presença no grupo.
— Eu acho que a gente pode separar o material pra cada um fazer e depois juntamos tudo. - respondeu Júlia, tentando abreviar ao máximo aquele momento.
— Eu acredito que o melhor seria a gente se reunir de tarde na casa de alguém pra fazermos tudo juntos. Assim a apresentação ficaria mais organizada e atingíamos uma boa nota - dei a ideia torcendo para ampliar minhas oportunidades com Bruna.
— Perfeito! A gente pode ir na minha casa, meus pais nem estão por lá. Tem bastante espaço, piscina, a gente pode pedir algo pra comer e curtir um pouco também - falou Jorge sem tirar os olhos de Bruna, que apenas sorriu sem esboçar outra reação.
— Se for pra ir na casa do Jorge, eu aprovo! Lá é ótimo e vocês vão adorar. Principalmente você, Bruna. - falou Ana, demonstrando mais uma vez que estava pouco se lixando pro trabalho.
— O que você acha, Bruna? - perguntei tentando chamar atenção dela.
— Se a maioria do grupo topar, por mim tá tudo bem. - respondeu
Júlia resistiu um pouco, mas percebendo que seria a única a discordar, acabou topando. Ana voltou a elogiar a casa de Jorge e aquilo meio que me favoreceu. Na verdade, Ana sempre esteve interessada em Jorge, que nunca deu uma chance pra ela. E naquele momento estava claro que ele queria mesmo era conhecer a Bruna. Porém, ao perceber a sequência de elogios e o olhar sedutor de Ana direcionados à Jorge, Bruna simplesmente passou a achar graça daquilo e se esquivar dele.
Sobre o trabalho, eu e Júlia chegamos a iniciar a separação dos conteúdos enquanto os outros três seguiam planejando o que fazer de tarde. Até o papo de irem com roupa de piscina rolou e me deixou muito mais interessado quando Bruna avisou que veria se arrumaria ao menos um maiô pra ir. Como será que ela ficaria vestida assim? Fiquei até excitado só de pensar.
Continua...