Andreia havia preparado tudo com precisão cirúrgica, como quem arquiteta uma rendição.
Reservou o restaurante mais elegante da cidade. Escolheu um vestido vinho justo, com fenda lateral generosa, costas nuas, e um batom vermelho escuro que parecia um aviso. Os cabelos loiros caíam em ondas delicadas. Perfume sutil. Olhar letal.
Paula, ao chegar, usava um macacão preto de cetim que delineava seu corpo com perfeição quase poética. Os cabelos ruivos presos em um coque descompromissado, algumas mechas soltas acariciando a nuca. E aquele brilho nos olhos que Andreia já conhecia bem: o de quem está prestes a tomar o controle — ou se render a ele.
O jantar começou com risos baixos, brindes silenciosos e olhares que falavam em voz alta. Nenhuma das duas disse logo de cara o motivo daquele encontro — ambas preferiam o jogo da demora, da antecipação. Cada garfada parecia ritmada com a tensão crescente entre os corpos que se tocavam discretamente sob a mesa.
— Está deliciosa — disse Paula, levando a taça aos lábios.
— A comida ou a companhia? — rebateu Andreia, encarando-a como se saboreasse o momento.
— A resposta que te excita mais.
Andreia sorriu, firme, mas com o queixo levemente trêmulo. Algo nela estava vulnerável naquela noite — e era justamente isso que deixava Paula hipnotizada.
Ao final do jantar, Andreia pegou na mão dela, ainda sobre a mesa. Os dedos entrelaçados, firmes. Um gesto simples, mas que carregava peso.
— Eu quero que a gente pare de fingir que isso aqui é um jogo sem regras — disse. — Porque eu já perdi as contas de quantas vezes me peguei te chamando de ‘minha’... mesmo em silêncio.
Paula não respondeu de imediato. Levou a taça de vinho à boca, sem tirar os olhos dos dela.
— Eu também. E não tem nada que me dê mais tesão do que saber que agora... você quer dizer isso em voz alta.
O silêncio que se seguiu foi carregado de certeza.
A porta do estúdio de Paula se fechou com força atrás delas. Os sapatos voaram pelos cantos. As roupas demoraram um pouco mais, mas só porque cada peça retirada vinha acompanhada de um olhar fixo, um beijo demorado, uma provocação sussurrada.
Andreia a empurrou contra a parede da sala, os corpos colados, os seios se tocando, os quadris dançando sozinhos em um ritmo que só elas entendiam. As bocas famintas. As mãos, ousadas.
— Você sabe... — sussurrou Paula no ouvido dela — ...que agora é oficial. Não tem mais volta.
— Eu não quero volta. Eu quero você. Sem edição. Sem esconderijo.
Foram se despindo entre a sala e o corredor. Caíram sobre o sofá como se o tempo fosse inimigo. A pele de Andreia estava quente, como se pulsasse. Paula a tocava como quem reconhece terreno sagrado. Os beijos não pediam licença — exigiam.
Os olhos de Andreia, antes sempre controlados, agora brilhavam sem medo. Ela segurou o rosto de Paula entre as mãos e disse baixo, entre suspiros:
— Você é o primeiro amor que me desafia a ser fraca.
— E você é o primeiro desejo que me dá vontade de ser casa — respondeu Paula, subindo lentamente pelos quadris dela, os corpos completamente entregues, sincronizados.
O sofá foi palco do primeiro ato. A mesa do segundo. A parede do terceiro. Mas foi na cama, envoltas nos lençóis escuros, que Andreia se desmanchou como nunca. Não apenas em gemidos, mas em palavras.
— Me chama de sua — pediu.
— Você é minha — disse Paula, os olhos cravados nos dela, as mãos percorrendo cada centímetro da pele já conhecida, mas sempre surpreendente.
— Diz de novo.
— Você. É. Minha.
E então, não havia mais dúvidas. Não era apenas sexo. Era afirmação. Era pacto.
Horas depois, quando a madrugada engolia os sons da cidade, elas estavam deitadas, nuas, enroscadas, com os cabelos embaraçados e os corpos exaustos. Andreia, deitada de lado, acariciava as costas de Paula com movimentos circulares.
— Sabe, eu já me despi muitas vezes — disse, com a voz baixa. — Mas é a primeira vez que faço isso sem medo de ser vista inteira.
Paula virou-se, colando os corpos novamente.
— E eu... já desejei muita gente. Mas com você... eu sinto que desejo e amor são a mesma coisa.
Beijaram-se de novo. Dessa vez, sem urgência. Apenas para selar o acordo.
O rótulo que antes parecia uma prisão agora era apenas a permissão que faltava para amar sem reservas.
E naquele quarto escuro, o que antes era um caso sem nome ganhou título. E corpo. E alma.