Fazia pouco mais de dois meses que se livrara de um relacionamento tóxico. Seu ex, um ciumento doentio, fazia questão de sufocar cada parte dela: suas roupas, suas amizades, suas vontades. Mas agora… agora Paula corria. Corria como quem rasga grilhões com as pernas. E quanto mais corria, mais descobria que os desejos que tentara esconder por tanto tempo estavam ali, vivos, pulsando. Especialmente quando os olhos se fixavam nela.
Andreia.
Quarenta e três anos. Dona de uma presença que calava o parque. Era o tipo de mulher que atraía olhares — e dominava os que tinham coragem de sustentar o dela. Loira platinada, olhos verdes, corpo que parecia moldado sob encomenda. Seios fartos, marcados no top colado. Quadris largos, pernas firmes. Ela sabia o poder que tinha — e usava.
Andreia tinha passado pelo inferno. Vinte anos casada. E em uma tarde comum, com cheiro de vinho e velas, flagrou o marido metendo na cama onde dormiam. Mas o detalhe que atravessou sua alma foi outro: a mulher debaixo dele era sua melhor amiga. E sócia. O sangue esfriou. O corpo congelou. E naquele momento, Andreia morreu um pouco — e renasceu com outro nome: liberdade.
Desde então, decidiu viver para si. Moldou o corpo, passou a sair com rapazes mais jovens — inclusive o melhor amigo do filho, um universitário desajeitado mas cheio de fogo. Gozava sem culpa. Usava sem apego. Mas ultimamente, as fantasias vinham diferentes… E nelas, os cabelos eram ruivos. E os gemidos tinham timbre de mulher.
Foi no quinto treino conjunto que tudo começou a escorrer para fora do controle. Estavam suadas, ofegantes, as bochechas vermelhas, a respiração quente.
— Você tem um cheiro bom… mesmo suada — disse Andreia, a voz baixa, olhando direto nos olhos de Paula.
— E você tem uma boca que eu não consigo parar de imaginar no meu pescoço.
O silêncio veio denso. As duas se encararam por um segundo a mais. Tempo suficiente.
O beijo veio urgente. Molhado. De língua. Mãos passeando por costas suadas, dedos cravando em cinturas. O som abafado de duas bocas se devorando entre folhas caídas e o burburinho do parque.
— Minha casa. Agora. — ordenou Andreia, com os olhos em brasa.
No apartamento de linhas modernas e janelas largas, a porta mal fechou e as roupas já estavam sendo arrancadas. Paula foi empurrada contra a parede da sala. Andreia ajoelhou-se diante dela.
— Tira essa calcinha pra mim. Devagar.
Paula obedeceu. Com um sorriso mordido, puxou a lateral da peça rendada, descendo lentamente até os tornozelos. Andreia encarava fixamente, lambendo os lábios. Passou os dedos pela pele da coxa, subindo, explorando, até encontrar a umidade quente que escorria sem vergonha.
— Você tá molhada por mim, ruivinha?
— Desde o quilômetro três…
Andreia mergulhou. Língua firme, pressionando, girando, chupando devagar e depois rápido. Paula gemeu alto, agarrou os cabelos loiros com as duas mãos, rebolava o quadril como se implorasse por mais.
— Isso, assim… lambe como se fosse a última vez.
No quarto, a cama virou altar. Paula foi deitada de bruços, a bunda empinada. Andreia mordeu cada curva, deixando marcas. Subiu por trás, colou os corpos, friccionou a pele contra pele.
— Você gosta de ser minha? — sussurrou, roçando os seios nas costas de Paula.
— Hoje eu sou sua. Inteira. Faz o que quiser comigo.
E ela fez.
Brincaram com o tempo. Alternavam beijos carinhosos com pegadas brutas. Se descobriram nas posições, se encaixaram como peças que só se completavam na tensão. Paula se deliciava com a firmeza das mãos de Andreia, que a segurava com propriedade, como quem sabe onde cada gemido mora.
Fizeram amor na cama. E no chão. E no espelho. Andreia usou a boca como poucos homens ousaram. Paula mostrou uma fome que até ela desconhecia. Se comeram de verdade. Com gosto. Com sede.
Quando o corpo finalmente cedeu ao cansaço e se jogaram entre os lençóis brancos, Andreia acendeu um cigarro e passou a mão pelas costas da ruiva, que se encaixava em seu peito como um livro bem lido.
— Você não é como as outras. Tem fogo, mas também tem alma.
— E você não é só uma fantasia. É uma aula — murmurou Paula, sorrindo preguiçosa.
Andreia apagou o cigarro no cinzeiro de vidro ao lado da cama. Virou-se, apoiando-se num cotovelo.
— Quer saber? — disse, deslizando a mão entre as pernas de Paula novamente, com um olhar malicioso. — A noite ainda nem começou.
Paula mordeu os lábios. Já voltava a tremer.
— Me ensina mais, professora…
E ali, entre gemidos abafados, unhas na pele, cabelos puxados e beijos molhados que não pediam licença, Andreia e Paula escreveram juntas o capítulo final de um desejo que não pedia futuro. Só intensidade. Só verdade.
Na manhã seguinte, as duas se vestiram sem promessas.
— Foi o que precisava ser. — disse Andreia, antes de abrir a porta.
— E foi melhor do que eu achei que seria. — respondeu Paula, com um beijo no canto da boca da loira.
Elas se olharam uma última vez.
Um sorriso. Um arrepio.
E a certeza de que, às vezes, uma noite vale por uma vida inteira.
Fim.