A volta para a rotina foi estranhamente leve. Ana e Lara, que antes dividiam cafés apressados no meio do expediente, agora encontravam tempo para almoços longos e olhares demorados e momentos intensos, cheio de tesão e desejos. A viagem ao litoral tinha sido um divisor de águas e nenhuma das duas quisera voltar ao “antes”.
Aos poucos, foram transformando o que parecia um sonho de verão em algo sólido. Lara começara a dormir com frequência no apartamento de Ana, com noite de muito sexo, sem se importar para o que os vizinhos iriam pensar. A conexão entre Ana e Lara era completa o que tornava as suas transas repletas de tesão, agora apimentada por consolos e fantasias.
Ana, que sempre achou que vivia bem sozinha, agora se pegava sorrindo ao encontrar bilhetes deixados na geladeira ou escutar o som do violão de Lara enchendo a sala nas tardes de domingo. O sexo entre elas era cada vez melhor, podia ser na cama, no banheiro, no sofá da sala, ou mesmo escoradas na mesa da cozinha.
Era amor e desejo. Simples assim. Sem grandes declarações nas redes sociais, sem promessas urgentes. Era cotidiano, era café na cama e filme adormecido no sofá. Era saber que, mesmo nos dias difíceis, havia alguém para dividir o silêncio.
Numa tarde morna de outono, as duas caminharam no parque, envoltas em casacos e folhas secas. Lara parou, segurou o rosto de Ana entre as mãos e depois de um beijo apaixonado, disse:
— Às vezes ainda penso naquela noite na praia. Foi ali que eu te vi de verdade. Foi ali que eu entendi que não era sobre amizade, era sobre encontrar uma companheira de verdade.
Ana sorriu, com os olhos marejados.
— E desde então, eu nunca mais me senti perdida.
Voltaram pra casa de mãos dadas, como no primeiro dia. E quando chegaram, abriram juntas o notebook e começaram a planejar outra viagem. Não para fugir. Mas para continuar se encontrando, uma na outra, em cada lugar novo que descobrissem e fecharam aquela noite com mais uma transa no chuveiro, durante o banho, da mesma forma como tudo começou em uma viagem entre amigas para o litoral.
Porque, no fim, entre ondas e sorrisos, elas haviam entendido: amor de verdade não é o que te arrasta é o que te ancora.