Era difícil descobrir isso diretamente de Bruna. Qualquer passo em direção a "amizade" dela com Jorge ela se irritava, dizia que não era nada demais e que devia se preocupar com ela e seus interesses. E depois, chegar três da manhã em casa no dia seguinte sendo levada por ele, eram indícios mais que suficientes pra saber que eu quem estava atrapalhando.
Na última semana, aproveitei para me reaproximar de Lúcia, uma colega bem estudiosa que tinha alcançado êxito em alguns vestibulares. Antes de Bruna, era ela a mulher que mais conversava na escola. Não demonstrou chateação depois de tanto tempo sem nos falar.
Conversa vai, conversa vem, pergunto se ela notou alguma coisa diferente nos últimos meses. Inicialmente tentou mudar de assunto, mas com a minha insistência:
- Então, não sei porque pergunta tanto isso. Bruna já falou abertamente que o que mais gosta do namoro de vocês é que ele é aberto. Falou altas vezes que saía pra festas, dormia na casa de Jorge, também provocou alguns professores e tipo, eu não tenho nada a ver com vocês, mas como você todo dia tava com ela pra lá e pra cá feito um cordeirinho, todo bobinho com ela e perdidamente apaixonado na porta da escola, imaginava que o que ela dizia era verdade. Ou não é?
Já tinha sentido essa apunhalada nas costas algumas vezes. Mas duas seguidas? Uma na festinha e agora uma da colega que não tinha razões pra me sacanear. Fiquei quieto, sério e pensativo. Minha colega prosseguiu:
- Desde que começaram a namorar ela tem ficado com outros caras normalmente. Não são muitos, mas enfim. Jorge mesmo é o que ela sempre tá ficando, já vi até ele comentando com os meninos que ficar com ela mesmo ela sendo sua namorada era algo bem diferente e excitante. Você nunca reparou que ela vivia em cima dele?
Eu então comecei a refletir. Na conversa dele dizendo que era ela quem dava em cima. Depois nas vezes em que me afastava dela no pátio e era ela quem saia do lugar. Por último, a satisfação dela em pegar carona com Tarley e Jorge. A doce Bruna era uma vadia compulsória. Fiquei profundamente triste comigo mesmo. Estava sempre na minha cara, mas ela me distraia e eu logo ignorava.
Não fui nos dias seguintes, não quis mais conversar com ela. Até deixei a aliança de lado. O fim da escola era inevitável e era preciso me organizar para o próximo ano. Não tinha conseguido a vaga na federal, não tinha nem tentado pra universidade particular que Bruna tinha feito - e passado. Parecia mesmo que tomariamos rumos diferentes. Seria melhor, evitaria estar e pensar nela.
No antepenúltimo dia de escola, recebi a notícia que conseguiria um curso numa universidade pública, não ao nível da federal que tanto tinha tentado, mas estava bom. Fiquei sabendo que Jorge não tinha passado em nada, mas que seu pai e o pai de Bruna lhe arrumariam um trabalho na empresa deles. Imagino como ela deve ter adorado.
No penúltimo dia, ela me liga...
Continua...