O que será que aconteceu? Porque que ontem ela chegou a me abraçar e beijar o rosto e hoje reagiu com a mesma frieza de sempre? Será que algo rolou? Enquanto seguia me perguntando, mais alguns minutos depois e foi a vez de Jorge chegar. Também não reagiu de modo diferente. Era como se toda a tarde de ontem tivesse sido um sonho.
A aula começou e parece que Ana iria tomar falta mesmo. Júlia chegou atrasada e reagiu de uma forma diferente, confirmando que não estava em algum dejavu ou coisa do tipo.
— Oi, eu terminei o trabalho que começamos ontem. Dá uma olhada e vê se precisa mudar algo. Depois passa pra Bruna e o Jorge, se achar pertinente.
Peguei as folhas de sua mão e assegurei que leria posteriormente. As aulas foram se passando até chegar o intervalo. Desci para o pátio um pouco cabisbaixo e super pensativo. De repente senti um cutucão no ombro, ao me virar, recebi um abraço que já estava começando a ficar bem conhecido. Era Bruna, e agora não tinha bicicleta entre a gente. Como era gostoso abraçá-la, ficava encaixadinha em meus braços. Se afastou e me deu um beijinho na bochecha.
— E aí, como passou sua noite? Dormiu bem? - ela perguntou.
Como era bom conversar com ela.
— Dormi bem sim. Que bom que terminamos o trabalho logo, né?
— Aham!
— Seus pais lhe buscaram logo? - perguntei de forma sorrateira.
— Hum, não. Acabou que meu pai depois me ligou pedindo pra pedir um Uber - disse ela com um rostinho meio chateado.
— Deve ter demorado pra caramba até chegar.
— Nada, o Jorge se ofereceu pra levar e como ele já ia levar a Ana, fui com ele.
— Mas não é perigoso andar com ele naquele carro enorme? Afinal ele nem tem carteira ainda - falei num tom um pouco enciumado.
— Ele dirige bem, mas é péssimo em localização. Acabou que ele levou primeiro a Ana em casa e depois eu porque errou o trecho - falou com aquela doçura e inocência de sempre, algo que me deixou um pouco mais enciumado.
— Mas rapidinho cheguei em casa e correu tudo bem. Meu pai depois me paga! - falou num tom de revolta e fofura, brincando.
— Espero que tenha dormido bem também. - falei tentando deixar de ficar enciumado com uma carona.
— Que bom que falou sobre isso, claro que dormi bem, não só pelo trabalho, mas foi ótimo te conhecer um pouco mais. - falou ela.
Sua resposta me hipnotizou, tava na cara que ela tava na minha. Quem diria algo dessa forma, desse jeito? Ainda mais uma pessoa que logo fala pros caras que ficam na aba dela que não tá afim. Só sei que ela falou mais algumas coisas que eu nem mesmo entendi por ter ficado bobo com aquilo.
— Daí é isso. Vai ser ótimo conversar contigo, depois te procuro. - falou ela saindo ao encontro de suas amigas.
Fiquei sem entender muita coisa. Mas enquanto pensava sobre aquilo, também comecei a me questionar: será que ela queria minha amizade, ou estaria na minha? Minha insegurança logo foi reativada, comecei a suar frio e a pensar em mil e uma coisas pessimistas. Por onde quiser que eu observasse, só enxergava sendo jogado pra friendzone. Era claro que um mulherão daqueles não ia ficar comigo.
Na aula de matemática, por já termos terminado o trabalho, aproveitamos para conversar um pouco. Bruna me pegou para conversa e nos falamos bastante. Senti que se fosse pra ser amigo, que tudo bem, era bom estar perto dela. Mas aos poucos notei que ela também me abordava diferente, sem a mesma ênfase, como se tivesse notando que eu estava inseguro. Isso fez ela ficar um pouquinho distante de mim.
Lembrei da conversa que tinha tido com Ana e Júlia no dia anterior, sobre falar o que sentia. Não era justo pra mim, desejar tanto aquela mulher e tentar ser amigo sendo que queria muito mais que isso. Nem pra ela seria. Até porque, como saberia se ela estaria ou não afim de mim? Pedi licença, fui ao banheiro, analisei e decidi. Deveria falar com ela sobre aquilo, e seria naquele dia.
As aulas foram se passando até que a hora de ir embora chegou. Me apressei, organizei minhas coisas e acelerei o passo para sair antes de Bruna e abordá-la no portão. Assim que ela pôs os pés pra fora, apareci sem lhe causar susto e, caminhando ao seu lado, levando a bicicleta comigo, falei:
— Oi de novo! Preciso conversar contigo rapidão!
Sorridente, ela simplesmente falou que tava à disposição. Caminhamos até uma árvore e então resolvi colocar o que queria dizer pra ela pra fora.
— Então, que doideira né, a gente mal se falou direito, mas eu tô tão desorientado que preciso falar que eu tô muito afim de você e queria saber se eu tenho alguma chance! - falei rápido, morrendo de medo de ela me dar um fora e quase sai correndo sem nem mesmo esperar ela dizer algo.
Bruna ficou me observando, com um leve sorriso. Não falou nada, mas pegou em meu ombro, se aproximou e se aninhou em meu peito. Foi uma sensação muito gostosa.
— Eu sabia que mais cedo ou mais tarde você iria me fazer essa proposta. E tipo, eu gosto muito de conversar contigo, gosto da sua amizade, mas também sinto que falta algo a mais. Podemos estar errados ao fazer isso, mas eu queria saber o que pode rolar disso também. Eu lhe dou essa chance!
Lembro que esse foi um dos melhores momentos em minha vida. Superado pelo beijo que ela me deu, puxando minha cabeça para baixo. Que beijo longo, gostoso e tããããoo sob medida. Parecia que nem era meu primeiro beijo.
Logo depois, sorrimos um pro outro, ela retornou para frente da escola, para que seus pais lhe buscassem e eu fiquei ali, vendo eles chegarem para depois partir. Como foi bom!
Continua...