Feriado da Pele: um fim de semana entre lençóis e confissões



Quando Andreia enviou a mensagem no fim da quarta-feira, Paula soube que algo especial viria.

"De sexta à noite até segunda pela manhã. Só nós duas. No meu apartamento. Sem distrações. Sem roupas. Sem amarras. Só entrega. Topa?"

Paula demorou apenas três segundos para responder.

"Sim. Onde assino?"

A sexta caiu com a chuva batendo nos vidros da sacada. O clima era fresco, mas havia calor demais nas entrelinhas. Andreia esperava de robe acetinado grafite, copo de vinho tinto na mão, as luzes baixas e o apartamento em silêncio absoluto — exceto pelo som da playlist suave que alternava entre piano e batidas suaves, como respiração lenta.

Quando Paula chegou, o salto ecoou no piso de madeira e sua entrada foi sem palavras. Ela estava com um sobretudo bege, que tirou com um simples movimento, revelando que por baixo usava apenas lingerie preta de renda. Nada mais.

Andreia não sorriu. Ela mordeu o lábio.

— Você entendeu o recado melhor do que eu poderia prever — disse, caminhando devagar até a ruiva, os olhos varrendo cada centímetro de pele exposta.

— Eu vim pra obedecer... ou dominar. Depende do seu humor hoje — respondeu Paula, aproximando o rosto.

O beijo foi demorado. Lento. Cheio de promessas. Mãos se encaixando nas costas nuas, cabelos sendo puxados com leveza, suspiros baixíssimos ditando o ritmo do que viria.

E então veio a primeira regra da noite: os celulares foram desligados, colocados em uma caixa e trancados.

— Agora somos só nós — disse Andreia. — E nossas verdades.

O robe caiu e o sutiã foi desabotoado com uma destreza quase artística. A partir dali, os corpos se tornaram o idioma.

Elas jantaram nuas no chão da sala, sobre uma manta felpuda, compartilhando risadas, morangos com chocolate derretido, e goles de vinho entre beijos longos. O frio da noite parecia inexistente. Cada palavra tinha temperatura. Cada toque, intenção.

— Você me olha como se eu fosse o seu espelho — disse Andreia, deslizando a taça pelos ombros de Paula, deixando o vinho escorrer devagar pela pele. — E, às vezes, eu tenho medo do que enxergo.

— Eu te olho como se você fosse o meu recomeço — respondeu Paula. — E não há medo nisso.

No sofá, depois no chão, depois no quarto... as horas viraram névoa. As mãos percorriam costas, coxas, clavículas, como quem revisita mapas sagrados. O toque era ora firme, ora leve como brisa. Gemidos contidos, risos sussurrados. Beijos em regiões antes esquecidas. Confissões entre os lençóis:

— Eu aprendi a gozar calada — confessou Andreia. — Porque me ensinaram que prazer de mulher deve ser discreto. Com você… eu quero gritar.

— Grita — disse Paula. — Aqui ninguém vai calar nada.

O sábado amanheceu lento. Elas tomaram café sem roupas, de frente uma pra outra, com as pernas entrelaçadas sob a mesa da cozinha. O sol entrava pelas janelas, dourando os corpos marcados da noite anterior.

No meio do café, Andreia segurou a mão de Paula.

— Você sabe que eu tive muitos corpos antes do seu. Mas nenhum me fez querer permanecer nua, mesmo depois do desejo.

Paula sorriu, arrastando os dedos pela coxa dela.

— Porque comigo, a nudez é da pele e da alma.

Passaram o dia inteiro explorando texturas: da água quente da banheira com sais aromáticos à seda dos lençóis recém-trocados. Dos cubos de gelo contra a pele, ao calor das velas aromáticas que escorriam suavemente sobre o ventre. O apartamento inteiro se tornou território de descoberta.

Cada cômodo, uma nova história. No chão frio da cozinha, risos entre beijos salgados. Na varanda, envoltas em uma manta, com um vibrador sutil e promessas entre gemidos contidos. No espelho do corredor, onde Andreia pediu que Paula a olhasse enquanto tocava seu próprio corpo.

— Eu quero que você veja o quanto me faz perder o controle — disse ela, os olhos marejados.

No domingo, o ritmo mudou. Vieram as conversas longas. As histórias da infância, o medo de envelhecer sozinha, o trauma da traição, o desejo não vivido por outras mulheres. Andreia desabou em silêncio, os olhos baixos, o corpo cansado da luta interna que por anos a impediu de ser inteira.

Paula, então, apenas a abraçou. Longo. Nu. Sem palavras.

— Você não precisa ser forte comigo — disse. — Você só precisa ser.

E ali, mais do que prazer, nasceu algo mais raro: a aceitação.

A segunda-feira chegou cedo. O despertador não tocou. Paula acordou com beijos nos ombros e o cheiro do café vindo da cozinha. Andreia preparou o café sem pressa, com a mesma entrega com que percorreu o corpo dela nos últimos dias.

Antes de se despedirem, ainda nuas, Andreia olhou nos olhos da ruiva e disse:

— Eu não sei o nome disso ainda. Mas eu sei o que sinto. E sei que é real.

Paula se aproximou, colou os corpos, encostou a testa na dela.

— Não precisa ter nome. Precisa ter entrega. E a nossa… transborda.

Elas se beijaram com calma. Um beijo de pós-guerra. De reinício. De duas mulheres que escolheram viver seus corpos e emoções com toda a intensidade possível.

E que, mesmo após um fim de semana sem roupas, estavam agora mais vestidas de verdade do que nunca.


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Ficha do conto

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Nome do conto:
Feriado da Pele: um fim de semana entre lençóis e confissões

Codigo do conto:
237396

Categoria:
Lésbicas

Data da Publicação:
30/06/2025

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