Paula ainda estava adormecida, os cabelos ruivos espalhados no travesseiro, os lábios entreabertos e um pé, pequeno e delicado, fora da coberta, à mostra como um convite. Andreia acordou primeiro. Ficou ali, por longos minutos, apenas observando. Não era só o corpo de Paula que fascinava — era o jeito como ela dormia, como o peito subia e descia em ritmo calmo, como os dedos dos pés se contraíam suavemente a cada suspiro mais profundo.
Ela se inclinou, sem pressa, e começou a distribuir beijos desde o tornozelo até o arco do pé, com toques leves da língua, quase reverentes.
— Hmm... o que você está fazendo? — murmurou Paula, ainda entre o sono e o prazer.
— Descobrindo onde Paris termina... e onde você começa — respondeu Andreia, mordendo de leve a lateral do dedão.
Paula sorriu, sem abrir os olhos, e provocou:
— Vai querer que eu fique o dia inteiro só de sandália hoje?
— Não. Quero você descalça... pra lembrar que tudo isso é meu. Esses pezinhos... tão pequenos... tão provocantes... — disse Andreia, passando a língua lentamente pela planta do pé de Paula, fazendo-a arrepiar inteira.
— Se você continuar assim, a gente nem vai sair hoje.
— A gente vai... mas eu vou desejar tirar seus sapatos em cada esquina.
Vestiram-se com um toque de Paris em cada detalhe. Paula com uma saia preta justa, camiseta branca simples e uma jaqueta de couro. Nos pés, sapatilhas delicadas, que Andreia ajudou a calçar com um sorriso maroto. Andreia, como sempre, arrasadora: vestido colado, sobretudo vinho e botas altas, o batom combinando com o humor — perigoso.
Foram até Montmartre de mãos dadas, subindo as ladeiras como se estivessem num filme francês. Pararam em lojinhas, riram juntas em cafés apertados, dividiram um crêpe de Nutella entre olhares e toques discretos de coxa sob a mesa. Na Place du Tertre, uma artista insistiu em desenhá-las.
— Vocês têm uma energia... quente — disse, com um sotaque carregado. — Como se uma fosse a extensão do desejo da outra.
— Ela é — respondeu Andreia, sem pensar duas vezes.
A tarde caiu entre beijos e provocações. A cada escada que subiam, Andreia deixava a mão escorregar pelas costas nuas de Paula, por dentro da jaqueta. A cada banco onde sentavam, ela tirava os sapatos da ruiva por “acidente” e massageava os pés com os polegares, como se estivesse hipnotizada por aquela pequena obsessão.
— Você tem ideia do que seus pés fazem comigo?
— Tenho — respondeu Paula, colocando os dedos sobre os lábios de Andreia. — E vou deixar você mostrar isso... só à noite.
Voltaram para o hotel ao anoitecer. A cidade brilhava do lado de fora, mas dentro da suíte, a luz era só delas. Paula entrou descalça. Largou os sapatos na entrada e andou lentamente pelo carpete, deixando as pernas à mostra.
— Quer meu corpo? Vai ter que começar de baixo... de bem baixo.
Andreia ajoelhou-se diante dela, como quem adora. Segurou o tornozelo com firmeza e começou a beijar cada dedo com devoção, como se ali estivesse o centro do seu mundo. A cada lambida, Paula soltava gemidos curtos, entre risos e arrepios.
— Você... tem um vício nisso, não tem?
— Tenho. Por você. Por isso aqui. Por esse cheiro, por essa pele, por essa entrega — disse Andreia, subindo com beijos pelas pernas, abrindo a saia com a boca.
Paula deixou-se cair na poltrona, as pernas abertas, o olhar selvagem.
— Então me beija onde ninguém mais teve coragem.
Andreia obedeceu. Começou pela barriga. Depois os seios. Depois a parte interna das coxas. E finalmente, chegou lá. E ficou. Tempo suficiente para fazer Paula se contorcer e gritar seu nome contra as almofadas, como se pedisse perdão e prazer ao mesmo tempo.
Mais tarde, com os corpos nus na varanda, cobertas apenas por um cobertor, vinho tinto nas taças e os pés de Paula no colo de Andreia, ela sussurrou:
— Você é a única mulher que me faz gozar com os pés.
Andreia sorriu, beijando-os outra vez, com a língua quente e olhos famintos.
— E você é a única mulher que eu faria isso... no topo do mundo, sem medo de ninguém ver.
A Torre Eiffel piscava à distância.
Mas naquele instante, só os olhos de Andreia refletiam Paris.